sábado, 25 de maio de 2024

25.05.2024 (=11!) - One Day Plus 296 - Sobre Von Trapps e Trouxas (d)escritos a tinta permanente!

 



Meu adorado Filho,

Desta vez não dá o "nosso" número, mas dá o "meu número", aquele que marca aquela que foi a viragem na viagem da minha Vida, a da antiga, claro, a da nossa, quando você ainda era corpo físico. Quando eu me podia afundar nesse seu abraço, perder-me nesse peito e sentir o milagre de o ter dado à luz. A Vida que vivi há mil anos.

Aprendi depois e a muito custo a celebrar, não a tristeza de o ter perdido fisicamente, mas a festejar a felicidade e o milagre que me foram concedidos de o aprender a sentir enquanto ser espiritual. Tal como uma cega, por entre as infinitas lágrimas que me brotaram dos olhos em mil e uma noites de insónia, aprendi a tacteá-lo em "Braille", e aos poucos, mas com uma certeza cada vez maior, consegui com clareza, interpretar a leitura da sua presença e a felicidade que senti ao realizar o facto de que, se eu ouvisse o meu coração, e deixasse que nele vivesse apenas AMOR, o mesmo iria superar a dor. 

Vivi, no último ano e nove meses, a maior dor que se pode suportar. E mesmo assim, o Universo pôs-me mais e mais e mais, e ainda por mais uma vez à prova, até me encontrar totalmente nua, desprovida de qualquer coisa, e de pensar:

- "Caramba, mais uma? Será que o Universo me quer enlouquecer de vez?"

Foi tão difícil meu Amor, tão, mas tão difícil. Mas a minha Fé e a minha Crença não me deixaram e entreguei-me nas suas queridas mãos. Porque quem perde um Filho, sabe que ele agora é Anjo - e o Céu precisa tanto deles! - e os Anjos protegem os Seus. Quem melhor do que você, minha Vida, minha Eternidade, para me proteger? E nos piores e mais negros tempos da minha vida, eu não desisti e pedi-lhe que a sua mão me amparasse.

Cheguei com os pés em sangue, em carne viva, em chaga, cheguei a rastejar, mas cheguei! E cá estamos nós. Na Casa do Amor, num largo caiado, empedrado de seixos, onde as velhinhas espreitam à janela tudo aquilo que fazemos, e as flores do canteiro baloiçam ao sabor da brisa de um final de tarde de Maio.

Chegámos à Vida, ou talvez tenha sido a Vida que chegou até nós, guiada pelas suas mãos, numa paz e numa tranquilidade onde só se sente e se vive Amor.

Meu Filho, há tanta coisa bela para ver e desfrutar, nestes degraus de pedra com o rio ao fundo, bordeado do verde dos campos, neste sol ainda primaveril que teima vagarosamente em alongar, a cada dia mais, aquelas tardes preguiçosas, em que toda eu sou sensação, num pleonasmo sensorial que me rouba os sentidos, pela intensidade com que cai sobre mim e me transporta para outra dimensão. 

Martim, meu Amor, obrigada por TUDO, por este TUDO que me trouxe! Que aprendizagem! que Caminhada! Mas caminho, e no meu Caminho, agora sim, sei que sou:

Peregrina e Princesa, Mendiga e Rainha, Senhora e Menina, e sempre, sempre MÃE, (e começo, finalmente, a "SER HumAna")! 

Mil beijos da sua Mãe que o adora,

Mami



P.S. Danke mein Schatz, meine Maus! 


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