sábado, 24 de dezembro de 2022

24.12.2022 - One Day minus 144 - "Driving Home for Christmas,

 


with a thousand memories (...)"

Meu adorado Filho,

Não me vou alongar, sob pena de não aguentar as próximas horas, porque tudo em mim é saudade e recordação. Vivi vinte e seis Natais consigo, cada um melhor que o outro. Este é de uma dor inigualável. 

Ontem tivemos uma visita boa, que lhe trouxe um presente. Sei que você aí do Céu sabe de quem falo. O seu Altar ficou mais rico, e penso que você mais contente. Infelizmente, o Tempo não foi seu aliado, mas o que conta é o que acontece, e estou certa de que foi um presente de Natal pelo qual você esperou mais de um ano. Sei que está a sorrir aí di Céu.

Meu Filho querido, hoje fico-me por aqui, porque não me quero alongar. As lágrimas toldam-me a visão, e não posso estar assim por causa da Oma. Deixo-o com a minha saudade sem fim, com todo o meu Amor e com as nossas recordações do ano passado, de um Natal tão feliz, mal sabia eu que seria o último que passaríamos "juntos". E digo-o entre aspas, porque juntos estaremos para sempre. Ai meu Filho, que dor, que saudade, que desgosto tão grande, tão grande!

A Oma queria que eu pusesse a sua bota na chaminé, mas não o fiz. Espero que compreenda. Temos de aceitar a sua partida, e rezar para que esteja junto de Deus e dos Anjos, onde é o seu lugar. 

Um Santo Natal para si meu Amor, e mande daí de cima uns pozinhos de Alegria cá para baixo, que bem preciso. Amanhã será melhor, o Mano vem com a Xica, o Gonçalo e o António e vamos atirar-nos a um leitão, entre outras iguarias que marcam agora os novos Natais, tão diferentes de "antigamente!".

Não se preocupe comigo, sinto-me plena de si, sei-o à minha volta e logo, na missa, sei que embora a sua mão não venha aquecer a minha, o seu espírito estará comigo.

Com todo o meu Amor,

Mami

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

20.12.2022 - One Day minus 140 - O Céu precisa de Anjos!

 



Meu adorado Filho,

Tenho andado longe das nossas cartas, mas sempre, sempre ao seu lado, e consigo omnipresente: no meu espírito, no meu coração e na minha Alma. Mas infelizmente, a Oma partiu uma vértebra, e tenho-lhe dedicado todo o tempo livre, todo o amor (que me sobra deste desgosto), toda a minha atenção e todo o meu carinho.

Chego à conclusão que devo ter sido uma megera noutra vida, um ser muito mau, muito injusto e muito violento, para estar a expiar tanto pecado nesta existência. Mas pronto. É o que é, e é dose sobrecarregada de preocupação. 

Disseram-me que daqui a cinco dias é Natal. A sério? Não o sinto. 

- "Não é possível Mãe! A Mãe, que sempre vibrou com as tradições do Natal? Enlouqueceu!"

Pois não é meu Amor. No outro dia encontrei o cartão que lhe escrevi no dia vinte e quatro de Dezembro de dois mil e vinte, em que lhe ofereci a agulha com que a sua trisavó Zeza cozia o papo do perú, depois de o ter recheado com as castanhas, e injectado a aguardente nas coxas durante dois dias! Lembro-me de si a tirá-lo do forno, várias vezes, sob as ordens, em stress traduzido - como sempre - nos berros da Oma, que, uma vez mais conforme a tradição, dizia que ia ficar um perú seco e péssimo, e que foi o melhor que comi em todos os anos da minha Vida, nessa altura ainda com maiúscula. Foi um Natal debaixo de Covid, com testes e mais testes, e cuidados redobrados, mas que foi tão, mas tão feliz. Foi um Natal com a Carmo, e com o Miguel, e com tanto, tanto Amor! Fomos os dois à Missa do Galo e trocámos os presentes depois, como quando você e o Mano eram pequeninos. Foi um dos momentos felizes, mesmo genuinamente, verdadeiramente e plenamente felizes que vivemos, com as Rabanadas do pai da Carmo, e com tanta, mas tanta iguaria, temperada com Alegria!

Daqui a cinco dias, repete-se o mesmo dia, mas em que circunstâncias, meu Deus! Observo, do lado de cá do vidro, a mesma Alegria nos Outros, que se espelha nas mensagens, nas publicações, nas compras desenfreadas, no caos natalício do consumismo, nos jantares de confraternização. É duro equilibrar isso com a preocupação com a saúde da Oma, teimosa que nem um burro, e, sobretudo, com o desgosto da sua ausência. 

Este ano vou à Missa sozinha. A Dona Fernanda ligou-me hoje a confirmar que será às onze da noite, e que este ano, 

- "Como não há Covid, já poderemos beijar o Menino no fim da Missa, veja a Felicidade!"

e ao telefone, consigo vislumbrar o sorriso triunfante dela, num rosto magro e enrugado, marcado pelos vincos das memórias, emoldurado por cabelos brancos, já tão ralos, mas sempre imaculados, e num sorriso rasgado, pleno, recheado de uma dentadura alva, que teima em descair um bocadinho, quando ela diz os "S" e os "J". 

Lá estarei, de olhos rasos de lágrimas e de coração cheio de recordações. Mas não o terei fisicamente ao meu lado, lindo, cheiroso, vestido a rigor para o Natal, e sobretudo, irei morrer de saudades de sentir a sua mão quente em cima da minha, quando as leituras nos comoviam e pensávamos em tantas, mais tantas, e outras tantas palavras partilhadas enquanto sussurradas, aos gritos, no silêncio secreto da nossa cumplicidade! Nesses momentos muito, muito intensos, a minha mão procurava a sua, e a sua a minha, e agarrávamos os dedos um do outro com muita força, oferecendo o alento do amor e o calor do carinho. 

Ahhhhhhhhhhh, Tim, caramba! CARAMBA! A saudade de si, a sua saudade, a minha, a saudade de nós é pungente, escara que me corrói a carne e dilacera o coração. Mas...e não sei se é da preocupação por me sentir uma Miss Nightingale versão pós sobrevivência e recear não estar à altura, ou simplesmente se da sua Luz que me inunda a cada instante: é também uma dor que se vai apaziguando, não na intensidade da sua tristeza, mas na aceitação da brutalidade da injustiça que me foi infligida, a mim, que tenho de o chorar a todos os nanossegundos do dia, ou a si, VIDA ceifada tão prematuramente.

O Céu precisa de Anjos, eu sei. Já sacrifiquei o meu, espero que por um Mundo melhor.

Um Mundo de...

...Natal...

que deveria ser não só todos os dias, mas sobretudo, PLENO de AMOR, como o meu, por si! 

Amo-te meu Amor, minha Luz, minha Vida, meu Filho!

Mami



sábado, 10 de dezembro de 2022

9-12-2022 - One Day minus 129 - Dream catcher(s), espero que goste, deu-me um trabalhão! ;-)

 



Meu adorado Filho,

Há cento e vinte e nove dias que a sua voz só ecoa no meu coração, nesse músculo que bate, sem ritmo, sem compasso, sem propósito aparente. Os dias têm-se sucedido, e eu tenho andado longe das nossas cartas, mas sempre tão próxima, colada ao seu Ser, sempre consigo no pensamento, com a sua voz nas minhas entranhas, com o seu Amor que me alumia o Caminho!

Estou cansada Tim! Cansada disto tudo, mas acima de tudo, hoje estou aliviada e passo a contar, porque sei que, embora se aborreça com os meus ínfimos pormenores, gosta de saber os detalhes. 

Desde o dia Trinta de Novembro, em que chegámos cá, que a Oma se andava a queixar com dores. Pensei numa contractura, porque trouxemos a IKEA em peso e mais alguma coisa no carro, e ela ajudou-me a meter a poltrona cinzenta na bagageira, mas as dores não acalmavam. Como este ano não me dá tréguas - começo a achar que o Universo me considera uma heroína de Marvel - achei por melhor ir com ela a Santarém, porque já não podia vê-la a sofrer mais, e pensei, sinceramente, que se tratava de uma nefrite, ou de algo parecido. Resultado: hoje pela manhã pusemo-nos a caminho, noventa e três quilómetros de incerteza. Lá chegadas, a Oma foi muitíssimo bem atendida e às quatro e meia da tarde, já havia um primeiro diagnóstico, confirmado umas horas depois: uma vértebra partida. Agora temos de tratar dela, com o máximo de carinho e de dedicação.

Coitadinha, não haveria ela de gritar com dores. 

Vou tentar mimá-la o máximo que posso, afinal a nossa Rocha merece isso tudo e mais alguma coisa. 

Mas sinto-me cansada Tim. Exaurida, vazia, sem rumo. Começo a aceitar a sua ausência física como parte integrante desta nova sobrevivência, mas quando olho para o seu Altar e para as suas fotografias, sou abalroada pela incredulidade da sua partida. Quando vejo o seu sorriso lindo, os seus olhos transbordantes de Alegria e de Amor, não consigo acreditar que é até que a morte me leve para ao pé de si de novo, numa passagem suprema para aquele plano perfeito, onde as nossas conversas, os nossos abraços e as nossas discussões irão continuar. Só espero que esteja lá, à minha espera, e me venha com o típico:

- "Porra Mãe, demorou, o que é que andou a fazer este tempo todo, não acredito que tenha ido só às compras, tenho mil coisas para lhe contar!"

E eu, bom, eu não sei o que irei dizer ou sentir quando o reencontrar. Acho que vou abrir uma garrafa de Hexagon e relaxar, consigo ao meu lado, a contar-lhe as peripécias da minha existência, e vamos rir e pensar no que vamos fazer para o jantar. Tenho saudades dos seus cozinhados, de estarmos na cozinha de copo de vinho na mão a inventar e a improvisar. Tenho saudades suas meu Filho querido, neste ano maldito, que deveria se riscado do calendário!

A Oma prometeu-me que, se chegasse aí antes de mim e quando o reencontrasse, me mandaria um sinal cá para baixo. Disse-me que ia tentar, e eu disse que "tentar" não chega, que ela partisse pratos, abrisse portas, sei lá eu, mas que me fizesse saber que estavam juntos. Já vos ouço às gargalhadas, e se for eu quem vai primeiro, farei o mesmo. Só espero que ela se aguente mais um bocado neste plano, porque preciso muito dela. 

Sinto-me tão só Tim...tão abandonada neste Dezembro quase Natal. Tento, faço, ando e caminho, desbravo e desmato, mas os espinhos são difíceis de ultrapassar. Difíceis? Não, são impossíveis. E depois há pessoas que não têm noção do que nos dizem, e que mais valia ficarem caladas. Ouço muitas vezes os outros queixarem-se e dizerem-me:

- "Ah, eu perdi o meu marido, é igual à tua dor", ou "ah, mas a tua Vida continua, tens de ser forte!"

Quando ouço isto, só me apetece cuspir-lhes na cara. 

É fácil falarem quando o futuro não lhes foi roubado, quando não têm de viver com a perda de um Filho. Forte? Para as urtigas com a força, para manter o decoro aqui, porque só me apetece dizer asneiras e palavrões. Sabem lá as pessoas o que é dor! Mais valia ficarem caladas, ou mandar apenas um genuíno beijo, um abraço, porque só isso tem muito mais significado, e só quem perde um Filho sabe o que é a morte em vida. O que é o pesadelo dos dias, numa sucessão de horas intermináveis até chegarmos finalmente ao sono, e a mais um acordar para mais uma sucessão de horas, numa esperança de que o dia em que estaremos juntos de novo chegue rápido, na cobardia, ou na coragem, de ficarmos presos, especados, paralisados pelo desgosto, como que atrás de um vidro pelo qual escorrem lágrimas, embaciado pelo sofrimento, enevoado pela dor atroz, que nos consome as entranhas! Sabem lá as pessoas o que é sofrer! Mil vezes tivesse ido eu, e você continuado aqui, nessa Alegria, nessa ânsia, nessa sede de Vida que tinha, meu Filho adorado, exemplo de Amor, de Coragem e de Honestidade! 

Tivesse ido eu..., mas não foi assim que o Universo quis. E por isso, eu carrego esta dor, este fardo, esta tonelada de sofrimento, que me dobra as costas e me faz querer ajoelhar de tão pesada, de tão amarga, de tão dura, de tão infinitamente injusta!

Mas aos poucos, muito devagarinho, quase impercetivelmente, eu aceito. Aceito e dedico esta dor, este sofrimento, esta agonia, a um Mundo melhor. À compreensão entre as pessoas, à solidariedade genuína, à preocupação com o próximo, ao Amor. Só isso torna possível esta Caminhada. Só o Amor.

Amo-te meu Filho Lindo, minha Vida, minha Saudade...

Mami


P.S. A Coruja piou há pouco! Obrigada, meu Filho! E espero que goste...foi até às três da manhã, porque as penas teimavam em não colar!!!!!!



domingo, 4 de dezembro de 2022

4.12.2022 - One Day minus 124 - Nature, Simplicity & You




Meu querido, querido Filho,

Domingo, dia quatro de Dezembro, segundo Advento. Já acendemos as velas, as luzinhas do seu Altar e às sete em ponto, no tal movimento dos Pais, Irmãos, Família e Amigos dos que partiram demasiado cedo, vamos acender uma vela em frente à sua fotografia aqui na salinha.

O dia hoje foi mais pacífico: fomos à feirinha e comprámos uma cameleira, uma árvore de mirtilos e um alecrim, que já plantámos. Trouxe frango na brasa para a Oma almoçar e quando chegámos, fomos dar um passeio de cinco quilómetros com os cães. Descobrimos que temos uns vizinhos ingleses com duas crianças, que vivem "off-grid", num terreno lindíssimo, num Tipi gigante. Também têm duas cabras e criação, entre eles um perú. Não têm electricidade e acho fantástico isso, a coragem que é preciso ter, num desejo premente de encontro com a simplicidade do verde, para se viver assim.

Fizemos uma volta grande, e parámos no Senhor Zé para beber uma cerveja e um branquinho traçado, o Zapa e a Foxie vieram connosco e pintaram a manta, mas foi giro. Quando cheguei à Quinta, fui dar tangerinas e folhas à Branquinha, à Mocha e à Preta, e pela primeira vez, a Diana veio comer da minha mão. Tem imensa graça, porque tem dois corninhos, é a única das nossas ovelhas com eles, mas é muito medrosa, e finalmente ganhou confiança. Foquei contente por isso. É curioso que agora tento esmifrar um pouco de alegria destes momentos, e os animais e a natureza que me envolvem, ajudam-me nisso.

E por isso são dias em que me ligo ao Cosmos, através do silêncio, do corpo cansado pela caminhada, embalada pelo borbulhar da água fresca da ribeira, ao fundo do vale, pela paz que se sente aqui. Ainda não lhe contei, mas todas as manhãs temos a visita de um bando de rolas que vem procurar restos de comida em frente ao galinheiro. E ainda falta a melhor. Vou passar a relatar, e por favor não me venha com o típico:

- "Resuma Mãe, resuma, que está a contar uma história sem fim!"

Nas vésperas de ir a Lisboa, quando só via a negrura da solidão à frente, tive um sonho. Um sonho muito alegre, muito vívido, muito bom, em que eu desenhava, em stencil, uma coruja, ou um mocho, não sei bem precisar. Achei estranho, porque é um bicho sobre o qual nunca me debrucei, mas sei que havia muitos no sonho, e também a sua presença era algo de inegável. Óbvio que sonhar com a sua presença é uma bênção, e não me vou alongar mais nas razões para isso, para não o maçar. O que é facto é que, um dia depois, percebemos que temos um Mocho ou uma Coruja no jardim em frente à casa, cujo piar se ouve noite dentro. Fui ler e pesquisar o significado deste animal e não pude deixar de sorrir. O Mocho não é só o símbolo da sabedoria, como a Coruja representa a ligação com o misticismo, e a inteligência. Muitas crenças associam a Coruja com a morte e o desastre, que foi exactamente isso que nos aconteceu, e como guardiões dos Mortos. Portanto, todas as noites em que ela pia, é como se você me visitasse. Explicada esta parte introdutória, onde já o vejo com um bocejo disfarçado e dois dedos no telemóvel, seu companheiro inseparável, porque tantos precisam de si, e eu furiosa como sempre, e a dizer:

- "Credo, Tim, largue lá isso, caramba, um dia eu morro e você tem pena de não ter tido pachorra para ouvir as minhas histórias..."

E de você retorquir:

- "Vá lá Mami, não posso deixar de responder a esta mensagem e a Mami não vai morrer tão cêdo!"

E não morri, ou, por outras palavras, continuo com o meu corpo físico cá...o mesmo não se pode dizer do meu coração e da minha Alma...

Bom, mas adiante. Em Lisboa, fui com a Oma à IKEA. Acho que já lhe contei sobre isso, o consumismo moderado ajuda a Alma e eu adoro decorar casas, como sabe, e encontrei um candeeiro que tanto a Oma como eu AMÁMOS! É um candeeiro de criança, um Mocho, ou uma Coruja, com uma luz quentinha e suave, que pus na cómoda do nosso quarto. Portanto, existe, claramente, uma mensagem que o Universo me está a enviar. Que me inspira e sossega, porque a sei sua.

Encontrei também mais uma Mãe de(s)filhada, mais um futuro roubado, na mágoa de quem perde um Filho, não por doença, mas pelo macabro da irresponsabilidade, da leviandade dos outros, que não imaginam como um momento nas suas vidas, que continuam, destrói tantas outras pessoas, ou famílias, ou existências. Muito embora, todas as formas de perder um filho sejam macabras, de que forma forem, a nossa é particularmente cruel: porque inesperada! Ao falar com ela, percebi o quão abençoada sou: tal como lhe escrevi na carta que li na sua missa de dia cinco de Agosto, eu não me questiono sobre os "Ses". Porque se o fizesse, jamais conseguiria sequer dar um passo em frente, e não vale a pena, porque se deixamos que isso aconteça, somos escravos da tristeza e das lágrimas para sempre, e sei que não era isso que você quereria ver em mim. Contínuo a Guerreira que sempre fui, claro que desta vez, em luta mais do que desigual, mas sigo em passos minúsculos, e não vou deixar o desespero ou a raiva entrarem no meu coração. Quero-o aberto à Paz, porque sei que só assim sonho com Mochos, ou Corujas, só assim sei que você me visita, nos meus sonhos lindos, porque consigo, e só consigo por perto é que eu consigo continuar a caminhar.

E é consigo no meu coração, e comigo em solidão, em retiro mental, em cansaço do corpo, mas com Paz na Alma, que eu sei que conseguirei prosseguir a minha jornada. Será para sempre coxa, mas sigo. Levanto os olhos e vejo-o em tantas fotografias, na sua beleza de Alma, reflectida num rosto único, de Adónis, porque você era, de facto, LINDO!

E acho que é por isso que o Céu o chamou: não só precisam de pessoas lindas por dentro, mas de Seres cuja beleza de Alma se reflecte no seu corpo imaculado e no seu rosto de uma perfeição de cortar a respiração, num sorriso único, numas mãos de uma beleza tal, que parecem esculpidas por Michelangelo. 

E é assim Tim, é assim que continuamos aqui, neste Portugal profundo, frio, mas tão aconchegante pela sua envolvente, pela sua simplicidade de Vida, e pelo significado que se retira de um dia de mais um Luto profundo, mas de alguma Paz.

Amo-te meu Filho, meu Amor, minha Vida, minha Alegria e minha...

...GRATIDÃO!

Mami


P.S. acho que hoje a Coruja vai piar :-)!



quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

1.12.2022 - One Day minus 121 - (Movie Star or a TRUE Gentleman? De espinhos e de musgo, de Amor e de (muita) Saudade!

 




Meu adorado Filho,

Dezembro chegou! 

Duas menos vinte, um frio de rachar, e eu à lareira. 

Depois do pesadelo das últimas semanas, têm sido dias mais apaziguadores e apaziguados, numa trégua pincelada de branco, muito embora desenhada com muitas e grossas listas de cinzas plúmbeos, como o céu que hoje parecia que queria desabar! Divido-me entre o desespero de não o voltar a ver, abraçar, afagar as ondas do seu cabelo, coçar as suas costas no meu consolo de amor de Mãe nos momentos desafiadores da sua breve Vida, de ouvir a sua voz, e a (ténue) constatação de que a vida continua, por enquanto (e penso que para sempre, com minúscula), mas continua, num decorrer dos dias, na chuva, no sol, nas flores de princípio de Inverno, na natureza que aqui, neste pequeno Paraíso, se sente.

Meu Filho, escrevo-lhe hoje em Paz. E esta Paz que sinto, que se propaga ao meu corpo, ao meu espírito e, acima de tudo, à minha Alma, é um bálsamo, suave como uma carícia divina, que só poderia ser sua, e que me acalma o caminho. Os espinhos são hoje musgo: suave, húmido e fresco, verde-escuro, pintalgado de amarelo com salpicos de castanho, como o que apanhávamos com o Pai em Sintra, quando vocês eram crianças, para enfeitarmos o Presépio. E como este Advento é diferente, em vez de dia 7, vou começar hoje, dia 1. É a mesma coisa que com o perú, que, também este ano, vai dar lugar à inovação do leitão: Já comecei a decorar a casa. Já pus o "Adventskranz" - e estamos mega ecológicos - este ano é a pilhas, da IKEA, para não se cortarem árvores, mas as velas são verdadeiras.

Só não abdico de uma coisa: inalterável, imutável, perpetuada no tempo sem fim do Amor: Do Presépio! Já decidimos qual o sítio, local, âncora, e aí ficará enquanto eu for viva, a todos os dias Um de Dezembro, véspera do dia em que faz quatro meses de que você subiu para outro plano, e se tornou Estrela, como as que brilham incansavelmente neste céu único do campo! 

Está um frio de rachar lá fora Tim, e quentinho cá dentro, como se centenas de salamandras e milhares de lareiras brilhassem, à disputa de um fogo (fátuo), mas que na sua efémera chama, ilumina, aquece e derrete o gelo da solidão, o desespero da tristeza, o desgosto da ausência!

Ahhhhh Tim, esta sensação é um sonho, um átomo de maravilha, um nanossegundo de Felicidade: é a realização de um ínfimo de aceitação. Mas é esse ínfimo, esse pequeno, enorme, gigantesco milagre, que me mostra que há um Caminho, nem sempre com espinhos, porque existe e nasce o musgo, tapete de pétalas sob os nossos pés, tão doridos, tão cansados, tão massacrados, tão sofridos, mas...

...que caminham!

Com todo o meu Amor (e a minha gratidão)

Mami

25.4.2024 - One Day plus 266 - (Still about) the Intrepids, the Freedom Lovers, the Crazy Ones...

  Ahhh meu adorado Filho, Que DELÍCIA!  Está tão, mas tão perto de mim e obrigada pelos sinais que me vai enviando, hoje especialmente.  O &...