sexta-feira, 15 de março de 2024

15.3.2024 - One Day plus 225 - da Alquimia da Luz

 



Meu adorado Filho,

Pela primeira vez desde sempre no "ÉPICO", nestas cartas enlutadas, mas de onde conseguiu (sobre)viver o Amor, nestas missivas atabalhoadas, afogadas por entre os soluços do meu coração de Mãe, esta carta começa por não ter nem data, nem título. Não me pergunte porquê, já sabe que escrevo não com as mãos, mas só com o coração.

E o meu coração hoje é uma fonte de gratidão. De gratidão por tudo o que tenho aprendido nestes últimos dezanove meses de Saudade. Que caminhada, meu Deus, que tortura. Quantos espinhos tenho nos pés? Não mais do que os que tenho tatuados na Alma, e sempre menos do que as lágrimas que chorei! Quantos soluços damos por um filho que nos foi roubado, arrancado às entranhas da nossa Vida, na flor da idade? Quantos sonhos de Mãe, de Avó desse Filho, de Mulher, de Ser Humano foram desfeitos nesse dia?

Muitos, demasiados, inúmeros, mas não em número suficiente para que a jornada acabe aqui. Há muito para fazer quando o nosso coração entende a missão que lhe foi proposta, quando, para isso, somos e estamos embebidos de Luz (divina, angelical, filial, chamem-lhe o que quiserem)! A Luz está comigo, ela ilumina o meu âmago, alegrando o meu interior. Eu sempre soube, de uma forma ou de outra, que só assim poderia ser. Que só de coração aberto e de peito às balas conseguimos atingir aqueles raríssimos momentos de união com o Cosmos. 

Posso dizer hoje com a Alegria da gratidão, e não com a soberba da presunção, de que vivi  - ponhamos o verbo de outra forma, "que tenho vivido", é mais esperançosa - uma vida que sempre me desafiou. E que sempre superei. O Universo foi elevando a fasquia, e quando eu achava que não conseguiria aguentar mais, lá vinha a próxima. Digo também agora um obrigada do coração à minha genética, traduzida no Amor pela Caminhada dos meus antepassados, porque nada melhor do que o pragmatismo e a frieza de uma educação alemã, para equilibrar a emoção ao rubro e o coração aos saltos de uma alma latina: o resultado é quase que como uma forma alquímica. O Universo matou-me no dia dois de Agosto de dois mil e vinte e dois. E no mesmo momento em que decidiu implodir metade dos átomos do Ser Humano que eu conheci durante tantas décadas, veio trazer-me para os braços uma alienígena. Foi com horror que a vi nascer, como se de um monstro se tratasse. Aprendi a conviver com essa espécie. Ao início, só queria fugir. Aos poucos, tentei entender quem era esse ser, porque afinal, era mãe como eu.

Eu tenho dois Filhos. Um na Terra, o Porto de Abrigo das minhas, e nas minhas, tempestades. E outro no Céu, Luz que me invade quando a escuridão me quer abraçar. E eu?

Eu sou a Ponte. 

A Ponte entre os dois Mundos. 

A que decidiu que não vale a pena contrariar o Universo, a que finalmente se deixou flutuar. É tão mais fácil, que parece estranho nunca termos ter tido esta Epifania. Que foi preciso o tempo pelo qual tanto fui obrigada a lutar, batalha inglória que me custou outro dos grandes sonhos da minha vida, para eu chegar até aqui.

E chego de coração cheio. Porque tenho dois Filhos fantásticos. E porque fui capaz de retirar da maior dor que uma pessoa pode sentir, aquela dor maior que nos rasga tudo enquanto nos mata, fui capaz de coar o Amor, trazê-lo para cima, como que uma camada protectora de todas as emoções de que somos cozinhados. E foi essa capacidade que me faz sentir Gratidão. 

Sou abençoada. Pelos meus Filhos, Criaturas maravilhosas, pelas quais agradeço todos os dias. Pelos que me amam e me acompanham, fazendo-me sentir que não estou só no meu sofrimento. Pelos que consegui alcançar.

E sobretudo, sobretudo, por conseguir dar dignidade à voz do luto, este monstro escondido, do qual se fala em eufemismos, porque é demasiadamente complexo para entender, demasiadamente triste para o querermos partilhar, e demasiado ameaçador para o querermos receber. 

Mas é precisamente este luto que precisa de voz. E acima de tudo de...

LUZ!

(De coração cheio por todas as Mães e Pais que me escreveram)!

Mil beijos meu adorado Filho, da sua Mãe que o adora,

Mami

1 comentário:

  1. 🧡🧡🧡 beijão, querida, e tenta acalmar esse coração!💐

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