sábado, 29 de outubro de 2022

29.10.2022 - One Day minus 88 - Da Natureza!

 


Meu adorado Filho, meu Filho tão querido, 

Que falta que me faz! Parece uma eternidade, e, contudo, foi há tão pouco tempo, que me recordo de cada segundo desse malfadado dia. Lembro-me de mim a desejá-lo, e uns meses mais tarde, grávida de si. Lembro-me da emoção de ver a barriga a crescer, e da comoção de o sentir pela primeira vez. Da visualização perfeita de si, bênção dos Céus, bebé amoroso, criança adorável, rapaz único, e Homem com H, lindo de cair para a banda, não só por fora, mas sobretudo por dentro. 

Tim...você iria AMAR este ar meio "Mamma Mia Hostel", meio nossa Casa, num paradoxo fantástico, que transforma uma Quinta num santuário (embora algo alternativo!), giro em todos os cantos, mesmo naqueles onde a decoração não gera sempre consenso, mas conduz a saudáveis compromissos. E é nessas cedências, que interiorizo que existem pessoas que são obrigadas? a levar duas vidas numa só existência. E só quem passa por isto consegue entender, na primeira pessoa, o que esta anormalidade significa. Somos nós uma boa meia Vida e depois, depois, bom, depois, morremos: em cada poro, em cada átomo, em cada inspiração, para percebermos, demasiadamente rápido, numa verdadeira EXpiação, que nascemos outro ser. Uma sombra do que fomos, embora reconheçamos os resquícios de algumas memórias empoeiradas e perdidas na Eternidade imensa do abismo, de quem perdeu um Filho, sente. Se eu penso, que há quatro meses trabalhava, com imenso stress e responsabilidade, que a minha Vida era "normal" e agora sou uma camponesa, que restaura móveis, e que se esquece de tudo se não apontar, fico doida, porque não sou a mesma pessoa. Não é possível numa só vida, encerrar duas vidas, mas o que é facto é que é isso que sinto. Não sei como irei algum dia "retomar" parte da minha outra Vida, aquela que acabou no dia dois de Agosto de dois mil e vinte e dois, a que me foi roubada, assaltada, arrombada, injustamente e antecipadamente retirada, numa impiedade que não mereci! 

Ahhhh Tim, o Mano chegou hoje, na baratinha preta, da qual eu senti tanto a falta. Claro que ganhou, em três penadas, um jogo de Catan, enquanto me dizia que sentia o mesmo. Que parece que foi ontem, e ao mesmo tempo, há trezentos anos! Como é isto possível? Estaremos todos doidos?

Começo a achar que sim! 

Já lhe disse que temos sapos grandes, à noite, à porta da cozinha?

Filho, você iria amar deixar aqui os seus filhos, e eu iria amar ter aqui os meus netos, ensiná-los a crescer sem medo das aranhas, dos grilos, das corujas, a admirar cada nascer do sol, e cada ocaso, a saborear o leite delicioso da Branquinha. Você iria re(encontrar-se) neste Paraíso, e talvez seja por isso, que o sinto tão presente, tão vivo em mim, e, simultaneamente, uma doce recordação, tão longínqua, quanto eterna, pelo menos, enquanto eu respirar?

Filho, tanta falta que me faz!

Mil beijos da sua,

Mami!


quarta-feira, 26 de outubro de 2022

26.20.2022 - One Day minus 85 (About thinking out of the box, ou a nova vida: despojos de ontem, tesouros do presente, dádivas do amanhã!)

 


Meu adorado Filho,

Escrevo-lhe esta carta, há muito devida, mas tudo na vida tem um propósito. Um presente do indicativo, uma promessa de dádiva do amanhã, mas sobretudo um despojo de ontem, um ontem de uma outra vida, uma vida de há milénios!

Filho, com a Lua em Balança, lá nos mudámos, no domingo, vinte e três de Outubro, de um ano que encerra em si a intemporalidade do tempo. Foi uma aventura, uma harmonia no caos. A primeira coisa que instalei cá em casa foi o seu altar, mas a sala não fluía, e o seu altar também não, e eu comecei a ficar apreensiva. Mas antes de lhe contar isso, queria agradecer-lhe. No domingo o Miguel começou a cismar que queria ir buscar a Piri-Piri, e eu estava com pena do Zapa, porque ficaria sozinho no canil do Falcão. A meio da tarde sugeri ao Miguel que tentássemos meter o Zapa no carro, e como é habitual, lá começaram as (in)certezas que o raio do cão jamais iria entrar no carro. Já estava o veterinário de prevenção para segunda-feira, mas totalmente descontraídos, lá decidimos tentar. Enquanto o Miguel foi tentar trazer o Zapa, eu pedi-lhe que desse uma mãozinha de Anjo aí do Céu. E não é que aquela bisarma, nem dois minutos depois, estava dentro da carrinha?!!! Filho querido, agradecemos-lhe ambos do coração! O Miguel exultava. Jantámos em frente à lareira, não antes da Piri se escapulir, e de ficarmos tristíssimos, para aparecer, de rabo a abanar, dez minutos depois! Reina a harmonia aqui, os patos misturados com os cães, que vão, para sempre voltarem, nuns latidos saudosos e famintos! 

Pouco depois tocou o telefone: era a Tia Isabel que cá veio jantar e estreou o quarto verde. E sabendo o quão ligados vocês estavam, a eu pedi à Tia Isabel para me soltar a energia da sala. Então hoje, depois de um trilho de três quilómetros até à Ribeira e de vários mergulhos na água gelada que espelhava o dourado outonal, a Tia, de taça de arroz integral, banana e abacate, polvilhados a pimenta de Caiena na mão, enquanto na outra, movimenta os pauzinhos como uma Maestrina, apontou e disse: vamos tirar os sofás, e a partir daí, começamos a construir.

E então Tim, a magia aconteceu! Entrou uma lufada de ar fresco, soltaram-se as amarras contidas, grilhões de uma primeira Vida, deixou-se tudo para trás, e na simetria harmónica (ou será assimetria da harmonia?), a Tia Isabel fez magia, e os móveis bailaram, num rodopio frenético e incessante, até se espojarem, exauridos, num lugar a eles sempre destinado. Rodou tudo na sala, excepto o seu Altar, que a Tia considerou no local perfeito. Ancorado, repousante e tranquilo, imóvel e sereno, a peça chave desta sala, a peça chave de uma casa, a peça chave de uma Vida. 

A Casa fluiu: o seu Altar eram infinitas gotas de água transformadas, lágrimas de Mãe que regam nova terras, e a Tia partiu. E eu sentei-me na sala, em frente ao seu Altar, nesta sala maravilhosamente paradoxal e LEVE e sorri!

Você está AQUI mais do que alguma vez esteve noutra casa, e isso surpreende-me. Mas está. Está finalmente:

@ HOME!

domingo, 16 de outubro de 2022

15.10.2022 - One Day minus 74 (Walking on a Wire - Tim Dawn - Everyday!)


 Meu querido, querido, meu adorado Filho,

Tenho tantas coisas para lhe contar e estou tão cansada, que não sei por onde começar. Das duas uma, ou condenso estes últimos dias num livro de setecentas páginas, ou então remeto-me ao etéreo das conversas que temos tido, e aos momentos que temos partilhado nos nossos corações, que habitam este nosso Mundo Novo, e opto por não lhe escrever, porque mentalmente já lhe fui contando tudo durante as nossas conversas constantes. Mas porque sinto uma saudade imensa destes nossos "mono"- diálogos, aqui vou tentar, utilizando a nossa costela germânica, sintetizar o não-resumível.

O Opa veio cá com a família. Está muito velhinho, você não o iria reconhecer, mas acredito que ele o reconheceria sempre, quanto mais não fosse, depois de falar consigo sobre o que vai mal na hotelaria em Portugal. E eles vieram cá Tim! Aqui à Terra atrás do Sol, num ocaso por acaso, caso que raramente acontece, porque o crepúsculo pede ao Sol que se recolha todos os dias até agora, neste verão interminável em tons púrpura, escarlate e laranja profundo! Foi bom que o Opa tenha conhecido - finalmente - o outro lado da minha Existência!

E você que tem uma sala de reuniões em seu nome, e o Zé fez um discurso fantástico, embora se ouvisse menos bem? É verdade Tim, a sala de reuniões principal da sua empresa, tem o seu nome! Haverá homenagem mais bonita? O Zé fez mais um filme seu, um filme ÉPICO, que me fez deixar correr as lágrimas da saudade, num sal mal temperado, de um Amor de mãe arrancado ao sofrimento, provocado pela injustiça da morte tão prematura de um Filho! Que ORGULHO em si meu Filho, que maravilha!

E conquanto, a vida segue o seu ritmo, demasiadamente rápido no campo, porque urge acabar uma casa para juntar os Mosqueteiros, os Amigos, o Pai e o Mano. Nesse processo fui à garagem, noventa metros quadrados de confusão instalada com a venda da Quinta, acrescida às minhas mudanças, para vermos quais os móveis iríamos levar primeiro. E nesse processo deparei-me com as memórias. Com fotografias, quadros, livros e brinquedos da sua infância. Fiquei sem chão, uma vez mais sem rumo, sem Norte, sem bússola! E hoje, o João foi lá levar os móveis de Lisboa. E no meio deles, estava a cama, a minha(?), barra sua, que você me cravou com aquele seu charme tão próprio, aquele ao qual eu nunca conseguia dizer que não:

- "Vá lá Mãe, faça lá isso por mim, pelo seu Tim, Mami, vá, facilite, por favor Mãe!"

e estava também o charriot de Barcelona, e um candeeiro, e as mesas de cabeceira e mil e um segundos de memórias que me trespassaram naquele quarto cristalizado numa existência que não sendo nova, não cessa de me surpreender pela (ir)realidade que encerra! 

Também tenho outra novidade, que era para ser surpresa para o seu dia de anos aí no Céu, mas que não resisto a partilhar prematuramente. Depois da sua Vida roubada, no mesmo adverbio de tempo, já não há surpresas, porque você vê tudo o que faço. Fiz-lhe um altar. Inspirei-me no postal que o Mano e a Chica trouxeram de Paris e, ouvindo baixinho aquele,

- "Toi, tu auras des Étoiles comme personne n'en a",

fiz-lhe um céu terreno. De um azul profundo, e com uma Estrela que simboliza todas elas, brilhante e prateada. Tem o seu nome, este altar, onde irei colocar os objectos com mais significado, para o levar comigo para onde quer que vá, nómada sem rumo e sem destino, aquele que traçaram contra a minha vontade, num vale de lágrimas esculpido na pedra da tristeza! E nesse céu, no dia doze de novembro deste ano miserável, esteja eu viva e de saúde, a Família dos Épicos irá escrever, assinar, dedicar e perpetuar as mensagens que lhe queremos transmitir para aí para o Céu, neste céu. Pintei-o de cinzento por fora, propositadamente para isso! Acho que vai ser uma homenagem da qual Você irá gostar! 

Bom Tim, tenho MUITOOOOO mais para lhe contar. Como por exemplo que só ontem tivemos sete ovos das galinhas, que já estão na nova Quinta. Que enchemos a piscina, porque o poço está cheio de água que o doido do Miguel bebeu sem ser analisada e que ainda não teve disenteria! Que comprei tudo direitinho na IKEA, excepto a porcaria do estrado da cama, e que poderíamos lá dormir todos, a Oma, o Mano, a Xica e nós, não fosse a minha cabeça que anda totalmente avariada de há dois meses e uns dias para cá. Que morro de saudades suas! Que agora que a casa está quase pronta, e que eu dizia à boca cheia que era fantástico uma casa nova, porque não tinha memórias; nas Mouriscas tenho mais memórias suas do que aqui? 

Como é possível? Só encontro uma explicação! Nestes dias extenuantes de trabalho, de criação, de acontecimentos, de reencontros, de MAKE IT HAPPEN, Você esteve sempre aqui, dentro do meu ser, vendo o meu agora (e não escrevi presente, porque (ainda) não consigo ver qualquer dádiva no Universo), através do meu olhar; carne da minha carne, sangue do meu sangue, razão de ser dos cinquenta e cinco anos da minha vida. Daqui a três dias completo mais uma volta ao Sol. Desta vez o sofrimento da Vida derreteu-me o coração. 

Lembro-me de uma delas, talvez há seis ou sete anos, em que, numa manhã bem cedo, vislumbro através das vidraças do escritório, uma silhueta muiiiiiitoooo familiar. Mas como por vezes, a cabeça se sobrepõe ao coração, pensei para comigo e comentei ou com o Dany ou com o Bruno, já ão me lembro:

- "Credo, aquele miúdo é igual ao Tim!"

Para minha gigantesca Felicidade, esse Miúdo era Você, meu Filho amado, que vindo de madrugada de Barcelona, passou esse aniversário comigo. E digo-lhe uma coisa mais Filho querido, eu tive sorte na Vida. Tive três grandes surpresas em cinquenta e cinco de dezoitos de Outubro, vividos, sofridos, mas também celebrados:

- aos onze, ou doze anos, penso eu, a sua Oma, que durante longo tempo não pode, por motivos profissionais, passar esse dia comigo, nesse ano, em casa a avó Lourdes, a sua Oma, ao final da tarde, saiu detrás de um biombo do corredor para me abraçar e me oferecer um elefante de peluche que eu amava e que sobreviveu durante centenas de luas!

- aos trinta e três anos, e muito antes do esperado, o Mano decidiu nascer, numa aventura louca e irreverente como ele ainda hoje é, Alegria da minha Vida, essa sempre com maiúscula!

- aos quarenta e não me lembro quantos, mas muitos, você veio de Barça, numa manhã ensolarada, com o casaco pendurado no braço esquerdo, óculos escuros e mochila às costas, naquele seu passo meio dançado, meio sério, para me estreitar contra o seu peito e me dizer:

- "Gostou da surpresa Mami?"

Ah, Tim, caramba, como vai ser este ano? Como conseguirei celebrar os anos do Mano, que tanto merece, aquele Miúdo fantástico que eu amo até à insanidade, e esquecer os meus, porque eu sou uma concha sem pérola, um búzio sem interior, um corpo sem alma, uma Mãe sem um Filho?

Escrevo estas linhas com um quarto, (também é) o meu preferido da casa, onde - já percebi hoje e fartei-me de rir - Você sempre esteve está e estará, exibido a três dimensões perante os meus olhos. Onde, nas duas janelas que o emolduram, o Sol nasce, e o Sol se põe. 

Um quarto de Luz. Uma Luz cheia de quarto. Ou A LUZ no quarto? Eu preferia que fosse um quarto cheio de Si, pleno, transbordante, mas nessa impossibilidade, que seja UM QUARTO DE LUZ!

OK! Compreenditiiiii! 

Será o SEU (esse) Quarto (crescente!)

Beijo, meu Filho!

Mami







sábado, 8 de outubro de 2022

8.10.2022 - One Day minus 67 (Miss You!)

 



Meu querido Filho,

Passados dois meses e uns dias após a sua partida, os "Outros" que ficam são poucos, o que não me admira! Com a guerra da Ucrânia, o aumento galopante da inflação, o regresso às aulas e todas as outras preocupações que afligem o Mundo, é normal o Mundo esquecer-se de si.

Para mim você está cada vez mais presente, ao mesmo tempo que a saudade aumenta. O nosso Mundo cresce, aquele onde me refugio a passos largos, aquele lugar paralelo onde sou feliz por estar consigo, aquele que é o meu santuário. Nunca pensei que me pudesse tornar numa espécie de ser bipolar, mas é isso que sou. Tenho uma sobrevivência, que funciona plenamente aos olhos da sociedade: para os "Outros", ou para alguns deles, é como se não tivesse perdido um Filho. Para mim, é uma constante, mas aprendi a "saltar", tal qual David Copperfield, entre os dois. Vivo no nosso, venho a este de vez em quando, ou melhor: a minha parte cerebral está "neste", a minha Alma vive no Céu, nesse lugar "perfeito" que existe, soit disant, no "imaginário". 

Acredito que para os "Outros" seja o mais confortável: é como se não o tivesse dado à Luz, literalmente falando, no dia vinte e quatro de Novembro de mil novecentos e noventa e cinco e no dia dois de Agosto de dois mil e vinte e dois. Mas nesse hiato de Felicidade, nesses vinte e seis anos e alguns meses de Alegria pura, você existiu e foi Humano, foi e É meu Filho, o meu Tim e, pedindo desculpa aos "Outros", pelo incómodo que lhes causo, quando, sem querer, deixo transparecer a minha dor, a minha solidão e o meu desgosto, não posso deixar de reiterar isso. O Martim existiu, viveu e morreu, sem qualquer culpa, muito, muito, demasiadamente antes do seu tempo, num Tempo que me e que nos foi roubado, mas que deveria ser nosso, e sobretudo dele. Futuro aniquilado, mas Eternidade oferecida, porque o Paraíso existe, e leva para lá apenas os melhores. 

Tim...no auge da minha (in)sanidade, só me apetece rir às gargalhadas acerca do quão ridícula é esta vivência, filha desta existência sem perguntas nem respostas, com as suas preocupações mesquinhas e as suas dúvidas ridículas! E neste riso, sou transportada para a nossa ombreira. É nela que tenho uma epifania: eu sou Ponte, Travessia, Caminho, sou Ligação entre as Margens. Eu estou em ambas. 

Mas, confesso, cá para nós, tenho um pé mais "desse" Lado! ;-)

Mil beijos...

... (cansados, mas a obra está a andar... (há que manter o outro pé deste!)

da sua Mami!

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

6.10.2022 - One Day minus 65 (Surreal: Caminhos, "Liquid Spirit" e o Opa está cá!)


 

Meu querido Tim,

Há quatro dias que não lhe escrevo, e se você não me roubar mais este texto, isto hoje promete. Mais uma vez faço minhas as palavras da Inês: 

- "Faz o que te apetecer, és tu quem importa agora!"

Nem sei por onde começar. O cansaço invade-me o corpo, mas é um cansaço consolador. Hoje trabalhei tanto, que o meu espírito descansou, numas tréguas temporárias que fiz com o Universo. Prometi-lhe que se tivesse a Quinta pronta para o dia 12 de Novembro, "Ele" me dava a Paz necessária, para que eu pudesse cumprir o meu propósito. Acho que hoje foi o primeiro dia. Acabámos a cozinha e a sala. Limpei o tecto: trinta e cinco metros quadrados de aranhas, aranhiços e outros seres de várias patas, que caíram sobre o lenço que tinha na cabeça, numa despedida final, percebendo que a partir de agora a Casa vai estar habitada, e que a Rainha sou eu, de vassoura, mira telescópica e insecticida nas mãos, pronta para o ataque! Depois dei uso à escova, esfreguei o chão, e a tijoleira ficou a brilhar. Por último, enquanto a Isabel se fazia aos quilos de pó no sótão, e a Célia declarava guerra aberta às gorduras acumuladas nas juntas dos azulejos da cozinha, depois de encontrarmos uma ratazana de quarenta centímetros morta no sótão, acabámos uma parte significante. 

Tim...

Descobri que os Tios, ou pelo menos a Tia Paula, está a fazer os Caminhos de Santiago e que o Diego ganhou um prémio importante em Barcelona enquanto Liquid Spirit;  que é possível a Vida (ou a vida?) continuar(em), mesmo depois "disto". Descobri ainda que nada é nosso, que somos apenas convidados (in)desejados no palco das vivências, ou no das memórias, nas quais todos tropeçamos, enquanto caçamos a felicidade passada em presentes memórias fugazes, de tão repletas de Felicidade foram. Que um dia pode ter vinte e quatro horas, mas também encerra no seu ocaso, vinte e seis anos, quase vinte e sete!

Descobri, acima de tudo, e uma vez mais, que há dois Mundos paralelos, aquele onde só nós dois vivemos, e o outro, onde agora habito, em passos leves e efémeros, quase nunca tocando o chão, num voo inaugural de sofrimento, de tristeza e de saudade, de uma complexidade emocional que me atordoa e me corta a respiração!

O Opa chegou, ao fim de três anos! Está tão perto em quilómetros, e, conquanto, tão longe nas barreiras que teimam erguer entre nós! Quão hipórita, malvado e perverso o Universo, e algumas pessoas podem ser?

Sinto-te em Paz Tim Galinha: longe, repousando nas Estrelas, mas perto, enquanto colado ao coração. O Tempo tem uma nova dimensão e, aos poucos, ou talvez vertiginosamente, entro nela. Passaram dois meses Tim, e a mim, por vezes, parece-me uma Eternidade enquanto noutras, apenas um segundo!

Em que ficamos Filho?

Estou "numa" varanda em Barça. Está uma noite estrelada, quente, acolhedora. Ouço a sua voz ao fundo:

- "Épico, não é Mãe?"

E eu...enfim...

Eu não sei o que responder, porque só me apetece gritar a minha saudade, enquanto me lembro dos aperitivos em sua casa, dos jantares, do tempo em que a Vida era plena (de Mercadona), de Alegria, de Petiscos, de Tapas, de "savoir vivre" na Bocqueria, tão cheia de Grac(i)a, tão maravilhosa, consigo nela, nessa Via Lactana, onde tudo acontecia a todas as horas do dia!

Tim...foi há dois meses ou há duzentos anos? Foi hoje? Ontem? Ou será o Amanhã apenas o reviver de uma agonia sem fim?

Não! É todos os dias, todos os dias em que me arrancam a Alma, num torniquete de tortura inigualável, que me relembram que sou "De(s)filhada, desprovida de metade de mim, coxa, inadaptada a uma nova existência, futuro roubado, santuário de maternidade profanado, num cordeiro imolado pelo Amor por um Mundo melhor!

Tim...

"It's buried in my soul..."

Amo-te Filho Lindo!

Mil beijos,

da sua Mami,

Ana





domingo, 2 de outubro de 2022

2.10.2022 - One Day minus 61! (Mais Amor por Favor :-)!)

 




Boa noite, Bicho do meu coração, meu Tim, meu Filho adorado,

Cheguei agora a casa, depois de um dia...

...ÉPICO! 

(E leia-se Épico mais do que em maiúsculas: aos berros, de sorriso gigantesco, rasgado, honesto, temperado com maresia e polvilhado de sol e de sal)!

Um dia pleno de emoção, de carinho e de amor! Um dia de TUDO e de TODOS! Com TUDO e com TODOS, como só você conseguiria juntar!

Você iria adorar. Iria, não, adorou, pois esteve connosco. Foi um dia de...

...AMOR!

Meu adorado Filho, não tenho palavras. A emoção invade cada um e todos os triliões dos meus poros, e enche-me o coração, a gratidão inunda-me a Alma e, uma vez mais, sinto-me abençoada. Por tudo e por mais alguma coisa. Mas acima de tudo, por ter o privilégio de ser sua Mãe, no presente do indicativo, e juntamente com o Pai, de o ter educado nos princípios que marcaram a sua (breve) e, contudo, tão marcante Vida terrena.

A semente do Amor que você plantou, nos poucos anos em que viveu entre nós, dá frutos, e estes colhem-se todos os dias. E hoje foi um dia de colheita. O António e a Concha organizaram uma missa no Baleal, e um almoço em casa deles. Quando transpus a ombreira da porta, percebi de imediato, porque é que você gostava tanto daquela casa, precisamente porque se respira Amor. Percebo também porque a enorme, gigantesca, grande família dos "Martims" existe. Somos muitos Tim, todos consigo, por si e em si. Porque somos Mosqueteiros, defensores do Amor; a única razão de ser da existência humana, num desiderato breve, mas primordial.

Sorri ao ouvir o Padre dizer na missa, que o Tempo não tem Tempo, aí, onde você está e pensei: 

- "Será que ele leu as nossas cartas?"

Claro que o Tempo não tem tempo, muito menos Espaço, nesta Eternidade, neste nicho (res)guardado, segredo escondido onde nos (re)encontramos, sempre que lhe escrevo! Finalmente alguém entende, ou verbaliza aquilo que sinto, um Espaço (in)temporal, cristalizado num aqui e num agora eternos, ponte entre margens onde nos tocamos, você e eu, hoje e sempre, num quotidiano só nosso, onde o corpo físico se funde no etéreo das Almas, porque nós dois seremos sempre Mãe e Filho, naquela união só nossa, única, umbilical e atávica!

Tim...foi preciso você partir para eu retornar ao mar, mergulhar naquele sal cristalino, nas ondas de água gelada, e com isso, lavar as minhas mágoas, os meus anseios e os meus terrores. Foi preciso você ir-se embora, para que o Amor unisse o (nosso) Mundo, com as "suas" pessoas, como que esses encontros fossem desenhados a tinta-da-china, num traço impreciso, mas gravado na memória de cada um e de todos nós, tatuados na Alma colectiva de todos os que o amam. Dizia-me o Fred hoje, que achava que a Vida tinha melhorado. Não acho, tenho a certeza. Há o seu toque de Anjo em tudo, em todos nós, há um "make it happen" que não vem daqui. Vem daí. É o seu toque mágico, o toque do Amor.

Tim...

...tenho tantas, mas tantas, tantas saudades suas, neste vazio enorme, e conquanto, num pleno infinito tão cheio de Alma, num coração repleto de sementes de Amor, as que você deixou, que não sei bem qual a melhor forma de me articular. Estou inundada de tristeza, de saudade, de mágoa, mas acima de tudo, plena, transbordante de AMOR! Aquele que você partilha, polvilha e semeia entre nós, todos os dias, em cada memória, em cada segundo, em cada gesto, em cada:

- "Credo Mãe, a Mãe não existe!"

Esse Amor inunda-me, transborda, transvasa, e com isso, consola!

Tim...

Dois meses "sem" si no plano físico, e, contudo, cheios de si no plano sideral, etéreo e (e)terno, memórias nossas, suas, minhas, de todos. Você esteve hoje connosco naquela varanda sobre o mar, no casco de sapateira, nos queijos, nos enchidos, na feijoada, no ananás, no melão e nos doces. Era a sua Alma ali, debaixo do Sol, ao sabor da maresia, temperada com o sal do Amor e o açúcar da Existência!

...TIM...

Dois meses...

...dois meses de "Mais Amor por Favor?"

Dois meses de Todos, com Tudo, com Saudade, mas acima de tudo com...

AMOR!

Tim, dois meses que parecem uma vida, de tão dolorosos que têm sido, e ao mesmo tempo, tão plenos de memórias, tão cheios de si, em todos os nanossegundos que os marcaram! Dois meses de agonia, de saudade, e, conquanto, de significado, porque a sua Vida foi plena, transbordante de ânsia, de Amor! Uma Vida cheia, uma herança, um legado, uma ode a tudo o que o Ser Humano pode almejar. Há uma essência de Anjo em si...

Mande uns "pozinhos" disso cá para baixo se faz favor! 

Beijo cheio disso tudo da sua Mãe que o adora!

Mami

P.S. E por favor não diga ao Espírito Santo que:

- "Credo, isto aqui é uma pobreza! Não há talheres de peixe?!"

25.4.2024 - One Day plus 266 - (Still about) the Intrepids, the Freedom Lovers, the Crazy Ones...

  Ahhh meu adorado Filho, Que DELÍCIA!  Está tão, mas tão perto de mim e obrigada pelos sinais que me vai enviando, hoje especialmente.  O &...