domingo, 24 de dezembro de 2023

24.12.2024 - One Day plus 143 - Dia 24.12. de tantos e tantos anos, tão bons!

 



Meu adorado Filho,

hoje, porque já passa da meia-noite, escrevo-lhe para lhe desejar um Santo Natal aí no Céu. Senti-o hoje, meu Filho, e obrigada por este presente. A sua Miúda continua sua, e minha, e foiu tão bom estarmos juntas! Hoje, véspera de Natal, vamos jantar à Oma, mas vamos cedo, para lhe fazer companhia. O meu Natal será dia vinte e cinco, quando o Mano vem, com a namorada e o nosso outro filho adoptivo, tão querido, que inicia mais uma tradição, repetindo o ano passado e deixando o meu coração mais quente.

Temos presentes debaixo do Presépio, e a Alegria da antecipação de - espero - mais alguns sorrisos. Criamos novas memórias, para que estas nos ajudem na sobrevivência a uma Saudade sem fim.

Mas também temos Gratidão: pelo seu querido Irmão, pela Oma, que continua aqui, minha Rocha cheia de força, por tudo o que tenho, e não me refiro ao material.

Neste Natal, a Saudade sente-se muito mais, mas é um bom sinal: é sinal de que estou viva, porque no ano passado, nem sei bem descrever o que sentia, porque não me lembro bem. A Saudade estranha-se, depois entranha-se, Faz parte de nós. Custa mais, numa altura do ano em que todos estão com os seus queridos, e nós somos ponte entre dois planos, entre os nossos, mas estamos. E SOMOS. 

Feliz Natal meu Filho do Céu! 

Com todo o meu Amor,

Mami



quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

20.12.2023 - One Day plus 139 - Da Gratidão, do Natal e de tantas outras coisas...

 


Tim, (falta-me o fôlego para o "meu adorado Filho"),

Tim...quantas mensagens, fotografias, vídeos e mais telefonemas costumávamos trocar por estes dias? Quantas discussões sobre os presentes para o Duda, a Oma e a sua miúda, passando por algumas outras dicas, como as do Pai, dos Tios, de tantos outros? Quantas vezes tocava o meu telefone, agora mudo, no silêncio da comunicação, nesta época tão significativa para mim, tão cheia, tão grávida de recordações doces e suaves, tão plena de Amor, tão dádiva, com a qual que nós dávamos Alegria aos outros? Lembro-me de tanto Martim! De tanto, do sorriso da sua miúda, quando você fez magia com a carteira, da gargalhada da Oma com o porta-moedas que ainda hoje usa, e da minha, por ter finalmente uma "Coach" de uma cor que ninguém tem, a minha "Coach" da sorte, aquela que hoje quase nem ouso usar para não estragar! Erro meu, mas apenas por querer preservar intacta a memória de um Natal tão especial, dos últimos, que passámos na Alegra Casinha, quando tudo era ainda normal! 

Ontem o Mano ligou, andava nas compras de Natal. Foi um telefonema que soube pela Vida, ainda com maiúscula nessa altura, e, conquanto, constato que estou a viver, ao antever o sorriso da Cate e da Oma, do Mano e mais alguns sorrisos, espalhados e espelhados pelo Natal. Um Natal em que agradeço, porque nada me resta, e, mesmo assim, tenho tanto! 

"As Dianas nasceram por causa deste miúdo! Ainda hoje falei tanto dele, no stress que era, todos os anos, a época pré-natalícia. Stress? Não, na emoção, no “frisson” da antecipação de sorrisos. Os meus dois Filhos queridos são tão parecidos nisso, e acertam sempre, mesmo que à ultima da hora, nos presentes com que mais sonhámos. Sempre foi assim o nosso Natal, menos embrulhos, mas todos os Natais havia um com muito significado. Havia sempre um sonho realizado, nem que fosse o único embrulho debaixo da árvore. Porque o Natal não é quantidade, é qualidade. Qualidade no Amor que sentimos pelos outros. Neste Natal o meu coração enche-se de gratidão: pelos meus Terrenos que tanto amo, sobretudo pelo meu Duarte, de quem tanto me orgulho, pelo meu Anjo do Céu , aquele que zela por mim todos os dias, pela minha querida Mãe, que por cá anda comigo em aventuras natalícias, e cujos olhos brilham quando fala do cabrito, nova tradição cá em casa! Pelos meus Amigos, aqueles que me acompanharam ao longo deste ano, neste hiato tão difícil e tão doloroso, entre estes dois últimos Natais. Pelo Miguel, que me acompanha, diariamente de pedra e cal, apesar das suas idiossincrasias. Pelas Mães, e alguns Pais, órfão de filhos, com quem partilho esta nossa tão dura e espinhosa caminhada! Pelos que leem o meu blogue, e com isso, mantêm viva a memória do meu querido Filho Martim, que tanta falta me faz nesta quadra natalícia! Pelas famílias que acolheram as minhas netas Dianas, e que com isso, me deram uma prova imensurável de amor e de confiança. E acima de tudo, tudo, tudo, pela dádiva que me foi dada, de conseguir transformar uma dor universal em Amor! De não sentir nem mágoa, nem rancor, nem raiva, mas apenas gratidão por tudo o que me tem sido dado. Feliz Natal meus queridos!"

E é isto Filho. É isto, tão perto do Natal. 

Saudades suas Martim, tantas, que não consigo quantificar. Tantas, que não existem lágrimas suficientes. E ao mesmo tempo, tantos sorrisos perante as minhas doces memórias. A vida continua meu Filho, nas velas que acendo no meu atelier, na Paz que procuro diariamente sentir no meu coração, no apaziguamento de tanta imagem gravada na memória, nos soluços que agora teimam em se libertar do  meu peito.

Se o Mundo soubesse...

...mas também se soubesse de tudo, deixaríamos de ter aqueles nossos segredos cúmplices, de jantares épicos, de memórias indeléveis, de Vida pulsante e plena, transbordante de energia. Dava a vida para ouvir a Coruja cantar...

...há sempre um presente especial à nossa espera debaixo da árvore!

Com  AMOR infinito, 

Mami




quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

13.12.2022 - One Day plus 132 - sobre (como) roubar fotografias suas, ou de olhos postos no Céu!

 



Tim do meu coração,

Hoje de Lisboa, sentada a um metro da cadeira onde conversei consigo pela última vez. Estou a vê-lo, a ouvir a sua voz, a sorrir para o seu sorriso, aí sentado, numa incansável argumentação com a Oma sobre as vantagens de fumar tabaco aquecido, para,  num rompante, saltar da cadeira de palhinha e sair, para uma hora depois voltar, munido dos artefactos que iriam suster a sua tese. Desde esse dia, ou melhor, desse dia mais cinco, aquele dia sinistro de dois de Agosto de dois mil e vinte e dois, que a Oma cumpriu a sua palavra. Ou melhor, as suas - suas - dela. A velhota tem-se aguentado. E bem. E bem, porque é ainda muito precisa. Precisa e preciosa, fonte de Vida onde ainda hoje vou beber. Não é fácil às vezes, e é desafiante, mas é a OMA. 

E aqui estes dois dias, ou melhor, estas duas noites, aproveitei para "canibalizar" algumas fotografias de casa dela. E ao recordar esses tempos ancestrais, voei no tempo, e recordei tempis (in)temporais,  tão alegres, tão divertidos e foi então que, de reoente, reparei que...

...desde o seu ano e meio de Vida, que os seus olhos estavam postos no Céu. 

Como se num prenúncio, numa expressão de um reconhecimento feliz de quem está, ou esteve, "aqui" apenas emprestado, porque os Anjos têm de retornar ao Céu.

Meu Filho querido, o meu coração transborda de gratidão e de Amor por si. Por me ter ajudado a reerguer da morte, para poder acompanhar os Vivos que adoro, os meus Seres Terrenos, todos eles, tantos e todos eles que precisam (e chamam) por mim!

Parte de mim será para sempre Céu. Estou aí, consigo, num Abraço universal, num (re)encontro constante de Mãe e Filho, um reencontro que jamais será interrompido, porque enquanto vocè "aí" e eu "aqui", a ponte do Amor universal une as nossas margens, transbordantes de Alegria e Gratidão por cada uma destas nossas tertúlias!  

Nunca sonhei que o Amor me faria, neste Dezembro, planear presentes, fazer Dianas, trabalhar, aprender a (sobre)viver à morte da dor do Luto por um Filho. Nunca pensei que seria possível. 

Hoje, no metro atulhado de gente, com a mochila às costas, um saco de compras num ombro, no outro a carteira e o casaco, morta de cansaço, uma catraia começou aos gritos comigo porque eu queria passar para sair na estação seguinte. Parei, olhei para ela e sorri longamente enquanto lhe disse:

- "Oh, desculpe, mas como vê, sou quase uma avó e estou carregada de tralha". 

Uma onda de Amor invadiu-me de imediato, perante os primeiros sinais instintivos que saltaram, e que me fizeram pensar por nanossegundos:

- Oh minha miúda malcriada e estúpida, que estás a tapar a porta, então tu não vês que eu, que mais pareço uma morta de cansaço físico, carrego um fardo visível tão pesado, e mal sabes tu do outro, e tu pões-te com esses disparates agressivos?"

O Amor sobrepôs-se de tal forma, que perdi o Marquês de Pombal, e quando acordei do transe em que me encontrava, estava na Avenida. Percebi o que você me quis dizer, ainda hesitei, mas doíam-me tanto os braços, e os fios ainda estão bons, que ficam para a próxima vez que vier a Lisboa!

De olhos postos no Céu, estamos quase no Natal meu Filho.

E você está comigo. Sempre!

Um beijo enorme da sua Mãe que o adora, 

Mami

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

4.12.2023 - One Day plus 123 - Nómadas na Era digital, Nómadas no Espaço Astral!

 




Meu adorado Martim,

Estes últimos dias têm sido duros. Muito duros. O primeiro Advento trouxe-me muitas recordações. Inúmeras. Doces, suaves, e conquanto melancólicas, verdadeiras carícias traduzidas em reminiscências de uma Alma velha. Quantas vidas se vive numa Vida? Quantas vezes temos de nos reinventar? Bom, alguns, nenhuma, outros, não há números suficientes para contabilizar. Os meus pensamentos vagueiam, nesta nova, mais uma de infinitas, conversa que estou a ter consigo. 

E hoje não me apetece ir por partes. Quero deixar o lado germânico dormir em paz com a sua querida necessidade de organizar tudo, e dar asas à minha costela Tuga, onde simplesmente deixo as palavras fluír.

Está um frio de rachar. E isto não é um início de nenhum episódio - por acaso vou-me perder aqui num pequeno Delta da conversa  mais adiante - é um ""under"-"statement"". Isto é a verdade pura e crua. Está frio, e a melhor hora do dia, é quando desligo do trabalho e acendemos o lume passado algum tempo. Onde conversamos, e onde, mergulhada na energia púrpura das chamas à medida que crescem e se alongam, num bailado sempre diferente, revejo imagens, recordo conversas, e revivo abraços. E a propósito de frio de rachar, e de nómadas digitais, 

- "(que moderna Mãe, que é que se passa?)"

descobri um site fantástico onde se compra roupa em segunda mão. Nas minhas noites de insónia, entretive-me a deslindar os meandros desta nova forma digital de viver a sua e minha paixão por vasculhar lojas à procura de achados, e descobri que é possível comprar umas botas Timberland - novas - por uma pechincha. Ao mesmo tempo, ajudo a reduzir a minha peugada de carbono (e sim, meus queridos jovens, pode escrever-se "peugada", daí a velha "peúga"), e sinto-me ultra moderna, o que ajuda bastante a contrabalançar os milhares de anos que tenho em cima.

Mas que enorme introdução que fiz para lhe dizer "apenas" isto: os últimos dias têm sido duros. Muito duros. E, em vez de estar na cozinha a preparar o jantar, estou a escrever-lhe. Ou melhor, vim para o Atelier para acabar as Dianas. Mas faltava-me a música. Como estou completamente "ginja", andei meia hora à procura do carregador da coluna. E quando o encontrei, já a nossa conversa ia de tal forma longa, que abri o Spotify e vamos a isto. E, quase sem olhar bem para o som, deparei-me com isto. E é basicamente "isto".

É uma "playlist" sua, que, quando escolhi, nem reparei que o era, decidi-me por ela, porque adoro Thievery Corporation, porque a Saudade é a minha nova grande Amiga, ou sombra, ou seja lá o que for que me assola, que se colou à minha Alma, ao meu coração e ao meu corpo numa simbiose perfeita, gémea siamesa com a qual tenho que aprender a viver. Não há medicina que separe as duas, mas há um remédio para isso: AMOR. 

Não cura, mas mitiga.

E mitigar é partilhar, é não ter vergonha de esconder a dor, é não poupar os outros ao nem nosso sofrimento, nem à nossa tristeza, porque quem nos ama, aguenta tudo isso. Porque pegam nos cacos estilhaçados e tentam colá-los. E conseguem, nem que seja por instantes. E esses instantes, inconstantes como as chamas que dos cães da lareira lambem as paredes de tijolo de burro, numa dança rodopiada de calor, são instantes de Amor, porque de Paz. De apaziguamento. De deixar a mente vaguear, qual nómada no Espaço Astral!

Mil beijos meu filho, da sua Mãe que vagueia perpetuamente entre o aqui da Terra, e o aí da Saudade,

Mami!

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

24.11.2023 - One Day plus 113 - M A R T I M

 




Martim...

...Filho meu,

daqui a poucos minutos bate a hora em que nasceu. Sete e vinte e uma da tarde, meu adorado Filho, meu primeiro sonho de Mãe concretizado, meu Menino, minha Criança, meu Adolescente, meu Jovem Adulto, promessa de um Ser Humano Maior, meu futuro roubado, minha tristeza, minha revolta, minha Esperança, meu Amor universal depositado em cada um e em todos, num uníssono de eterna Gratidão pela bênção que me foi dada, em poder dar ao Mundo, e à Eternidade um Filho de...

...LUZ!...

Meu Filho...faltam-me as palavras, afogadas nas lágrimas, conquanto iluminadas pelo sorriso.

Meu Filho, hoje, mais do que ontem, e sempre menos que amanhã...

Com todo o meu Amor,

Mami

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

23.11.2023 - One Day plus 112 - Sobre momentos gratificantes e mágicos, amanhã "longe demais"!

 



Querido António,

e meu querido Filho,

aqui segue uma fotografia da vossa (e tão minha Diana).

Gostava, que quando desses esta Diana à tua filha, e não digo nomes para não estragar surpresas e por causa da proteção de dados!, que lhe contasses esta minha e sua (da Diana) história.

Em Dezembro, quatro meses depois do Martim morrer, decidi, uma vez que não tinha ainda conseguido concretizar um dos desejos da minha “bucket list",  tirar um curso de corte e cose, comprar uma máquina de costura. Assim do nada. O Banco ofereceu-nos uns vales de presente de Natal e pensei, que depois do que me tinha acontecido, era mais do que tempo de realizar um sonho, embora o tenha começado ao contrário. A grande vantagem, é que com o meu "German footprint", depois de despender tamanha quantia numa máquina, nem que seja à chicotada, vamos aprender a usar a dita. E assim foi, apenas com a diametral diferença de que em vez do chicote, eu tive uma mão que me guiou.
Num inverno gelado, mais ou menos há um ano, em que não sabia se estava viva ou se tinha morrido, toda eu Saudade e lágrimas, dilacerada por dentro mas funcionando por fora, tal qual boneca robótica século vinte e dois, comprei a minha máquina. E de livro de instruções em punho, página a página, pu-la a funcionar. E daí foram passos e saltinhos, corridas e caídas, mas a minha neta do Universo, tinha de nascer, pois é do meu Filho do Céu. E a Diana trouxe…

…AMOR!

E por estranho que pareça, cada Diana que nasce das minhas mãos, é especial, e está cada vez mais gira. Parece que elas sabem para quem vão. São parecidas com a pessoa para quem foram destinadas. Há como que uma mão do divino.

Cheguei a ter uma encomenda de três Dianas para três netas, onde a avó me disse para ser eu a escolher para qual delas seria cada uma. Fiz os embrulhos como o Universo o ditou. Uns dias mais tarde recebo uma mensagem de what’s up. Comovi-me com o que li, mas chorei ao ver as fotografias. Umas netas eram loiras, outras morenas. Umas mais extrovertidas, outras mais tímidas. Cada uma delas tinha a sua Diana nas mãos. E era como se elas tivessem sido os meus modelos. A cor dos cabelos, a expressão do olhar, os tons dos vestidos e forma do corpo correspondiam na mouche. Eram IGUAIS!
Umas semanas mais tarde, numa noite terrível de frio, de saudade, de morte e de desespero, não dormi. Trabalhei a noite toda, sentindo a sua presença atrás do meu ombro direito, a sua mão levemente pousada, a sua voz a falar-me baixinho ao ouvido (e não, não era apenas um sussurro) e, quando os primeiros raios gelados de um sol que nascia do lado esquerdo dos meus olhos irromperam o azul escuro do céu, nasceu a Diana Anjo da Guarda.

Reparo agora, António, que escrevi o parágrafo acima como se fosse para o Martim, peço desculpa pelo lapso, perco-me sempre nas lembranças deste meu Filho. Mas adiante.
Da mesma forma (sobre)natural - embora eu prefira escrever universal - que o meu caminho me levou até ao Anjo, há poucos dias fiz esta vossa Diana. Nunca tinha feito uma Diana assim, mas pensei que nem sempre as miúdas têm que andar de tótós, as miúdas não são menos miúdas quando decidem andar despenteadas. Depois de reflectir um bocado, achei que nem todas as pessoas iriam preferir uma Diana assim. Mas disse ao Martim:

- “ Filho, você vai encontrar uma pessoa família muito especial para esta sua Miúda, e o Universo vai ajudar!

E assim foi. E é com uma Gratidão IMENSA, porque recebi mais um sinal do meu Filho do Céu, que amanhã faria 26 + 2 anos, que olho para este céu de hoje, dia vinte e três de Novembro, véspera de um dos dois dias mais felizes da minha Vida, e digo:

Obrigada meu Filho, não só por mostrar ao Mundo que nem todos somos iguais, como por me encontrar “A” pessoa certa, na forma de uma Miúda com “M” de maiúscula, para mais uma Diana, boneca de trapos, cosida com floridos e coloridos farrapos de Amor!

Obrigada António e depois conta-me o que é que ela sentiu quando a recebeu nos braços!

E como esta carta é uma missiva entrelaçada de destinatários, assino “apenas” como,

Mãe

domingo, 19 de novembro de 2023

19.11.2023 - One Day plus 108 - Nas Asas do Infinito! ("Aujourd'hui plus qu'hier et bien moins que demain")

 



Martim, meu adorado Filho,

Nem sei por onde começar. Em primeiro lugar quero pedir-lhe desculpa, por ainda não ter transcrito as nossas últimas conversas. Mas também foram tantas, mas tantas, que não teria humanamente tempo para relatar o que se passa no plano divino. Ou semi-divino, porque se me envolve, não pode ser apenas Céu. 

Filho, nem sei como o descrever, porque o(s) plano(s) que movimentamos, e nos planos em nos nos movimentamos, são uma espiral que nos leva ao âmago, a um lugar em que somos forçados, e acabamos por aceitar, a compreender que nada depende de nós. Vou-lhe contar um segredo, que lhe peço guare só para si: este último ano e mais uns meses espremidos à saudade do tempo, ensinou-me mais, do que a muitas pessoas reincarnadas em muitas vidas. Eu sou milenar: na minha saudade, na minha tristeza, na minha agonia. Sou a Mãe das Mães, porque esta dor que nos dilacera as entranhas, é a mãe de todas as dores. Não existe dor maior. Mas, é precisamente nesta dor Maior que nos temos que reinventar, numa herança que se perde na bruma dos tempos. E o estranho, é que quando estou "comigo" e me visualizo, o meu rosto traduz as linhas de tempos felizes. Mas quando me olho ao espelho, vejo uma anciã, onde as lágrimas lavraram sulcos tão profundos, quanto indeléveis, tatuados a ferro e fogo na minha Alma. E, contudo, esta Alma sobrevive.

Quem sabe, porque fui capaz de dar à Luz um Anjo. Tanto quando o trouxe para o plano terreno, como quando o entreguei ao divino. Fui dor duas vezes, uma no corpo, outra na Alma. 

E cá estou. E o trabalho, e as idas a Lisboa, e os quilómetros que faço aos encontrões, no meio de um ruído, burburinho gritante e incomodante, que a maioria dos Lisboetas,  os verdadeiros e os da periferia, já nem sentem, porque pertence ao seu quotidiano, mas que a nós, gente do campo, causa comichão na cabeça. E o tempo corre, corre, corre, na espiral que nos suga, e eu não me consigo virar entre falar quatro línguas ao mesmo tempo, conviver com dezenas - senão mais - pessoas, e o silêncio do meu campo, e as Dianas, e os animais, e tudo o que aqui me prende.

E tudo o resto que você sabe tão bem, porque me acompanha, e sabe as lutas que tenho travado, na procura incessante de tudo o que considero justo e correcto, debaixo de uma saudade, ainda nem aflorada, do seu avô, da Foxie, e de uma vida que nem parece que foi minha. Entendo agora o que sentem os velhos, um olhar para uma sucessão de dias que é tão longa, tão única, tão cheia de recordações, que mais parece um livro, do que um aglomerado de vivências reais, puzzle delicadamente montado numa pessoa, que ora se desfaz, ora se completa, numa paciência infinita! 

E nestas paciências, sobrevivemos. Trazemos connosco, num bolso debruado e mal alinhavado no nosso coração, os que estão no Céu. E no outro lado, noutro bolso, cosido com as linhas do Amor, levamos os outros. Os Terrenos. Os que nos obrigam a criar raízes.

E neste pairar, nesta vida (terrenamente divina? ou divinamente terrena?), existimos. E lutamos. E somos. 

E ouvimos...

...a Coruja. Que voltou. De uma forma diferente, mas voltou, a um Outono mais sábio, mais, muito mais dorido, muito mais dilacerado, mas também muito mais empoderado. A sua bisavó Loures costumava dizer: 

- "Si jeunesse savait, si veillesse pouvait" e é tão, mas tão verdade. 

Mas eu posso, porque me basta semicerrar os olhos, erguer a cabeça para o Céu e acreditar. E nessa crença inabalável que sempre tive, nascem-me as Asas. E sou Céu. E sei voar. 

E voamos, Pássaros Alados nas asas do Amor!

Mil beijos meu Filho, da sua Mãe que o adora,

Mami!




domingo, 29 de outubro de 2023

29.10.2023 - One Day plus 87 - Aqui do Campo...

 



Meu adorado Filho,


Como prometido, aqui estou, de novo, num Domingo não chuvoso, mas torrencial, literalmente "The Day After" à mudança da hora, aquela irracionalidade, cuja lógica a minha simples cabeça nunca conseguiu entender. O argumento das crianças de manhã no caminho para a escola já deveria estar em desuso, porque só um maluco deixaria os seus filhos à solta no trânsito caótico de cidades como Lisboa! Portanto, se queremos economizar, então porque não prolongar a luminosidade ao  (e escrevo "ao" e não "do" propositadamente) dia, para que as luzes se tenham que acender mais tarde? Juro que não abarco a ideia por detrás, muito embora acredite - piamente - que quando aflorar esse tópico com o seu Irmão, ele me vá dar uma teoria tão complexa, provavelmente ainda oriunda no "Bing Bang", de tal forma intrincada na dificuldade de compreensão da Física Quântica, que o que  fará "big-bang" é a minha cabeça, completamente em uníssono com essa bela Onomatopeia da língua inglesa!  

Agora começam os meses do ano em que o campo não é para fracos. Costumo dizer, desde que para aqui vim viver, que nesta parte de Portugal, temos nove meses de paraíso, e três de Inferno. Novembro e Dezembro são facto consumado, depois os corações oscilam entre Janeiro e Agosto. Ora como "Janeiro fora, cresce uma hora", e Agosto seja, por si só, um mês infernal na minha vida, eu defendo a teoria de que são Novembro, Dezembro e Agosto. Em Janeiro ainda está muito frio, mas os dias começam a ficar de novo maiores, primeiro lentamente, depois acelera, e em Fevereiro começa a sentir-se no ar a promessa da Primavera. Mas sentir o frio é algo de delicioso, porque damos vinte vezes mais valor ao quentinho da lareira, às camadas de camisolas que temos que vestir, verdadeiras cebolas saloias e ao ar que exalamos, num nevoeiro que se mistura na paisagem das conversas enquanto caminhamos. 

E é neste dia vinte nove de Outubro, que ouço Parcels, enquanto navego entre a costura e a escrita. As duas são cada vez mais indissociáveis, porque uma é tão relaxante, que num chapinhar calmo e introspectivo leva à outra, e dou por mim a falar consigo, enquanto coso uma baleia de tecido de corações e de bolinhas. É então que decido saltar para o computador, e escrever aquilo que o meu coração verbaliza. São tão bons estes nossos momentos, estamos tão juntos nestas conversas, que me sinto consolada, como que abraçada pelo Universo, num colo carinhoso e tranquilizador. Nestes momentos sou Cosmos, e neste Cosmos, somos Unos. É mesmo, mesmo, mesmo como se você estivesse aqui, apenas não fisicamente. Está de uma forma muito mais completa, porque me envolve, e é este seu Espírito que me traz a força e a vontade de continuar. Porque eu SEI que você está aqui, em cada átomo de mim, seja nas recordações de ínfimos pormenores, celebrados noutra Vida, seja no presente do meu aqui e agora, em que ouço a sua voz em mim, como se estivesse, de novo, fisicamente presente. Tenho aprendido tanto Martim, taaanto! É como se o saber universal me inundasse, por breves segundos, é algo de muito difícil de (d)escrever. 

A realidade brutal da morte de um filho, só ao fim de muitos meses é que começa a querer entrar, quando o nosso cérebro já se conseguiu refazer minimamente do choque inicial. Para mim isto é inegável! Inegável! É absolutamente necessário conseguir abarcar e "abraçar" essa ideia. E porque é que escrevo "abraçar"? Porque acima de tudo, é aceitar essa ideia sem revolta. E, obviamente, sem a "Dança dos SES", que não nos leva a absolutamente lado nenhum, e nos mantém presos, num limbo infernal, que nos consome as entranhas, acabando por nos matar. 

Aceitar é saber o que significa literalmente a palavra "Saudade". É decorar que continuamos a viver nas recordações revisitadas, é somar as lembranças dos momentos felizes, e multiplicá-las por enquanto formos vivos. E assim, passo a passo, hora a hora, e às vezes, minuto a minuto, vamos aprendendo a caminhar. Os pés já doem menos, porque felizmente já ligeiramente calejados, e quando olhamos para trás, e vemos o que conseguimos até agora, ficamos espantados com a força que temos. Bom, eu tenho ainda mais sorte, porque quando olho para trás, e também para a frente, e claro que o mesmo acontece para os lados, eu vejo-o a si. E portanto, sei que não caminho só. Caminho consigo, e consigo, nesse consentimento da sua presença espiritual, dar mais umas grandes passadas. E assim sigo. 

E no seguimento deste (pros)seguir, amanhã lá vou eu no "Comboio dos Operários" para Lisboa. E desta vez vou mesmo à campónia, de saco reciclável de supermercado cheio de pimentos, ovos, tangerinas e azeitonas, mais um frasco de Chutney de figo que está de gritos, porque o "temperei" com rodelas do nosso limoeiro, daqueles limões que cheiram a farinha Maizena de tão bons que são, e que apetece trincar, porque o perfume a bolacha Maria é de levar uma pessoa às lágrimas. Ficou um Chutney estranhamente ácido, porque o doce do figo, na fusão com o ácido do limão, e a surpresa do picante aromático das especiarias brilha duplamente, e esta fusão deliciosa está de tal modo desconcertante, que baralha completamente as papilas gustativas, deixando-as às cambalhotas no palato. Então se o juntarmos em cima de uma tosta tapada com uma fatia de queijo queimoso...bom, então Filho, então é o céu. Com minúscula, claro, mas não o deixa de o ser.

E amanhã começa uma nova semana, de um fim de semana semelhante ao dilúvio, como já lhe disse, mas também de mais um passo para a normalidade. E foi um fim-de-semana divertido, em que fizemos uma "soirée" não dançante, mas "jogante", onde nos reunimos de novo, os duros do costume, para um serão de póquer. Finalmente tenho uma mulher parceira de jogo, o que me encanta, pois deixei de ser a única representante das copas e dos outros femininos, e ganhei uma companheira destemida para enfrentar os paus e as espadas dos adversários. Jogar póquer no campo, enquanto mulher, não é algo muito comum. Por isso estou contente por agora sermos duas! São sempre noites divertidas, de tertúlia e de amena cavaqueira, sentados à lareira na época do frio. 

É a simplicidade da vida revisitada.

Um beijo gigante aqui do campo, 

da sua Mãe que o adora,

Mami!



sábado, 28 de outubro de 2023

28.10.2023 - One Day plus 86 - De "Empoderamento" e de azeitonas...

 



Meu adorado Martim,


Ahhhhhhh...! O meu suspiro fez eco nos seus ouvidos, desculpe, veio mesmo do âmago. É um suspiro polvilhado de um sorriso cúmplice, daquele que desenho em algumas Dianas, mas só em algumas. As mais "especiais", porque irreverentes!

Os dias têm sido bons, porque a Força reside no Amor, e no Amor, naquele sentimento que barreira a frieza gelada da cabeça, tudo de bom acontece.

E nesta curtíssima missiva, que daria pano para mangas, eu prometo-lhe uma longa carta, onde você vai (sor)rir, com os cantos da boca a fazer "pendant" com as bochechas, naquela minúscula conchinha que elas fazem quando você se ri com a Alma! 

A Força reside no centro de nós, e é como uma fonte inesgotável. Por vezes perdemos o copo, e queremos sucumbir à sede, mas na maior parte delas, algum artesão nos faz um púcaro de barro, vindo do Céu, com o qual nos podemos refrescar, ávidos, sôfregos, e com isso, insuflar aquele sopro de vida que nos fazia falta. Ficamos fortíssimos, imbatíveis, e nessa coragem, revivemos o que fomos, e que continuamos a ser!

Apanhei azeitonas, que temperei com alho, orégãos, sal e água da Fonte dos Amores. As oliveiras rebentam de frutos, gratidão do campo, por um Verão tórrido seguido de um outono abençoado de chuva.

Estamos bem meu Filho querido. Estamos fortes. Estamos "empoderados"!

Estamos...

Um beijo enorme da sua Mãe que o adora,

Mami


quinta-feira, 26 de outubro de 2023

26.10.2023 - One Day plus 84 - Sobre "Air" : "La Femme d´Argent", sobre "Empowerment", sobre Medos, sobre a "Força", sobre Barça...Cherry Blossom Girl!


 


 Meu adorado Filho,

Pelas razões que ambos conhecemos, não me vou alongar. As nossas conversas dos últimos três ou quatro dias, dizem tudo, nesse nosso silêncio mudo, ensurdecido pela Saudade, mas no qual falamos até nos faltar a voz! E nesse TUDO, encontro-me perante o NADA. 

Nada? Estou a ser injusta. O NADA foram vários (a)braços abertos, escancarados, todos para mim, numa Alegria de quem me (re)encontra, e também me (re)lê - hoje e sempre - Sobrevivente. Força que só você me poderia dar, numa generosidade imensurável, tal como o desgosto que me assola, a todo o instante destes meus infindáveis dias, num lento escorrer de um ontem que jamais será amanhã, presente tão doloroso, conquanto (sobre)vivido, num futuro de um verbo em cujo indicativo se adivinha a (in)certeza, mas cuja resposta não tem importância, face ao presente - dádiva - de uma presença constante,  num tempo verbal que se pretende que seja escrito num gerúndio mal parido!

MEU FILHO...

...Filho Meu...

...Não é para todos, e você e eu sempre encerrámos no nosso âmago essa chama de crença, essa Fé em nós, esse acordar para um Amanhã que sempre foi promessa, arrancada a ferro e fogo ao nosso centro, dilacerando os nossos corações, o seu e o o meu, incessantemente! E nessa incansável luta, nós VIVEMOS! FOMOS! Fomos o TUDO, e no Tudo mergulhámos, numa combustão que só nós dois conseguimos entender, nesse fogo (fátuo) que nos queima as entranhas!

Lembro-me de uma das nossas últimas conversas..."Tiny Dancer in my Hand"...

Ler dá trabalho - imenso - requer um esforço que poucos estão dispostos a despender, vulgo "dispenser", como se de um sabonete líquido se tratasse, "à venda num qualquer "Walmart" perto de si"! E nessa Leitura de sinais que me acompanham, numa Luz de Esperança (Esperança? Ou será Fé, Crença, Gratidão?) eu tento; tento o Tanto, o Tudo, o Nada, porque quem foi o Todo, numa Tríade perfeita, é hoje, a dualidade decalcada na individualidade da solidão, palavra tatuada a ferro e fogo na minha Alma. 

Filho...fica aqui um segredo, daqueles só nossos. 

Fui no "Comboio dos Operários" (como se diz aqui, no campo), o das sete e vinte e um, o que implica ser arrancada aos braços do sono, e do sonho, às cinco e meia da manhã, numa madrugada gélida, de chuva incessante e sem misericórdia, típica das "molha-parvas". Mea Culpa!  

Fui, pela segunda vez. E vim. E cá estou. E estou "aqui" e "aí". Estou sempre a pairar, e é uma sensação única. Pairar é ser capaz de voar nas asas da tristeza, na supremacia dos Intocáveis, porque (já nada mais) têm a perder, "and I guess that's why they call it the Blues", num cinzento plúmbeo, diria eu, naquela (minha) solidão recôndita, escondida e resguardada, num centro de uma Alma que transpira SAUDADE, escudada por fronteira emoldurada a ferro, força fundida no vórtice do dois corações que um dia foram um só!

"It's Overnight"...quantas vezes dançámos ao som deste som? Ritmo suado, arrancado a uma quarentena, as melhores semanas da minha Vida, num decorrer de um tempo incessantemente desfrutado,  que foi vivido há mil anos? 

Ah Martim! É isso mesmo: 

"Go back, I want so bad to hold you back. It's all I've said and done. Fall in, be gone. I will stand, as I've won again. The reason for no more. Overnight. (...) The moment I was wishing, it's Overnight"

Mil beijos meus Filho, da sua Mãe que o adora,

Mami!


sexta-feira, 20 de outubro de 2023

20.10.2023 - One Day plus 78 - Dois dias depois...a Coruja...GRATIDÃO, ai chega aí a minha agulha, 18.10. revisitado, hoje e sempre!

 


Filho do meu coração,

Há vários dias que ando para lhe escrever, Você sabe, "antes" e "depois" de dia dezoito, mas confesso, faltou-me a coragem e também o tempo, por mais incrível que pareça. E não sei bem por onde começar, de tanto e do Tanto que me invade.

Filho...a cada dia que passa, conheço melhor esta nova pessoa que sobreviveu (ou foi obrigada a), dentro de mim, e espanto-me em começar a conseguir conviver com uma desconhecida. O meu velho eu questiona-se, cada vez menos, se enlouqueci, o meu novo eu abraça essa loucura de uma Vida revivida, ou melhor, reencarnada, sem grandes questões. "Bem-aventurados os Pobres de Espírito, porque será deles o Reino dos Céus". Bom, o Céu já é meu, porque guarda nele uma das minhas metades, a pobreza de espírito reside hoje no meu novo eu, porque é muito mais fácil não fazer perguntas, e simplesmente aceitar.

O sofrimento (e)leva-nos a um estado - que aos poucos se vai tornando permanente - de desprendimento do terreno, e com isso, possibilita-nos um pairar acima das questiúnculas de sobrevivência que - com raras excepções - infelizmente assolam a condição humana.

Mas vamos ao que interessa.

...Filho...não tenho palavras. Não tenho. Não há NADA, nenhum presente terreno melhor que o que recebi no dia dos meus cinquenta e sete anos. Martim, não tenho palavras para agradecer. Acredito que agora que subiu para tão alto, não lhe seja fácil descer a este plano, mas eu sempre fui, e continuo a ser abençoada. Você veio cá dar-me um beijo, através da Coruja que cantou. E eu ouvi. Foram apenas breves instantes, alguns dos minutos mais felizes da minha nova existência, ou melhor, sobrevivência.

Se me perguntarem quais os momentos mais gratificantes da minha Vida, agora vida, tenho três. Estou a falar nos momentos em que me senti mesmo um Ser Humano especial, que nada têm a ver com acontecimentos fulcrais, tais como como o nascimentos dos filhos, etc.

O primeiro era eu uma catraia rechonchuda e sardenta, guardando em mim uma permanente e triste saudade, porque a Oma estava sempre a trabalhar em Chicago, nas feiras de turismo, nos meus anos. Mas nesse aniversário abençoado, chuvoso e húmido, na Rosa Araújo 49B, terceiro, ela apareceu por detrás do biombo beije, com motivos chineses pintados a preto, e tinha os braços abertos num carinho enorme, onde me afundei. Ter a minha mãe comigo no dia dezoito de Outubro desse ano, do qual já não me recordo bem do número, foi um momento que ainda hoje revivo, porque gravado na minha memória a tinta indelével do Amor, a Felicidade que senti e que ainda hoje me acompanha durante as intempéries da minh existência.

O outro foi em Alfragide. Era o dia dos meus anos, e estávamos na cantina do rés do chão, a beber um café para começar o dia. Estávamos vários, o Trio Odemira do costume, a miúda do nome da Flor espinhosa, e mais alguns que não vale a pena relembrar, porque não relevantes. Olhei pela janela e tive uma miragem. Lembro-me - ainda hoje - de olhar para o meu Manito e de lhe dizer:

- "Credo, aquele miúdo, de mochila às costas, parece-me tanto o Martim! Quem me dera que ele hoje não estivesse em Barcelona, mas sim aqui, comigo!"

Alguns minutos depois chamam-me à recepção e vejo os seus braços, envoltos no tecido suave de uma camisa de ganga azul escura, escancarados para me receberem, num mergulho de apneia da minha emoção, numa fusão total, completa e atómica, no e do Amor que sempre nos uniu. Atirei-me para esse abraço na incredulidade de uma Mãe, a quem é concedido o privilégio de abraçar o seu primogénito no dia do seu aniversário, afogando a saudade de meses de separação.

O terceiro momento foi agora, há dois dias, no dia dezoito de Outubro de dois mil e vinte e três. Senti uma falta IMENSA do seu irmão, mas no altruísmo de uma Mãe, que só quer a felicidade dos Filhos, disse-lhe para não vir. Ele precisa de VIVER, de sorrir, e não tem culpa que, na impaciência acelerada que herdou de mim, tenha tido tanta pressa em nascer, que o decidiu fazer no meu dia de anos, o melhor presente que o Universo alguma vez me deu. E o nosso dia, no ano passado, foi tão, mas tão, mas tão triste, que achei que seria melhor este ano, eu abdicar da presença dele, para que ele pudesse estar com os seus Amigos, com Alegria, com a garra de que precisa para enfrentar as agruras deste Mundo. E neste meu sacrifício tão terreno, o Céu trouxe-me o seu canto, minha jovem e adorada Coruja, que desde a Primavera não piava para mim! GRATIDÃO meu Filho!

Esse seu breve canto, conversa injusta e prematuramente (in)acabada, soube-me a Vida. E no milagre dessa maiúscula que foi, em tempos, uma vida consentida, mais uma sutura foi dada, no sentido de um sarar de uma ferida permanente e eternamente aberta!

Ao mesmo tempo, o Universo tem-me ajudado nesta minha nova sobrevivência. As Dianas têm espalhado - e espelhado - o nosso Amor por muitas famílias, levando nas suas entranhas, o ADN do meu Amor universal por si, meu Filho, e por todas essas crianças, uma das quais ou todas elas, poderia(m) ter sido sua(s), e com isso, tão minha(s). E é nessa dádiva, numa verdadeira dádiva de Amor de que, donde menos se espera, vou poder comprar a nova máquina de costura "Overlock", para poder dar asas à minha imaginação do "ai chega chega, chega aí, aí a minha agulha, afasta, fasta, afasta aí o meu dedal"...

Martim...passaram mil anos. Mil e uma reincarnações, mil e uma sobrevivências. Um oceano de lágrimas, numa vastidão imensurável no infinito de uma Saudade, que nem a si própria se consegue definir; perdi tantos Amigos, e ganhei tantos outros mais. Como a tia Isabel, uma mãe que faz nascer, todos os dias, dentro de si, um colo que não quis dar frutos terrenos, mas que, na plenitude da sua generosidade, encerra em si o poder de me abraçar ontem, hoje, e todos os dias que eu precisar, eu e milhões de outros filhos que ela não teve aqui, neste plano, mas que tem algures no Universo. Ela que foi a Primeira que me leu e que me disse para continuar. Porque o meu sofrimento tinha que ter um significado Maior, aquilo que sinto desde o dia dois de Agosto de dois mil e vinte e dois. Ou como o da Helena, que, tal como eu, é uma privilegiada, porque recebe sinais. E os sinais são tão importantes! Mãe Coragem, Mãe sofrimento, Mãe que chora, todos os dias, como eu.

Mas o meu choro é apaziguado. Fui, sou, e continuarei a ser abençoada: pelo Filho que tive, pela Doutora Fátima e pela Doutora Ana Carolina que me acompanham nesta caminhada do luto, pela Coragem que me invade, através dos meus Filhos, que todos os dias me inspiram! O da Terra, e o do Céu! Pela Força que nasce de umas cinzas de um Ser implodido, a quem não restou mais nada do que se reinventar, porque o Universo me incumbiu de uma tarefa hercúlea. Na nossa, sua (breve) e minha (tão longa) Vida, nunca nada foi fácil. Foi sempre tudo arrancado a ferros. Mas também nunca nos faltou o essencial.

Martim...como descrever esta Caminhada? Uma insanidade disfarçada pelo mínimo socialmente exigido, por quem me acompanha nas mais variadas formas das vivências do quotidiano? O expectável pelos Outros, que nós, Seres que pairamos no limbo, seja aqui, seja aí, temos que respeitar, porque é demasiado para a maioria compreender?

Filho...

OBRIGADA! Pelo canto, pela visita, pela mensagem, por me fazer sentir, ontem, hoje, amanhã e todos os dias, que só assim vale a pena, nesta simbiótica dicotomia emocional, traduzida numa tentativa racional, de irracionalmente analisar os sentimentos.

Martim...

"The sound of the wind is whispering in your head, can you feel it coming back? Through the wamrth, through the cold, keep running till we´re there. We're coming home now, we're coming home...

I AM HOME!

Mil beijos da sua Mãe que o adora,

Mami

P.S. Amanhã somos 26 Épicos, geração irmão mais novo, aqui em casa!


sexta-feira, 6 de outubro de 2023

5.10.2023 - Onde Day plus 63 - Amar, Coser, Constelar e Trabalhar!

 





Meu adorado Martim,


Acabei de regressar de Lisboa. Foram dois dias muito intensos, mas de uma intensidade boa. Uma intensidade que me fez sentir viva, numa comunhão imensa consigo, mas vamos por partes. Finalmente realizei dois sonhos, e sinto que a minha vida está no caminho do Caminho, num troço muito muito íngreme, mas tenho conseguido tratar das bolhas que se vão formando e doendo, sem as deixar infectar. E assim, passo a passo, uns dias com mais dores, outros com menos, vou trilhando esta nova jornada.

Prometi-nos, quando afaguei o seu cabelo lindo e suave pela última vez, que a sua morte não seria sem significado. E dar significado à morte não é querermos morrer. É querermos ficar vivos para todos os dias recordarmos, e nessa recordação daqueles que mais amamos, mantê-los vivos no nosso coração,  ((Escrevo propositadamente "mantê-los" e não "manter-vos") :-) e Você, meu querido Filho, sabe o que quero dizer!)) e só existe uma forma de o fazer, como advogo todos os dias, desde o dia dois de Agosto de dois mil e vinte e dois, que é através do AMOR. Abrir o coração ao Universo é a única forma de mitigar a dor - porque um luto de Mãe nunca sara - e assim honrar a Vida de quem cumpriu o seu papel aqui neste plano, tendo sido chamado para o outro.

A minha ligação com o Universo é cada vez maior, e o meu desprendimento das coisas terrenas diminui consideravelmente, à medida que essa ligação se fortifica. Não é fácil conviver com esta espiritualidade, pois o plano terreno, tal qual magneto invisível, prende-nos, como que querendo impedir que subamos um simples degrau neste desenvolvimento espiritual, mas consegue-se. Com trabalho, com muito trabalho interior, consegue-se. Implica também muita coragem, pois obriga-nos a confrontar os nossos maiores receios, fantasmas empoeirados que teimam em se esconder no armário. Tenho sacudido tanto, mas tanto pó, que mete impressão. Mas ando a limpar a casa e com isso, perdi o medo das aranhas. Enfrentar os medos e os terrores amedronta como o raio. Sobretudo o medo da perda. Mas se fazemos parte do Cosmos, significa que o Cosmos não nos pertence, logo, "perder" não me parece a palavra correcta, porque se nós fazemos parte de algo, então não podemos perder nada! Porque SOMOS! Mas já lhe volto a explicar isto.

Voltando à minha narrativa dos últimos dias, consegui realizar dois "sonhos" de longa data. Inscrevi-me num curso de costura como deve de ser, e fiz umas calças boca de sino, padrão floral em tons pastel, à "la sixties", mesmo "vintage", de "lycra". Suei as estopinhas, parecia que estava a coser uma cobra, mas elas lá nasceram. Senti uma satisfação imensa, e é algo que sei que irei continuar a explorar. Um dia inteiro assim de novos desafios na costura é como uma semana de terapia e de meditação: ficamos estoirados, mas felizes. Porque a "lycra" é um tecido escorregadio, que requer precisão, e não perdoa erros facilmente. A nossa concentração é só nela: basta um simples pensamento fora, e estamos tramados. E isso "limpa" a cabeça, sossega a "monkey Mind", provocando uma sensação de tranquilidade e de Paz. Claro que Você me guiou as mãos, não posso ter sido eu, pois mais uma vez tratei a máquina de costura por tu: nunca tinha mexido numa máquina de corte-e-cose, mas é de facto, um sonho tornado realidade, é como se mudássemos de uma trotineta para um Ferrari. 

Ao fim de dez minutos conseguia manuseá-la??? Não fui eu...ou não foi o meu eu físico, foi o meu eu cósmico, fundido com os antepassados das suas avós, consigo, com o Universo.

O segundo acontecimento foi um Encontro de Alma Sistémica, facilitado pela Paula Ponce Alvares. Você sabe que há décadas que eu queria constelar, sem nunca ter dado esse passo. Pois bem, a tia Paula, que tem tido um papel fortíssimo na minha vida no último ano, trouxe-me a Paula Ponce Alvares; parecendo um propósito por acaso, decidi que era muito mais que isso, quando a Paula "me entra", quase em simultâneo na vida, através da Herdade do Pouchão, que veio através da tia Nicole, e com isso surge três vezes, no espaço de um mês, vinda de ângulos totalmente diferentes. Não poderia ignorar esta mensagem do Universo, ainda para mais em tríade. E lá fui. E foi espetacular. E devo dizer que senti o poder que emana das suas entranhas, quando a mão dela, suavemente pousada nas minhas costas, me pôs o coração a ferver, num calor incrível e imensamente confortável, num "Reiki" perfeito, porque totalmente dádiva de Amor. Foi como se alguém pegasse literalmente no meu coração e o consolasse de uma forma divina, fortíssima, envolvendo-me num bem-estar imenso. Eu queria uma consulta sozinha com ela, queria aquele colo cósmico que ela possui, e que se sente à distância, só para mim, mas aprendi, a muito custo, que tenho de ser grata pelo que o Universo me dá. Foi também um desafio poder observar a forma como obtém as mensagens do Universo, tal qual as poucas oportunidades que eu tive, quando me apaixonei pela Astrologia, algo que você gozava tanto, mas depois me perguntava sobre as suas namoradas! 

Constelar foi muito bom, e ajudou-me a perceber que eu, sendo uma (quase) leiga, estou mesmo ligada ao Universo. Percebi também que a sua morte, ou a sua passagem para o novo plano, me veio possibilitar um aprofundar incrível de toda essa ligação. O meu "eu" passou a ser muito mais coração e muito menos cabeça. Claro que a cabeça, quando se revolta, faz motins cada vez mais tumultuosos, pois tem sido relegada para segundo plano, mas o meu coração, através desse Amor, tem crescido muito. E nesse crescimento, eu percebo que sou espírito, e que sou Amor, e que SOU. 

A minha viagem tem sido dura. Muito muito dura. Chorei mais neste último ano do que em todos os outros da minha vida, todos juntos, multiplicados por vinte, o que já indica uma vetusta idade! Imensuravelmente mais. Mas também aprendi muito sobre mim. Hoje posso dizer que gosto da pessoa em que me tornei. Tenho o coração dilacerado pela dor da saudade, mas estou muito mais sábia. A sua bisavó  - ainda no exercício de continuar a constelar - e também ela sofreu imensuravelmente na vida, dizia que o sofrimento enobrece. Entendo hoje a plenitude dessa afirmação. Temos duas escolhas: a morte em vida, ou o abraço de uma vida (com)sentida. Com "M", mas também consentida. E esse consentimento veio através de si. Do milagre do privilégio de ter podido ser sua Mãe. E o sentimento que veio com a sua morte, é passível de paz. A paz alcança-se através do Amor. E se hoje não tenho medo nenhum da morte, é porque você, meu Filho, minha Luz, foi à minha frente, para me iluminar o Caminho, quando chegar a minha hora. E irei com a maior das Alegrias, porque o vou reencontrar.  Mas tenho ainda muito para fazer aqui neste plano, muito trabalho, muito Amor para dar ao seu irmão, e um dia aos filhos dele, muitas Mães para estreitar contra o meu peito, e um livro para escrever.

E volto à nossa última conversa, lembra-se do que lhe disse?

-  "A morte perde o seu significado perante o Amor. Porque o Amor, ao ser Vida, vence a morte. E estamos, e continuamos, e acima de tudo, SOMOS. Somos UNOS, você e eu e o Universo que nos envolve."

Um beijo repleto de gratidão meu adorado Filho, e um sorriso rasgado, deste plano para esse!

Com gratidão imensa, e todo o meu Amor Universal,

Mami


P.S. Dia 23 regresso ao Trabalho, por minha iniciativa. (Estou borrada de medo)!

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

29.9.2023 - One Day Plus 58 - September Full Moon and "cherry pies", home recipe!

 



Meu adorado Martim,

Tenho tido tantas conversas consigo...cada vez mais somos só os dois nestes nossos silêncios gritantes, nestas nossas conversas, que mais parecem tertúlias, daquelas mesmo à antiga - só falta a cerveja e as tapas, como as que comíamos em Barcelona, enquanto trocávamos impressões (embora entre nós fossem mais expressões!), sobre a Vida e os seus vários significados - daquelas trocas de ideias que o tempo cristalizava num hiato de tempo suspenso, num segundo sem fim, e delas fazia leis, as do (nosso) Cosmos!

Tanto, mas tanto poderia eu escrever meu Filho, tantas conversas inacabadas, rasuradas pelo destino menor, para sempre esculpidas num Universo Maior, aquele para o qual mergulham os meus olhos a cada final de dia, num ocaso sem acaso, para onde a minha Alma se atira em suspiro de apneia. Lembro-me de tanta coisa, tanta, mas tanta, que daria para uma Vida, uma Vida eterna, como as nossas conversas.

Ahhh, Tim...um ano, um mês e vinte e sete dias, de uma Saudade sem fim à vista, muito menos no horizonte, aquele que me obrigaram a alargar. Passei a agonia da morte, meu Amor, para dar as boas-vindas à transformação.

Já fui a vários seminários/reuniões/"get-togethers" (desculpe o anglicismo forçado) sobre o Luto...e cada vez mais, só uma frase me aparece, naquele espaço sideral e, contudo, tão físico, entre a barriga e o coração: "Só o Amor consegue dar significado à morte"...ou, por outras palavras: "A morte perde todo o significado perante o Amor".

Poderíamos escrever: "C'mon buster, cut some slack", e enviar esta prece ao Universo, que de facto, não dá tréguas...

...e contudo, aqui estou. A fazer Dianas numa noite de Lua cheia!

Adoro-te meu Amor!

Mil beijos da sua Mãe que o adora,

Mami!

sábado, 23 de setembro de 2023

23.9.2023 - One Day plus 52 - Di Caprio ;-)!





 ...TIM!...

Vá lá, pisque-me o olho novamente. Esses olhos de um azul Céu  - sempre com maiúscula - meio acinzentado, meio esverdeado, de uma doçura iluminada por uma Luz imensa, suave e intensa, polvilhada com o púrpura das Peónias, esfumaçadas, atrás de si. 

Essa gravata tem uma história, bem como esse fraque, pertença de um Primo - co-irmão, como diria a minha Avó Lourdes, sua Omi - iluminado, no abraço de quem me conforta - sempre que estamos juntos - um pouco a saudade! A sua morte não foi em vão. Antes pelo contrário. Ela trouxe e traz, pessoas, ensinamentos e sinais. Ela traz sabedoria, nem que seja à força, qual palmatória injusta, mas aprendo a lição.

Dói-me o braço como o raio, mas acabei uma Diana, mais uma, mais outra nossa miúda irreverente, Fada encantada no mundo dos Duendes,, que vai espalhar a (sua) Magia, e que, em cada ponto costurado, encerra em mim as linhas da Saudade, alinhavadas a(o) ponto da cruz que carrego comigo todos os dias!

Esse sorriso malandro, essa voz tão meiga, esse "adoro-te" com que acabava, atabalhoadamente porque me queria despachar, cada telefonema. Essa pele, esse abraço, essa carne da minha carne, esse meu SER perfeito e contudo, tão efémero, tão universalmente meu, e tão nosso, neste Universo de Estrelas que ilumina hoje o meu campo, essa Paz, onde, no horizonte crepuscular, repousa, triste, e conquanto, esperançoso, o meu olhar.

E é nesses olhos cinza-azul-verde, num Mediterrâneo "meets" Atlântico, nesses sonhos comigo partilhados, embora não na sua plenitude vividos, mas para sempre sonhados, que nos revejo, quimera espelhada na calmaria do turbilhão que me agita as águas. 

Para sempre!

Amo-te, Filho do meu coração!

Mil beijos da sua Mãe que o adora,

Mami!

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

20.9.2023 - One Day plus 49 - Atomic Empowerment? Daqui a três dias será Outono...empower the atomic

 



Meu adorado Martim,

Daqui a três dias começa o Outono. Já se nota aquela luz suave, nostalgia doce que se despede do Verão com uma carícia ainda com cheiro a maresia, mas que já prenuncia um retorno ao "lar" (na acepção antiga da palavra), às Dianas, aos Chutneys quase a tempo inteiro, à calma e à quietude. 

Passou um ano, e não me lembro do Setembro passado, e ainda bem! Recordo apenas, desse Setembro, um oceano de lágrimas, dias cada vez mais frios e mais escuros, e de não me querer levantar da cama, nem com uma grua "king size" a puxar-me. E a cada dia desse Setembro, meio a cambalear, levantei-me. Nem que fosse a meio de um entardecer pelo qual não dei chegar. Levantei-me sempre, tomei duche, arranjei-me e, qual morto-vivo, (ou será vivo-morto?) sem destino nem origem, vagueei pela casa, pela quinta, e sobretudo, pelo Universo.

Se me dissessem, há um ano, que iria (sobre)viver, rir-me-ia a bandeiras despregadas, para depois desatar num pranto incontrolável, do qual, no dia seguinte, mal conseguiria abrir as pálpebras, inchadas de tanta saudade envolta em desgosto. E contudo...

...contudo aqui estou. E estou "bem".

- "Porra, Mãe, defina "bem!""

- "(Martim, pelo amor de Deus não diga palavrões...nem aí no Céu???)"

- "Sei lá Filho..."bem" é saber que estou viva. Sempre inundada de desgosto, mas de um desgosto alquímico, porque transformado em Gratidão! A carta que lhe li na missa de corpo presente, no dia cinco de Agosto de dois mil e vinte e dois, foi a minha promessa para si, numa tentativa sobre-humana de "walk your talk". Tenho cumprido essas palavras até me doer a carne, mas tenho: Os "SES" não são bailarinos convidados no meu coração, e muito menos o rancor ou o ódio. No meu coração reina uma Gratidão imensa, pelo enorme, gigantesco, privilégio de ter sido "empowered", ao poder oferecê-lo a este Mundo, para depois o ter de imolar a este Universo. Mas fi-lo, e fi-lo com uma coragem imensa, uma coragem ATÓMICA! Uma Coragem que faz nascer em mim uma mensagem de esperança para todas as Mães e todos os Pais que "perderam" os seus Filhos. 

Pensem que não os "perderam", mas sim que vocês, eu, e todos nós, somos uns privilegiados sem fim. Porque fomos chamados a dar ao Mundo Anjos, Anjos que nunca foram nossos, porque pertencem a uma Família Maior, Anjos que fazem do Universo, numa explosão atómica de energia, uma energia que nos empodera!

Ofereçamos esta nossa contínua e dilacerante dor por um Mundo melhor!"

Seria esta, meu Filho, a definição de estar "bem". Ou, por outras palavras, "atomic empowerment".

Mil beijos meu Filho, 

da sua Mãe que o adora,

Mami!


sexta-feira, 15 de setembro de 2023

15.9.2022 - One Day plus 44 - De Lisboa, do cemitério, de multiplos sinais, das Mulheres da sua Vida

 



Meu adorado Martim, 

Escrevo-lhe, pela primeira vez, da sala onde estive consigo pela última vez. Ainda o vejo, de calças beiges e de t-shirt verde, com aquele desassossego que o caracterizava. Lembro-me dessa última semana de Felicidade plena, como se de ontem se tratasse. Passou-se um ano e alguns dias, mas foi ontem! Toda eu sou saudade, mas não saudade rasgada, hoje sou saudade suavizada (na ainda incredulidade), mas na realidade de quem está noutro plano, meu Amor. 

Sim, Bicho, estou em casa da Oma. Olho para a esquina, onde estacionou a sua moto - o seu orgulho e a minha premonição terrível - pela última vez. Todos os meus poros transpiram saudade. Mas, curiosamente, estou envolta em si. Sei que sou Una com o Universo, e que está comigo, num plano inexplicável, intangível ao comum do olhar dos humanos, mas muito vivo. Sei que você está comigo meu Filho, isso é inegável.

Já não pertenço a este plano, e digo isto com toda a convicção. Sei que a minha conexão com o Universo é inegável, porque a sinto, mesmo quando, aos olhos dos Outros, estou acometida de uma loucura total, que não é mais do que a sanidade de quem sente que está certo nas suas percepções. O Mundo é muito mais do que aquilo de que nos apercebemos, e nós, os privilegiados, sabemos que o Mundo que conhecemos, não é mais do que uma milésima do Universo. E nesse Universo, eu SOU. Sou consigo, sou em si, sou em nós, Tríade não santa, mas cúmplice, você a sua Oma e eu, somos. Estamos. Vivemos. E sei que você vive, não no plano material, mas no espiritual, porque aí (ou "aqui") somos. 

Fui ao cemitério hoje. Abri a porta do jazigo e chorei mil lágrimas. Mas no meio dessas lágrimas repletas de saudade, e como NADA acontece por acaso, encontrei o Senhor Luis, que me indicou o Senhor António, e as cortinas novas do jazigo, que desde Março me faziam uma comichão do raio, porque não estavam postas como eu idealizei, mas improvisadas, conheceram o seu lugar. Agora está tudo como eu queria. E eu sei que você está contente com isso. 

Martim, como posso descrever isto? Não sei. Sei que estou ligada ao Universo, a si, e que sou envolta pela sua energia. Somos unos com o Universo se soubermos como haveremos de nos conectar. E conectar é largar TUDO, tudo e mandar aí para cima. Meu Filho, que grande, enorme, gigante ensinamento tem sido a sua partida.

ENERGIA...a nossa. 

A Oma, do alto dos seus 78 anos, faz planos comigo nestas madrugadas, ela deitada na cama, porque os seus pés estão mega inchados, e eu, porque sou GRATA! Tão grata meu Filho, que já temos a logística toda delineada. Mas é preciso ter Fé, a que me acossa hoje e sempre, desde a sua partida, de que o Universo providencia. Para a maioria dos mortais enlouqueci. Sem dúvida que sim. Para mim, eu vivo num plano diferente, mas não menos real. 

Eu sei. E sei que é possível, que quando acolhemos o Amor e a Gratidão, conseguimos transformar a dor em Amor. E esse Amor, essa chama vibrante enche-nos o coração e suaviza tudo. E ultrapassa a morte, porque a morte não é mais do que um estado de mudança de um plano (tangível) para outro. 

A vida, como a conheci, não existe mais, é uma quimera de acontecimentos entrelaçados no tempo e no espaço: ela é hoje um aglomerado de sinais, num plano ao qual eu já não pertenço, porque parte de mim é Universo. É dificílimo de explicar, porque - lá está - raia a loucura. Mas dentro da (in)sanidade dessa loucura eu sou, e sou consigo. E consigo eu sou. E consigo. Consigo superar a dor, porque percebi que nada é o que parece, e o Universo não tem fim, nem princípio. Somos no Universo. Embora eu não saiba quem sou, ou não o consiga definir. Parte de mim está no plano terreno, a outra, bem, e outra é energia. Somos nós, aqueles nós para sempre entrelaçados, num laço invisível, conquanto tão forte, que atravessa o tempo e o espaço. E nesse nós, nesses nós que não se desfazem, eu sou.

Sou Gratidão meu Amor, sou Amor, sou Mãe. Sou tudo, sou nada, sou um átomo, sou um Universo, sou chama, sou saudade, sou tudo. Sou noites sem dormir, sou criação, sou o princípio mas não o fim, porque o fim é o princípio. Sou abençoada. Isso sei que sou.

Martim, as velas ardem até ao fim, até esgotarem os seus pavios, para iluminarem, num eterno adeus, as noites escuras, aquelas noites de pesadelo porque de uma saudade sem fim, mas onde sabemos que a alvorada irá irradiar, primeiro em tons tímidos, depois em cores fortes, as madrugadas, até sermos estrelas.

Filho, tanta, tanta, tanta gratidão! 

7! 

Estamos juntos, nos sinais que me envia, para me manter com os pés aqui, porque me mostra que o meu coração está aí! Mil Vidas meu Filho, mil vidas que vivi consigo, mil aventuras, mil recordações, cem premonições (ou será "sem"?)

"Cause I don't need a reason, or someting to believe in, your eyes let me know, like footsteps home, I will follow"(...) no there is no more screaming, I'm silencing the demons, your eyes let me know, like footsepts home, I will follow!"

Gratidão meu Amor!

Mil beijos da sua mãe que jamais o esquece,

Mami

domingo, 10 de setembro de 2023

10.9.2023 - One Day plus 39 - Dez de Setembro, Domingo, chove como o raio, tenho favas ao lume...

 




 Martim, meu adorado Filho,

Tenho pensado tanto em si, meu Deus, e com tanta saudade, conquanto mais apaziguada. A Marta teve a bebé, e chorei tanto, mas tanto, de comoção, que não tenho palavras. Ainda visualizo a nossa Diana, sua Filha e minha neta, e isto custa para caraças. Mas ao mesmo tempo, é uma alegria ver as Amigas de uma Vida com as vidas perpetuadas. Daria a Vida para ser avó, mas antes disso, mil vezes, para o ter aqui, ao pé de mim. Tenho saudades do seu cheirinho e da força do seu abraço. De ouvir aquele: 

- "Adoro-te", que me derretia o coração, sobretudo quando me tratava por "tu", sinal que estava mesmo a sentir!

Apaziguamento não é menor saudade, é "apenas" um tipo de saudade que não nos rasga constantemente as entranhas, e não nos faz querer morrer a cada instante, mas apenas e tão só, às vezes. Não deixo de o chorar meu Filho, todos os dias, mesmo que sem lágrimas por vezes, mas é aceitação. Aceito tudo, ou quase tudo, porque ainda nem metade me atrevi a chorar. Falta-me chorar o seu avô (que nem me atrevo) e a Foxie, porque morro de saudades dela e de todos!

Você sabe como eu gosto destes dias nostálgicos de um Setembro chuvoso, prenúncio de um Outono precoce, como tudo o que me aconteceu, mas também de um Outono mais doce. Ou mais suavizado, mesmo quando totalmente envolto em saudade, em eternas perguntas, em oceanos de lágrimas. Hoje a sua partida é real. E é real dentro da brutalidade, mas também dentro da entrega de quem mais nada pode fazer. Nada, nada, nada me irá trazer o seu abraço e o seu cheirinho de volta, por isso, tenho de continuar por si, por mim, por nós! E chegar a esse desiderato demorou um longo e penoso ano. 365 dias de saudade a raiar a loucura, na (in)sanidade instalada num momento cristalizado no tempo, num dia que destruiu toda a minha vida, tsunami de tudo o que tentei criar. Momento em que morri, para ressuscitar pouco depois para o nihil...

Meu Filho adorado, hoje as lágrimas são diferentes. São mais sentidas pela ausência, conquanto menos frequentes pela incredulidade. Hoje estou mais sábia, ou muito mais dorida, mas apaziguada na aceitação do inevitável. Hoje sei que não foi de viagem, que nunca mais irei ouvir a sua voz, excepto nas nossas conversas - abençoadas sejam as gravações - de Whats Up. 

Os seus Amigos casam e têm filhos, e eu estou à beira do cais a ver as barcaças partirem. E nesse Adeus, nesse sofrimento de quem não apanhou boleia, estamos juntos. Tão grata meu Filho, tão grata por si. Por tão longos e tão poucos anos consigo, pelas recordações, memórias tatuadas na minha Alma, momentos tão felizes quanto efémeros, tão bons que nem ouso recordar, sob pena de sucumbir ao peso da falta desses mesmos. Hoje sou uma nova pessoa, uma anciã que se perdeu na Alegria de quem sempre tentou viver, apesar da adversidade. Hoje mil recordações de momentos incríveis me invadem!

Hoje também choveu a cântaros, e o Miguel esteve quatro horas a guardar a lenha. Enquanto isso, depois de tratar da casa, fiz Chutney para levar para Lisboa, e favas para o jantar. Ainda bebemos um Gin ao cair da tarde, crepúsculo dos Anjos, seu e de todos os Anjos que estão a seu lado, onde, a cada por do sol, sou agradecida por tudo o que vivi!

Beijo em si meu adorado FILHO, meu Amor, minha Vida...

da sua Mãe que o adora e sente tanto, mas tanto, tanto a sua falta,

Mami


P.S. O Mano chegou são e salvo da Escócia e o meu boguinhas também! Deus seja louvado! 


terça-feira, 5 de setembro de 2023

4.09.2023 - One Day plus 33 - Por onde começar? Durutti Column e "Sketch for Summer"?

 





Bicho do meu coração,

Voltei às Dianas, porque há uma Diana há demasiado tempo à espera da sua Diana. 

Entrei hoje, pela primeira vez depois de muito - demasiado? - tempo, no atelier. Afaguei os tecidos, colhendo devagar e com carícia, as minúsculas flores de cada um, e delas fiz um ramo, um ramo multicor. Um ramo para si, meu Amor.

Hoje tenho as pernas doridas. Isto de viver no campo tem das suas, e de andar, debaixo de um céu plúmbeo de Setembro, com réstias de sol de Agosto que o acariciam, durante vários quilómetros, ainda tem mais. Caiem as primeiras gotas, e nem as sentimos, entre chamar a matilha, colher figos e apanhar amoras. Filho...

...como descrever o apaziguamento? Como:

- "Sou abençoada?"

Isso já eu sabia. Mas o salto quântico que se dá, é algo de indescritível. E é esta sensação que um dia gostaria de poder transmitir às Mães recentemente de(s)filhadas, cujo Norte foi apagado de uma bússola que lhes guiava a Vida. Rumam agora sem destino, nómadas do sofrimento, perdidas na saudade, mendigas de um futuro que lhes foi roubado!

E é precisamente nesse roubo, nesse eterno sequestro de Alma, nessa dor sem fim, precisamente nesse limiar entre a (in)sanidade e a loucura instalada, que nos encontramos. A Nós, Filhos e Mães, atados pelo nó eterno da Vida, e a nós, Mulheres mutiladas, aniquiladas, despojadas de todo o sentido do nosso Ser maior! É AQUI, no momento em que, uma vez mais, pairamos acima da raiva, da angústia, do bailado dos "SES", deixando entrar no coração apenas AMOR, é nesse instante, nesse milagre divino, cristalizado num tempo e num espaço sem dimensão, porque transcendentais; que nos apercebemos de que todo o sofrimento, toda a saudade e toda a tristeza, se paziguam perante o milagre do ETERNO. 

Não se apaziguam ao ritmo que os "Outros" querem, mas sim ao nosso ritmo. E quando ando quilómetros, e sinto o perfume do alecrim, o aroma do eucalipto e o cheirinho da urze, percebo que o Universo não tem fim. E, consequentemente, o fim é o princípio. 

E muito poderia eu escrever sobre a águia que me acompanhou hoje, por cumes e vales, em círculos e em voos picados, mas bastou-me sentar numa pedra e repousar olhar.

Virá em breve o Outono, a minha estação preferida!

Chegámos ao ponto de partida meu Amor querido. Ao nosso círculo, mandala sem fim do Amor!

Mil beijos da sua mãe que o adora,

Mami


sábado, 2 de setembro de 2023

2.9.2023 - One Day plus 30, anos da Oma e sinais seus!

 



Meu adorado Filho, 

Hoje, já sabemos, a Oma faz anos. E como não poderia deixar de ser, relembrei muitos destes nossos dias dois de Setembro, e o que nos ríamos todos juntos, a celebrar esta data com ela. Da Madeira ao Ramiro, passando pela Lourdinhas, houve de tudo um pouco. Mas sobretudo, houve felicidade, cumplicidade e amor, memórias indeléveis, inultrapassáveis e inesquecíveis, porque de outro modo, não seriam memórias.

E é nesta vivência deste novo quotidiano, neste apaziguar da dor, que hoje você nos presenteou com o maior e mais impressionante espetáculo da natureza a que alguma vez assisti. 

Já vi muitos Arco-Íris desenhados no céu, muitos mesmo, mas nunca vi nenhum onde conseguisse vislumbrar o início e o fim desse mesmo arco. Já vi muitas trovoadas, mas nunca vi uma trovoada com raios a iluminar o céu, onde ao fundo se mantinha o Arco-Íris. Já assisti a muitos dias de chuva, mas chuva forte, trovoada, Arco-Íris e temperaturas de verão, nunca tinha assistido. E este Arco-Íris, este sinal maravilhoso do Céu - propositadamente com  maiúscula - manteve-se por longos quarenta e cinco minutos por cima de nós.

Foi um entardecer lindo, foi Magia, foi o seu sinal de parabéns para a sua querida avó. A vida continua, muito mais vazia, muito mais triste, mas viva, exuberância que se manifesta diariamente na natureza.

Meu Filho, estou tão grata! Tão grata por mais este seu sinal divino, pela sua presença. Quem morre, nunca morre até ser esquecido. E porque o "Essencial é (in)visível aos olhos, mas detectável no Amor de um coração de Mãe, você nunca o será. Está presente no meu quotidiano, a todo o instante, conquanto em apaziguamento. 

OBRIGADA meu Amor querido, por este presente, dádiva do Universo, neste dia dois, tão importante para nós!

Mil beijos da sua Mãe que o adora,

Mami


quinta-feira, 31 de agosto de 2023

31.8.2023 - One Day plus 29 - Sobre Lilly Allen, e outros "innuendos"... sobre a Lua Azul

 




Meu adorado Filho,


Você esboça um sorriso, que, segundos depois, vira mesmo e genuinamente rasgado, e eu escondo um esgar, entre a ironia e a displicência. 

- "»Coitadinhos«, certo Tim?"

- "Once in a Blue Moon"... poderia começar assim a nossa história: "there was a mother who dreamt and at the same time, had an intuition...and that intuition came true". 

E no meio dessa intuição, e desse acontecimento, medeiam muitos e fantásticos anos. Consigo, sempre! Comigo, para a eternidade. Connosco, até o Universo deixar de existir.

Há uma vida para além da morte, quando um Filho nos acolhe no seu regaço de Luz, e nos mantém lá por muitos meses. Há uma Coruja que cantou nas noites mais escuras que um inverno pode vislumbrar...há alguma coisa para além deste tempo e deste espaço.

Há...NÓS..., que prendem, que enlaçam e não largam, há dois seres: um aqui, outro aí, mas isso não importa, porque a barreira do "ser" é transponível através do AMOR.

- "Quantas músicas sobre a Blue Moon conhece? Só assim de repente, e sem escrever offline? Presley, Billie Holliday, Sinatra, Nat King Cole e mais quantas?" Bom vamos explicar aos leigos. Uma blue moon, ou lua azul acontece raramente, mas não é nada do outro mundo. E o que significa? Significa que no mesmo mês, há duas luas cheias. 

Apenas isso...é um mês fértil este ano, o mês de Agosto, este mês que termina hoje. Hoje, um ano depois. Depois de um tudo ou de um nada, de um tsunami que me levou no seu vórtice e me ameaçou devorar. Mas hoje, muitas luas, e, sobretudo, muitas lágrimas depois, aqui estou, de Alma exposta ao futuro, aquele que sei hoje, não virá sem o presente de um tempo vivido no aqui e agora, e de um passado revivido com tanta dor, qual puzzle composto por memórias felizes.

Mas o hoje tem um sinal, uma mensagem, uma chama de vida, um resquício de saudade resgatada às memórias, e, acima de tudo, um significado. 

Hoje e sempre, meu Amor, agora de uma forma muito mais apaziguada, mas nunca menos intensa ou saudosa,

Mil beijos da sua Mãe que o AMA e JAMAIS o esquecerá,

Mami


sexta-feira, 25 de agosto de 2023

25.8.2023 - One Day plus 23 - Aquele nosso Santuário

 



Meu adorado Martim,


Tenho tido tantas coisas para lhe contar, que nem sei por onde começar esta carta. Vou simplesmente escrever, ou seja, deixar que os meus dedos dominem o teclado, para ver onde me leva a escrita, ou a saudade. Ou ambas. Ou o meu Amor por si!

Apaziguamento é o que se passa depois de um ano. Aceitação de uma partida, tão dolorosa quão pungente, mas a vida continua, nem que seja em vislumbres de episódios...mas estou a ser injusta. A vida continua ao seu ritmo, neste borbulhar do quotidiano, neste passar das horas, neste Verão que começa a cheirar a Outono, num passar dos dias, cada um com a sua característica.

Nós, bem, nós continuamos a manter aquele nosso espaço secreto, onde somos unos, onde comunicamos para além do tempo e do espaço, mas consigo sem "cá" estar. A sua falta acabrunha-me, entristece-me, conquanto me alegre o facto de estar tão, mas tão aí em cima, no reino dos Eleitos. Sinto-o muito longe, finalmente em paz, e agradeço-lhe a sua permanência, a sua força, aquela que me transmitiu ao longo do Inverno mais frio e mais escuro da minha vida.

Em sua honra, em nome do seu sacrifício em pairar entre estes dois Mundos, decidi que ou era vítima, ou heroína, e, confesso, optei pela segunda forma, quanto mais não seja, para honrar a sua memória, o seu legado.

Todas as noites acendo o seu Altar, e todas as noites, sei que está cá, menos, muito menos, mas está em paz. 

Ontem fui à Doutora Ana Carolina explicar-lhe a minha estratégia, o meu projecto. Uma vez mais agradeço aos Céus, e a si, sobretudo, ter mandado este Anjo em forma de médica, cruzar o meu caminho. Tinha uma T-Shirt de Van Gogh e apeteceu-me imenso perguntar-lhe, se tinha estado em Paris. Mas, claro, não tive coragem. Ela é a minha médica, conquanto, um dia, quando estiver melhor da minha cabeça, faça questão de falar com ela fora deste contexto. Nem que demore dez anos. É a ela que devo a minha sobrevivência, uma pessoa com uma Luz imaculada, que se reflecte no seu coração. Adoro esta médica, uma pessoa que me compreende sem me exigir NADA!

Em Outubro vou recomeçar Filho. Estou borrada de medo, a minha cabeça é uma cabeça doente, alterada, mas mesmo assim, com a garra que sempre tentei imbuir em si, e que agora me é retornada, vou tentar. Agora que o meu coração está mais apaziguado, ou menos em tumulto, agora que percebo que nada o irá trazer em forma física de volta, quero honrar o seu espírito, a sua memória, o seu legado (de Amor!)!

O Mano começou hoje a viagem. Levou o meu boguinhas e já sei que vão ser dezasseis dias de preocupação, mas também sei que ele vai estar bem. Da mesma forma que pressenti a sua desgraça, pressinto a bonança dele. Não me é fácil, mas é necessário. 

Meu Filho, meu Amor, tantas coisas aconteceram entretanto...

...Diga ao avô Freddy que lhe perdoo a traição, que entendo, muito embora doa como o raio, mas, lá está, só sobrevive quem deixa apenas o Amor entrar. É isso que tento fazer, todos os dias desta minha nova existência. Não vale a pena deixar entrar mais nada. Só AMOR! E gratidão. Por si meu Amor, pelo privilégio de o ter dado a este Mundo, a este Universo que tão depressa mo roubou, e me mostrou que isto não é nada mais do que uma passagem!

Tenho TANTAS saudades suas! 

Há alguns anos, por esta altura, estávamos a grelhar peixinho no Algarve, depois de uns mergulhos merecidos na piscina, consigo a molhar a Oma com cambalhotas e saltos. Uns poucos anos mais tarde, na Madeira, boiando no oceano repleto de peixes e de sal. Que férias meu Amor, que férias. Há alguns anos que não as tenho, vicissitudes de quem vive no campo, mas que saudades me fazem!

Martim...cada vez que pronuncio o seu nome, baixinho, tão baixinho para que ninguém nos ouça, lembro-me de tanto, de tanto, mas de tanto, que me afoga na emoção do meu coração. De tantas noites de cumplicidade, e dias de partilha, de tantas memórias que vivi noutra vida, que se foi. Martim...

Meu Filho, meu Amor. Estou cá! E nesta existência imposta, nesta saudade imensa, neste hiato de tempo que NOS medeia, neste patamar sem escada, existe um espaço secreto, um lugar "AQUI DENTRO", um esconderijo, um Santuário, onde eu choro baixinho à sua espera, e sorrio, quando nos (re)encontramos.

Filho...

Meu Filho, meu Amor, minha Vida...

é AQUI!

Mil beijos da sua Mãe que o relembra a todos os instantes,

Mami


25.4.2024 - One Day plus 266 - (Still about) the Intrepids, the Freedom Lovers, the Crazy Ones...

  Ahhh meu adorado Filho, Que DELÍCIA!  Está tão, mas tão perto de mim e obrigada pelos sinais que me vai enviando, hoje especialmente.  O &...