quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

13.12.2022 - One Day plus 132 - sobre (como) roubar fotografias suas, ou de olhos postos no Céu!

 



Tim do meu coração,

Hoje de Lisboa, sentada a um metro da cadeira onde conversei consigo pela última vez. Estou a vê-lo, a ouvir a sua voz, a sorrir para o seu sorriso, aí sentado, numa incansável argumentação com a Oma sobre as vantagens de fumar tabaco aquecido, para,  num rompante, saltar da cadeira de palhinha e sair, para uma hora depois voltar, munido dos artefactos que iriam suster a sua tese. Desde esse dia, ou melhor, desse dia mais cinco, aquele dia sinistro de dois de Agosto de dois mil e vinte e dois, que a Oma cumpriu a sua palavra. Ou melhor, as suas - suas - dela. A velhota tem-se aguentado. E bem. E bem, porque é ainda muito precisa. Precisa e preciosa, fonte de Vida onde ainda hoje vou beber. Não é fácil às vezes, e é desafiante, mas é a OMA. 

E aqui estes dois dias, ou melhor, estas duas noites, aproveitei para "canibalizar" algumas fotografias de casa dela. E ao recordar esses tempos ancestrais, voei no tempo, e recordei tempis (in)temporais,  tão alegres, tão divertidos e foi então que, de reoente, reparei que...

...desde o seu ano e meio de Vida, que os seus olhos estavam postos no Céu. 

Como se num prenúncio, numa expressão de um reconhecimento feliz de quem está, ou esteve, "aqui" apenas emprestado, porque os Anjos têm de retornar ao Céu.

Meu Filho querido, o meu coração transborda de gratidão e de Amor por si. Por me ter ajudado a reerguer da morte, para poder acompanhar os Vivos que adoro, os meus Seres Terrenos, todos eles, tantos e todos eles que precisam (e chamam) por mim!

Parte de mim será para sempre Céu. Estou aí, consigo, num Abraço universal, num (re)encontro constante de Mãe e Filho, um reencontro que jamais será interrompido, porque enquanto vocè "aí" e eu "aqui", a ponte do Amor universal une as nossas margens, transbordantes de Alegria e Gratidão por cada uma destas nossas tertúlias!  

Nunca sonhei que o Amor me faria, neste Dezembro, planear presentes, fazer Dianas, trabalhar, aprender a (sobre)viver à morte da dor do Luto por um Filho. Nunca pensei que seria possível. 

Hoje, no metro atulhado de gente, com a mochila às costas, um saco de compras num ombro, no outro a carteira e o casaco, morta de cansaço, uma catraia começou aos gritos comigo porque eu queria passar para sair na estação seguinte. Parei, olhei para ela e sorri longamente enquanto lhe disse:

- "Oh, desculpe, mas como vê, sou quase uma avó e estou carregada de tralha". 

Uma onda de Amor invadiu-me de imediato, perante os primeiros sinais instintivos que saltaram, e que me fizeram pensar por nanossegundos:

- Oh minha miúda malcriada e estúpida, que estás a tapar a porta, então tu não vês que eu, que mais pareço uma morta de cansaço físico, carrego um fardo visível tão pesado, e mal sabes tu do outro, e tu pões-te com esses disparates agressivos?"

O Amor sobrepôs-se de tal forma, que perdi o Marquês de Pombal, e quando acordei do transe em que me encontrava, estava na Avenida. Percebi o que você me quis dizer, ainda hesitei, mas doíam-me tanto os braços, e os fios ainda estão bons, que ficam para a próxima vez que vier a Lisboa!

De olhos postos no Céu, estamos quase no Natal meu Filho.

E você está comigo. Sempre!

Um beijo enorme da sua Mãe que o adora, 

Mami

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