Meu adorado Martim,
Cheguei ontem de Lisboa, onde levei a Diana a um périplo pela capital. Escusado será dizer, que fez um sucesso tremendo, ou não fosse ela sua filha, linda de cair para o lado. Mas eu sou avó - logo - suspeita! Posso-lhe dizer que a coisa que ela mais gosto foi de (rever) o Tio Duda, que ia para o concerto do Roger Waters e estava num "xitex", mas que no dia seguinte nos compensou com tecnologia de última geração, onde nos rimos que nem perdidas! Seguiu-se, não por ordem cronológica do tempo, mas das emoções, um jantar com alguns dos Épicos, que ela adorou conhecer, e acho que eles também gostaram de uma menina que não faz birras, e que é alegre por natureza, como o seu pai. Os Épicos são isso mesmo, são épicos, porque encerram neles uma fonte inesgotável de amor e de energia, uma fonte que me alimenta de sorrisos e de gargalhadas, que duram meses a fio! Tão, mas tão, tão grata a esses "Miúdos" fantasticos, a esses jovens adultos que me inundam de carinho.
Fomos também ao cemitério, deixar o Anjo da Guarda em agradecimento pela sua Presença constante (nesta minha nova vida), e mostrei-lhe como a morada das suas cinzas ficou bonita. Visitámos ainda a Tia Ana, não sem antes gastarmos uma FORTUNA em tecidos para novos vestidos da Dianinha - que vaidosa como é, tem a quem sair - não descansou enquanto não me fez gastar uma fortuna; e fizemos mais mil coisas juntas! Ela é uma companheira digna do seu pai: cúmplice, animada, irreverente e sempre bem disposta, num constante "on the move", que põe a Oma de cabelos em pé porque já não aguenta tanto rebuliço. Foi bom estar em casa da Tia Ana, rever a Princesa, sua prima sempre tão querida, que parece uma bonequinha de porcelana, e sobretudo, sentir seu Amor! Abracei a Tia Ana como ela merece, e apetecia-me ficar ali uma eternidade, naquela casa, que pouco mudou após tantos anos, que continua de porta aberta para quem busca um abraço genuíno da Amizade que continua como sempre foi. Também fomos aos médicos - a Dr. Paula nem sequer me quer ouvir falar de voltar tão depressa a trabalhar - não sem antes jantarmos em casa da Tia Inês, onde a Tia Guida, o Tomás, a Madalena e a Natércia ficaram doidos com a sua Filha. O Tio Jorge e a Tia Teresa mimaram-nos com um fondue de reis, e com uma moldura de fotografias minhas em pequenina. Que parecidos que nós somos meu Amor!
Não deu para muito mais, mas foi IMENSO! Sobretudo tratar da Baratinha VW, sentir segurança na estrada e visitar a morada das suas cinzas, trouxe-me uma sensação de completude, de tarefas cumpridas.
Filho...é com GRATIDÃO imensa que lhe digo que sinto em mim a vida a querer vingar, ainda muito vagarosamente, mas numas tréguas, finalmente perpétuas, e sobretudo sinceras, com a tristeza sempre presente, e sobretudo numa luta incessante que me matou nos últimos sete meses - e lá vem ele, este nosso número mágico - mas que nesta minha morte de deu a bênção de querer renascer.
E nesta morte, nasceu Vida. Ou será que foi desta morte que nasceu Vida? Não sei meu amor, meu Filho tão amado, mas sei que a aceitação faz parte deste caminho. E foi na aceitação a sua tão injusta morte, que a DIANA me trouxe AMOR! E com o Amor, me inundou de VIDA!
Ontem voltei ao Campo, e achei que estava com Tinnitus pulsátil. Isto para um citadino é incompreensível. Mas quando se sai da cidade para regressar ao campo e se é envolto pelo absoluto silêncio, o mesmo causa um ruído incessante no ouvido, que só desaparece quando passamos umas horas aqui, no silêncio.
A abundância do campo encheu-me uma cesta de Jarros, que já pus ao lado da sua fotografia, outra de laranjas e de tangerinas, isto para não falar nos ovos que numa semana, se acumulam na cozinha e que pedem uma tortilha muito em breve.
Tim...orgulho, gratidão - porque somos abençoados - e sobretudo, vida. Que nasce, como na Primavera. Agora o atelier está uma linha de montagem, e quando levanto os olhos, vejo a sua fotografia com o Mano, e a "SUA" fotografia, que mandei fazer em tamanho A4.
Filho...essa sua maravilhosa fotografia, única na sua expressão, na intensidade da sua emoção, no simbolismo da sua gratidão, nas elevação das suas mãos, no olhar de felicidade para o céu,sou eu hoje. E hoje, pela primeira vez desde dia dois de Agosto de dois mil e vinte e dois e consigo olhar para essa fotografia e sentir-ME. O que significa que estou viva. E é bom constatar isso ao fim de sete meses. Talvez nessa fotografia você soubesse, já nesse momento, que o seu lugar seria no Céu. Talvez. Eu, hoje, olho para esse Céu que o guarda e elevo as minhas mãos e só sei sentir AMOR e GRATIDÃO!
Meu Amor, hoje e sempre, para todo o sempre, todos os dias, mas sobretudo, amanhã, eu ESTOU. E estou a SORRIR. E sei agora que não é um momento, umas tréguas. Sei que o meu sorriso será sempre, sempre, regado com o sal das lágrimas da saudade, mas sei, sobretudo, que é um sorriso que vem de dentro, da minhas Alma, do meu Ser. Um sorriso que demorou, mas que "está".
Filho meu...GRATIDÃO pela sua Filha. Pela minha Diana, a minha neta de trapos que me está a chamar à vida, que só quer espalhar o Amor que me vai no coração!
Martim...Diana...Mami...
TRIO imbatível, porque só uma coisa vence a morte...
o AMOR!
Mil beijos sorridentes da sua Mãe que o adora,
Mami