quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

21.2.2024 - One Day plus 202 - exactamente um mês depois, e foi por acaso: "ashes to ashes"!

 



Meu adorado Martim,


Começar? Mas começar por onde, se o fim é o princípio e no princípio era o Verbo? Como explicar ao âmago do meu coração, e ao tronco do meu cérebro, que não tenho conseguido sentir a dor, anestesiada por tanta, mas tanta pancadaria, que mais se assemelha a um ringue de boxe?

Não tenho resposta para essa pergunta que não sejam duas hipóteses:

- Fui iluminada por um Anjo, Alma que me (e)leva para além da dor humana, Filho protector, colo que me aconchega neste desalento, praia onde desaguam os destroços do meu ser, atirados por vagas gigantes, filhas de tempestades sobreviventes de ventos agrestes e cortantes, herdeiros do bisturi da saudade, a que me rasga diariamente as entranhas. 

Saudade que, tal como um tesouro resgatado, resguardado e protegido, é escondida na areia, cova escavada, esgravatada e sofrida com as unhas da tristeza, garras afiadas que me rasgam a Alma e nela tatuam, na cor-do-meu-sangue, de novo aquele sentimento de não-retorno, aquela palavra que traduz tudo, porque tudo significa: SAUDADE!

- Estou anestesiada e sofro de patologia de dupla personalidade, tratando na terceira pessoa um "EU" que desconheço, uma qualquer "Joe Doe", orfã de uma Felicidade, filha do infortúnio que bate à porta de forma inusitada, em passos acelerados, e consigo leva toda a roupa branca que corava num estendal.

Qual delas não sei..."São Cinzas, Senhor", as que trago no meu regaço, tão sofrido, tão martirizado, tão massacrado, mas que se irão transformar em flores de Amor, campestres e frescas, como os lírios roxos que já teimam em brotar, nesta Primavera efémera que nos assola, neste campo abençoado!

São cinzas, Filho, porque o que nasce das cinzas de um Filho, é sofrido, é dilacerado, é chorado até ao âmago, tal como as pequenas sementes que plantei em Setembro passado, e que só agora deram flor, mas só algumas, outras morreram, fazendo dos vasos largos de barro, cemitérios de cores que não viram a luz do dia, rebentos enterrados no escuro da terra. E das cinzas nascem flores, mas também nascem cinzas. Ou as cinzas voltam a arder, no cinzento de dias tristes, para das cinzas, algo brotar. Quem sabe, um dia, quando todas as batalhas estiverem ganhas (ou perdidas, entreguei ao Céu!), e finalmente eu puder respirar, sem ter medo que o bafo do meu suspiro acorde os monstros universais uma vez mais, para me assombrarem, martirizarem e me torturarem, quem sabe nesse dia, num alpendre branco sobre uma Quinta perdida algures no interior, onde ao longe perto se (ante)vê uma horta a dar Vida, alimento e sustento a uma família, três gerações se encontram. A Oma, que de cabeça branca adormecida sobre o peito, ronrona uma sesta preguiçosa enquanto eu lhe rabisco mais uma carta, para lhe descrever a sua sobrinha, minha neta e dela bisneta, que pequenina, num vestido branco de "piquê" com favos bordados a cor-de-rosa, brinca com uma cadela preta, que lhe lambe a cara toda, provocando-lhe gargalhadas.

E é essa (ante)VISÃO dessa Paz que me acompanha, nesta Caminhada! Façamos das cinzas...

...AMOR e ESPERANÇA!

Mil beijos de cor(ação) meu adorado Filho, para contrabalançar a dor,

Com muito Amor, da sua Mãe que o adora,

Mami

 


25.4.2024 - One Day plus 266 - (Still about) the Intrepids, the Freedom Lovers, the Crazy Ones...

  Ahhh meu adorado Filho, Que DELÍCIA!  Está tão, mas tão perto de mim e obrigada pelos sinais que me vai enviando, hoje especialmente.  O &...