domingo, 29 de outubro de 2023

29.10.2023 - One Day plus 87 - Aqui do Campo...

 



Meu adorado Filho,


Como prometido, aqui estou, de novo, num Domingo não chuvoso, mas torrencial, literalmente "The Day After" à mudança da hora, aquela irracionalidade, cuja lógica a minha simples cabeça nunca conseguiu entender. O argumento das crianças de manhã no caminho para a escola já deveria estar em desuso, porque só um maluco deixaria os seus filhos à solta no trânsito caótico de cidades como Lisboa! Portanto, se queremos economizar, então porque não prolongar a luminosidade ao  (e escrevo "ao" e não "do" propositadamente) dia, para que as luzes se tenham que acender mais tarde? Juro que não abarco a ideia por detrás, muito embora acredite - piamente - que quando aflorar esse tópico com o seu Irmão, ele me vá dar uma teoria tão complexa, provavelmente ainda oriunda no "Bing Bang", de tal forma intrincada na dificuldade de compreensão da Física Quântica, que o que  fará "big-bang" é a minha cabeça, completamente em uníssono com essa bela Onomatopeia da língua inglesa!  

Agora começam os meses do ano em que o campo não é para fracos. Costumo dizer, desde que para aqui vim viver, que nesta parte de Portugal, temos nove meses de paraíso, e três de Inferno. Novembro e Dezembro são facto consumado, depois os corações oscilam entre Janeiro e Agosto. Ora como "Janeiro fora, cresce uma hora", e Agosto seja, por si só, um mês infernal na minha vida, eu defendo a teoria de que são Novembro, Dezembro e Agosto. Em Janeiro ainda está muito frio, mas os dias começam a ficar de novo maiores, primeiro lentamente, depois acelera, e em Fevereiro começa a sentir-se no ar a promessa da Primavera. Mas sentir o frio é algo de delicioso, porque damos vinte vezes mais valor ao quentinho da lareira, às camadas de camisolas que temos que vestir, verdadeiras cebolas saloias e ao ar que exalamos, num nevoeiro que se mistura na paisagem das conversas enquanto caminhamos. 

E é neste dia vinte nove de Outubro, que ouço Parcels, enquanto navego entre a costura e a escrita. As duas são cada vez mais indissociáveis, porque uma é tão relaxante, que num chapinhar calmo e introspectivo leva à outra, e dou por mim a falar consigo, enquanto coso uma baleia de tecido de corações e de bolinhas. É então que decido saltar para o computador, e escrever aquilo que o meu coração verbaliza. São tão bons estes nossos momentos, estamos tão juntos nestas conversas, que me sinto consolada, como que abraçada pelo Universo, num colo carinhoso e tranquilizador. Nestes momentos sou Cosmos, e neste Cosmos, somos Unos. É mesmo, mesmo, mesmo como se você estivesse aqui, apenas não fisicamente. Está de uma forma muito mais completa, porque me envolve, e é este seu Espírito que me traz a força e a vontade de continuar. Porque eu SEI que você está aqui, em cada átomo de mim, seja nas recordações de ínfimos pormenores, celebrados noutra Vida, seja no presente do meu aqui e agora, em que ouço a sua voz em mim, como se estivesse, de novo, fisicamente presente. Tenho aprendido tanto Martim, taaanto! É como se o saber universal me inundasse, por breves segundos, é algo de muito difícil de (d)escrever. 

A realidade brutal da morte de um filho, só ao fim de muitos meses é que começa a querer entrar, quando o nosso cérebro já se conseguiu refazer minimamente do choque inicial. Para mim isto é inegável! Inegável! É absolutamente necessário conseguir abarcar e "abraçar" essa ideia. E porque é que escrevo "abraçar"? Porque acima de tudo, é aceitar essa ideia sem revolta. E, obviamente, sem a "Dança dos SES", que não nos leva a absolutamente lado nenhum, e nos mantém presos, num limbo infernal, que nos consome as entranhas, acabando por nos matar. 

Aceitar é saber o que significa literalmente a palavra "Saudade". É decorar que continuamos a viver nas recordações revisitadas, é somar as lembranças dos momentos felizes, e multiplicá-las por enquanto formos vivos. E assim, passo a passo, hora a hora, e às vezes, minuto a minuto, vamos aprendendo a caminhar. Os pés já doem menos, porque felizmente já ligeiramente calejados, e quando olhamos para trás, e vemos o que conseguimos até agora, ficamos espantados com a força que temos. Bom, eu tenho ainda mais sorte, porque quando olho para trás, e também para a frente, e claro que o mesmo acontece para os lados, eu vejo-o a si. E portanto, sei que não caminho só. Caminho consigo, e consigo, nesse consentimento da sua presença espiritual, dar mais umas grandes passadas. E assim sigo. 

E no seguimento deste (pros)seguir, amanhã lá vou eu no "Comboio dos Operários" para Lisboa. E desta vez vou mesmo à campónia, de saco reciclável de supermercado cheio de pimentos, ovos, tangerinas e azeitonas, mais um frasco de Chutney de figo que está de gritos, porque o "temperei" com rodelas do nosso limoeiro, daqueles limões que cheiram a farinha Maizena de tão bons que são, e que apetece trincar, porque o perfume a bolacha Maria é de levar uma pessoa às lágrimas. Ficou um Chutney estranhamente ácido, porque o doce do figo, na fusão com o ácido do limão, e a surpresa do picante aromático das especiarias brilha duplamente, e esta fusão deliciosa está de tal modo desconcertante, que baralha completamente as papilas gustativas, deixando-as às cambalhotas no palato. Então se o juntarmos em cima de uma tosta tapada com uma fatia de queijo queimoso...bom, então Filho, então é o céu. Com minúscula, claro, mas não o deixa de o ser.

E amanhã começa uma nova semana, de um fim de semana semelhante ao dilúvio, como já lhe disse, mas também de mais um passo para a normalidade. E foi um fim-de-semana divertido, em que fizemos uma "soirée" não dançante, mas "jogante", onde nos reunimos de novo, os duros do costume, para um serão de póquer. Finalmente tenho uma mulher parceira de jogo, o que me encanta, pois deixei de ser a única representante das copas e dos outros femininos, e ganhei uma companheira destemida para enfrentar os paus e as espadas dos adversários. Jogar póquer no campo, enquanto mulher, não é algo muito comum. Por isso estou contente por agora sermos duas! São sempre noites divertidas, de tertúlia e de amena cavaqueira, sentados à lareira na época do frio. 

É a simplicidade da vida revisitada.

Um beijo gigante aqui do campo, 

da sua Mãe que o adora,

Mami!



sábado, 28 de outubro de 2023

28.10.2023 - One Day plus 86 - De "Empoderamento" e de azeitonas...

 



Meu adorado Martim,


Ahhhhhhh...! O meu suspiro fez eco nos seus ouvidos, desculpe, veio mesmo do âmago. É um suspiro polvilhado de um sorriso cúmplice, daquele que desenho em algumas Dianas, mas só em algumas. As mais "especiais", porque irreverentes!

Os dias têm sido bons, porque a Força reside no Amor, e no Amor, naquele sentimento que barreira a frieza gelada da cabeça, tudo de bom acontece.

E nesta curtíssima missiva, que daria pano para mangas, eu prometo-lhe uma longa carta, onde você vai (sor)rir, com os cantos da boca a fazer "pendant" com as bochechas, naquela minúscula conchinha que elas fazem quando você se ri com a Alma! 

A Força reside no centro de nós, e é como uma fonte inesgotável. Por vezes perdemos o copo, e queremos sucumbir à sede, mas na maior parte delas, algum artesão nos faz um púcaro de barro, vindo do Céu, com o qual nos podemos refrescar, ávidos, sôfregos, e com isso, insuflar aquele sopro de vida que nos fazia falta. Ficamos fortíssimos, imbatíveis, e nessa coragem, revivemos o que fomos, e que continuamos a ser!

Apanhei azeitonas, que temperei com alho, orégãos, sal e água da Fonte dos Amores. As oliveiras rebentam de frutos, gratidão do campo, por um Verão tórrido seguido de um outono abençoado de chuva.

Estamos bem meu Filho querido. Estamos fortes. Estamos "empoderados"!

Estamos...

Um beijo enorme da sua Mãe que o adora,

Mami


quinta-feira, 26 de outubro de 2023

26.10.2023 - One Day plus 84 - Sobre "Air" : "La Femme d´Argent", sobre "Empowerment", sobre Medos, sobre a "Força", sobre Barça...Cherry Blossom Girl!


 


 Meu adorado Filho,

Pelas razões que ambos conhecemos, não me vou alongar. As nossas conversas dos últimos três ou quatro dias, dizem tudo, nesse nosso silêncio mudo, ensurdecido pela Saudade, mas no qual falamos até nos faltar a voz! E nesse TUDO, encontro-me perante o NADA. 

Nada? Estou a ser injusta. O NADA foram vários (a)braços abertos, escancarados, todos para mim, numa Alegria de quem me (re)encontra, e também me (re)lê - hoje e sempre - Sobrevivente. Força que só você me poderia dar, numa generosidade imensurável, tal como o desgosto que me assola, a todo o instante destes meus infindáveis dias, num lento escorrer de um ontem que jamais será amanhã, presente tão doloroso, conquanto (sobre)vivido, num futuro de um verbo em cujo indicativo se adivinha a (in)certeza, mas cuja resposta não tem importância, face ao presente - dádiva - de uma presença constante,  num tempo verbal que se pretende que seja escrito num gerúndio mal parido!

MEU FILHO...

...Filho Meu...

...Não é para todos, e você e eu sempre encerrámos no nosso âmago essa chama de crença, essa Fé em nós, esse acordar para um Amanhã que sempre foi promessa, arrancada a ferro e fogo ao nosso centro, dilacerando os nossos corações, o seu e o o meu, incessantemente! E nessa incansável luta, nós VIVEMOS! FOMOS! Fomos o TUDO, e no Tudo mergulhámos, numa combustão que só nós dois conseguimos entender, nesse fogo (fátuo) que nos queima as entranhas!

Lembro-me de uma das nossas últimas conversas..."Tiny Dancer in my Hand"...

Ler dá trabalho - imenso - requer um esforço que poucos estão dispostos a despender, vulgo "dispenser", como se de um sabonete líquido se tratasse, "à venda num qualquer "Walmart" perto de si"! E nessa Leitura de sinais que me acompanham, numa Luz de Esperança (Esperança? Ou será Fé, Crença, Gratidão?) eu tento; tento o Tanto, o Tudo, o Nada, porque quem foi o Todo, numa Tríade perfeita, é hoje, a dualidade decalcada na individualidade da solidão, palavra tatuada a ferro e fogo na minha Alma. 

Filho...fica aqui um segredo, daqueles só nossos. 

Fui no "Comboio dos Operários" (como se diz aqui, no campo), o das sete e vinte e um, o que implica ser arrancada aos braços do sono, e do sonho, às cinco e meia da manhã, numa madrugada gélida, de chuva incessante e sem misericórdia, típica das "molha-parvas". Mea Culpa!  

Fui, pela segunda vez. E vim. E cá estou. E estou "aqui" e "aí". Estou sempre a pairar, e é uma sensação única. Pairar é ser capaz de voar nas asas da tristeza, na supremacia dos Intocáveis, porque (já nada mais) têm a perder, "and I guess that's why they call it the Blues", num cinzento plúmbeo, diria eu, naquela (minha) solidão recôndita, escondida e resguardada, num centro de uma Alma que transpira SAUDADE, escudada por fronteira emoldurada a ferro, força fundida no vórtice do dois corações que um dia foram um só!

"It's Overnight"...quantas vezes dançámos ao som deste som? Ritmo suado, arrancado a uma quarentena, as melhores semanas da minha Vida, num decorrer de um tempo incessantemente desfrutado,  que foi vivido há mil anos? 

Ah Martim! É isso mesmo: 

"Go back, I want so bad to hold you back. It's all I've said and done. Fall in, be gone. I will stand, as I've won again. The reason for no more. Overnight. (...) The moment I was wishing, it's Overnight"

Mil beijos meus Filho, da sua Mãe que o adora,

Mami!


sexta-feira, 20 de outubro de 2023

20.10.2023 - One Day plus 78 - Dois dias depois...a Coruja...GRATIDÃO, ai chega aí a minha agulha, 18.10. revisitado, hoje e sempre!

 


Filho do meu coração,

Há vários dias que ando para lhe escrever, Você sabe, "antes" e "depois" de dia dezoito, mas confesso, faltou-me a coragem e também o tempo, por mais incrível que pareça. E não sei bem por onde começar, de tanto e do Tanto que me invade.

Filho...a cada dia que passa, conheço melhor esta nova pessoa que sobreviveu (ou foi obrigada a), dentro de mim, e espanto-me em começar a conseguir conviver com uma desconhecida. O meu velho eu questiona-se, cada vez menos, se enlouqueci, o meu novo eu abraça essa loucura de uma Vida revivida, ou melhor, reencarnada, sem grandes questões. "Bem-aventurados os Pobres de Espírito, porque será deles o Reino dos Céus". Bom, o Céu já é meu, porque guarda nele uma das minhas metades, a pobreza de espírito reside hoje no meu novo eu, porque é muito mais fácil não fazer perguntas, e simplesmente aceitar.

O sofrimento (e)leva-nos a um estado - que aos poucos se vai tornando permanente - de desprendimento do terreno, e com isso, possibilita-nos um pairar acima das questiúnculas de sobrevivência que - com raras excepções - infelizmente assolam a condição humana.

Mas vamos ao que interessa.

...Filho...não tenho palavras. Não tenho. Não há NADA, nenhum presente terreno melhor que o que recebi no dia dos meus cinquenta e sete anos. Martim, não tenho palavras para agradecer. Acredito que agora que subiu para tão alto, não lhe seja fácil descer a este plano, mas eu sempre fui, e continuo a ser abençoada. Você veio cá dar-me um beijo, através da Coruja que cantou. E eu ouvi. Foram apenas breves instantes, alguns dos minutos mais felizes da minha nova existência, ou melhor, sobrevivência.

Se me perguntarem quais os momentos mais gratificantes da minha Vida, agora vida, tenho três. Estou a falar nos momentos em que me senti mesmo um Ser Humano especial, que nada têm a ver com acontecimentos fulcrais, tais como como o nascimentos dos filhos, etc.

O primeiro era eu uma catraia rechonchuda e sardenta, guardando em mim uma permanente e triste saudade, porque a Oma estava sempre a trabalhar em Chicago, nas feiras de turismo, nos meus anos. Mas nesse aniversário abençoado, chuvoso e húmido, na Rosa Araújo 49B, terceiro, ela apareceu por detrás do biombo beije, com motivos chineses pintados a preto, e tinha os braços abertos num carinho enorme, onde me afundei. Ter a minha mãe comigo no dia dezoito de Outubro desse ano, do qual já não me recordo bem do número, foi um momento que ainda hoje revivo, porque gravado na minha memória a tinta indelével do Amor, a Felicidade que senti e que ainda hoje me acompanha durante as intempéries da minh existência.

O outro foi em Alfragide. Era o dia dos meus anos, e estávamos na cantina do rés do chão, a beber um café para começar o dia. Estávamos vários, o Trio Odemira do costume, a miúda do nome da Flor espinhosa, e mais alguns que não vale a pena relembrar, porque não relevantes. Olhei pela janela e tive uma miragem. Lembro-me - ainda hoje - de olhar para o meu Manito e de lhe dizer:

- "Credo, aquele miúdo, de mochila às costas, parece-me tanto o Martim! Quem me dera que ele hoje não estivesse em Barcelona, mas sim aqui, comigo!"

Alguns minutos depois chamam-me à recepção e vejo os seus braços, envoltos no tecido suave de uma camisa de ganga azul escura, escancarados para me receberem, num mergulho de apneia da minha emoção, numa fusão total, completa e atómica, no e do Amor que sempre nos uniu. Atirei-me para esse abraço na incredulidade de uma Mãe, a quem é concedido o privilégio de abraçar o seu primogénito no dia do seu aniversário, afogando a saudade de meses de separação.

O terceiro momento foi agora, há dois dias, no dia dezoito de Outubro de dois mil e vinte e três. Senti uma falta IMENSA do seu irmão, mas no altruísmo de uma Mãe, que só quer a felicidade dos Filhos, disse-lhe para não vir. Ele precisa de VIVER, de sorrir, e não tem culpa que, na impaciência acelerada que herdou de mim, tenha tido tanta pressa em nascer, que o decidiu fazer no meu dia de anos, o melhor presente que o Universo alguma vez me deu. E o nosso dia, no ano passado, foi tão, mas tão, mas tão triste, que achei que seria melhor este ano, eu abdicar da presença dele, para que ele pudesse estar com os seus Amigos, com Alegria, com a garra de que precisa para enfrentar as agruras deste Mundo. E neste meu sacrifício tão terreno, o Céu trouxe-me o seu canto, minha jovem e adorada Coruja, que desde a Primavera não piava para mim! GRATIDÃO meu Filho!

Esse seu breve canto, conversa injusta e prematuramente (in)acabada, soube-me a Vida. E no milagre dessa maiúscula que foi, em tempos, uma vida consentida, mais uma sutura foi dada, no sentido de um sarar de uma ferida permanente e eternamente aberta!

Ao mesmo tempo, o Universo tem-me ajudado nesta minha nova sobrevivência. As Dianas têm espalhado - e espelhado - o nosso Amor por muitas famílias, levando nas suas entranhas, o ADN do meu Amor universal por si, meu Filho, e por todas essas crianças, uma das quais ou todas elas, poderia(m) ter sido sua(s), e com isso, tão minha(s). E é nessa dádiva, numa verdadeira dádiva de Amor de que, donde menos se espera, vou poder comprar a nova máquina de costura "Overlock", para poder dar asas à minha imaginação do "ai chega chega, chega aí, aí a minha agulha, afasta, fasta, afasta aí o meu dedal"...

Martim...passaram mil anos. Mil e uma reincarnações, mil e uma sobrevivências. Um oceano de lágrimas, numa vastidão imensurável no infinito de uma Saudade, que nem a si própria se consegue definir; perdi tantos Amigos, e ganhei tantos outros mais. Como a tia Isabel, uma mãe que faz nascer, todos os dias, dentro de si, um colo que não quis dar frutos terrenos, mas que, na plenitude da sua generosidade, encerra em si o poder de me abraçar ontem, hoje, e todos os dias que eu precisar, eu e milhões de outros filhos que ela não teve aqui, neste plano, mas que tem algures no Universo. Ela que foi a Primeira que me leu e que me disse para continuar. Porque o meu sofrimento tinha que ter um significado Maior, aquilo que sinto desde o dia dois de Agosto de dois mil e vinte e dois. Ou como o da Helena, que, tal como eu, é uma privilegiada, porque recebe sinais. E os sinais são tão importantes! Mãe Coragem, Mãe sofrimento, Mãe que chora, todos os dias, como eu.

Mas o meu choro é apaziguado. Fui, sou, e continuarei a ser abençoada: pelo Filho que tive, pela Doutora Fátima e pela Doutora Ana Carolina que me acompanham nesta caminhada do luto, pela Coragem que me invade, através dos meus Filhos, que todos os dias me inspiram! O da Terra, e o do Céu! Pela Força que nasce de umas cinzas de um Ser implodido, a quem não restou mais nada do que se reinventar, porque o Universo me incumbiu de uma tarefa hercúlea. Na nossa, sua (breve) e minha (tão longa) Vida, nunca nada foi fácil. Foi sempre tudo arrancado a ferros. Mas também nunca nos faltou o essencial.

Martim...como descrever esta Caminhada? Uma insanidade disfarçada pelo mínimo socialmente exigido, por quem me acompanha nas mais variadas formas das vivências do quotidiano? O expectável pelos Outros, que nós, Seres que pairamos no limbo, seja aqui, seja aí, temos que respeitar, porque é demasiado para a maioria compreender?

Filho...

OBRIGADA! Pelo canto, pela visita, pela mensagem, por me fazer sentir, ontem, hoje, amanhã e todos os dias, que só assim vale a pena, nesta simbiótica dicotomia emocional, traduzida numa tentativa racional, de irracionalmente analisar os sentimentos.

Martim...

"The sound of the wind is whispering in your head, can you feel it coming back? Through the wamrth, through the cold, keep running till we´re there. We're coming home now, we're coming home...

I AM HOME!

Mil beijos da sua Mãe que o adora,

Mami

P.S. Amanhã somos 26 Épicos, geração irmão mais novo, aqui em casa!


sexta-feira, 6 de outubro de 2023

5.10.2023 - Onde Day plus 63 - Amar, Coser, Constelar e Trabalhar!

 





Meu adorado Martim,


Acabei de regressar de Lisboa. Foram dois dias muito intensos, mas de uma intensidade boa. Uma intensidade que me fez sentir viva, numa comunhão imensa consigo, mas vamos por partes. Finalmente realizei dois sonhos, e sinto que a minha vida está no caminho do Caminho, num troço muito muito íngreme, mas tenho conseguido tratar das bolhas que se vão formando e doendo, sem as deixar infectar. E assim, passo a passo, uns dias com mais dores, outros com menos, vou trilhando esta nova jornada.

Prometi-nos, quando afaguei o seu cabelo lindo e suave pela última vez, que a sua morte não seria sem significado. E dar significado à morte não é querermos morrer. É querermos ficar vivos para todos os dias recordarmos, e nessa recordação daqueles que mais amamos, mantê-los vivos no nosso coração,  ((Escrevo propositadamente "mantê-los" e não "manter-vos") :-) e Você, meu querido Filho, sabe o que quero dizer!)) e só existe uma forma de o fazer, como advogo todos os dias, desde o dia dois de Agosto de dois mil e vinte e dois, que é através do AMOR. Abrir o coração ao Universo é a única forma de mitigar a dor - porque um luto de Mãe nunca sara - e assim honrar a Vida de quem cumpriu o seu papel aqui neste plano, tendo sido chamado para o outro.

A minha ligação com o Universo é cada vez maior, e o meu desprendimento das coisas terrenas diminui consideravelmente, à medida que essa ligação se fortifica. Não é fácil conviver com esta espiritualidade, pois o plano terreno, tal qual magneto invisível, prende-nos, como que querendo impedir que subamos um simples degrau neste desenvolvimento espiritual, mas consegue-se. Com trabalho, com muito trabalho interior, consegue-se. Implica também muita coragem, pois obriga-nos a confrontar os nossos maiores receios, fantasmas empoeirados que teimam em se esconder no armário. Tenho sacudido tanto, mas tanto pó, que mete impressão. Mas ando a limpar a casa e com isso, perdi o medo das aranhas. Enfrentar os medos e os terrores amedronta como o raio. Sobretudo o medo da perda. Mas se fazemos parte do Cosmos, significa que o Cosmos não nos pertence, logo, "perder" não me parece a palavra correcta, porque se nós fazemos parte de algo, então não podemos perder nada! Porque SOMOS! Mas já lhe volto a explicar isto.

Voltando à minha narrativa dos últimos dias, consegui realizar dois "sonhos" de longa data. Inscrevi-me num curso de costura como deve de ser, e fiz umas calças boca de sino, padrão floral em tons pastel, à "la sixties", mesmo "vintage", de "lycra". Suei as estopinhas, parecia que estava a coser uma cobra, mas elas lá nasceram. Senti uma satisfação imensa, e é algo que sei que irei continuar a explorar. Um dia inteiro assim de novos desafios na costura é como uma semana de terapia e de meditação: ficamos estoirados, mas felizes. Porque a "lycra" é um tecido escorregadio, que requer precisão, e não perdoa erros facilmente. A nossa concentração é só nela: basta um simples pensamento fora, e estamos tramados. E isso "limpa" a cabeça, sossega a "monkey Mind", provocando uma sensação de tranquilidade e de Paz. Claro que Você me guiou as mãos, não posso ter sido eu, pois mais uma vez tratei a máquina de costura por tu: nunca tinha mexido numa máquina de corte-e-cose, mas é de facto, um sonho tornado realidade, é como se mudássemos de uma trotineta para um Ferrari. 

Ao fim de dez minutos conseguia manuseá-la??? Não fui eu...ou não foi o meu eu físico, foi o meu eu cósmico, fundido com os antepassados das suas avós, consigo, com o Universo.

O segundo acontecimento foi um Encontro de Alma Sistémica, facilitado pela Paula Ponce Alvares. Você sabe que há décadas que eu queria constelar, sem nunca ter dado esse passo. Pois bem, a tia Paula, que tem tido um papel fortíssimo na minha vida no último ano, trouxe-me a Paula Ponce Alvares; parecendo um propósito por acaso, decidi que era muito mais que isso, quando a Paula "me entra", quase em simultâneo na vida, através da Herdade do Pouchão, que veio através da tia Nicole, e com isso surge três vezes, no espaço de um mês, vinda de ângulos totalmente diferentes. Não poderia ignorar esta mensagem do Universo, ainda para mais em tríade. E lá fui. E foi espetacular. E devo dizer que senti o poder que emana das suas entranhas, quando a mão dela, suavemente pousada nas minhas costas, me pôs o coração a ferver, num calor incrível e imensamente confortável, num "Reiki" perfeito, porque totalmente dádiva de Amor. Foi como se alguém pegasse literalmente no meu coração e o consolasse de uma forma divina, fortíssima, envolvendo-me num bem-estar imenso. Eu queria uma consulta sozinha com ela, queria aquele colo cósmico que ela possui, e que se sente à distância, só para mim, mas aprendi, a muito custo, que tenho de ser grata pelo que o Universo me dá. Foi também um desafio poder observar a forma como obtém as mensagens do Universo, tal qual as poucas oportunidades que eu tive, quando me apaixonei pela Astrologia, algo que você gozava tanto, mas depois me perguntava sobre as suas namoradas! 

Constelar foi muito bom, e ajudou-me a perceber que eu, sendo uma (quase) leiga, estou mesmo ligada ao Universo. Percebi também que a sua morte, ou a sua passagem para o novo plano, me veio possibilitar um aprofundar incrível de toda essa ligação. O meu "eu" passou a ser muito mais coração e muito menos cabeça. Claro que a cabeça, quando se revolta, faz motins cada vez mais tumultuosos, pois tem sido relegada para segundo plano, mas o meu coração, através desse Amor, tem crescido muito. E nesse crescimento, eu percebo que sou espírito, e que sou Amor, e que SOU. 

A minha viagem tem sido dura. Muito muito dura. Chorei mais neste último ano do que em todos os outros da minha vida, todos juntos, multiplicados por vinte, o que já indica uma vetusta idade! Imensuravelmente mais. Mas também aprendi muito sobre mim. Hoje posso dizer que gosto da pessoa em que me tornei. Tenho o coração dilacerado pela dor da saudade, mas estou muito mais sábia. A sua bisavó  - ainda no exercício de continuar a constelar - e também ela sofreu imensuravelmente na vida, dizia que o sofrimento enobrece. Entendo hoje a plenitude dessa afirmação. Temos duas escolhas: a morte em vida, ou o abraço de uma vida (com)sentida. Com "M", mas também consentida. E esse consentimento veio através de si. Do milagre do privilégio de ter podido ser sua Mãe. E o sentimento que veio com a sua morte, é passível de paz. A paz alcança-se através do Amor. E se hoje não tenho medo nenhum da morte, é porque você, meu Filho, minha Luz, foi à minha frente, para me iluminar o Caminho, quando chegar a minha hora. E irei com a maior das Alegrias, porque o vou reencontrar.  Mas tenho ainda muito para fazer aqui neste plano, muito trabalho, muito Amor para dar ao seu irmão, e um dia aos filhos dele, muitas Mães para estreitar contra o meu peito, e um livro para escrever.

E volto à nossa última conversa, lembra-se do que lhe disse?

-  "A morte perde o seu significado perante o Amor. Porque o Amor, ao ser Vida, vence a morte. E estamos, e continuamos, e acima de tudo, SOMOS. Somos UNOS, você e eu e o Universo que nos envolve."

Um beijo repleto de gratidão meu adorado Filho, e um sorriso rasgado, deste plano para esse!

Com gratidão imensa, e todo o meu Amor Universal,

Mami


P.S. Dia 23 regresso ao Trabalho, por minha iniciativa. (Estou borrada de medo)!

25.4.2024 - One Day plus 266 - (Still about) the Intrepids, the Freedom Lovers, the Crazy Ones...

  Ahhh meu adorado Filho, Que DELÍCIA!  Está tão, mas tão perto de mim e obrigada pelos sinais que me vai enviando, hoje especialmente.  O &...