quarta-feira, 19 de abril de 2023

19.4.2023 - One Day minus 262 - Da morte e da ausência, da saudade sem FIM

 



Meu adorado Filho,

Espero que a Foxie tenha chegado bem aí. 

Peço-lhe que não lhe atazane o espírito, coitadinha, já bem basta as judiarias que lhe fez neste Mundo. Abrace-a com força e diga-lhe que a Mami se lembra dela vinte quatro sobre vinte e quatro, e que este Mundo está ainda mais vazio. Dou por mim à procura dela no silêncio da casa, olho para a sua caminha, agora vazia, à sua procura, à escuta de uma respiração de mimo ao meu lado, chego a casa e nem sei descrever a falta que me faz o seu latido de boas-vindas, de alívio por me ver entrar o portão. De "me" saber aqui com ela, sempre a dar-lhe segurança. 

Perdi uma companheira de uma Vida, daquela vida que foi minha mas que, uma vez mais, me foi roubada. Que mais pode o Universo querer de mim? Não chega já? Mais ainda? Mais dor, mais desgosto, mais perda, mais um silêncio, mais uma recordação de tempos felizes de partilha? Mais uma vez o Universo me pediu altruísmo, e lá estive eu à altura, por não aguentar ver sofrer os que amo. Mas a que preço meu Deus? A que preço? Como se cosem os retalhos esgaçados de uma Alma, a minha, tão cheia de saudade, tão cheia de lágrimas, tão a transbordar de lágrimas de desgosto. 

Adormeceu nos meus braços. Quero acreditar que adormeceu em paz. Pedi-lhe que o encontrasse, e quero crer que sim, que o fez. Peço-lhe que tome conta dela e que juntos, olhem por nós. Pelo Mano e por mim. Por nós, fui à procura de outra cadela. É toda preta, com patas brancas. Vamos ver como é, vou buscá-la na sexta. Tenho de tocar a vida para a frente, nem que seja a troco da pouco que resta da minha vida anterior. Tenho a cabeça num caos. Num caos. O coração desfeito em mil pedaços. Estou sem rumo, mas tenho de tentar continuar. Pelo menos tentar. 

Tim...Foxie...

...espero-vos juntos, num céu onde, um dia, também quero entrar. Quero acreditar que aí estarão, à minha espera. Não percebo porque é que o Universo me fez mais isto. Porquê já? A Foxie com o seu cheirinho a algodão e o pelo macio, amparou as minhas lágrimas aquando a sua partida. Foi a minha companhia nas noites escuras do desgosto. Acho que ela sentiu tudo isso e não teve força para me consolar mais. Estava cansada...como a entendo!

Tim...mil beijos!

Foxie...meu cão tão querido, minha Mininhas, minha companheira de aventuras, meu consolo...espero-te bem!

Abraço-vos contra o meu coração com tanta, tanta, tanta saudade!

Mami


terça-feira, 18 de abril de 2023

17.4.2023 - One Day minus 260 - Foxie

 



Meu adorado Filho,

A Foxie já descansa na terra barrenta aqui da Quinta. 

Adormeceu nos meus braços, em mais uma despedida desprendida de egoísmo, mas plena de dor. A nossa Foxie! Estava muito doente e foi de repente, e eu não estava preparada. Nunca se está. A morte rodeia-me, envolve-me, rouba-me todos os que amo. A casa está vazia. Falta-me a respiração lenta dela, aqui ao meu lado, no atelier. Falta-me o latir enquanto corria atrás dos patos sem lhes fazer mal. Falta-me tudo Martim. Tudo! Falta-me o sexto sentido dela quando me sentia triste e me vinha pedir colo, para me consolar. Tenho medo de me deitar e não ver a caminha dela ao meu lado. Foram onze anos de companheirismo, de travessuras, de alegrias, de um cão que só lhe faltava falar. Nunca mais haverá outra Foxie. Nunca mais.

E eu, e eu não me vou alongar mais, porque não vejo as teclas através das lágrimas. Não posso mais de sofrimento. Não aguento!

Tim, se ela chegou aí ao Céu, por favor não a chateie. Não a provoque. Abrace-a e juntos, mandem força cá para baixo. 

Beijo Tim, e faça uma festa à Foxie. Pus a coleira dela no seu Altar. 

Mami

sábado, 15 de abril de 2023

15.4.2023 - One Day minus 258 - Contigo

 


Meu Adorado Filho,

É triste, muito triste, quando temos de esconder as nossa lágrimas. Quando, para os outros, as nossas lágrimas são "ridículas", porque a vida deles continua. Continua sim, para eles. Mas para nós, o desgosto não tem fim. A morte rodeia-me sem dó nem piedade. Depois de si, o Opa, e agora a Foxie. Eu sei, não é mais do que um cão, mas é a minha companheira, a nossa Foxie deixou já de comer. Aninha-se no meu colo e encosta o focinho ao meu peito e sente-se que esse aconchego a alivia. 

Tim...já não tenho força. Não há amanhã que me valha, no ontem onde fiquei presa, nas memórias, nas recordações, na saudade. 

Ante-ontem foi um dia menos mau: a Doutora Ana Carolina tem sempre um sorriso que me encoraja, um ouvido que me escuta sem julgar, um carinho incrível. Ofereci-lhe uma Diana que acho parecida com ela, tem flores no cabelo, e um vestido de Primavera. Hesitei, porque não a queria ofender com um presente tão pessoal, mas ela entendeu, porque é uma pessoa iluminada. Quando vou falar com ela, saio cheia de força, mas que depressa se dissipa perante esta adversidade sem fim. Precisava dela vinte e quatro sobre vinte e quatro para me abraçar, para me dizer que me entende, que entende esta dor dilacerante que me rasga tudo, que me mata e me destrói mais ainda. Mas não posso, porque somos a nossa própria circunstância. Martim...meu Amor, meu Filho, minha saudade, leva-me contigo. Abre os braços para mim e envolve-me na tua eternidade, leva-me meu Amor.

Não AGUENTO tanta dor, tanta perda, tanto desgosto! Estou cá pelo Mano, e só por ele. E pela Oma, coitadinha, que bem merece, mas só por eles. Mas em dias como o de hoje, quem me dera (re)encontrá-lo a si, sentir o seu abraço, a sua pele, a sua voz. Filho, a saudade mata-me. Rasga-me, aniquila-me, e ainda nem tive a coragem de chorar o seu avô. Não posso, senão morro, e não posso, porque o Mano precisa de mim. Mas Tim...não tenho mais força. Não posso mais meu Filho. Não aguento. Cheguei ao limite. 

Tim...estou sem rumo, sem Norte, sem bússola, sem Porto de Abrigo. Estou cansada de chorar, de perder afectos, de desgosto. Não posso mais Filho! De quantas lágrimas se faz um luto? Filho, só quero um abraço, um aconchego!

Filho...ando sem rumo, sem destino, sem Norte...ando à deriva, ando à sua procura numa busca incessante de algo que não tem resposta, num desgosto sem fim!

Martim...meu Filho, minha Vida, meu Amor, vou tentar. Prometo que fico pelos que precisam de mim, mas...

...mas e num sussurro só nosso confesso, 

...leva-me contigo! Seja de que forma for, leva-me...

...Contigo!

Amo-te meu Amor, minha Vida interrompida, meu filho, meu Amor...

Tim...

Com todo o meu amor infinito,

Mami 



domingo, 9 de abril de 2023

9.4.2023 - One Day minus 252 - Domingo de Páscoa - Gratidão

 



Meu adorado Filho,

Não lhe venho escrever com grande propósito, no sentido que não tenho nada de transcendental para lhe contar, que não lhe tenha já sussurra neste Domingo Pascal, em que aqui na Quinta, escondi ovos para o Mano e os amigos, como se tivessem doze anos. E que bom que foi vê-los à procura deles com a sofreguidão curiosa da inocência de crianças - que felizmente - ainda não perderam! O Mano e eu falámos de si, e foi bom. Quem é recordado, nunca morre! E você é recordado em todos os cantos e recantos, em memórias e vivências, por muitas, muitas pessoas. É Domingo de Páscoa, e lembro-me de um célebre Domingo Pascal, em plena Quarentena, em que fomos a casa do Tio Nando. Estava um dia como o de hoje, com um céu de um azul de cortar a respiração. Nesse dia, entre o cabrito do Tio Nando, o meu Cozido à Portuguesa, e a voz reprovadora do Pai, que, com toda a razão, dizia ao telefone que nós dois éramos doidos - mais eu, porque era sua Mãe e permitia tanta inconsciência - naquele terraço com vista para o Tejo, falámos de relógios, de política, de amizade e da morte. Aflorámos a morte, porque depressa percebi que não era um tema. Aqui falamos da sua morte com naturalidade. Com uma saudade infinita, imensa e sem fim, mas falamos. Custa muito a acreditar, por vezes, ainda dou por mim a achar que está a viajar e que depressa voltará para os meus braços sequiosos de Mãe, para depois, com desgosto sem fim, pensar que essa viagem foi a última. Cai a noite em frente da janela do meu atelier e sinto-o. Sei que cá está comigo. Ontem, quando finalmente, e por apenas alguns minutos me deitei no "hammock", uma águia lá em cima no céu, tão longe que era quase um pontinho minúsculo, pairou sobre mim. E foi a olhar esse Céu na sua imensidão de azul, que mergulhei na gratidão de ser Mãe de dois seres especiais. Um, felizmente que posso abraçar, estreitar contra o meu peito e dar inúmeras bênçãos na testa, o outro, o outro afago com o sal das minhas lágrimas, e a gratidão do meu ser por ter sido a sua Mãe, e ter tido o privilégio de o trazer ao Mundo, e de o acompanhar durante (breves) vinte e seis anos. Meu Filho...a Páscoa trouxe-me um caroco, que o Mano baptizou de "Amarelinho", e vários patinhos, minúsculos, ainda não sabemos quantos, porque a Pata não nos deixa chegar muito ao pé.

A Páscoa trouxe-me, uma vez mais, a trágica, e conquanto, tão abençoada realidade de Maria: de perder um Filho pela Humanidade. Não sou santa, nem você é Jesus, mas ofereço o meu sacrifício por um Mundo melhor. Onde haja alguma Paz, e sobretudo, onde cada pessoa encontre a valorização dos nossos. Porque a Vida é tão efémera, tão curta, tão curta, que se as pessoas soubessem o que é a verdadeira SAUDADE, aproveitavam cada segundo como se fosse o último, na sofreguidão de vida de quem, na Quarentena, partilha cabrito e cozido e fala de relógios.

Meu Martim, minha Vida, meu Amor...

GRATIDÃO! Por si e pelo Mano, pela bênção constante de ser...

...Mãe!

Mil beijos meu Amor,

da Mami


P.S. Ficou um ovo escondido, que resvalou para fundo do tronco de uma das Oliveiras, e eles não quiseram por a mão com medo das abelhas. É só um, mas acho que você vai adorar andar à procura. Boa caça de ovos meu querido Filho!

quarta-feira, 5 de abril de 2023

5.4.2023 - One Day minus 248 - (N)outro plano...

 



Meu adorado Filho,

Há muitos (demasiados) dias que não venho aqui para lhe (transcr)escrever as nossas conversas. Não foi fácil lidar com a morte do Opa Freddy, e aqui na Terra mil e uma coisas aconteceram. Aprendi, com a sua partida, a lidar com a perda, com o desgosto, com mais um pedaço de sentimentos arrancado, roubado, retirado do meu coração. A partir aí tudo se relativiza. Parece incrível, mas não é, é a realidade de uma Mãe que nunca mais vai poder abraçar o seu Filho do Céu. Mas mesmo assim a partida do Opa doeu como o raio!

Nem sei por onde começar...as Dianas têm sido a minha tábua de salvação neste Mundo, cada uma mais querida do que a outra. É terapia, é epifania, é um pedaço pequeno de Alegria...

...Meu adorado Filho,

Nem me atrevo a (transcr)ever o que me vai no íntimo. As Dianas são a minha ligação com o Cosmos, e cada vez mais sinto isso. Não posso verbalizar muito o que sinto, senão internam-me mesmo e de camisa de forças, mas você sabe o que quero dizer. é verdade, e a cada dia tenho mais provas disso: a nossa (sua e minha) ligação vai muito, mas muito mais para além do Além, ela persiste e subsiste num plano inalcançável ao comum dos mortais preocupado com isto e com aquilo. Bom, eu também me preocupo com (o) isto e com (o) aquilo, porque não vivo do ar, mas o que é certo é que uma vida de contemplação, de meditação, de trabalhar a terra para a plantar, de acarinhar animais e de fazer nascer Dianas cada vez mais perfeitas, nos aproxima daquele plano indescritível, (quase) inalcançável, mas contudo, existencial(ista), em que o Céu e a Terra se unem, porque o Amor é como um Arco-Íris, incandescente de cor e de Esperança.

Martim, meu Filho querido, eu sei, a Oma sabe, você sabe e nós sabemos. É isso mesmo...

E com isso me despeço de si, num até já na máquina de costura, com um sorriso...

da sua Mãe que o adora,

Mami

25.4.2024 - One Day plus 266 - (Still about) the Intrepids, the Freedom Lovers, the Crazy Ones...

  Ahhh meu adorado Filho, Que DELÍCIA!  Está tão, mas tão perto de mim e obrigada pelos sinais que me vai enviando, hoje especialmente.  O &...