sábado, 24 de dezembro de 2022

24.12.2022 - One Day minus 144 - "Driving Home for Christmas,

 


with a thousand memories (...)"

Meu adorado Filho,

Não me vou alongar, sob pena de não aguentar as próximas horas, porque tudo em mim é saudade e recordação. Vivi vinte e seis Natais consigo, cada um melhor que o outro. Este é de uma dor inigualável. 

Ontem tivemos uma visita boa, que lhe trouxe um presente. Sei que você aí do Céu sabe de quem falo. O seu Altar ficou mais rico, e penso que você mais contente. Infelizmente, o Tempo não foi seu aliado, mas o que conta é o que acontece, e estou certa de que foi um presente de Natal pelo qual você esperou mais de um ano. Sei que está a sorrir aí di Céu.

Meu Filho querido, hoje fico-me por aqui, porque não me quero alongar. As lágrimas toldam-me a visão, e não posso estar assim por causa da Oma. Deixo-o com a minha saudade sem fim, com todo o meu Amor e com as nossas recordações do ano passado, de um Natal tão feliz, mal sabia eu que seria o último que passaríamos "juntos". E digo-o entre aspas, porque juntos estaremos para sempre. Ai meu Filho, que dor, que saudade, que desgosto tão grande, tão grande!

A Oma queria que eu pusesse a sua bota na chaminé, mas não o fiz. Espero que compreenda. Temos de aceitar a sua partida, e rezar para que esteja junto de Deus e dos Anjos, onde é o seu lugar. 

Um Santo Natal para si meu Amor, e mande daí de cima uns pozinhos de Alegria cá para baixo, que bem preciso. Amanhã será melhor, o Mano vem com a Xica, o Gonçalo e o António e vamos atirar-nos a um leitão, entre outras iguarias que marcam agora os novos Natais, tão diferentes de "antigamente!".

Não se preocupe comigo, sinto-me plena de si, sei-o à minha volta e logo, na missa, sei que embora a sua mão não venha aquecer a minha, o seu espírito estará comigo.

Com todo o meu Amor,

Mami

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

20.12.2022 - One Day minus 140 - O Céu precisa de Anjos!

 



Meu adorado Filho,

Tenho andado longe das nossas cartas, mas sempre, sempre ao seu lado, e consigo omnipresente: no meu espírito, no meu coração e na minha Alma. Mas infelizmente, a Oma partiu uma vértebra, e tenho-lhe dedicado todo o tempo livre, todo o amor (que me sobra deste desgosto), toda a minha atenção e todo o meu carinho.

Chego à conclusão que devo ter sido uma megera noutra vida, um ser muito mau, muito injusto e muito violento, para estar a expiar tanto pecado nesta existência. Mas pronto. É o que é, e é dose sobrecarregada de preocupação. 

Disseram-me que daqui a cinco dias é Natal. A sério? Não o sinto. 

- "Não é possível Mãe! A Mãe, que sempre vibrou com as tradições do Natal? Enlouqueceu!"

Pois não é meu Amor. No outro dia encontrei o cartão que lhe escrevi no dia vinte e quatro de Dezembro de dois mil e vinte, em que lhe ofereci a agulha com que a sua trisavó Zeza cozia o papo do perú, depois de o ter recheado com as castanhas, e injectado a aguardente nas coxas durante dois dias! Lembro-me de si a tirá-lo do forno, várias vezes, sob as ordens, em stress traduzido - como sempre - nos berros da Oma, que, uma vez mais conforme a tradição, dizia que ia ficar um perú seco e péssimo, e que foi o melhor que comi em todos os anos da minha Vida, nessa altura ainda com maiúscula. Foi um Natal debaixo de Covid, com testes e mais testes, e cuidados redobrados, mas que foi tão, mas tão feliz. Foi um Natal com a Carmo, e com o Miguel, e com tanto, tanto Amor! Fomos os dois à Missa do Galo e trocámos os presentes depois, como quando você e o Mano eram pequeninos. Foi um dos momentos felizes, mesmo genuinamente, verdadeiramente e plenamente felizes que vivemos, com as Rabanadas do pai da Carmo, e com tanta, mas tanta iguaria, temperada com Alegria!

Daqui a cinco dias, repete-se o mesmo dia, mas em que circunstâncias, meu Deus! Observo, do lado de cá do vidro, a mesma Alegria nos Outros, que se espelha nas mensagens, nas publicações, nas compras desenfreadas, no caos natalício do consumismo, nos jantares de confraternização. É duro equilibrar isso com a preocupação com a saúde da Oma, teimosa que nem um burro, e, sobretudo, com o desgosto da sua ausência. 

Este ano vou à Missa sozinha. A Dona Fernanda ligou-me hoje a confirmar que será às onze da noite, e que este ano, 

- "Como não há Covid, já poderemos beijar o Menino no fim da Missa, veja a Felicidade!"

e ao telefone, consigo vislumbrar o sorriso triunfante dela, num rosto magro e enrugado, marcado pelos vincos das memórias, emoldurado por cabelos brancos, já tão ralos, mas sempre imaculados, e num sorriso rasgado, pleno, recheado de uma dentadura alva, que teima em descair um bocadinho, quando ela diz os "S" e os "J". 

Lá estarei, de olhos rasos de lágrimas e de coração cheio de recordações. Mas não o terei fisicamente ao meu lado, lindo, cheiroso, vestido a rigor para o Natal, e sobretudo, irei morrer de saudades de sentir a sua mão quente em cima da minha, quando as leituras nos comoviam e pensávamos em tantas, mais tantas, e outras tantas palavras partilhadas enquanto sussurradas, aos gritos, no silêncio secreto da nossa cumplicidade! Nesses momentos muito, muito intensos, a minha mão procurava a sua, e a sua a minha, e agarrávamos os dedos um do outro com muita força, oferecendo o alento do amor e o calor do carinho. 

Ahhhhhhhhhhh, Tim, caramba! CARAMBA! A saudade de si, a sua saudade, a minha, a saudade de nós é pungente, escara que me corrói a carne e dilacera o coração. Mas...e não sei se é da preocupação por me sentir uma Miss Nightingale versão pós sobrevivência e recear não estar à altura, ou simplesmente se da sua Luz que me inunda a cada instante: é também uma dor que se vai apaziguando, não na intensidade da sua tristeza, mas na aceitação da brutalidade da injustiça que me foi infligida, a mim, que tenho de o chorar a todos os nanossegundos do dia, ou a si, VIDA ceifada tão prematuramente.

O Céu precisa de Anjos, eu sei. Já sacrifiquei o meu, espero que por um Mundo melhor.

Um Mundo de...

...Natal...

que deveria ser não só todos os dias, mas sobretudo, PLENO de AMOR, como o meu, por si! 

Amo-te meu Amor, minha Luz, minha Vida, meu Filho!

Mami



sábado, 10 de dezembro de 2022

9-12-2022 - One Day minus 129 - Dream catcher(s), espero que goste, deu-me um trabalhão! ;-)

 



Meu adorado Filho,

Há cento e vinte e nove dias que a sua voz só ecoa no meu coração, nesse músculo que bate, sem ritmo, sem compasso, sem propósito aparente. Os dias têm-se sucedido, e eu tenho andado longe das nossas cartas, mas sempre tão próxima, colada ao seu Ser, sempre consigo no pensamento, com a sua voz nas minhas entranhas, com o seu Amor que me alumia o Caminho!

Estou cansada Tim! Cansada disto tudo, mas acima de tudo, hoje estou aliviada e passo a contar, porque sei que, embora se aborreça com os meus ínfimos pormenores, gosta de saber os detalhes. 

Desde o dia Trinta de Novembro, em que chegámos cá, que a Oma se andava a queixar com dores. Pensei numa contractura, porque trouxemos a IKEA em peso e mais alguma coisa no carro, e ela ajudou-me a meter a poltrona cinzenta na bagageira, mas as dores não acalmavam. Como este ano não me dá tréguas - começo a achar que o Universo me considera uma heroína de Marvel - achei por melhor ir com ela a Santarém, porque já não podia vê-la a sofrer mais, e pensei, sinceramente, que se tratava de uma nefrite, ou de algo parecido. Resultado: hoje pela manhã pusemo-nos a caminho, noventa e três quilómetros de incerteza. Lá chegadas, a Oma foi muitíssimo bem atendida e às quatro e meia da tarde, já havia um primeiro diagnóstico, confirmado umas horas depois: uma vértebra partida. Agora temos de tratar dela, com o máximo de carinho e de dedicação.

Coitadinha, não haveria ela de gritar com dores. 

Vou tentar mimá-la o máximo que posso, afinal a nossa Rocha merece isso tudo e mais alguma coisa. 

Mas sinto-me cansada Tim. Exaurida, vazia, sem rumo. Começo a aceitar a sua ausência física como parte integrante desta nova sobrevivência, mas quando olho para o seu Altar e para as suas fotografias, sou abalroada pela incredulidade da sua partida. Quando vejo o seu sorriso lindo, os seus olhos transbordantes de Alegria e de Amor, não consigo acreditar que é até que a morte me leve para ao pé de si de novo, numa passagem suprema para aquele plano perfeito, onde as nossas conversas, os nossos abraços e as nossas discussões irão continuar. Só espero que esteja lá, à minha espera, e me venha com o típico:

- "Porra Mãe, demorou, o que é que andou a fazer este tempo todo, não acredito que tenha ido só às compras, tenho mil coisas para lhe contar!"

E eu, bom, eu não sei o que irei dizer ou sentir quando o reencontrar. Acho que vou abrir uma garrafa de Hexagon e relaxar, consigo ao meu lado, a contar-lhe as peripécias da minha existência, e vamos rir e pensar no que vamos fazer para o jantar. Tenho saudades dos seus cozinhados, de estarmos na cozinha de copo de vinho na mão a inventar e a improvisar. Tenho saudades suas meu Filho querido, neste ano maldito, que deveria se riscado do calendário!

A Oma prometeu-me que, se chegasse aí antes de mim e quando o reencontrasse, me mandaria um sinal cá para baixo. Disse-me que ia tentar, e eu disse que "tentar" não chega, que ela partisse pratos, abrisse portas, sei lá eu, mas que me fizesse saber que estavam juntos. Já vos ouço às gargalhadas, e se for eu quem vai primeiro, farei o mesmo. Só espero que ela se aguente mais um bocado neste plano, porque preciso muito dela. 

Sinto-me tão só Tim...tão abandonada neste Dezembro quase Natal. Tento, faço, ando e caminho, desbravo e desmato, mas os espinhos são difíceis de ultrapassar. Difíceis? Não, são impossíveis. E depois há pessoas que não têm noção do que nos dizem, e que mais valia ficarem caladas. Ouço muitas vezes os outros queixarem-se e dizerem-me:

- "Ah, eu perdi o meu marido, é igual à tua dor", ou "ah, mas a tua Vida continua, tens de ser forte!"

Quando ouço isto, só me apetece cuspir-lhes na cara. 

É fácil falarem quando o futuro não lhes foi roubado, quando não têm de viver com a perda de um Filho. Forte? Para as urtigas com a força, para manter o decoro aqui, porque só me apetece dizer asneiras e palavrões. Sabem lá as pessoas o que é dor! Mais valia ficarem caladas, ou mandar apenas um genuíno beijo, um abraço, porque só isso tem muito mais significado, e só quem perde um Filho sabe o que é a morte em vida. O que é o pesadelo dos dias, numa sucessão de horas intermináveis até chegarmos finalmente ao sono, e a mais um acordar para mais uma sucessão de horas, numa esperança de que o dia em que estaremos juntos de novo chegue rápido, na cobardia, ou na coragem, de ficarmos presos, especados, paralisados pelo desgosto, como que atrás de um vidro pelo qual escorrem lágrimas, embaciado pelo sofrimento, enevoado pela dor atroz, que nos consome as entranhas! Sabem lá as pessoas o que é sofrer! Mil vezes tivesse ido eu, e você continuado aqui, nessa Alegria, nessa ânsia, nessa sede de Vida que tinha, meu Filho adorado, exemplo de Amor, de Coragem e de Honestidade! 

Tivesse ido eu..., mas não foi assim que o Universo quis. E por isso, eu carrego esta dor, este fardo, esta tonelada de sofrimento, que me dobra as costas e me faz querer ajoelhar de tão pesada, de tão amarga, de tão dura, de tão infinitamente injusta!

Mas aos poucos, muito devagarinho, quase impercetivelmente, eu aceito. Aceito e dedico esta dor, este sofrimento, esta agonia, a um Mundo melhor. À compreensão entre as pessoas, à solidariedade genuína, à preocupação com o próximo, ao Amor. Só isso torna possível esta Caminhada. Só o Amor.

Amo-te meu Filho Lindo, minha Vida, minha Saudade...

Mami


P.S. A Coruja piou há pouco! Obrigada, meu Filho! E espero que goste...foi até às três da manhã, porque as penas teimavam em não colar!!!!!!



domingo, 4 de dezembro de 2022

4.12.2022 - One Day minus 124 - Nature, Simplicity & You




Meu querido, querido Filho,

Domingo, dia quatro de Dezembro, segundo Advento. Já acendemos as velas, as luzinhas do seu Altar e às sete em ponto, no tal movimento dos Pais, Irmãos, Família e Amigos dos que partiram demasiado cedo, vamos acender uma vela em frente à sua fotografia aqui na salinha.

O dia hoje foi mais pacífico: fomos à feirinha e comprámos uma cameleira, uma árvore de mirtilos e um alecrim, que já plantámos. Trouxe frango na brasa para a Oma almoçar e quando chegámos, fomos dar um passeio de cinco quilómetros com os cães. Descobrimos que temos uns vizinhos ingleses com duas crianças, que vivem "off-grid", num terreno lindíssimo, num Tipi gigante. Também têm duas cabras e criação, entre eles um perú. Não têm electricidade e acho fantástico isso, a coragem que é preciso ter, num desejo premente de encontro com a simplicidade do verde, para se viver assim.

Fizemos uma volta grande, e parámos no Senhor Zé para beber uma cerveja e um branquinho traçado, o Zapa e a Foxie vieram connosco e pintaram a manta, mas foi giro. Quando cheguei à Quinta, fui dar tangerinas e folhas à Branquinha, à Mocha e à Preta, e pela primeira vez, a Diana veio comer da minha mão. Tem imensa graça, porque tem dois corninhos, é a única das nossas ovelhas com eles, mas é muito medrosa, e finalmente ganhou confiança. Foquei contente por isso. É curioso que agora tento esmifrar um pouco de alegria destes momentos, e os animais e a natureza que me envolvem, ajudam-me nisso.

E por isso são dias em que me ligo ao Cosmos, através do silêncio, do corpo cansado pela caminhada, embalada pelo borbulhar da água fresca da ribeira, ao fundo do vale, pela paz que se sente aqui. Ainda não lhe contei, mas todas as manhãs temos a visita de um bando de rolas que vem procurar restos de comida em frente ao galinheiro. E ainda falta a melhor. Vou passar a relatar, e por favor não me venha com o típico:

- "Resuma Mãe, resuma, que está a contar uma história sem fim!"

Nas vésperas de ir a Lisboa, quando só via a negrura da solidão à frente, tive um sonho. Um sonho muito alegre, muito vívido, muito bom, em que eu desenhava, em stencil, uma coruja, ou um mocho, não sei bem precisar. Achei estranho, porque é um bicho sobre o qual nunca me debrucei, mas sei que havia muitos no sonho, e também a sua presença era algo de inegável. Óbvio que sonhar com a sua presença é uma bênção, e não me vou alongar mais nas razões para isso, para não o maçar. O que é facto é que, um dia depois, percebemos que temos um Mocho ou uma Coruja no jardim em frente à casa, cujo piar se ouve noite dentro. Fui ler e pesquisar o significado deste animal e não pude deixar de sorrir. O Mocho não é só o símbolo da sabedoria, como a Coruja representa a ligação com o misticismo, e a inteligência. Muitas crenças associam a Coruja com a morte e o desastre, que foi exactamente isso que nos aconteceu, e como guardiões dos Mortos. Portanto, todas as noites em que ela pia, é como se você me visitasse. Explicada esta parte introdutória, onde já o vejo com um bocejo disfarçado e dois dedos no telemóvel, seu companheiro inseparável, porque tantos precisam de si, e eu furiosa como sempre, e a dizer:

- "Credo, Tim, largue lá isso, caramba, um dia eu morro e você tem pena de não ter tido pachorra para ouvir as minhas histórias..."

E de você retorquir:

- "Vá lá Mami, não posso deixar de responder a esta mensagem e a Mami não vai morrer tão cêdo!"

E não morri, ou, por outras palavras, continuo com o meu corpo físico cá...o mesmo não se pode dizer do meu coração e da minha Alma...

Bom, mas adiante. Em Lisboa, fui com a Oma à IKEA. Acho que já lhe contei sobre isso, o consumismo moderado ajuda a Alma e eu adoro decorar casas, como sabe, e encontrei um candeeiro que tanto a Oma como eu AMÁMOS! É um candeeiro de criança, um Mocho, ou uma Coruja, com uma luz quentinha e suave, que pus na cómoda do nosso quarto. Portanto, existe, claramente, uma mensagem que o Universo me está a enviar. Que me inspira e sossega, porque a sei sua.

Encontrei também mais uma Mãe de(s)filhada, mais um futuro roubado, na mágoa de quem perde um Filho, não por doença, mas pelo macabro da irresponsabilidade, da leviandade dos outros, que não imaginam como um momento nas suas vidas, que continuam, destrói tantas outras pessoas, ou famílias, ou existências. Muito embora, todas as formas de perder um filho sejam macabras, de que forma forem, a nossa é particularmente cruel: porque inesperada! Ao falar com ela, percebi o quão abençoada sou: tal como lhe escrevi na carta que li na sua missa de dia cinco de Agosto, eu não me questiono sobre os "Ses". Porque se o fizesse, jamais conseguiria sequer dar um passo em frente, e não vale a pena, porque se deixamos que isso aconteça, somos escravos da tristeza e das lágrimas para sempre, e sei que não era isso que você quereria ver em mim. Contínuo a Guerreira que sempre fui, claro que desta vez, em luta mais do que desigual, mas sigo em passos minúsculos, e não vou deixar o desespero ou a raiva entrarem no meu coração. Quero-o aberto à Paz, porque sei que só assim sonho com Mochos, ou Corujas, só assim sei que você me visita, nos meus sonhos lindos, porque consigo, e só consigo por perto é que eu consigo continuar a caminhar.

E é consigo no meu coração, e comigo em solidão, em retiro mental, em cansaço do corpo, mas com Paz na Alma, que eu sei que conseguirei prosseguir a minha jornada. Será para sempre coxa, mas sigo. Levanto os olhos e vejo-o em tantas fotografias, na sua beleza de Alma, reflectida num rosto único, de Adónis, porque você era, de facto, LINDO!

E acho que é por isso que o Céu o chamou: não só precisam de pessoas lindas por dentro, mas de Seres cuja beleza de Alma se reflecte no seu corpo imaculado e no seu rosto de uma perfeição de cortar a respiração, num sorriso único, numas mãos de uma beleza tal, que parecem esculpidas por Michelangelo. 

E é assim Tim, é assim que continuamos aqui, neste Portugal profundo, frio, mas tão aconchegante pela sua envolvente, pela sua simplicidade de Vida, e pelo significado que se retira de um dia de mais um Luto profundo, mas de alguma Paz.

Amo-te meu Filho, meu Amor, minha Vida, minha Alegria e minha...

...GRATIDÃO!

Mami


P.S. acho que hoje a Coruja vai piar :-)!



quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

1.12.2022 - One Day minus 121 - (Movie Star or a TRUE Gentleman? De espinhos e de musgo, de Amor e de (muita) Saudade!

 




Meu adorado Filho,

Dezembro chegou! 

Duas menos vinte, um frio de rachar, e eu à lareira. 

Depois do pesadelo das últimas semanas, têm sido dias mais apaziguadores e apaziguados, numa trégua pincelada de branco, muito embora desenhada com muitas e grossas listas de cinzas plúmbeos, como o céu que hoje parecia que queria desabar! Divido-me entre o desespero de não o voltar a ver, abraçar, afagar as ondas do seu cabelo, coçar as suas costas no meu consolo de amor de Mãe nos momentos desafiadores da sua breve Vida, de ouvir a sua voz, e a (ténue) constatação de que a vida continua, por enquanto (e penso que para sempre, com minúscula), mas continua, num decorrer dos dias, na chuva, no sol, nas flores de princípio de Inverno, na natureza que aqui, neste pequeno Paraíso, se sente.

Meu Filho, escrevo-lhe hoje em Paz. E esta Paz que sinto, que se propaga ao meu corpo, ao meu espírito e, acima de tudo, à minha Alma, é um bálsamo, suave como uma carícia divina, que só poderia ser sua, e que me acalma o caminho. Os espinhos são hoje musgo: suave, húmido e fresco, verde-escuro, pintalgado de amarelo com salpicos de castanho, como o que apanhávamos com o Pai em Sintra, quando vocês eram crianças, para enfeitarmos o Presépio. E como este Advento é diferente, em vez de dia 7, vou começar hoje, dia 1. É a mesma coisa que com o perú, que, também este ano, vai dar lugar à inovação do leitão: Já comecei a decorar a casa. Já pus o "Adventskranz" - e estamos mega ecológicos - este ano é a pilhas, da IKEA, para não se cortarem árvores, mas as velas são verdadeiras.

Só não abdico de uma coisa: inalterável, imutável, perpetuada no tempo sem fim do Amor: Do Presépio! Já decidimos qual o sítio, local, âncora, e aí ficará enquanto eu for viva, a todos os dias Um de Dezembro, véspera do dia em que faz quatro meses de que você subiu para outro plano, e se tornou Estrela, como as que brilham incansavelmente neste céu único do campo! 

Está um frio de rachar lá fora Tim, e quentinho cá dentro, como se centenas de salamandras e milhares de lareiras brilhassem, à disputa de um fogo (fátuo), mas que na sua efémera chama, ilumina, aquece e derrete o gelo da solidão, o desespero da tristeza, o desgosto da ausência!

Ahhhhh Tim, esta sensação é um sonho, um átomo de maravilha, um nanossegundo de Felicidade: é a realização de um ínfimo de aceitação. Mas é esse ínfimo, esse pequeno, enorme, gigantesco milagre, que me mostra que há um Caminho, nem sempre com espinhos, porque existe e nasce o musgo, tapete de pétalas sob os nossos pés, tão doridos, tão cansados, tão massacrados, tão sofridos, mas...

...que caminham!

Com todo o meu Amor (e a minha gratidão)

Mami

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

24.11.2022 - One Day minus...YOUR BIRTHDAY!

 



Meu adorado Filho,

Faz hoje vinte e sete anos que eu vivi o dia mais feliz da minha Vida, só comparável ao dia dezoito de Outubro, quando nasceu o Mano. 

Há vinte e sete anos, às sete e vinte e uma da tarde, o sonho tornava-se realidade, e eu fui Mãe. Mãe, não, errado, SUA Mãe. 

Lembro-me desse dia como se fosse hoje: do carteiro tocar à porta para entregar uma encomenda de cueiros, macaquinhos de lã, casaquinhos e envoltas, todos feitos pela sua bisavó & CO, e de eu ir abrir a porta no momento em que me rebentaram as águas. Lembro-me do carteiro, que, entretanto, já me conhecia pelas encomendas que vinham de Portugal, e que ele era obrigado a entregar naquelas manhãs geladas de Novembro, dizer, em pronúncia bávara cerrada: 

. "Certo, então deixo à porta!"

Lembro-me de entrar em pânico: o Pai estava incontactável a fazer testes de protótipos em laboratório, e de eu ligar para o Jäckl e lhe dizer: 

- "Diga ao meu marido que o bebé teve pressa, que vai nascer muito antes, que me rebentaram as águas. Que venha de táxi, não de Metro, e rápido porque estou totalmente sozinha!"

E enquanto esperava, olhando de minuto a minuto para relógio, que o Pai chegasse a casa, liguei para a Maria Adelaide a chorar. E ela, que morava do outro lado de Munique e jamais chegaria a tempo, esteve comigo ao telefone até que o Pai meteu a chave à porta. Acho que senti um alívio tão grande, tão grande, que a partir daí, a coragem me voltou, só para me abandonar vinte e sete anos depois, hoje, neste maldito ano!

Foram vinte e sete anos das maiores Alegrias, de muito poucas preocupações, de uns quantos sermões e de algumas zangas, daquelas mesmo grandes, mas sobretudo vinte sete anos da maior cumplicidade que se pode ter. Vinte e sete anos de...

...MAIS AMOR POR FAVOR!

De tantas, tantas conversas, de construções em Lego e em Playmobil, de compras, de aventuras, de abraçarmos juntos o desconhecido, e de voltarmos sempre, sempre, a fazer as Pazes, naquele entendimento só nosso, que se traduzia nos passeios de moto, nos jantares de degustação, na forma de encarar a Vida, numa crença única, nossa, sempre, sempre com a Fé no Amanhã! Foram minutos, segundos, eternidades de Felicidade, de Esperança, de Força.

Foram também momentos de lágrimas partilhadas, de colinho, mesmo a rondar os trinta anos, que dávamos um ao outro, naquela nossa generosidade umbilical. Foram vinte e sete anos de puro Amor.

E, embora me envolva este vazio sem limites, este vácuo da alegria, este NADA de sobrevivência, hoje, agora, quase uma da manhã do um dos dois dias mais felizes da minha Vida, encontro-me a escrever, no escuro, em frente ao seu Altar, olhando para as suas fotografias, memórias de uma Vida tão breve, mas tão plena e vejo-me...

...rodeada de...

AMOR!

Parabéns, meu Filho adorado, hoje é dia de festa aí...e...

aqui!

Mil beijos da sua Mãe que o adora!

Ana




segunda-feira, 21 de novembro de 2022

21.11.2021 - One Day minus 111 - (Tantas coisas para lhe contar - "Take me Home")

 




Meu adorado Filho,

Espero que se encontre bem nesse lugar mágico que é o Céu! 

Tenho imensas coisas para lhe contar e não sei por onde começar. Mas vou tentar coordenar esta minha cabeça nómada, a que deambula entre estes dois Mundos, numa tentativa de lhe resumir os últimos dias.

Esta semana é particularmente difícil. Você sabe porquê. Pensei em ir ao cemitério a Lisboa, mas não tenho coragem. Sou uma cobarde na minha dor. Optei por só ir com a Oma na véspera da minha consulta, porque aqui, ao menos, as memórias não doem tanto. Vamos almoçar as duas dia 24 ao Àlvaro e falar de si. Acho que nos fará bem.

Está um frio de rachar e descobrimos que para acender a lareira da cozinha com o vento Norte, só tendo um bombeiro como primo, ou irmão, que nos empreste máscaras para nos defendermos da fumarada que entra. Percebemos agora porque existia a salamandra, e tenho pena que o vendedor não tenha tido a hombridade de nos explicar isso, porque não a teríamos tirado da cozinha. O resultado foi um frio glaciar, que nos obrigava a consumir lenha como se não houvesse amanhã, e nada aquecia, porque as lareiras fazem corrente de ar entre elas. Bom, resumindo, falámos ao Senhor Armando e mandámos fazer uma porta, para isolar as salas e o resto da casa. Entretanto, o Miguel, naquele espírito alternativo que o caracteriza, improvisou um tapa-chaminés na cozinha. Com muito nervosismo, berros e "set-backs", lá tapou a chaminé. O resultado é uma casa cigana, só falta uma tenda a proteger, mas o que é facto, é que não rapamos tanto frio. Para a semana já vem a porta, depois temos de encontrar solução para a lareira da cozinha. Mas melhoramos o problema.


Estou sentada na sala, em frente ao seu altar, e olho para si. Ontem estive a ver aquela série meio fajuta do "Em Contacto" até de madrugada, e percebi que aquele cheirinho seu, que senti há umas semanas, foi a sua derradeira despedida, um último afago, uma final recordação, de uma doçura inexplicável, antes de você subir para além do alcance das minhas preces. Mas sei que subiu contente, por finalmente nos saber instalados, eu na Quinta, e o seu Altar no lugar de eleição desta casa. Sei que está bem, e sinto isso em todos os meus poros.


A Oma está cá e é tão bom. Hoje levei-a ao cabeleireiro, parece a Maria Antonieta versão século vinte e um, mas está radiante, por estar de cabeça lavada. E está bonita. Anda numa busca incessante por poltronas/senhorinhas/assentos para a salinha e encontrou um no "boda", como diz o Mano. Claro que a teremos de ir buscar, porque eu saio a ela: movemos a Terra e o Céu quando queremos alguma coisa, embora eu não me atreva a remexer no Céu, porque o que eu queria ter aqui, ninguém mo dará de novo, só o meu coração de Mãe, naquela Eternidade que nos une.


Entretanto, e a propósito de aventura, o Bicas vai para a Austrália. Sei que se você estivesse vivo, ou melhor, neste mundo físico, me estaria agora dizer que iria com ele, nessa liberdade única, e eu estaria a morrer de preocupação, mas iria partilhar da sua adrenalina, da coragem, do amor pela descoberta. Não posso negar que fico com saudades do Bicas, ele é outro Filho meu, mas entendo perfeitamente o que o move. Se eu pudesse, ou se eu tivesse a coragem, iria também. 
Olho para o seu Altar, que é a minha verdadeira "casa" e vejo as suas fotografias. Vejo-o a espalhar magia. E quando fecho os olhos, cansados das lágrimas, vejo luz branca com pontinhos de luz azul, como se fossem estrelas. Sei que está bem, conquanto longe, mas bem, e isso consola-me. Dá-me alguma Paz. E conforto, e sei que você quereria que fosse assim. 


Nestes últimos dias não chorei tanto, porque encontrei algum consolo nos dias intermináveis, algum propósito no carregar da lenha, dar tangerinas às ovelhas e às cabras, no amanhar da terra fértil, na preparação do Inverno que chegará em breve, nos dias curtos e chuvosos.


Já acabei o escritório. Pus lá a cama, a parte de cima do beliche, a sua, e fica gira com almofadas, parece um sofá. Montei a casinha de bonecas até às cinco da manhã, e não me pergunte porquê, talvez num sonho futuro dos netos, que ainda espero vir a ter, nesta missão que o Universo decidiu escolher para mim. Vou-lhes falar em alemão, acho uma mais-valia, e só pode trazer vantagens. Se os tiver, um dia, seria um milagre, se não os tiver, depois disto tudo, decidi que irei ajudar crianças, como, ainda não sei. Enquanto a montava, lembrei-me de si e dos seus comentários, quando a pus no vosso quarto da casa de Campo de Ourique. Como isso me parece longínquo agora, perdido num tempo do qual só me restam memórias. 


Caramba Tim...


"Let the river in, burst the dams and start again..."


Mas no meio desta tristeza sem fim, no meio deste NADA, sinto que há uma semente plantada, uma coisa minúscula, uma Esperança, algo que me conduz entre o Céu e a Terra e teima em me querer mostrar que a vida ainda pode ter significado. Sinto que a minha missão não terminou, mesmo presa neste casulo de tristeza sem fim, sinto que você me conduz. Sinto que está muito perto de mim, a dar-me força, a querer mostrar-me algo. Não sei se será a ESPERANÇA, mas mantém-me viva e tira-me do estado vegetativo em que por vezes me encontro. 

Sinto-o Filho lindo. 


Sinto que me quer cá, e só o tempo do Tempo me mostrará qual a razão de ser disso. Mas isso ajuda-me. Meu Anjo da Guarda, meu Menino, minha Vida, sei que fiquei cá por algum propósito. E prometo que vou cumprir.


Amo-te meu Amor! 


Mil beijos da Mami!

P.S. O Mano vem este fim-de-semana! YUPIIIII

sábado, 19 de novembro de 2022

18.11.2022 - One Day minus 108 - (Miss U like crazy!)

 



Tim do meu coração,

O tempo passa e a saudade aumenta, em vez de apaziguar. O frio instala-se, e encontro calor a olhar para o seu altar. Olho para as fotografias e custa-me, cada vez mais, a acreditar que nunca mais vou sentir o seu abraço, o calor desse aconchego, o cheirinho da sua pele. 

A Oma está cá, veio antes do seu almoço de homenagem e sabe-me bem tê-la por perto. Ela entende a minha dor, mesmo no silêncio mascarado de normalidade, onde esta jamais voltará a existir. A Vida como a conheci é-me estranha, desconhecida, alienígena, pertence a outra pessoa. Isso é o que mais confusão me faz. Ter duas Vidas ou vidas, depende da perspectiva, numa só existência, não é nada fácil. É quase impossível. E a cada dia que passa - e fazendo um paralelismo com as brasas de uma lareira, como a que acendemos na tentativa de nos acalentar nestes dias gélidos, por mais que sopre o fole ou dê ao abanico, o brasido apaga-se, numa teimosia de um fogo fátuo, que jamais aquecerá o meu coração - penso quão efémero é o calor da Felicidade.

Porque, e só a si lhe confesso isto, baixinho, tudo me é indiferente, ou quase tudo: preocupo-me com o Mano, com a Oma, com o Pai e com o Miguel e com todos os Amigos, mas nada se compara à minha vida interior, a que partilho consigo. Pensar que nunca mais vou ouvir a sua voz, partilhar as suas mágoas e alegrar-me com as sua conquistas, pensar que não faz mais parte desta miséria de Mundo físico a que chamamos vida, leva-me o que resta da minha, num sopro final, num suspiro moribundo, numa dor sem fim. 

Acho e agora muito fora de brincadeiras, e sem querer fazer política, que deveria haver um estatuto, consagrado na lei, para os pais de(s)filhados, uma possibilidade de apoio nas escolhas de (SOBRE)vivência, num apoio constante, porque só quem passa por isto entende a dimensão desta anormalidade. Que deveria haver retiros dedicados a nós, num carinho universal, em vez da crítica, porque nos desmanchamos a chorar quando na fila do supermercado, ou da bomba de gasolina, ou do restaurante e rapidamente tentamos disfarçar, porque as nossas lágrimas causam incómodo aos Outros. Um apoio nas escolhas de não nos matarmos, uma compreensão holística, um agradecimento pelo nosso sofrimento, mas não há nada. Há a burocracia, a papelada, a vergonha porque a nossa dor incomoda os Outros, o silêncio, porque a vida deles continua quando a nossa acabou. 

A vida - propositadamente com minúscula - instalou-se, e a rotina passa-se a tratar das cabras, das ovelhas, a recolher os ovos, e a inventar coisas para fazer. Chove como se não houvesse amanhã - e não o há, de facto - o que torna difícil desfrutar do campo. À noite, depois de algumas excursões em tentativas de fuga para a frente, trabalho a madeira: pinto, colo, faço "découpage", restauro, reciclo. Como se de uma tentativa de reciclar a minha Alma moribunda se tratasse.

Claro que fiz da Quinta um Lar. Claro que está amorosa, quentinha, acolhedora, mas eu continuo gelada. 

Encontro alguma Paz aqui em frente ao seu Altar, com mil memórias, e milhentas recordações, infinitos momentos de felicidade, mas que são apenas reminiscências de uma Vida que virou vida, ou sobrevivência, ou o que queiram chamar. Há a concha, mas a Vieira, ou a Pérola, ou qualquer que fosse o tesouro marinho que a mesma encerrava, não sobreviveu. Queria muito ir a Lisboa pelo seu aniversário, abrir o jazigo e chorar até morrer em frente às suas cinzas, mas sou uma cobarde e não sei se conseguirei. É melhor ficar aqui neste casulo campestre, entre dias que se sucedem sem conexão e, sobretudo, alienando as memórias, ou será que as vivendo e as perpetuando até ao meu âmago? Não sei.

Quando olho para as fotografias do seu altar, e vejo algumas consigo a "espalhar magia" com a mão esquerda, não posso deixar de sorrir. Como é possível Tim? Às vezes penso que estou dentro da espiral de um pesadelo, e que, quando acordar, vou ter uma mensagem sua, daquelas de voz, meio angustiada, a pedir conselho de Mãe. 

Tim...o tempo não atenua, antes pelo contrário, aumenta, dilacera, rasga, em mil feridas que jamais irão sarar, o meu coração. E, contudo, o Mundo dos Outros, e também de alguma forma, o meu, continua a girar. As coisas acontecem, as estações mudam, anoitece cedo, e dia 24.11. você faria 27 anos. E eu olho para as fotografias estáticas, e, contudo, tão dinâmicas porque ilustrativas da sua passagem, e não quero acreditar. Não consigo. 

Passaram pouco mais de três meses desde o dia em que morri consigo. O dia que me parece ter acontecido há milénios, em que me levou (quase) tudo. Nem acredito que foi há tão pouco tempo, e, conquanto, as saudades são imensuráveis. Neste tempo (todo) fizemos a sua despedida, comprou-se uma Quinta, fizeram-se obras, uma mudança, um almoço ÉPICO para 56 membros da "nossa" Família de Amor, e o Tempo deu lugar a um tempo sem fim, a dias escuros, sem qualquer vislumbre de Verão.

Tim...

Como é possível que em Julho você vibrava de Vida, de Esperança, de Força, e agora está no Céu? Estaremos no mesmo ano? Certamente que não. 

Sinto-me sem forças Tim e não o querendo desapontar, desiludir, desencorajar, só me encontro neste mergulhar no desgosto que me assola. Levanto-me todos os dias, faço as rotinas, funciono, mas sou um espectro, um fantasma, um morto-vivo. Sou as reminiscências de um amor de Mãe. Mas não se zangue comigo. Prometi-lhe que não desistia, e cá estou. Vamos fazer o advento e o Natal, tudo como sempre fizemos, só que este ano com uma ementa inovadora. Não conseguiria fazer o Perú, com a agulha da sua trisavó, nem tudo aquilo que sempre foi tradição na nossa família. O Mano vai passar a véspera de Natal com o Pai ao Porto e cá na Quinta, somos três gatos pingados, e vamos fazer "raclette". É mais simples, e dia de Natal, terei uma ideia qualquer, irreverente, anarca e inovadora, para que seja Natal, mas um Natal diferente. Porque jamais será Natal de novo, aquele que você sabe que a Mami amava, em que tudo brilhava, em mil Estrelas acolhedoras e confortáveis, que nos levavam a sonhar, até você e o Mano passarem a ombreira da porta e o Mundo ficar lá fora e nós, no nosso Amor, cá dentro. 

Acho que estou doente Tim. Doente da Alma. Enferma do espírito, agora mais do que nunca. 

"And every day I miss you more"...DOTAN! Prometo-lhe que se ele der um concerto na Europa, eu irei. Convenço o Zé T. e vou com ele. "Every day I love you more!" Iremos Filho. Iremos. Como sei que vou. A correr, a voar, nas asas do Universo. Aquele que me roubou metade da minha razão de ser. A mente raia a loucura, num afago que se quer presente, porque não existe futuro. Não o há.

Tim...prometo que continuo, mas a tanto, tanto, tanto custo, de tantas lágrimas, de tanta, tanta, tanta tristeza. Mas continuo, porque se aqui estou, é por alguma razão. Que seja a do Amor. Da Compaixão, da Entreajuda. 

Tim...

Até ao dia - aquele dia mágico, maravilhoso, pelo qual mal posso esperar, em que me encontrarei de novo consigo. Sei que estará à minha espera, nessa impaciência tão sua, e quando eu chegar, vou-me aninhar nos seus braços, como em Barcelona, e vamos fazer planos para o jantar. E vamos conversar, e vou ouvir de novo aquela sua voz linda a dizer-me:

- "A Mãe não existe, tá toda escafiada, mas eu adoro-te!"

E vou passar de novo as mãos pela onda da frente do seu cabelo, e coçar-lhe as costas, como quando era pequenino, e dizer:

- "Amo-te Filho lindo!"

E aí sim, a aí irei viver de novo, numa Eternidade prometida, e não neste inferno de vida ao qual fui condenada!

Tenho saudades suas Tim!

Mil beijos da Mami que o adora,

Ana



domingo, 13 de novembro de 2022

13.11.2022 - One Day minus 103... (ÉPICOS!)

 



Meu adorado Filho,

Domingo...treze de Novembro...

...cai a chuva, depois de um sábado ÉPICO! Dia 12.11.2022, há muito prometido, e finalmente devido, maratona do AMOR!

Estou que não posso, não sinto as pernas, emagreci dois quilos em dois dias - o que até não calha mal - mas cumpri a minha promessa para consigo e para com todos os Épicos, a nossa enorme Família, a nossa Família de Amor. Foi uma missão (quase) impossível, mas os milagres acontecem, até vinte e três graus em Novembro, um Sol queintinho num céu de um azul de cortar a respiração, e com Amor, tudo se faz. Foi uma maravilha meu Filho, o seu casamento com o Céu, e eu encontrei alguma Paz nesta festa. 

Acho que não lhe falhei em nada, que fiz tudo como você gostaria que fizesse, com imenso carinho e com todo o meu Amor de mãe. Foi tão bom estar com todos aqui Tim, com a Família quase completa! Faltaram muito, muito poucos, foi uma enorme alegria, e a casa estava linda. Sinto uma torrente de emoção, e uma gigantesca comoção, e deixámos mais coisas no seu altar, e rimos, e sorrimos, e contámos anedotas, e partilhámos memórias, e você fez mais um pequeno, enorme milagre aí do Céu, e prometi que não dizia nada, mas você sabe do que estou a falar...em Junho do próximo ano vamos celebrar mais um happening, e você aí do Céu irá sorrir e ficar feliz e eu terei um "neto" emprestado, mas que será tão amado como se fosse "nosso", porque o é.

Filho meu, Filho do meu coração, Filho tão amado, meu Anjo...você é especial. Acho que todas as mães dizem isso, mas não sou só eu que penso e que sinto assim. Todos os seus Amigos o dizem. Um dos seus pés sempre esteve no Céu, nessa intensidade, nesse lugar de Amor incondicional. Acredito hoje que sempre assim foi, que este Mundo era demasiadamente...e não encontro o adjectivo, porque não o há, para uma Criatura como você. Só um Legado de Amor incondicional poderia fazer sessenta pessoas fazerem trezentos quilómetros para celebrar a sua memória.

A nossa Família Épica continua, e perdura, e faz jus a si e à sua VIDA, tão breve quanto intensa e marcante em todos (e foram centenas, senão milhares), corações que você tocou, nessa sua magia tão sua, tão única, tão (im)perfeitamente perfeita na sua intensidade, que só quem ama de coração pleno, entende!

Meu Amor, espero que tenha gostado. Fui buscar forças onde e quando já não as tinha, adrenalina injectada directamente no coração vinda do Céu e...

...e agora reina o silêncio, e o fogo que acendemos para nos aquecer, e as memórias de si, meu Amor, meu Filho, minha Vida e uma casa feita a pensar em si, no Mano, nos netos e em Natais, que este ano, vai saber a muito pouco, e a memórias, e a recordações e a uma Vida que aconteceu há mil anos, ou há mais ainda. A uma outra pessoa que fui e que já não existe, que se perdeu neste maldito Verão, mas que vive eternamente na bênção de ter sido sua Mãe e do seu irmão. 

E onde agora, em cada dia desta nova existência, vou procurar razões para continuar, nas pequenas alegrias que a vida me dá, neste tremendo desgosto, neste oceano sem fim de tristeza, neste infinito de saudade, e, ao mesmo tempo, neste mar de Amor!

Filho...espero que tenha gostado desta Festa, desta Celebração, deste dia perfeito na imperfeição tão injusta da sua ausência física! E não lhe consigo escrever mais, porque as lágrimas me inundam os olhos numa torrente sem fim, e os soluços me sobressaltam, mas sei que daí, daí onde está, nesse lugar mágico onde um dia nos havemos de (re)encontrar, você diria..

- "ÉPICO, Mami, Orgulho em si!" 

e com aquela voz suave e ao mesmo tempo tão assertiva, me diria...

- "Adoro-te!" 

aquela única palavra pela qual eu daria a minha vida para a ouvir novamente sem ser só no silêncio do meu coração!!

Mil beijos da sua Mãe que o AMA até que o Universo me leve,

Mami


P.S. Tenho TANTAS, tantas, tantas saudades suas meu Filho Lindo!

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

8.11.2022 - One Day minus 98 - (Oma is back in "town" and you've got the Music in YOU!)

 


Meu adorado Tim,

Hoje é talvez o dia, dos últimos três meses, em que me sinto mais em paz. E você sabe porquê, mas vale a pena contar-lhe aqueles pormenores que não verbalizei, ou que não lhe confessei. A sua ligação com a Oma sempre foi especial, todos sabemos isso, não fosse ela a Mãe das Mães, a Avó de Todos, num quântico incontável, porque ronda a perfeição. É incrível a força desta grande, grande Senhora, desta Mulher com a maior maiúscula que o Universo alguma vez conheceu, deste coração transbordante de Amor, desta Fonte de onde nós todos bebemos, e, com isso, saciamos a nossa sede. Acordei com as galinhas e estava nuns nervos tais de manhã, que me fartei de vomitar. Mas acalmei, porque, tal como ela me ensinou, vou buscar a Força ao Universo, e lá fui, debaixo de chuva torrencial. Foi bom sentir de novo o volante debaixo das mãos, e enfrentar os terrores do trânsito lisboeta. Confesso que atirei com os sacos todos para dentro do carro e lá viemos, com lençóis de água a acompanhar-nos, mas chegámos! 

Ao Campo!

Ter a sua Avó, minha grande Senhora Mãe aqui é uma bênção, como que um unguento para a minha Alma dilacerada pela dor, porque me traz o colo, o Amor, a compaixão, e sobretudo, é a única pessoa no Mundo que entende grande parte da minha dor. Foi um dia intenso e cansativo, e depois do jantar, sentadas à mesa da cozinha, acompanhadas pelo crepitar da lareira, estivemos a fazer as listas de compras para o seu casamento com o Céu. Sei que você está contente meu Filho adorado, por ver que estamos a planear tudo ao mais ínfimo pormenor. E eu sinto-me amparada, acompanhada, acarinhada nesta jornada tão dura e tão, mas tão árdua, que o Universo me colocou aos pés, descalços, porque me quer ver a caminhar sobre espinhos, uma jornada que ninguém merece! 

A casa, a Quinta ganhou uma nova Vida, agora sim com maiúscula, porque me senti um pouco como se fosse Natal. Não só porque ela trouxe tudo e mais alguma coisa, desde as pratas, à Companhia das Índias, em inúmeros sacos azuis da IKEA, como o calor do amor infinito que nutre por nós. Por Todos nós! E é tão bom Tim, tão bom sentir a Vida a entrar nesta casa, nos preparativos para o seu almoço, nos por maiores pormenores que fazem a diferença! 

O seu quarto está agora completo, e nele respira-se Paz: sei que você está cá connosco, numa presença grata e gratificante, no orgulho pelas Mulheres da sua Família, numa Alegria que se respira nesse patamar onde nem todos chegam, porque para isso, é preciso atingir alguma espiritualidade.

Sinto-me AMPARADA Tim, sinto-me menos só, nesta caminhada solitária e difícil, neste deserto emocional que foi rasgado nas minhas entranhas com a sua partida. 

Meu Filho, minha Vida, meu Amor, meu Primogénito, minha Beleza, minha Candura de Alma...e eu consegui vir a guiar de Lisboa. Pelo caminho, achei que ia morrer, que não conseguiria, mas com "ela" ao lado, tudo é possível.

Meu Amor Infinito, no próximo sábado, caso-o com o Céu. É aquilo a que me comprometi, aquilo que lhe prometi, o meu propósito, o meu derradeiro e primordial objectivo. A partir daí, pois não sei o que se irá seguir, mas também não é importante, porque, quando nos morre um Filho, tudo muda, numa morte antecipada, num futuro roubado, numa mágoa que não tem nem fronteiras, nem limites, muito menos explicação. Tem expiação, essa sim, total e completa, e questionamos porque é que o Universo nos achou aptos para tamanha provação.

Não importa porque não tem resposta. Tem apenas presente e passado, um aglomerado de recordações perdidas num tempo sem razão e numa razão sem Tempo, porque NADA faz sentido, nem propósito, nem lógica. É a vivência do absurdo numa pergunta sem resposta, porque nada existe para além do AMOR!

Nada, e Tudo. Aquilo que eu sou, você foi, é, e continuará a ser. O meu propósito, o meu Significado, o meu Ontem, o meu hoje e o meu amanhã. Um Universo pleno, recheado de tudo, de onde sobram apenas as cinzas cinzentas, a poeira que se agarra aos pés, doridos, feridos, nesta Caminhada sem sentido, porque não há nem Norte, nem Sul. Há o poente, ocaso por acaso de uma Vida que uma vez existiu, há milénios.

Filho...

Filho meu, minha Vida, meu Amor, meu Menino, meu Anjo guarda-me, resguarda-me e embala-me num sono sem sonhos, neste pesadelo que é agora a minha realidade, e traz ao meu coração dilacerado apenas...

...(alguma) PAZ!

Amo-te meu Amor, meu adorado Filho!

Mil beijos da sua Mami!



terça-feira, 8 de novembro de 2022

7.11.2022. - One Day minus 97 (Home is where our heart is)

 

Meu adorado Filho,

Tenho andado calada, apenas falando consigo no silêncio do meu coração: os últimos dias foram um pesadelo de saudade, de tristeza, de vontade de não fazer nada, de morrer, porque estar viva é uma dor demasiadamente forte perante a sua perda física. Mas tal como diz o seu irmão, eu sou uma Guerreira, e jurei a mim própria que iria fazer o almoço em sua homenagem, nem que seja a última coisa que faço na Terra. É como se o casasse no Céu, e, confesso, cinquenta e seis pessoas em casa, é de alguma responsabilidade, mas como você me conhece, faz-se com uma pernada às costas.

O Miguel e eu estivemos a limpar o terreno da Quinta, tanto quanto as nossas forças de meia-idade nos permitem. Nunca trabalhei tanto, de ancinhos, pás, carrinhos de mão e afins, num nunca acabar, porque o espaço é enorme, e só nos mudámos há duas semanas! Mas acho, ou melhor, achamos, que está mil vezes melhor que o esperado. Temos lenha até vir a mulher da fava-rica, e no sábado vamos acender as duas lareiras, com tarolos enormes, para dar calor e Luz. O que não está perfeito, não vai ficar. Mas as ovelhas, as cabras, os patos e as carocas, irão animar um bocadinho também a imperfeição do Amor e colmatar o que não ficou a cem por cento.

Tim...vou casá-lo com o Céu, e todos os que importam, vão cá estar. Todos os seus amigos queridos, os Épicos, aqueles que partilham da dor da sua ausência, e a Alegria da dádiva do Amor. 

...Tim, não sei bem como lhe dizer isto: Eu fiz uma promessa no dia dois de Agosto, quando disse ao médico, naquela solidão apenas interrompida pelo barulho das máquinas, naquela morte em vida, naquele hiato de tempo roubado, que as podia desligar; que iria celebrar a sua Vida e o seu legado de Amor, até o Universo me levar para ao pé de si. 

Três meses depois, aqui estamos. Vazios, desolados, tristes, mas plenos de Amor, de Partilha, de Comunhão. E, portanto, CHEIOS. De memórias: as suas, doces e inocentes, suaves e queridas, quase santas, como a sua Alma, branca de pureza. Convidei os dois Padres João. Gostaria que viessem, mas deixo ao seu critério, porque estamos longe de Lisboa. Mas era lindo que viessem!

Filho, tenho também, algo para lhe contar. Recebi uma mensagem da Teresa, que me fez brotar mil lágrimas pela sensibilidade, pelo carinho e pela ternura. Ela acha que você foi um Santo. Acredito que sim, o Santo do Amor. Aqueceram-me o coração, porque o que ela me escreveu, e que também partilhei com o Pai, porque também foram apara ele, é lindo!

E é nesse Amor infinito, nesta saudade sem fim, que nos vamos reunir. São muitas pessoas, e em plena mudança de casa, pensei em pratos descartáveis e talheres de madeira, mas já sei que iria ficar furioso comigo e dizer: 

- "Mãe, adoro-a, mas uma homenagem a mim com loiça descartável, é à pobre, não quero, não gosto, a Mãe nunca fez isso!"

Portanto, e sem os faqueiros de prata de família, porque isso sim, seria impossível neste momento, vamos fazer o que conseguimos com a prata da casa, lembrando que estamos numa quinta. Mesmo assim. tenho a certeza de que vai gostar. Sei que vai, por nos ver a todos aqui, num sonho partilhado, sofrido e suado até à exaustão. Por si e pelo seu irmão faço tudo!

Não me vou esquecer de nada, vou imitar a perfeição, inspirada nesse seu coração único!

E ontem, bom, ontem, que foi quando comecei esta carta, mas que me doíam tanto os braços e as pernas, que não consegui continuar, tive a minha "recompensa". Passei pelo seu Altar para lhe acender a vela diária. Estava morta de cansaço, e a transbordar de saudade e de tristeza. Acendi a sua velinha dentro do Anjo branco que a Avó Bé me deu num Natal de uma outra Vida, e de repente, muito suavemente, quase impercetivelmente, o seu perfume, o seu cheirinho, envolveram-me. Pensei que estava com alucinações e peguei no All Star cinzento, pensando que ainda era isso que emanava o seu perfume. Cheirava a borracha. Foi então que percebi que me tinha visitado, num instante efémero, suspenso no tempo, num afago só nosso, num abraço eterno, numa semi-presença, milagre da Fé e do Amor que me movem. Sei que era você meu Filho adorado, como se num consolo, para os milhões de lágrimas que verti nos últimos dias. Esse seu afago, tão breve, tão (im)perceptível na sua suavidade da saudade, provou-me que comtinuo a estar sã de cabeça quando sei - porque SINTO - que está vivo, no meu coração, nas minhas entranhas, e na minha Alma de Mãe!

Caramba Tim, quantas Vidas terei que viver mais? Ontem valeu por mil dias. Por mil Vidas, por tudo. E ontem, foi que me fez continuar hoje. 

E de hoje a sábado faltam poucos dias, e eu prometo que você vai gostar, e aí do Céu vai-me piscar o olho, não sem antes encontrar algum defeito, mas a isso já eu estou habituada. Filho...ainda continuo a achar que estou num pesadelo. Numa realidade demasiadamente cruel para conseguir prosseguir esta jornada semeada de espinhos, e, conquanto, polvilhada de rosas estofadas de algodão, num "patchwork" de afectos, nestes momentos extenuantes, mas esperançosos, por uma celebração da sua Vida! 

Amanhã vou-me fazer à auto-estrada, pela primeira vez, desde o dia da sua morte. Até me dá vómitos só de pensar, mas levo comigo a nossa Rocha, Gibraltar único, a nossa Oma. Iremos debaixo de chuva torrencial, mas cheias de planos, de listas de compras e de memórias. E de antecipação. E de Felicidade, pela bênção de o saber ter sido "nosso", mesmo por tão puco tempo, numa posse altruísta, porque nada nos pertence, excepto as memórias, e mesmo essas, são partilhadas! Tantos corações tocados, tantas pessoas iluminadas, tanto amor dado!

Tim...

meu Filho inesquecível, meu sangue, minha carne, meu Amor, meu Futuro roubado, meu legado de...

...AMOR

(Mais, por favor!)!

Mil beijos da sua Mami



quarta-feira, 2 de novembro de 2022

2.11.2022 - One Day minus 92 (Missing You!)

 


Tim...

...Este é o dia que mais me está a custar. Estou de costas para a lareira, a tentar aquecer um pouco nesta noite gelada! Tim, o seu sorriso, o toque da sua pele, o seu abraço, o seu: "ÉPICO Mãe", fazem-me falta, muita falta e transformam a minha Alma, ou o que resta dela, num icebergue, onde nem Fahrenheit, nem Celsius sobrevivem!

Cada vez mais me refugio no nosso Mundo, o do diálogo silencioso, ou, o do silêncio dos diálogos: é aqui que me sinto bem. É aqui que comunicamos, fora todas as outras horas do dia, em que converso consigo sem escrever, num silêncio, cujo grito mudo, me abafa o coração. Sabe lá o Mundo o que eu sinto! Nem fazem uma pequena ideia! Deste purgatório terreno, onde não ficou pedra sobre pedra. Onde não existem memórias sem si, nesta distância milenar entre a Felicidade e a morte em vida.

Fui à capelinha do Espírito Santo e falei consigo, um bocado a correr, porque não queria que me vissem as lágrimas, ou o arfar sacudido dos ombros, nestes soluços que me afogam. E depois pensei, quão triste é a sociedade, seja no campo ou na cidade, onde uma Mãe não se sente à vontade para expressar a sua dor, porque incomoda os outros. 

Hoje fui cortar o cabelo e pensei, sinceramente, em o rapar a pente zero. Se não posso, ou não devo chorar quando me apetece, então rapo o cabelo, assim já não posso chocar mais o Mundo dos vivos. Mas depois pensei que seria demasiado para os Outros. Talvez um dia, em breve. o faça, e em cada mecha, se vertam mil lágrimas, num oceano sem praia, sem conchas ou búzios. 

O seu sorriso pisca-me do além e envia-me mil e uma mensagens. Esse sorriso maravilhoso, de uma generosidade imensa, contagiante, sempre pronto para todos, rasgado, desenhado na perfeição, único na inocência do rosto que ilumina. Ah caramba Tim, Deus ou o Universo, leva sempre os melhores, num egoísmo generoso, ou antes, numa generosidade egoísta, que rouba ao individual, para dar ao omnipresente colectivo. E esse colectivo nem sonha o preço que pagamos, nós, os pais dos seres Iluminados, para que mais um Anjo suba aos Céus para ajudar esta Humanidade perene e limitada!

Tim...não sei como vou sobreviver ao fim do ano de dois mil e vinte e dois. Como vou passar o dia vinte e quatro, e um mês depois, o Natal. Vejo crianças e lembro-me de si, meu Menino Jesus, e desse Natal ÉPICO, em Munique, com a Oma, a nossa Rocha inabalável, que me tem sustido, suportado, e no seu amor, mantido viva! Viva, soit disant, que eu não sou mais do que um aglomerado de memórias, e uma soma de sentidos do dever. Sou um Ser Humano a quem roubaram parte da identidade, da razão de ser, e não existe nada pior, que não sabermos quem fomos, somos, e muito menos, seremos, num futuro que já não é desenhado, mas apenas rabiscado, em traços imperfeitos, que o tempo acabará por apagar?

"Take me to the other side, where our different Worlds collide, into LOVE!"

Amo-te meu Amor!

P.S. Vou tentar dormir...ao menos amanhã, este dia já terá passado, conquanto esta dor permaneça!




terça-feira, 1 de novembro de 2022

31.10.2022 - One Day minus 90 (Dia das Bruxas)

 



Meu adorado Filho,

Nem sei por onde começar, tal a saudade, a tristeza, a falta IMENSA que sinto de si! Filho do meu coração, meu Menino, meu Tim, meu Amor, minha Vida, estou de novo à porta do labirinto. Sinto-me tão só nesta tristeza, neste deserto, nesta caminhada cheia de espinhos, tão dolorosos quanto solitários, onde cada chaga, a cada passo que dou, me dilacera o coração! Tim...é numa prece baixinha que o reencontro, neste encontro só nosso, neste Mundo de onde não quero sair. 

Filho meu, meu Filho, minha Vida, que DESERTO à minha frente. E eu não sei como continuar. Não sei Filho, cada vez mais sinto que o que resta da minha alma, se esconde na nossa concha, de uma madrepérola perfeita, onde as cores do Arco-íris se reflectem, num Mundo só nosso, que se fecha atrás de mim, e que me engole no nosso abraço, nesta bestialidade desta saudade, que me inunda e me afoga, ao ponto de me cortar a respiração!

Filho, amanhã é dia de 1 de Novembro, e depois é dia 2. Faz três meses deste pesadelo, e eu ansiava por poder ir ao cemitério, entrar no jazigo e chorar até morrer, perante as suas cinzas. Mas estou aqui, a uma hora e meia, sem carro, porque o emprestei ao seu irmão e, contudo, ao seu lado, colada, no nosso abraço, hoje e sempre! 

Meu filho, o escritório, o meu santuário, atelier das minhas (re)criações, está pronto. E é nesta mesa, onde o ensinei a comer, onde a sua cadeirinha de bebé repousou tantos dias consigo sentado, que me reencontro perante o vazio do NADA, conquanto repleto de memórias doces. Filho meu, hoje é um dia terrível de lágrimas e de saudades suas. 

"Take me to the other side, where our different Worlds collide, into love (...) all I know, is that I need you, before I fall..."

Leva-me Filho, nos teus braços, no teu abraço enorme, quente, leva-me contigo, para esse lado onde estás rodeado de AMOR!

Filho, meu Filho, meu Amor, minha Vida, como????

Mil beijos, inundados de saudade,

Mami!

sábado, 29 de outubro de 2022

29.10.2022 - One Day minus 88 - Da Natureza!

 


Meu adorado Filho, meu Filho tão querido, 

Que falta que me faz! Parece uma eternidade, e, contudo, foi há tão pouco tempo, que me recordo de cada segundo desse malfadado dia. Lembro-me de mim a desejá-lo, e uns meses mais tarde, grávida de si. Lembro-me da emoção de ver a barriga a crescer, e da comoção de o sentir pela primeira vez. Da visualização perfeita de si, bênção dos Céus, bebé amoroso, criança adorável, rapaz único, e Homem com H, lindo de cair para a banda, não só por fora, mas sobretudo por dentro. 

Tim...você iria AMAR este ar meio "Mamma Mia Hostel", meio nossa Casa, num paradoxo fantástico, que transforma uma Quinta num santuário (embora algo alternativo!), giro em todos os cantos, mesmo naqueles onde a decoração não gera sempre consenso, mas conduz a saudáveis compromissos. E é nessas cedências, que interiorizo que existem pessoas que são obrigadas? a levar duas vidas numa só existência. E só quem passa por isto consegue entender, na primeira pessoa, o que esta anormalidade significa. Somos nós uma boa meia Vida e depois, depois, bom, depois, morremos: em cada poro, em cada átomo, em cada inspiração, para percebermos, demasiadamente rápido, numa verdadeira EXpiação, que nascemos outro ser. Uma sombra do que fomos, embora reconheçamos os resquícios de algumas memórias empoeiradas e perdidas na Eternidade imensa do abismo, de quem perdeu um Filho, sente. Se eu penso, que há quatro meses trabalhava, com imenso stress e responsabilidade, que a minha Vida era "normal" e agora sou uma camponesa, que restaura móveis, e que se esquece de tudo se não apontar, fico doida, porque não sou a mesma pessoa. Não é possível numa só vida, encerrar duas vidas, mas o que é facto é que é isso que sinto. Não sei como irei algum dia "retomar" parte da minha outra Vida, aquela que acabou no dia dois de Agosto de dois mil e vinte e dois, a que me foi roubada, assaltada, arrombada, injustamente e antecipadamente retirada, numa impiedade que não mereci! 

Ahhhh Tim, o Mano chegou hoje, na baratinha preta, da qual eu senti tanto a falta. Claro que ganhou, em três penadas, um jogo de Catan, enquanto me dizia que sentia o mesmo. Que parece que foi ontem, e ao mesmo tempo, há trezentos anos! Como é isto possível? Estaremos todos doidos?

Começo a achar que sim! 

Já lhe disse que temos sapos grandes, à noite, à porta da cozinha?

Filho, você iria amar deixar aqui os seus filhos, e eu iria amar ter aqui os meus netos, ensiná-los a crescer sem medo das aranhas, dos grilos, das corujas, a admirar cada nascer do sol, e cada ocaso, a saborear o leite delicioso da Branquinha. Você iria re(encontrar-se) neste Paraíso, e talvez seja por isso, que o sinto tão presente, tão vivo em mim, e, simultaneamente, uma doce recordação, tão longínqua, quanto eterna, pelo menos, enquanto eu respirar?

Filho, tanta falta que me faz!

Mil beijos da sua,

Mami!


quarta-feira, 26 de outubro de 2022

26.20.2022 - One Day minus 85 (About thinking out of the box, ou a nova vida: despojos de ontem, tesouros do presente, dádivas do amanhã!)

 


Meu adorado Filho,

Escrevo-lhe esta carta, há muito devida, mas tudo na vida tem um propósito. Um presente do indicativo, uma promessa de dádiva do amanhã, mas sobretudo um despojo de ontem, um ontem de uma outra vida, uma vida de há milénios!

Filho, com a Lua em Balança, lá nos mudámos, no domingo, vinte e três de Outubro, de um ano que encerra em si a intemporalidade do tempo. Foi uma aventura, uma harmonia no caos. A primeira coisa que instalei cá em casa foi o seu altar, mas a sala não fluía, e o seu altar também não, e eu comecei a ficar apreensiva. Mas antes de lhe contar isso, queria agradecer-lhe. No domingo o Miguel começou a cismar que queria ir buscar a Piri-Piri, e eu estava com pena do Zapa, porque ficaria sozinho no canil do Falcão. A meio da tarde sugeri ao Miguel que tentássemos meter o Zapa no carro, e como é habitual, lá começaram as (in)certezas que o raio do cão jamais iria entrar no carro. Já estava o veterinário de prevenção para segunda-feira, mas totalmente descontraídos, lá decidimos tentar. Enquanto o Miguel foi tentar trazer o Zapa, eu pedi-lhe que desse uma mãozinha de Anjo aí do Céu. E não é que aquela bisarma, nem dois minutos depois, estava dentro da carrinha?!!! Filho querido, agradecemos-lhe ambos do coração! O Miguel exultava. Jantámos em frente à lareira, não antes da Piri se escapulir, e de ficarmos tristíssimos, para aparecer, de rabo a abanar, dez minutos depois! Reina a harmonia aqui, os patos misturados com os cães, que vão, para sempre voltarem, nuns latidos saudosos e famintos! 

Pouco depois tocou o telefone: era a Tia Isabel que cá veio jantar e estreou o quarto verde. E sabendo o quão ligados vocês estavam, a eu pedi à Tia Isabel para me soltar a energia da sala. Então hoje, depois de um trilho de três quilómetros até à Ribeira e de vários mergulhos na água gelada que espelhava o dourado outonal, a Tia, de taça de arroz integral, banana e abacate, polvilhados a pimenta de Caiena na mão, enquanto na outra, movimenta os pauzinhos como uma Maestrina, apontou e disse: vamos tirar os sofás, e a partir daí, começamos a construir.

E então Tim, a magia aconteceu! Entrou uma lufada de ar fresco, soltaram-se as amarras contidas, grilhões de uma primeira Vida, deixou-se tudo para trás, e na simetria harmónica (ou será assimetria da harmonia?), a Tia Isabel fez magia, e os móveis bailaram, num rodopio frenético e incessante, até se espojarem, exauridos, num lugar a eles sempre destinado. Rodou tudo na sala, excepto o seu Altar, que a Tia considerou no local perfeito. Ancorado, repousante e tranquilo, imóvel e sereno, a peça chave desta sala, a peça chave de uma casa, a peça chave de uma Vida. 

A Casa fluiu: o seu Altar eram infinitas gotas de água transformadas, lágrimas de Mãe que regam nova terras, e a Tia partiu. E eu sentei-me na sala, em frente ao seu Altar, nesta sala maravilhosamente paradoxal e LEVE e sorri!

Você está AQUI mais do que alguma vez esteve noutra casa, e isso surpreende-me. Mas está. Está finalmente:

@ HOME!

domingo, 16 de outubro de 2022

15.10.2022 - One Day minus 74 (Walking on a Wire - Tim Dawn - Everyday!)


 Meu querido, querido, meu adorado Filho,

Tenho tantas coisas para lhe contar e estou tão cansada, que não sei por onde começar. Das duas uma, ou condenso estes últimos dias num livro de setecentas páginas, ou então remeto-me ao etéreo das conversas que temos tido, e aos momentos que temos partilhado nos nossos corações, que habitam este nosso Mundo Novo, e opto por não lhe escrever, porque mentalmente já lhe fui contando tudo durante as nossas conversas constantes. Mas porque sinto uma saudade imensa destes nossos "mono"- diálogos, aqui vou tentar, utilizando a nossa costela germânica, sintetizar o não-resumível.

O Opa veio cá com a família. Está muito velhinho, você não o iria reconhecer, mas acredito que ele o reconheceria sempre, quanto mais não fosse, depois de falar consigo sobre o que vai mal na hotelaria em Portugal. E eles vieram cá Tim! Aqui à Terra atrás do Sol, num ocaso por acaso, caso que raramente acontece, porque o crepúsculo pede ao Sol que se recolha todos os dias até agora, neste verão interminável em tons púrpura, escarlate e laranja profundo! Foi bom que o Opa tenha conhecido - finalmente - o outro lado da minha Existência!

E você que tem uma sala de reuniões em seu nome, e o Zé fez um discurso fantástico, embora se ouvisse menos bem? É verdade Tim, a sala de reuniões principal da sua empresa, tem o seu nome! Haverá homenagem mais bonita? O Zé fez mais um filme seu, um filme ÉPICO, que me fez deixar correr as lágrimas da saudade, num sal mal temperado, de um Amor de mãe arrancado ao sofrimento, provocado pela injustiça da morte tão prematura de um Filho! Que ORGULHO em si meu Filho, que maravilha!

E conquanto, a vida segue o seu ritmo, demasiadamente rápido no campo, porque urge acabar uma casa para juntar os Mosqueteiros, os Amigos, o Pai e o Mano. Nesse processo fui à garagem, noventa metros quadrados de confusão instalada com a venda da Quinta, acrescida às minhas mudanças, para vermos quais os móveis iríamos levar primeiro. E nesse processo deparei-me com as memórias. Com fotografias, quadros, livros e brinquedos da sua infância. Fiquei sem chão, uma vez mais sem rumo, sem Norte, sem bússola! E hoje, o João foi lá levar os móveis de Lisboa. E no meio deles, estava a cama, a minha(?), barra sua, que você me cravou com aquele seu charme tão próprio, aquele ao qual eu nunca conseguia dizer que não:

- "Vá lá Mãe, faça lá isso por mim, pelo seu Tim, Mami, vá, facilite, por favor Mãe!"

e estava também o charriot de Barcelona, e um candeeiro, e as mesas de cabeceira e mil e um segundos de memórias que me trespassaram naquele quarto cristalizado numa existência que não sendo nova, não cessa de me surpreender pela (ir)realidade que encerra! 

Também tenho outra novidade, que era para ser surpresa para o seu dia de anos aí no Céu, mas que não resisto a partilhar prematuramente. Depois da sua Vida roubada, no mesmo adverbio de tempo, já não há surpresas, porque você vê tudo o que faço. Fiz-lhe um altar. Inspirei-me no postal que o Mano e a Chica trouxeram de Paris e, ouvindo baixinho aquele,

- "Toi, tu auras des Étoiles comme personne n'en a",

fiz-lhe um céu terreno. De um azul profundo, e com uma Estrela que simboliza todas elas, brilhante e prateada. Tem o seu nome, este altar, onde irei colocar os objectos com mais significado, para o levar comigo para onde quer que vá, nómada sem rumo e sem destino, aquele que traçaram contra a minha vontade, num vale de lágrimas esculpido na pedra da tristeza! E nesse céu, no dia doze de novembro deste ano miserável, esteja eu viva e de saúde, a Família dos Épicos irá escrever, assinar, dedicar e perpetuar as mensagens que lhe queremos transmitir para aí para o Céu, neste céu. Pintei-o de cinzento por fora, propositadamente para isso! Acho que vai ser uma homenagem da qual Você irá gostar! 

Bom Tim, tenho MUITOOOOO mais para lhe contar. Como por exemplo que só ontem tivemos sete ovos das galinhas, que já estão na nova Quinta. Que enchemos a piscina, porque o poço está cheio de água que o doido do Miguel bebeu sem ser analisada e que ainda não teve disenteria! Que comprei tudo direitinho na IKEA, excepto a porcaria do estrado da cama, e que poderíamos lá dormir todos, a Oma, o Mano, a Xica e nós, não fosse a minha cabeça que anda totalmente avariada de há dois meses e uns dias para cá. Que morro de saudades suas! Que agora que a casa está quase pronta, e que eu dizia à boca cheia que era fantástico uma casa nova, porque não tinha memórias; nas Mouriscas tenho mais memórias suas do que aqui? 

Como é possível? Só encontro uma explicação! Nestes dias extenuantes de trabalho, de criação, de acontecimentos, de reencontros, de MAKE IT HAPPEN, Você esteve sempre aqui, dentro do meu ser, vendo o meu agora (e não escrevi presente, porque (ainda) não consigo ver qualquer dádiva no Universo), através do meu olhar; carne da minha carne, sangue do meu sangue, razão de ser dos cinquenta e cinco anos da minha vida. Daqui a três dias completo mais uma volta ao Sol. Desta vez o sofrimento da Vida derreteu-me o coração. 

Lembro-me de uma delas, talvez há seis ou sete anos, em que, numa manhã bem cedo, vislumbro através das vidraças do escritório, uma silhueta muiiiiiitoooo familiar. Mas como por vezes, a cabeça se sobrepõe ao coração, pensei para comigo e comentei ou com o Dany ou com o Bruno, já ão me lembro:

- "Credo, aquele miúdo é igual ao Tim!"

Para minha gigantesca Felicidade, esse Miúdo era Você, meu Filho amado, que vindo de madrugada de Barcelona, passou esse aniversário comigo. E digo-lhe uma coisa mais Filho querido, eu tive sorte na Vida. Tive três grandes surpresas em cinquenta e cinco de dezoitos de Outubro, vividos, sofridos, mas também celebrados:

- aos onze, ou doze anos, penso eu, a sua Oma, que durante longo tempo não pode, por motivos profissionais, passar esse dia comigo, nesse ano, em casa a avó Lourdes, a sua Oma, ao final da tarde, saiu detrás de um biombo do corredor para me abraçar e me oferecer um elefante de peluche que eu amava e que sobreviveu durante centenas de luas!

- aos trinta e três anos, e muito antes do esperado, o Mano decidiu nascer, numa aventura louca e irreverente como ele ainda hoje é, Alegria da minha Vida, essa sempre com maiúscula!

- aos quarenta e não me lembro quantos, mas muitos, você veio de Barça, numa manhã ensolarada, com o casaco pendurado no braço esquerdo, óculos escuros e mochila às costas, naquele seu passo meio dançado, meio sério, para me estreitar contra o seu peito e me dizer:

- "Gostou da surpresa Mami?"

Ah, Tim, caramba, como vai ser este ano? Como conseguirei celebrar os anos do Mano, que tanto merece, aquele Miúdo fantástico que eu amo até à insanidade, e esquecer os meus, porque eu sou uma concha sem pérola, um búzio sem interior, um corpo sem alma, uma Mãe sem um Filho?

Escrevo estas linhas com um quarto, (também é) o meu preferido da casa, onde - já percebi hoje e fartei-me de rir - Você sempre esteve está e estará, exibido a três dimensões perante os meus olhos. Onde, nas duas janelas que o emolduram, o Sol nasce, e o Sol se põe. 

Um quarto de Luz. Uma Luz cheia de quarto. Ou A LUZ no quarto? Eu preferia que fosse um quarto cheio de Si, pleno, transbordante, mas nessa impossibilidade, que seja UM QUARTO DE LUZ!

OK! Compreenditiiiii! 

Será o SEU (esse) Quarto (crescente!)

Beijo, meu Filho!

Mami







sábado, 8 de outubro de 2022

8.10.2022 - One Day minus 67 (Miss You!)

 



Meu querido Filho,

Passados dois meses e uns dias após a sua partida, os "Outros" que ficam são poucos, o que não me admira! Com a guerra da Ucrânia, o aumento galopante da inflação, o regresso às aulas e todas as outras preocupações que afligem o Mundo, é normal o Mundo esquecer-se de si.

Para mim você está cada vez mais presente, ao mesmo tempo que a saudade aumenta. O nosso Mundo cresce, aquele onde me refugio a passos largos, aquele lugar paralelo onde sou feliz por estar consigo, aquele que é o meu santuário. Nunca pensei que me pudesse tornar numa espécie de ser bipolar, mas é isso que sou. Tenho uma sobrevivência, que funciona plenamente aos olhos da sociedade: para os "Outros", ou para alguns deles, é como se não tivesse perdido um Filho. Para mim, é uma constante, mas aprendi a "saltar", tal qual David Copperfield, entre os dois. Vivo no nosso, venho a este de vez em quando, ou melhor: a minha parte cerebral está "neste", a minha Alma vive no Céu, nesse lugar "perfeito" que existe, soit disant, no "imaginário". 

Acredito que para os "Outros" seja o mais confortável: é como se não o tivesse dado à Luz, literalmente falando, no dia vinte e quatro de Novembro de mil novecentos e noventa e cinco e no dia dois de Agosto de dois mil e vinte e dois. Mas nesse hiato de Felicidade, nesses vinte e seis anos e alguns meses de Alegria pura, você existiu e foi Humano, foi e É meu Filho, o meu Tim e, pedindo desculpa aos "Outros", pelo incómodo que lhes causo, quando, sem querer, deixo transparecer a minha dor, a minha solidão e o meu desgosto, não posso deixar de reiterar isso. O Martim existiu, viveu e morreu, sem qualquer culpa, muito, muito, demasiadamente antes do seu tempo, num Tempo que me e que nos foi roubado, mas que deveria ser nosso, e sobretudo dele. Futuro aniquilado, mas Eternidade oferecida, porque o Paraíso existe, e leva para lá apenas os melhores. 

Tim...no auge da minha (in)sanidade, só me apetece rir às gargalhadas acerca do quão ridícula é esta vivência, filha desta existência sem perguntas nem respostas, com as suas preocupações mesquinhas e as suas dúvidas ridículas! E neste riso, sou transportada para a nossa ombreira. É nela que tenho uma epifania: eu sou Ponte, Travessia, Caminho, sou Ligação entre as Margens. Eu estou em ambas. 

Mas, confesso, cá para nós, tenho um pé mais "desse" Lado! ;-)

Mil beijos...

... (cansados, mas a obra está a andar... (há que manter o outro pé deste!)

da sua Mami!

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

6.10.2022 - One Day minus 65 (Surreal: Caminhos, "Liquid Spirit" e o Opa está cá!)


 

Meu querido Tim,

Há quatro dias que não lhe escrevo, e se você não me roubar mais este texto, isto hoje promete. Mais uma vez faço minhas as palavras da Inês: 

- "Faz o que te apetecer, és tu quem importa agora!"

Nem sei por onde começar. O cansaço invade-me o corpo, mas é um cansaço consolador. Hoje trabalhei tanto, que o meu espírito descansou, numas tréguas temporárias que fiz com o Universo. Prometi-lhe que se tivesse a Quinta pronta para o dia 12 de Novembro, "Ele" me dava a Paz necessária, para que eu pudesse cumprir o meu propósito. Acho que hoje foi o primeiro dia. Acabámos a cozinha e a sala. Limpei o tecto: trinta e cinco metros quadrados de aranhas, aranhiços e outros seres de várias patas, que caíram sobre o lenço que tinha na cabeça, numa despedida final, percebendo que a partir de agora a Casa vai estar habitada, e que a Rainha sou eu, de vassoura, mira telescópica e insecticida nas mãos, pronta para o ataque! Depois dei uso à escova, esfreguei o chão, e a tijoleira ficou a brilhar. Por último, enquanto a Isabel se fazia aos quilos de pó no sótão, e a Célia declarava guerra aberta às gorduras acumuladas nas juntas dos azulejos da cozinha, depois de encontrarmos uma ratazana de quarenta centímetros morta no sótão, acabámos uma parte significante. 

Tim...

Descobri que os Tios, ou pelo menos a Tia Paula, está a fazer os Caminhos de Santiago e que o Diego ganhou um prémio importante em Barcelona enquanto Liquid Spirit;  que é possível a Vida (ou a vida?) continuar(em), mesmo depois "disto". Descobri ainda que nada é nosso, que somos apenas convidados (in)desejados no palco das vivências, ou no das memórias, nas quais todos tropeçamos, enquanto caçamos a felicidade passada em presentes memórias fugazes, de tão repletas de Felicidade foram. Que um dia pode ter vinte e quatro horas, mas também encerra no seu ocaso, vinte e seis anos, quase vinte e sete!

Descobri, acima de tudo, e uma vez mais, que há dois Mundos paralelos, aquele onde só nós dois vivemos, e o outro, onde agora habito, em passos leves e efémeros, quase nunca tocando o chão, num voo inaugural de sofrimento, de tristeza e de saudade, de uma complexidade emocional que me atordoa e me corta a respiração!

O Opa chegou, ao fim de três anos! Está tão perto em quilómetros, e, conquanto, tão longe nas barreiras que teimam erguer entre nós! Quão hipórita, malvado e perverso o Universo, e algumas pessoas podem ser?

Sinto-te em Paz Tim Galinha: longe, repousando nas Estrelas, mas perto, enquanto colado ao coração. O Tempo tem uma nova dimensão e, aos poucos, ou talvez vertiginosamente, entro nela. Passaram dois meses Tim, e a mim, por vezes, parece-me uma Eternidade enquanto noutras, apenas um segundo!

Em que ficamos Filho?

Estou "numa" varanda em Barça. Está uma noite estrelada, quente, acolhedora. Ouço a sua voz ao fundo:

- "Épico, não é Mãe?"

E eu...enfim...

Eu não sei o que responder, porque só me apetece gritar a minha saudade, enquanto me lembro dos aperitivos em sua casa, dos jantares, do tempo em que a Vida era plena (de Mercadona), de Alegria, de Petiscos, de Tapas, de "savoir vivre" na Bocqueria, tão cheia de Grac(i)a, tão maravilhosa, consigo nela, nessa Via Lactana, onde tudo acontecia a todas as horas do dia!

Tim...foi há dois meses ou há duzentos anos? Foi hoje? Ontem? Ou será o Amanhã apenas o reviver de uma agonia sem fim?

Não! É todos os dias, todos os dias em que me arrancam a Alma, num torniquete de tortura inigualável, que me relembram que sou "De(s)filhada, desprovida de metade de mim, coxa, inadaptada a uma nova existência, futuro roubado, santuário de maternidade profanado, num cordeiro imolado pelo Amor por um Mundo melhor!

Tim...

"It's buried in my soul..."

Amo-te Filho Lindo!

Mil beijos,

da sua Mami,

Ana





25.4.2024 - One Day plus 266 - (Still about) the Intrepids, the Freedom Lovers, the Crazy Ones...

  Ahhh meu adorado Filho, Que DELÍCIA!  Está tão, mas tão perto de mim e obrigada pelos sinais que me vai enviando, hoje especialmente.  O &...