domingo, 10 de setembro de 2023

10.9.2023 - One Day plus 39 - Dez de Setembro, Domingo, chove como o raio, tenho favas ao lume...

 




 Martim, meu adorado Filho,

Tenho pensado tanto em si, meu Deus, e com tanta saudade, conquanto mais apaziguada. A Marta teve a bebé, e chorei tanto, mas tanto, de comoção, que não tenho palavras. Ainda visualizo a nossa Diana, sua Filha e minha neta, e isto custa para caraças. Mas ao mesmo tempo, é uma alegria ver as Amigas de uma Vida com as vidas perpetuadas. Daria a Vida para ser avó, mas antes disso, mil vezes, para o ter aqui, ao pé de mim. Tenho saudades do seu cheirinho e da força do seu abraço. De ouvir aquele: 

- "Adoro-te", que me derretia o coração, sobretudo quando me tratava por "tu", sinal que estava mesmo a sentir!

Apaziguamento não é menor saudade, é "apenas" um tipo de saudade que não nos rasga constantemente as entranhas, e não nos faz querer morrer a cada instante, mas apenas e tão só, às vezes. Não deixo de o chorar meu Filho, todos os dias, mesmo que sem lágrimas por vezes, mas é aceitação. Aceito tudo, ou quase tudo, porque ainda nem metade me atrevi a chorar. Falta-me chorar o seu avô (que nem me atrevo) e a Foxie, porque morro de saudades dela e de todos!

Você sabe como eu gosto destes dias nostálgicos de um Setembro chuvoso, prenúncio de um Outono precoce, como tudo o que me aconteceu, mas também de um Outono mais doce. Ou mais suavizado, mesmo quando totalmente envolto em saudade, em eternas perguntas, em oceanos de lágrimas. Hoje a sua partida é real. E é real dentro da brutalidade, mas também dentro da entrega de quem mais nada pode fazer. Nada, nada, nada me irá trazer o seu abraço e o seu cheirinho de volta, por isso, tenho de continuar por si, por mim, por nós! E chegar a esse desiderato demorou um longo e penoso ano. 365 dias de saudade a raiar a loucura, na (in)sanidade instalada num momento cristalizado no tempo, num dia que destruiu toda a minha vida, tsunami de tudo o que tentei criar. Momento em que morri, para ressuscitar pouco depois para o nihil...

Meu Filho adorado, hoje as lágrimas são diferentes. São mais sentidas pela ausência, conquanto menos frequentes pela incredulidade. Hoje estou mais sábia, ou muito mais dorida, mas apaziguada na aceitação do inevitável. Hoje sei que não foi de viagem, que nunca mais irei ouvir a sua voz, excepto nas nossas conversas - abençoadas sejam as gravações - de Whats Up. 

Os seus Amigos casam e têm filhos, e eu estou à beira do cais a ver as barcaças partirem. E nesse Adeus, nesse sofrimento de quem não apanhou boleia, estamos juntos. Tão grata meu Filho, tão grata por si. Por tão longos e tão poucos anos consigo, pelas recordações, memórias tatuadas na minha Alma, momentos tão felizes quanto efémeros, tão bons que nem ouso recordar, sob pena de sucumbir ao peso da falta desses mesmos. Hoje sou uma nova pessoa, uma anciã que se perdeu na Alegria de quem sempre tentou viver, apesar da adversidade. Hoje mil recordações de momentos incríveis me invadem!

Hoje também choveu a cântaros, e o Miguel esteve quatro horas a guardar a lenha. Enquanto isso, depois de tratar da casa, fiz Chutney para levar para Lisboa, e favas para o jantar. Ainda bebemos um Gin ao cair da tarde, crepúsculo dos Anjos, seu e de todos os Anjos que estão a seu lado, onde, a cada por do sol, sou agradecida por tudo o que vivi!

Beijo em si meu adorado FILHO, meu Amor, minha Vida...

da sua Mãe que o adora e sente tanto, mas tanto, tanto a sua falta,

Mami


P.S. O Mano chegou são e salvo da Escócia e o meu boguinhas também! Deus seja louvado! 


1 comentário:

  1. Adoro ler-te e sei sempre antecipar que tinhas escrito mais uma carta.

    ResponderEliminar

...too long ago, too far apart...20.7.2022 - Musings on retrospectives a dia 21.3.2025

  Meu adorado Filho, Não tenho transcrito os nosso diálogos, porque em duas ou três semanas, podem acontecer séculos de acontecimentos. Tant...