Bicho do meu coração,
Voltei às Dianas, porque há uma Diana há demasiado tempo à espera da sua Diana.
Entrei hoje, pela primeira vez depois de muito - demasiado? - tempo, no atelier. Afaguei os tecidos, colhendo devagar e com carícia, as minúsculas flores de cada um, e delas fiz um ramo, um ramo multicor. Um ramo para si, meu Amor.
Hoje tenho as pernas doridas. Isto de viver no campo tem das suas, e de andar, debaixo de um céu plúmbeo de Setembro, com réstias de sol de Agosto que o acariciam, durante vários quilómetros, ainda tem mais. Caiem as primeiras gotas, e nem as sentimos, entre chamar a matilha, colher figos e apanhar amoras. Filho...
...como descrever o apaziguamento? Como:
- "Sou abençoada?"
Isso já eu sabia. Mas o salto quântico que se dá, é algo de indescritível. E é esta sensação que um dia gostaria de poder transmitir às Mães recentemente de(s)filhadas, cujo Norte foi apagado de uma bússola que lhes guiava a Vida. Rumam agora sem destino, nómadas do sofrimento, perdidas na saudade, mendigas de um futuro que lhes foi roubado!
E é precisamente nesse roubo, nesse eterno sequestro de Alma, nessa dor sem fim, precisamente nesse limiar entre a (in)sanidade e a loucura instalada, que nos encontramos. A Nós, Filhos e Mães, atados pelo nó eterno da Vida, e a nós, Mulheres mutiladas, aniquiladas, despojadas de todo o sentido do nosso Ser maior! É AQUI, no momento em que, uma vez mais, pairamos acima da raiva, da angústia, do bailado dos "SES", deixando entrar no coração apenas AMOR, é nesse instante, nesse milagre divino, cristalizado num tempo e num espaço sem dimensão, porque transcendentais; que nos apercebemos de que todo o sofrimento, toda a saudade e toda a tristeza, se paziguam perante o milagre do ETERNO.
Não se apaziguam ao ritmo que os "Outros" querem, mas sim ao nosso ritmo. E quando ando quilómetros, e sinto o perfume do alecrim, o aroma do eucalipto e o cheirinho da urze, percebo que o Universo não tem fim. E, consequentemente, o fim é o princípio.
E muito poderia eu escrever sobre a águia que me acompanhou hoje, por cumes e vales, em círculos e em voos picados, mas bastou-me sentar numa pedra e repousar olhar.
Virá em breve o Outono, a minha estação preferida!
Chegámos ao ponto de partida meu Amor querido. Ao nosso círculo, mandala sem fim do Amor!
Mil beijos da sua mãe que o adora,
Mami
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