domingo, 7 de abril de 2024

7.4.2024 - One Day plus 248 - "Total Eclipse of the..."

 



Meu adorado Filho,

Há demasiado tempo que não lhe escrevo, e neste tempo, tanta coisa aconteceu. Não me vou alongar nos detalhes que você conhece demasiadamente bem, mas centrar-me (apenas, tanto quanto possível), nos "pormaiores"!

Nem sei bem por onde começar. Tenho de encontrar um "Leitmotiv" para tudo o que lhe quero transmitir, mas vou tentar ser "frugal". Ou espartana. Ou poupada. 

De volta a CASA..., este meu espaço exíguo em dimensão, mas gigante em Amor. Neste universo (ou será Universo?) que (ainda) estou a tentar (re)definir, procurando criar novas memórias, neste quarto com "Vista para a Casa do Adro", tento sobreviver. Sejamos honestos, porque é disso que se trata...pensei. E pensei em muita coisa. E tudo me passou pela cabeça perante o "nihil", de frente para o rebentar de um sonho (de velhice), e de tantas outras coisas que me vi obrigada a questionar. Não tenho dúvidas nenhumas de que a minha Alma se encontra fragmentada, ferida, explodida em mil pedaços, resquícios do que poderia ter sido, mas não foi, porque o luto não tem - infelizmente - um botão que se pressione para acabar. O luto é uma batalha diária pela sobrevivência das emoções, aquelas que foram defraudadas pelo Destino, pelo cansaço, pela exaustão, por tudo o que deveria ter sido, mas não conseguiu ser. De uma Vida roubada, assalto à mão armada à Felicidade, ataque a um Amanhã que se adivinhava promissor, cheio de flores e de frutos. 

E neste caos onde nada acontece por acaso, porque existe sempre uma ordem cósmica para os acontecimentos, reencontrei os meus livros de Astrologia. Há muitos, demasiados anos que não lhes pegava, talvez porque demasiadas vezes eles me deram a capacidade de tocar a clarividência. E sejamos honestos, uma pessoa borra-se de medo de saber. Mas quando estamos conectados com o Universo, ele vem dar-nos sempre uma mãozinha, que é precisamente tentar ensinar-nos alguma coisa.

E quase por acaso, cai-me no colo o Eclipse. 

Escusado será explicar-lhe este eclipse total do Sol em termos Astronómicos, pois todos sabemos que é um evento de enorme importância. Quanto aos astrológicos...bom, basta dizer que ele acontece no mês de Abril, um dos meses mais importantes, porque regido por Carneiro, o primeiro Signo do Zodíaco, aquele que inicia, o Guerreiro, o Destemido. Mas ele acontece ainda num momento de Mercúrio retrógrado, o que só por si é ainda mais complexo. Contudo, falta um pormenor que não é de menos, é que abraça Chiron, o curandeiro ferido. Significa isto que a casa que no nosso mapa onde este fenómeno acontece, é a área do  para a qual o nosso foco vai forçosamente ter de ser desviado. Sabemos que os eclipses marcam profundamente as casas onde ocorrem, sobretudo este, onde o Centauro nos vai obrigar encarar sem medo as nossas feridas mais profundas, e ganhar uma visão real e concreta das mesmas. Bom, até aqui tudo em ordem. Acontece que ao ler o grau onde este eclipse vai acontecer, até me vi obrigada a ir buscar os óculos, incrédula com o que vi. Este Eclipse vai tocar alguns dos pontos, Luminárias e Planetas mais importantes do meu mapa, pois abraça o Eixo principal, e com isso, obrigar-me a uma redefinição de "mim". Não se trata de uma "mudança", trata-se do atomizar de tudo, do desfragmentar da Alma para recriar e, simultaneamente, cocriar. E desfragmentar para conseguir cocriar é algo de quase alquímico. Reconheço agora, que este período que sucedeu à sua morte, não foi, não é e não será "apenas" um período de um sofrimento sem palavras, ele foi e é um tempo aniquilação total, para vir a ser um tempo de cocriação e de recriação de um Ser mais sábio. Ora todos sabemos que a sabedoria - passo o pleonasmo -  não nos chega sem sofrimento, pois é a capacidade de sobrevivermos ao mesmo que nos torna melhores. Não me interessa, nem nunca poderia aspirar a ser, um Ser Humano melhor do que os outros. Mas aspiro sempre a subir mais um degrau que me aproxime do Significado. 

Oito de Abril de dois mil e vinte e quatro! Não sei fazer previsões, e muito menos adivinhar o futuro, mas ambos sabemos - infelizmente bem demais - que somos capazes de antever algumas coisas. Infelizmente não entendemos de imediato o seu total significado, mas se nos sentarmos para observar o que lhes precedeu e sucedeu, sabemos que o Universo, na sua infinita sabedoria, nos tentou avisar. A si e a mim, pois você também tinha essa capacidade! Entendo agora que foi necessário raiar, rasar e digo mesmo tocar a loucura, para ver com clareza a sanidade, ou ter, finalmente, a sanidade da clareza. Ou será a loucura insana? Pois não sei!

Filho meu, se o Mundo soubesse o que tenho passado, o que passei, e o que passo, choraria lágrimas de sangue. Encontro-me onde tantas noites inesquecíveis vivi, onde tantos retalhos de sonhos planeados costurei, onde tantas vezes se viveu  a década de "Wooodstock", ao som dos sons de "seventies, eighties and nineties" (estes embora menos), numa Alegria imensa. Foi aqui que você me introduziu Dotan, um som que de imediato amei. Foi também aqui, ou é também aqui, que me questiono relativamente às minhas escolhas - aquelas que eu pude fazer, não as que me foram impostas! - e pergunto-me porque razão as fiz. Não sei. 

Mas sei que retiro delas alguma aprendizagem, e sobretudo, a força da Coragem, e com essa força, a Gratidão por me ter sido dada a possibilidade de tocar um átomo de Sabedoria. 

De uma fonte que secou não sai água. Isso é um facto, se está seca, ela já não brota da terra, nascente de vida. Mas é possível que sugando os últimos resquícios de humidade, nasça uma plantinha destemida. Um ser minúsculo, que só vingará com muita persistência, e, sobretudo, com muita vontade. Há verde entre as pedras. E quando essa planta crescer, milénios depois num Tempo sem tempo, porque o tempo não existe, nasce uma floresta. E esse aglomerado de árvores, dançando ao ritmo do vento ondulante, chama a chuva, e ela vem. E ela cai, e cai, e cai, e encharca o solo, alagando-o de novo, numa enchente torrencial. E um dia, da fonte velha e seca, volta a brotar a água. 

A água da Vida.

É Primavera. E amanhã vai haver um Eclipse total do Sol e um canteirinho para plantar, regar e amar.

Mil beijos da sua Mãe que o adora,

Mami



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