domingo, 21 de abril de 2024

21.4.2024 - One Day plus 262 - FREEDOM! (Agora com "background" Noronha da Costa)!

 



Bicho do meu coração,


Eu tenho tanto, mas tanto para partilhar sobre o luto, sobre esta aprendizagem incrível, sobre esta caminhada, mas sempre com uma voz de esperança, de sobrevivência, de uma espécie de alquimia da sabedoria! A noite traz-me epifanias, ou, provavelmente, viagens no "borderline" da sanidade, mas seja o que for, traz-me paz. Hoje, sobretudo, mas já lá vamos.

Encha-se de paciência, acenda um charuto, abra uma "Stout"!

Vamos lá reviver uma das nossas infinitas noites de conversas que nunca mais acabavam. Como lhe estava a dizer, entendo agora que o sofrimento extremo, aquele que (quase) nos mata, se canalizado para o positivismo da renascença com crença e convicção, nos abre uma nova dimensão, um desconhecido que, subitamente, se torna incrivelmente familiar. É como se o nosso Ser tocasse o conhecimento milenar, porque entendemos muito mais facilmente os comportamentos humanos. Contudo, o mais interessante, é que quando entendemos verdadeiramente, estamos a fazê-lo não com a cabeça, mas com o coração. E quando o Entendimento nos entra pelo coração e não pela mente, Somos. E perdoamos. E estamos, num patamar muito mais elevado, porque vemos o todo, a perspetiva da águia, e livres.

Hoje estou totalmente liberta pela primeira vez desde os últimos três anos e meio, no meu espaço. A frase não está bem construída, mas é propositado. Totalmente só. Bem, só, não. Estou com a Baga, que está estoirada, depois de uma senda infindável de escassas duas semanas de organização e de planeamento em tempo record e de mais dois dias de mudanças de levar um santo a cometer um crime, sempre de cara alegre. Os milagres existem, e este é um deles. Eu estou com menos dez quilos, porque para atingir o record, tive, há três dias, uma intoxicação alimentar de tal forma forte em cima de tudo o resto, que julguei que era desta! Mas hoje é um dia especial.

E é um dia alegre, porque todos os Outros estão nas suas casinhas organizadas, enquanto eu continuo no caos, a arrumar caixotes e cangalhos aqui despejadas, e me tento despojar de muita coisa, de muita mágoa, de demasiadas lágrimas não choradas por nós dois, mas por tantas outras pessoas e lugares, chego à conclusão de que é no minimalismo que somos mais felizes. No existencial e no físico, e quando me refiro a físico, não pretendo andar sem roupa pela Vila, matando as velhinhas de uma síncope cardíaca, mas sim de objectos. O ser humano passa uma vida inteira a acumular tralha, tralha que carrega consigo por todo o lado onde passa, que lhe dá peso na logística de como a transportar, guardar, para um dia, talvez quem sabe, a vir a utilizar. E gasta rios de dinheiro e milhões de neurónios nisto, para, de um segundo para o outro, morrer e ir sem nada. 

Ora se vamos para o outro plano sem nada, porque não começarmos nesta vida? E já que o Universo me despojou de tantos seres que amei em tão pouco tempo, ao ver-me obrigada a recomeçar, decidi despejar metade da tralha cá de casa. Bom, por hoje ainda estou no caos. Mas espero amanhã melhorar.

Lá vêm o planeamento e a logística, e o gastar de dinheiro, mas desta vez é por uma boa razão, pelo menos segundo a minha opinião. E a partir de hoje, aqui, nesta casa de bonecas, é a minha opinião que conta. Porque eu posso ter uma voz muito mais triste, mas eu ainda tenho voz.

E assim sendo, ouve-se música e estamos os dois aqui na no silêncio da Paz. Arde a vela de Manjericão, refrescando o ambiente, e o seu Altar começa a tomar forma. E é esta Paz que permite sarar um bocadinho mais. É o cheirinho da Liberdade, de podermos fazer o que queremos, quando queremos e como queremos. Somos LIVRES. Não apenas no plano físico, mas no emocional. Porque entendemos, através do facto de termos sofrido a perda máxima, a dor Maior que se pode sentir, que a partir daí toda a perda pode ser ganho. é apenas uma questão de perspectiva, de "re-set" do "mindset"

A minha tarefa neste plano ainda não terminou, porque tenho uma missão. Eu vou mostrar aos desesperados, aos incrédulos, aos mortos-vivos, a todos os que passam, neste momento, por aquilo que EU passei, que é possível sobreviver.

As sequelas são inumeráveis, os estilhaços imensuráveis, não exista dúvida NENHUMA, mas NENHUMA de que morremos. Mas conseguimos RENASCER. 

É possível. É duro como a pedra, cimentada no aço, mas é possível. Requer uma coragem (e desculpe Martim, sabe que não gosto de incentivar certas palavras do seu vernáculo, mas...) requer uma coragem do CARAÇAS, mas é possível.

Atravessamos o Inferno, mas se acreditarmos com toda a nossa essência, se a Fé, a Crença no Amor Maior e a Entrega ao Universo forem totais, se tivermos a coragem de mostrar o nosso coração rasgado já em dois, e de o abrir ainda mais a tudo o que aconteceu, de expor a sua enorme chaga sem vergonha nem pudor, e sobretudo sem medo nem terror, então sentimos, como eu, que os nossos "Épicos" estão sempre connosco. Sinto-o meu Filho, envolvem-me os seus braços celestiais, sei que está aqui, ao meu lado. Sei com toda, mas toda, toda, toda a certeza do meu coração de Mãe, que esteve aqui comigo, colado a mim, nestes últimos sete meses de pesadelo que acabei de atravessar. Não fosse o seu Amor que sinto em cada poro, não teria conseguido, pois o que atravessei foi sobre-humano, além de desumano. Mas estou cá. E adorava poder mostrar aos outros órfãos de Filhos roubados, de que é possível. De lhes contar a minha história, não porque eu seja uma qualquer heroína, mas simplesmente porque eu passei pelo mesmo. Com algumas "pequenas" agravantes "on top". E sobrevivi fiel aos meus cânones, aos meus princípios e à forma como EU senti que devia e queria viver os primeiros (mais longos e mais difíceis) tempos do meu luto. E nestes tempos perdi Amigos, (mas ganheir outros), perdi duas cadelas da forma mais dura que se pode perder, a última na véspera de Natal, e nessas formas das suas mortes, revivi a sua. Mas ganhei a Baga. o melhor cão que alguma vez tive. E perdi um Paraíso que eu descobri e que amei com todas as minhas forças. Um Paraíso onde plantei árvores de fruto, ajudei a realizar o sonho de uma horta, onde cada detalhe, cada pormenor foram pensados com amor, (e com algumas sãs discussões sobre decoração), um lugar especial, onde elas estão enterradas, no mesmo sítio do sonho Maior que tive. Mas ganhei a Liberdade de expressar o que sinto, em alto e bom som, nas minhas quatro paredes, sem crítica constante, e a ouvir o som da afirmação sem duvidar da minha própria voz, enquanto encontrei solução para que a sua avó tenha uma qualidade de vida indescritível, enquanto eu posso finalmente caminhar ao meu próprio ritmo, e não à velocidade que ela quer. E é neste meu ritmo, ao meu ritmo e com o meu ritmo, que irei dançar este caminho. Sem medo, porque sei que o tenho comigo! E que forma de melhor honrar e agradecer essa sua constante protecção, de que sorrir e agradecer a dor? Transformando a Dor em Amor! 

FREEDOM! Que maravilha! 

Mil beijos da sua Mãe que o adora,

Mami


P.S. O seu Altar ainda está um "work in progress". Prometo versão final em breve! 


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