domingo, 21 de janeiro de 2024

21.1.2024 - One Day plus 171 - Da (In)saninade! ou..."All that we perceive"

 




Meu adorado Filho,


Há quanto, quanto tempo, e, ao mesmo tempo, que rápido que passa o tempo, este ora fluir, ora arrastar dos dias, do amanhecer ao ocaso, em dias que acontecem por acaso, sem qualquer nexo, numa causalidade que não cessa de me espantar, porque neste tempo que se arrasta a uma velocidade furiosa, muita coisa acontece. E nesse acontecer, mudamos. 

Hoje, aliás ontem, porque já passa da meia noite, tive uma notícia maravilhosa. Bem, nem é bem uma notícia, é uma transformação. Uma das minhas Mães mais queridas, aliás, a mais querida, mais uma Guerreira, que ofereceu o seu único Filho ao Céu, está transformada. Que maravilha que foi ouvir a sua voz solta, célere, viva e ágil, a brotar informação, enquanto antigamente se arrastava, num lamento envolto na tristeza da lamúria, num compasso desfasado e desafinado de uma melodia fúnebre.

Nutrimo-nos uma à outra. Choramos juntas, rimos juntas, e uma à outra vamos contando sobre os sinais que recebemos. Vamos partilhando memórias, falando deles, que são tão parecidos, dos nossos Filhos do Céu, e nessa partilha, conseguimos viver um luto sem nos deixarmos envolver pelo luto. Viver o luto é tratar por tu a SAUDADE, que não diminui, antes pelo contrário. Ela aumenta, à medida que cresce a soma dos dias, em que finalmente aceitamos que eles já não estão neste plano. Que partiram. Mas a aceitação, aquela muda resignação que não queremos deixar entrar, contém em si um segredo: ela SUAVIZA a dor. Ela não diminui a sua intensidade, ela apenas - e, conquanto faz TANTO - ela lima-lhe as arestas afiadas, de forma a que não nos rasgue tanto as entranhas. Ela teve um lindo presente de Natal do seu Filho adorado. Uma dádiva que não tem preço, porque vem do Universo, daquele lugar omnipresente, onde os nossos miúdos se encontra(ra)m. Um enorme coração se desenhou no Céu, feito por nuvens. Quando ela me enviou a fotografia, fiquei tão feliz por ela, porque se há alguém que merece, é esta Mãe. Esta Mãe que não conheço pessoalmente, cujo corpo nunca abracei, cujo peito nunca estreitei contra o meu, é talvez uma das pessoas mais importantes da minha nova vida. precisamente porque ela é a prova provada de que o Amor não necessita de um corpo físico, porque é força universal. Não ponho qualquer dúvida, e muito menos em dúvida, (d)a profundidade da amizade que nos une, do calor da ternura da voz com que nos consolamos, na generosidade de uns braços escancarados, porque entendem a dor decalcada, de Mães roubadas, de Mães que questionam muita coisa, mas que em vez de chorarem a partida, agradecem a presença, por muito fugaz que ela tenha sido.

Meu Filho, há dias em que duvido das minhas memórias, e nesses dias sinto-o longe, muito, muito longe, o que me custa, mas que me sossega, porque o sei muito perto do Divino. Nesses momentos de esquizofrenia, chego a duvidar que fui sua Mãe, porque me parece que vivido noutra vida. São momentos que nos fazem questionar muita coisa. De todos os meus Guias, você é o que está mais perto do Sol. Mais perto da Luz. Mais perto - repito - do Divino. E nessa proximidade, está longe, muito longe de mim, e nesse afastamento, vive em mim, e a sua força divina entra em mim e dá-me uma resiliência de que jamais sonhei que seria capaz. 

Essa resiliência raia a (in)sanidade, porque é de tal forma forte, que não sei onde a vou buscar, mas vou, numa rebeldia que ninguém me tira, porque encerra em si a sua também. 

Meu adorado Filho, obrigada pelas melhoras da Oma. Sou agora "multitasker", malabarista de tarefas, desde há duas semanas também género "meals on wheels", separados em minúsculos tupperwares de dose única, para que seja mais fácil. E tanto amor que ferve e depois congela em cada um!

Martim, obrigada pelo seu sinal. Obrigada por me ter apontado o coração do Anjo e pelo canto da coruja de há dois dias. Quanta saudade tinha dela. Obrigada meu Filho por estas visitas. Este Anjo, que comprei para por no meu presente de Natal, que você e o Mano me ofereceram, mas que não tinha etiqueta, e a Oma, na sua perfeição natalícia, vos obrigou a pedir-me para eu comprar. E de você não querer escrever no Anjo, porque me disse: 

- "Oh Mami, que estupidez, já lhe demos o presente, o Natal já foi ontem, para que é que vou escrever?" 

E eu fiz uma birra tal, que você e o Mano desistiram, e lá rabiscaram qualquer coisa. Foi esse o nosso último Natal juntos. Foi Felicidade pura, foi loucura, foi acampamento naquela casa minúscula, onde fomos tão felizes, e que você dizia que ficava por detrás do sol posto. Pois é precisamente nesse crepúsculo desse horizonte, onde vivemos agora, e onde o celebro, meu Filho, sempre que passeio pelo campo, depois de finalmente ter podido lavar e estender roupa ao fresco, porque esteve um dia de Sol. 

A noite está gelada, estrelada e escura, o meu coração quente, porque aconchegado por um braseiro incandescente, que jamais se apagará, porque quem é recordado nunca morre.

Boa noite meu Anjo querido, mil beijos da sua Mãe que o adora,

Mami

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