Meu adorado Filho,
Mais uma noite de insónia...
...não estamos curados de um luto que nos acompanha, embora agora polvilhado de muitos e vários sorrisos, em número cada vez maior, num aqui e ali, no carinho partilhado de um presente que se quer dádiva, onde as feridas são apaziguadas a cada momento que se vive neste campo primaveril, ressoa(n)do no eco (d)as gargalhadas de uma Leveza que se quer Milagre.
A Vida e a vida, seguidas da Vida, tão efémera conquanto feliz, onde procrastinamos uma realidade da qual não fazemos ideia, mas que também não interessa, porque é na Gratidão universal que a sentimos e celebramos, nesta dádiva universal que se quer festejada no Aqui e no Agora.
Meu Filho, tanto que eu poderia escrever, contar, relatar, resumir num hiato de tempo, onde o Tempo não tem tempo para se preocupar, porque o que interessa é viver e celebrar a alegria da dádiva do presente do indicativo, embora se sonhe um futuro, sobre o qual se assentam sonhos e se constroem "amanhãs"!
Martim, a Terra cheira a Hermés, perfume de um campo deslumbrante na envolvência de todos os sentidos, na família Von Trapp dos Trouxas, os que se celebram e se vivem, sem medo e com a crença inabalável de que o amanhã nunca será em demasia, porque quando vivido e vivenciado, experienciado em cada ocaso, onde o dia seguinte nasce ao som dos sinos da Igreja, num paraíso escondido e protegido, no qual a gratidão brota em cada suspiro arrancado à saudade, lágrimas beijadas que se transformam em sorrisos - os meus - será sempre um amanhã de Esperança!
Que viagem meu Amor, que Caminho, Santigo de uma Compostela que sendo missa ou celebração, numa estrada de curvas e contra-curvas, é para sempre a recordação de um coração de Mãe, batimento descompassado, cosido e traça(n)do (n)um Amor e (n)uma Crença inabaláveis de que existe e existirá sempre a Esperança!
Mil Vidas? Hmmmmm...discordo. Infinitas: tantas, quantas recordações abandonadas, deixadas para trás em fragmentos implodidos nas noites em que o sono não vem. Hoje, o sono tem um ritmo, uma respiração, uma pele, um sentido e um sentimento. Um presente e um passado, desenhado em mil passos, dançados e consagrados às doces memórias, e, simultaneamente, às suaves vivências onde se misturam os aromas da cozinha, pratos confeccionados com amor e com doçura!
Haverá pais celestiais, conquanto terrenos? Existirá, algures no (meu) tempo, um cruzar de Caminhos, de Personagens, a do Pai e a do Filho, porque o Espírito Santo desceu sobre mim, mera pecadora terrena e humana e resolveu abençoar-me com o (In)Esperado?
Não sei.
Não quero saber.
Sei que foram (ou são?) quase dois anos de lágrimas, de perdas, de desesperos, mas uma coisa é certa, transcrita por Saint Exupéry, e talvez mesmo por Robert Frost:
- "Toi, tu auras des Étoiles, comme personne n'en a"...
...e porque finalmente, estamos prontos para palmilhar "The Road not Taken.", porque há estradas que nos levam não sabemos onde, mas que de alguma forma, nos conduzem ao Céu.
Ah meu Filho, se eu (d)escrevesse (n)um livro (d)estes meus dois anos, diário inacabado, rabiscado e rasurado, seria certamente um best-seller, mas os pormenores, as nuances, as sombras desenhadas em cascata(s) de um penedo furado, traçariam para sempre o número dos passos que a rastejar, sempre tentei levar a dançar.
Gosto tanto, mas tanto de si meu Filho! Nesta sua dádiva para comigo, só tenho uma palavra, ou talvez duas:
Amor, obrigada! Ou talvez, Obrigada (pelo) Amor. Ou ainda Obrigada meu Amor. Minha Vida, minha Ressurreição, meu ontem, meu hoje, meu amanhã.
Minha Saudade, e, conquanto, minha Gratidão. Minha Alegria.
Martim...
...Von Trapp, aka Trouxa, aka, a Vida é um Milagre, neste milagre que é a Vida, outrora vida, e antes Vida, finalmente com maiúscula, que finalmente reencontrámos!
Com todo o Amor da sua Mãe que o adora,
Mami