domingo, 2 de junho de 2024

02.06.2024 - One Day plus 303 - "Picture Postcards"

 



Meu adorado Filho,

Como descrever o perfume a Terre d´Hermés na simplicidade do campo primaveril? 

Haverá palavras para isso? Não sei. Sei ver as cores da Urze, da magnitude do espectro do seu roxo, dividido por mil tonalidades de púrpura brilhante, debaixo do sol incandescente de um fim de tarde tórrido, ao encarnado das Papoilas, passando pelo amarelo da Giestas, e de tantas outras tonalidades que me invadem os sentidos, seja o do olfacto, seja o da visão. Há um Todo que se assemelha ao Tudo, nestas noites de um campo despojado de pretensão, na simplicidade plena, onde as Estrelas brilham tão fortemente, que me toldam a visão!

Martim...haverá palavras que descrevam a Paz, aquela que se sente debaixo da Oliveira do Mouchão, ou na simples contemplação das e nas margens do Tejo, as que banham Alvega, num (re)encontro do Pleno, vivido na Plenitude da simplicidade do Nada, aquele momento em que viver é simplesmente o deixar baloiçar a Alma ao sabor da brisa morna que me acaricia a pele, enquanto ao longe vejo o ninho das cegonhas que alimentam os seus filhos?

Não consigo transpor em - ou será colocar por? - palavras, o enredo de um filme que me marcou a juventude: "Love - Love means never having to say you're sorry", ou, como diria Saint Exupéry, "les yeaux sont aveugles, il faut chercher avec le coeur", aquele músculo que desobedece a toda a razão, para (sobre)viver, num batimento descompassado, passo doble desafinado a "uma razão, que a razão desconhece"?

Martim...será dos filmes de que são feitos os sonhos, ou será dos sonhos que se faz um filme feito de sonho? Ambas as prerrogativas são válidas, na (in)sanidade de que é feita a existência da loucura! Meu Filho, tão perto de mim, tantos dias depois, tantas lágrimas choradas e agora, tantos sorrisos desenhados, rabiscados, rasurados a tinta permanente, azul "royal" Mont Blanc, "we're flying above", como a cegonha que hoje, em voo rasado, se lançava do ninho, para mergulhar neste Tejo raso, maré baixa da mágoa, numa maré alta da Alegria, debaixo de um azul celestial tão aberto quanto confiante, do qual passei de Mendiga a Princesa?

De quantas mil vidas, vividas e vivenciadas, é feita a Vida, num passado do qual se faz futuro, num presente do qual se celebra dádiva? Não sei precisar, nesta minha falta de jeito para os números, porque o Amor e a Saudade - intrinsecamente enlaçados um no outro - não são quantificáveis! 

Martim...de volta à simplicidade do Amor numa Casinha simples, ou ao Amor na Simplicidade de uma Casa pacífica e pacificada, tranquila nas suas memórias de mil Vidas enclausuradas no meu coração de Mãe, aqui continuo, nesta minha tão amada Casa, neste "coming home", tão estranho quanto avassalador, neste simples Campo ao qual aprendi a pertencer!

De coração aberto e de peito às balas, na Gratidão universal de quem entende o Cosmos, e com ele se funde, num abraço genuíno de um Amor que se quer único, aqui estou!

Filho meu...a quietude do perdão não é para todos, mas fica com aqueles que sem o medo, arrepiado no receio do pavor da falta, se entregam, na totalidade transcendente da confiança da e de uma música que se quer tocada, aflorada, cantada e escrita numa voz rouca, rasgada às entranhas, arrancada aos acordes de uma gitarra!

Filho...mais um Significado no seu Altar, Astronauta com o seu "petit-nom", mais mil gestos de carinho, que embalam a luz da vela que lhe acendo todas as noites, neste meu Amor sem fim, nesta minha Saudade indescritível, nesta minha Alegria campestre e nesta minha Esperança de que o Sonho seja vivido na realidade de um presente que eu espero futuro!

Filho...

...MARTIM...

...dava a vida para voltar a abraçar esse seu peito macio, que me envolvia os medos enquanto os apaziguava, na Aventura que foi ser sua Mãe, numa Quimera, que por tão breves anos foi Felicidade, a que me roubaram e que agora o Universo transpõe para o filme do quotidiano, ou será o quotidiano de um Filme? 

A Coragem (e não a sorte) protege os audazes!

Mil beijos da sua Mãe que o adora,

Mami!








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