sexta-feira, 29 de novembro de 2024

28.11.2024 - One Day plus 850! "Te echo mucho de menos..."

 



Meu adorado Martim,

Estamos a ver uma nova série na Netflix. Uma série espanhola, mais outra porque elas têm - inegavelmente - qualidade. E sem querer, lembrei-me de uma noite em que estivemos todos a jantar em Lisboa, e você fez um video para um amigo seu de Barcelona, em que lhe diz que tem Saudades. Dele.

Tal como eu tenho suas. Imensas. Inenarráveis. Mas também constato, com Alegria, que consegui alcançar alguma Paz. O mérito não é só meu, nem por sombras, mas também o é, na coragem de nunca desistir, na sabedoria de acalmar o passo ao ritmo da Calma(ria), e sobretudo, na Crença que nunca me deixa. Ou talvez na sua Presença dentro da "Ausência", nome que não gosto, porque não é por não vos vermos fisicamente, que não vos vislumbramos através do olhar semicerrado das recordações.

Estou a (pre)(s)senti-lo, atrás do meu ombro esquerdo, e não posso deixar de esboçar um sorriso perante o seu olhar de aprovação! É verdade, a máquina a vapor do meu tractor, disfarçado de computador, deu lugar ao Ferrari dos meus sonhos, maçã prateada sobre fundo azul escuro, que repousa, tranquila e languidamente no meu colo, enquanto os meus dedos lhe afagam o teclado sem sequer pararem um segundo; que se publique com erros, quero lá saber! Maçã perfumada e suculenta, que acompanha a velocidade do meu pensamento, neste voo rasado que é a minha vida. Rasado, mas nunca de sonhos arrasados, porque todos eles se constroem no cimento das areias movediças de uma Praia onde fomos náufragos, afogados na apnea que nos rouba o ar dos sentidos, mas de onde trincamos os pedaços frescos e aromáticos, textura rija e ao mesmo tempo inovadora face, à moleza da podridão da Saudade. 

Blixen escreveu: "There was a farm in Africa, at the Foot of the Ngong Hills (...)" e eu continuo: "There was a Boy in Lisbon, the city of the Seven Hills"...

Muito lhe poderia dizer meu Filho, na torrente das palavras que me invadem. Mas é também no silêncio que comungamos, nessa Tranquilidade que só a noite nos dá, por entre essas e estas pedras frias, onde aquecemos os pés gelados, no Amor que entre ambos sentimos!

Meu Filho...tanto mas tanto que o sinto, que uma vez mais (lhe) agradeço o(s) Milagre(s) que me tem trazido, guardados numa cesta de pique-nique, salpicados por um Verão que - tal como prenunciei - foi épico, para me catapultar para um Outono dourado na suavidade da sua Luz. 

Meu Filho, seguimos. Gratos, e acima de tudo, mais apaziguados!

Mil beijos da sua Mãe que o adora,

Mami


P.S. O "rato" também é da família das Rosaceae! 


domingo, 24 de novembro de 2024

24.11.1995 - 24.11.2004 - Vinte e seis mais três (de cumplicidade, de Amor, de gratidão e de Saudade)

 



Meu adorado Filho,

Às dezanove horas e vinte e um minutos, há vinte e nove anos, vinte e seis da Terra, mais três do Céu, fui escolhida para viver um Milagre. O Milagre de ser Mãe, aquele estado de Graça infinito, que nos transforma, transcende e transmuta para um novo patamar da existência humana, abençoada com o toque do Divino.

Poder dar ao Mundo um novo Ser, nascido das nossas entranhas, alimentado durante tantos meses com Amor, mas também com tudo o que de melhor sai de nós, é um Milagre. E é nesse estado de Graça, que a nossa Vida sofre como que um salto quântico, uma reviravolta estonteante, numa angústia constante de preocupação desenfreada, aliada - sem medo - a uma Fé, de que a protecção divina recai sobre vocês, Filhos! E, submersas no positivismo dessa crença, entregamos.

E no auge desse crescimento, na maravilha do vosso desabrochar, eis que então, somos de novo escolhidas, e neste caso, para viver (ou morrer?) o pior de todos os sofrimentos do ser humano, no sacrifício sublime e derradeiro, na maior dor que se pode pensar sequer existir, num abstracto escondido no inimaginável, muito para além do que o ser humano pode ser capaz de aguentar, roubam-me o Substantivo ao Verbo. 

Porque escrevemos: SER MÃE! Porque Mãe é-se todos os dias, cada hora, cada minutos, cada segundo.

E mesmo quando nos roubam os nossos Filhos, nós não deixamos de o ser. Apenas passamos a ser obrigadas a senti-los num novo espaço, onde física- e brutalmente - nos foi espoliada a capacidade de os agarrar, abraçar, proteger, inspirando aquele calor que emana da sua pele macia, sempre com cheirinho a bebé, o nosso, que o assim será para sempre! Nós continuamos a ser Mães. Mas desta vez vez, Mães de um Filho do Céu. 

Eu sou Mãe. Serei sempre Mãe, nesse Milagre que me aconteceu, nessa Alquimia perfeita com que o Universo me abençoou. Sou uma Mãe que chorou e chora lágrimas infinitas, com uma ferida que jamais irá sarar, porque sangra a todos os segundos do dia. Sou também uma Mãe que agradece a dádiva de poder sorrir pelo seu Filho da Terra, e com ele se zangar, apaziguar, amar e sonhar, e rir a todos os segundos do dia.

MARTIM...hoje é o pior, e o melhor dia da(s) minha(s) Vida e vida. Hoje, há vinte e nove anos, vi-o nascer de mim, o meu primeiro Sonho, o meu Primogénito. Hoje, três anos depois, toda eu me desfaço num oceano de lágrimas salgadas, num mar de saudade!

Não lhe consigo continuar esta carta, não vejo as letras por entre o Choro que me embacia os olhos, num nevoeiro eterno, através do qual quero continuar a vislumbrar!

"So all choked up

That I ca't find the words"...


Mil beijos meu Filho e OBRIGADA...

pelo(s)  MILAGRE(S) que me trouxe! ;-)




sexta-feira, 1 de novembro de 2024

1.11.2024 - One Day plus 456 (Procrastinar, comer, viver, amar, trabalhar e...recordar!)

 



Meu adorado Martim,

Eu procrastino, nós procrastinamos, nesta preguiça procrastinadora, vórtice da vida que nos envolve ao seu ritmo alucinante, que nos arremessa e nos tira a noção do presente. Tenho-lhe escrito. Muito. Simplesmente não aqui, não me pergunte porquê, porque não lhe sei responder. 

Mas é, de facto, "aqui" que me sinto sempre tão Una consigo. Tão perto. E hoje, no mês que mais temo do calendário, neste mês em que celebramos os mortos, na(s) Vida(s) que já lá vão, nos sonhos desfeitos, nas esperanças bordadas a lã, no conforto do calor desta tão (nossa) querida Casa, é aqui que lhe escrevo. 

Nesta loucura (in)sana que foi o mês de Outubro com as suas e as nossas mudanças, as minhas conversas consigo foram mais sussurros quase mudos, porque enquanto o corpo trabalha, o espírito (d)escreve um murmúrio, uma prece, um desejo.

Martim...SINTO-O, como sempre. Menos, muito menos presente na proximidade, muito mais envolvente na distância, porque o Horizonte não tem fim. Encontrei fotografias. Desafiei o Destino. Chorei, ri, e sobretudo, vivo. Algo que jamais consideraria possível. Quantas vidas a Vida encerra? Nem vale a pena contar. São muitas.

Tenho de pôr aqui os textos que (lhe) escrevi neste hiato deste desiderato a que se chama acordar, amar, comer, trabalhar e dormir. Basicamente e "in a nutshell",  to live. To survive, to strive and to thrive. Seja lá o que é que ajuda a sublinhar o verbo (sobre)viver. 

Martim...1 de Novembro...daqui a vinte três dias celebra(re)mos o seu aniversário. O dia em que veio ao Mundo e me fez Mãe. E me transformou. É o mês mis difícil dos doze do calendário. O mais desafiante. É o prenúncio e o prelúdio do Advento, dessa época mágica, onde sentada nesta cantinho da sala, o vejo, ou revejo, ou vislumbro, por entre a névoa de um passado feliz, de camisola encarnada, e de bigode, a assar o perú, no que viria a ser o seu último Natal, um Natal em que fui tão feliz. Esta casa ou Casa? estica. E daqui a muito pouco tempo, iremos celebrar mais um. Mais um na minha existência, mais um sem si. Ou será MENOS? Não sei. Mas sinto a sua mão a enlaçar-me como há tantos milénios, nesta noite de alegria, cuja recordação em "Kodachrome"  me saltou - literalmente - para o colo. Estamos. somos. Vivemos!

Mil beijos da sua Mãe que o adora,


Mami

...too long ago, too far apart...20.7.2022 - Musings on retrospectives a dia 21.3.2025

  Meu adorado Filho, Não tenho transcrito os nosso diálogos, porque em duas ou três semanas, podem acontecer séculos de acontecimentos. Tant...