Meu adorado Martim,
Estamos a ver uma nova série na Netflix. Uma série espanhola, mais outra porque elas têm - inegavelmente - qualidade. E sem querer, lembrei-me de uma noite em que estivemos todos a jantar em Lisboa, e você fez um video para um amigo seu de Barcelona, em que lhe diz que tem Saudades. Dele.
Tal como eu tenho suas. Imensas. Inenarráveis. Mas também constato, com Alegria, que consegui alcançar alguma Paz. O mérito não é só meu, nem por sombras, mas também o é, na coragem de nunca desistir, na sabedoria de acalmar o passo ao ritmo da Calma(ria), e sobretudo, na Crença que nunca me deixa. Ou talvez na sua Presença dentro da "Ausência", nome que não gosto, porque não é por não vos vermos fisicamente, que não vos vislumbramos através do olhar semicerrado das recordações.
Estou a (pre)(s)senti-lo, atrás do meu ombro esquerdo, e não posso deixar de esboçar um sorriso perante o seu olhar de aprovação! É verdade, a máquina a vapor do meu tractor, disfarçado de computador, deu lugar ao Ferrari dos meus sonhos, maçã prateada sobre fundo azul escuro, que repousa, tranquila e languidamente no meu colo, enquanto os meus dedos lhe afagam o teclado sem sequer pararem um segundo; que se publique com erros, quero lá saber! Maçã perfumada e suculenta, que acompanha a velocidade do meu pensamento, neste voo rasado que é a minha vida. Rasado, mas nunca de sonhos arrasados, porque todos eles se constroem no cimento das areias movediças de uma Praia onde fomos náufragos, afogados na apnea que nos rouba o ar dos sentidos, mas de onde trincamos os pedaços frescos e aromáticos, textura rija e ao mesmo tempo inovadora face, à moleza da podridão da Saudade.
Blixen escreveu: "There was a farm in Africa, at the Foot of the Ngong Hills (...)" e eu continuo: "There was a Boy in Lisbon, the city of the Seven Hills"...
Muito lhe poderia dizer meu Filho, na torrente das palavras que me invadem. Mas é também no silêncio que comungamos, nessa Tranquilidade que só a noite nos dá, por entre essas e estas pedras frias, onde aquecemos os pés gelados, no Amor que entre ambos sentimos!
Meu Filho...tanto mas tanto que o sinto, que uma vez mais (lhe) agradeço o(s) Milagre(s) que me tem trazido, guardados numa cesta de pique-nique, salpicados por um Verão que - tal como prenunciei - foi épico, para me catapultar para um Outono dourado na suavidade da sua Luz.
Meu Filho, seguimos. Gratos, e acima de tudo, mais apaziguados!
Mil beijos da sua Mãe que o adora,
Mami
P.S. O "rato" também é da família das Rosaceae!