Meu adorado Filho,
Às dezanove horas e vinte e um minutos, há vinte e nove anos, vinte e seis da Terra, mais três do Céu, fui escolhida para viver um Milagre. O Milagre de ser Mãe, aquele estado de Graça infinito, que nos transforma, transcende e transmuta para um novo patamar da existência humana, abençoada com o toque do Divino.
Poder dar ao Mundo um novo Ser, nascido das nossas entranhas, alimentado durante tantos meses com Amor, mas também com tudo o que de melhor sai de nós, é um Milagre. E é nesse estado de Graça, que a nossa Vida sofre como que um salto quântico, uma reviravolta estonteante, numa angústia constante de preocupação desenfreada, aliada - sem medo - a uma Fé, de que a protecção divina recai sobre vocês, Filhos! E, submersas no positivismo dessa crença, entregamos.
E no auge desse crescimento, na maravilha do vosso desabrochar, eis que então, somos de novo escolhidas, e neste caso, para viver (ou morrer?) o pior de todos os sofrimentos do ser humano, no sacrifício sublime e derradeiro, na maior dor que se pode pensar sequer existir, num abstracto escondido no inimaginável, muito para além do que o ser humano pode ser capaz de aguentar, roubam-me o Substantivo ao Verbo.
Porque escrevemos: SER MÃE! Porque Mãe é-se todos os dias, cada hora, cada minutos, cada segundo.
E mesmo quando nos roubam os nossos Filhos, nós não deixamos de o ser. Apenas passamos a ser obrigadas a senti-los num novo espaço, onde física- e brutalmente - nos foi espoliada a capacidade de os agarrar, abraçar, proteger, inspirando aquele calor que emana da sua pele macia, sempre com cheirinho a bebé, o nosso, que o assim será para sempre! Nós continuamos a ser Mães. Mas desta vez vez, Mães de um Filho do Céu.
Eu sou Mãe. Serei sempre Mãe, nesse Milagre que me aconteceu, nessa Alquimia perfeita com que o Universo me abençoou. Sou uma Mãe que chorou e chora lágrimas infinitas, com uma ferida que jamais irá sarar, porque sangra a todos os segundos do dia. Sou também uma Mãe que agradece a dádiva de poder sorrir pelo seu Filho da Terra, e com ele se zangar, apaziguar, amar e sonhar, e rir a todos os segundos do dia.
MARTIM...hoje é o pior, e o melhor dia da(s) minha(s) Vida e vida. Hoje, há vinte e nove anos, vi-o nascer de mim, o meu primeiro Sonho, o meu Primogénito. Hoje, três anos depois, toda eu me desfaço num oceano de lágrimas salgadas, num mar de saudade!
Não lhe consigo continuar esta carta, não vejo as letras por entre o Choro que me embacia os olhos, num nevoeiro eterno, através do qual quero continuar a vislumbrar!
"So all choked up
That I ca't find the words"...
Mil beijos meu Filho e OBRIGADA...
pelo(s) MILAGRE(S) que me trouxe! ;-)
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