Meu adorado Martim,
Eu procrastino, nós procrastinamos, nesta preguiça procrastinadora, vórtice da vida que nos envolve ao seu ritmo alucinante, que nos arremessa e nos tira a noção do presente. Tenho-lhe escrito. Muito. Simplesmente não aqui, não me pergunte porquê, porque não lhe sei responder.
Mas é, de facto, "aqui" que me sinto sempre tão Una consigo. Tão perto. E hoje, no mês que mais temo do calendário, neste mês em que celebramos os mortos, na(s) Vida(s) que já lá vão, nos sonhos desfeitos, nas esperanças bordadas a lã, no conforto do calor desta tão (nossa) querida Casa, é aqui que lhe escrevo.
Nesta loucura (in)sana que foi o mês de Outubro com as suas e as nossas mudanças, as minhas conversas consigo foram mais sussurros quase mudos, porque enquanto o corpo trabalha, o espírito (d)escreve um murmúrio, uma prece, um desejo.
Martim...SINTO-O, como sempre. Menos, muito menos presente na proximidade, muito mais envolvente na distância, porque o Horizonte não tem fim. Encontrei fotografias. Desafiei o Destino. Chorei, ri, e sobretudo, vivo. Algo que jamais consideraria possível. Quantas vidas a Vida encerra? Nem vale a pena contar. São muitas.
Tenho de pôr aqui os textos que (lhe) escrevi neste hiato deste desiderato a que se chama acordar, amar, comer, trabalhar e dormir. Basicamente e "in a nutshell", to live. To survive, to strive and to thrive. Seja lá o que é que ajuda a sublinhar o verbo (sobre)viver.
Martim...1 de Novembro...daqui a vinte três dias celebra(re)mos o seu aniversário. O dia em que veio ao Mundo e me fez Mãe. E me transformou. É o mês mis difícil dos doze do calendário. O mais desafiante. É o prenúncio e o prelúdio do Advento, dessa época mágica, onde sentada nesta cantinho da sala, o vejo, ou revejo, ou vislumbro, por entre a névoa de um passado feliz, de camisola encarnada, e de bigode, a assar o perú, no que viria a ser o seu último Natal, um Natal em que fui tão feliz. Esta casa ou Casa? estica. E daqui a muito pouco tempo, iremos celebrar mais um. Mais um na minha existência, mais um sem si. Ou será MENOS? Não sei. Mas sinto a sua mão a enlaçar-me como há tantos milénios, nesta noite de alegria, cuja recordação em "Kodachrome" me saltou - literalmente - para o colo. Estamos. somos. Vivemos!
Mil beijos da sua Mãe que o adora,
Mami
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