sábado, 22 de julho de 2023

22.7.2023 - One Day minus 346 - Do Opa Fritz e outras doces memórias, de saudade, de mil vidas recordadas

 






Meu Filho adorado,


Estou sentada cá fora, finalmente um dia mais em paz. Estive a ouvir a sua voz nas nossas inúmeras mensagens via whats up. Que saudades meu Deus! Faz na segunda feira um ano que trocámos a última. Depois disso, estivemos juntos tantas vezes naquela última semana em que a minha vida ainda era uma Vida! Em que eu era uma pessoa normal.


Agora sou um resquício de gente, um átomo do que fui, navegando nas memórias que uma existência de que tenho tanta dificuldade em reconhecer como minha.


Não lhe tenho escrito, porque de nada vale sobrecarregar um Anjo com tristeza ou com a saudade infinita que me assola.


Estive muitos dias sem praticamente conseguir ingerir qualquer alimento sólido. Só as sopas e os sumos passavam na garganta, de tal forma as emoções fizeram aí um nó. Agora estou um bocadinho melhor. Não tenho conseguido pegar nas Dianas, nem nos restauros, mas a abundância da horta, face ao desperdício e aos preços, obrigaram-me a voltar aos Chutneys, às conservas e ao molho de tomate. Já fiz tanto, mas tanto, que não sei contar os frascos que esterilizei, enchi e pus a pasteurizar. É uma forma de meditação que me apazigua, pois o meu espírito voa para longe, para junto de si, enquanto tudo ferve na panela.


Filho, tanto mas tanto para lhe escrever, e tão pouca força me resta, nesta solidão dos meus dias, em que o sol nasce, e o sol se põe.


Hoje faria anos o Opa Fritz. Você nunca o conheceu, mas se eu fechar os olhos, vejo e revejo todos os cantos do Largo Conde de Ottolini, onde ele e a Oma Kaethe faziam tudo para me fazerem feliz. Aquele senhor impecável, tão boa, excelente pessoa, que todos os dias ia buscar o jornal para a sua bisavó ler na varanda ao pequeno almoço.


Já percebi que à medida que envelhecemos, as doces recordações não são mais do que carícias da memória no nosso coração, resquícios de uma infância e adolescência que teimam em não ter existido, para se tornarem numa história de inocência há muito perdida.


Meu Filho, à medida que o tempo passa, demasiado tempo para você ter ido numa viagem, vejo-me forçada a perceber que, desta vez, foi uma viagem sem retorno físico, e isso parece uma ilusão. Não me conformo com esse facto, a sua voz é ainda demasiado presente, o calor do seu abraço e do seu “adoro-te”, demasiado real. Já perdi a conta aos dias em que choro a sua partida, e soluço a saudade que sinto sua, nesta existência superficial, em que me limito a ver as horas passar.


Meu Amor pequenino, meu Anjo, meu Filho, só me apetece berrar, gritar, vociferar a minha saudade, a minha perplexidade perante tamanha injustiça que o destino me quis dar. E ao mesmo tempo, só me apetece sentir o seu abraço, aquele cheirinho a si, o toque da sua pele, a força dos seus braços, o amor que sempre nos uniu.


Martim… ofereço o meu sacrifício diário , todos os dias, por um Mundo melhor, mas sei que isso não existe, pois o Mundo que eu conheci, habita na Eternidade!


Um beijo imenso, carregado de desgosto e de saudade!


Da sua Mãe que o adora,


Mami

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