quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

19.12.2024 - sem contagem... - A juventude de mil Vidas, ou mil vidas de Juventude?

 





Meu adorado Martim,

Voltei à cidade onde o dei à luz, toda eu emoção, e nessa emoção emocionada, revivi, e nessas reminiscências, consegui ser menina de novo. Fui riso, puro, translúcido e cristalino, pureza da inocência de quem tem tanto ainda para viver, ou esqueceu, por momentos, as mil vidas que viveu! A Vida trocou-me as voltas, e nessas curvas apertadas, ensinou-me tanto, mas tanto e tanto, no que me tem trazido. A mudança de paradigma é a pedra basilar dessa transformação, porque, perante o Nihil, nada nos resta senão re-inventar-mo-nos! Não foi fácil, mas foi uma tremenda de uma aprendizagem, e, sobretudo, foi ter a possibilidade de ascender a um patamar ao qual nunca pensei ser escolhida para subir. 

Há uma Nossa Senhora em cada Mãe que oferece um Filho à Luz. 

Porque é o sublime dos sacrifícios, o mais doloroso, aquele que a Humanidade carrega em muitas religiões, mas também no paganismo, aquele que não tem palavras para descrever, na profanação do Altar da Maternidade!

E conquanto, há uma Alegria enorme na dádiva de saber apreciar os pequenos, enormes sinais do Universo, aqueles que são tão subtis, que nem todos os entendem, porque, como escreveu Saint Exupéry, "O Essencial é invisível aos Olhos"! E basta-me fecha-los, sem sequer hesitar num pestanejar, para o sentir!

Meu Filho, o seu abraço envolve-me no silêncio gelado e conquanto tão aconchegante de mais este (quase) Inverno, Natal que se aproxima, fim de um ano que foi...

...ÉPICO!

Aprendi, nestes dois anos e meio, que não é apenas o Tangível que nos acompanha, mas sim que podemos ascender a um patamar de plenitude na fusão, apenas aprendendo a sentir, porque é através da sensação de um não-sentido, que sentimos o Todo. Não temos cinco sentidos, temos mais! Sentidos (com)sentidos na emoção que nos acompanha!

Weihnachstmarkt, Miúdas, mil recordações, infinitas Vidas...

...Mil beijos do Marienplatz, desta Mãe que o adora,

Mami!

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

28.11.2024 - One Day plus 850! "Te echo mucho de menos..."

 



Meu adorado Martim,

Estamos a ver uma nova série na Netflix. Uma série espanhola, mais outra porque elas têm - inegavelmente - qualidade. E sem querer, lembrei-me de uma noite em que estivemos todos a jantar em Lisboa, e você fez um video para um amigo seu de Barcelona, em que lhe diz que tem Saudades. Dele.

Tal como eu tenho suas. Imensas. Inenarráveis. Mas também constato, com Alegria, que consegui alcançar alguma Paz. O mérito não é só meu, nem por sombras, mas também o é, na coragem de nunca desistir, na sabedoria de acalmar o passo ao ritmo da Calma(ria), e sobretudo, na Crença que nunca me deixa. Ou talvez na sua Presença dentro da "Ausência", nome que não gosto, porque não é por não vos vermos fisicamente, que não vos vislumbramos através do olhar semicerrado das recordações.

Estou a (pre)(s)senti-lo, atrás do meu ombro esquerdo, e não posso deixar de esboçar um sorriso perante o seu olhar de aprovação! É verdade, a máquina a vapor do meu tractor, disfarçado de computador, deu lugar ao Ferrari dos meus sonhos, maçã prateada sobre fundo azul escuro, que repousa, tranquila e languidamente no meu colo, enquanto os meus dedos lhe afagam o teclado sem sequer pararem um segundo; que se publique com erros, quero lá saber! Maçã perfumada e suculenta, que acompanha a velocidade do meu pensamento, neste voo rasado que é a minha vida. Rasado, mas nunca de sonhos arrasados, porque todos eles se constroem no cimento das areias movediças de uma Praia onde fomos náufragos, afogados na apnea que nos rouba o ar dos sentidos, mas de onde trincamos os pedaços frescos e aromáticos, textura rija e ao mesmo tempo inovadora face, à moleza da podridão da Saudade. 

Blixen escreveu: "There was a farm in Africa, at the Foot of the Ngong Hills (...)" e eu continuo: "There was a Boy in Lisbon, the city of the Seven Hills"...

Muito lhe poderia dizer meu Filho, na torrente das palavras que me invadem. Mas é também no silêncio que comungamos, nessa Tranquilidade que só a noite nos dá, por entre essas e estas pedras frias, onde aquecemos os pés gelados, no Amor que entre ambos sentimos!

Meu Filho...tanto mas tanto que o sinto, que uma vez mais (lhe) agradeço o(s) Milagre(s) que me tem trazido, guardados numa cesta de pique-nique, salpicados por um Verão que - tal como prenunciei - foi épico, para me catapultar para um Outono dourado na suavidade da sua Luz. 

Meu Filho, seguimos. Gratos, e acima de tudo, mais apaziguados!

Mil beijos da sua Mãe que o adora,

Mami


P.S. O "rato" também é da família das Rosaceae! 


domingo, 24 de novembro de 2024

24.11.1995 - 24.11.2004 - Vinte e seis mais três (de cumplicidade, de Amor, de gratidão e de Saudade)

 



Meu adorado Filho,

Às dezanove horas e vinte e um minutos, há vinte e nove anos, vinte e seis da Terra, mais três do Céu, fui escolhida para viver um Milagre. O Milagre de ser Mãe, aquele estado de Graça infinito, que nos transforma, transcende e transmuta para um novo patamar da existência humana, abençoada com o toque do Divino.

Poder dar ao Mundo um novo Ser, nascido das nossas entranhas, alimentado durante tantos meses com Amor, mas também com tudo o que de melhor sai de nós, é um Milagre. E é nesse estado de Graça, que a nossa Vida sofre como que um salto quântico, uma reviravolta estonteante, numa angústia constante de preocupação desenfreada, aliada - sem medo - a uma Fé, de que a protecção divina recai sobre vocês, Filhos! E, submersas no positivismo dessa crença, entregamos.

E no auge desse crescimento, na maravilha do vosso desabrochar, eis que então, somos de novo escolhidas, e neste caso, para viver (ou morrer?) o pior de todos os sofrimentos do ser humano, no sacrifício sublime e derradeiro, na maior dor que se pode pensar sequer existir, num abstracto escondido no inimaginável, muito para além do que o ser humano pode ser capaz de aguentar, roubam-me o Substantivo ao Verbo. 

Porque escrevemos: SER MÃE! Porque Mãe é-se todos os dias, cada hora, cada minutos, cada segundo.

E mesmo quando nos roubam os nossos Filhos, nós não deixamos de o ser. Apenas passamos a ser obrigadas a senti-los num novo espaço, onde física- e brutalmente - nos foi espoliada a capacidade de os agarrar, abraçar, proteger, inspirando aquele calor que emana da sua pele macia, sempre com cheirinho a bebé, o nosso, que o assim será para sempre! Nós continuamos a ser Mães. Mas desta vez vez, Mães de um Filho do Céu. 

Eu sou Mãe. Serei sempre Mãe, nesse Milagre que me aconteceu, nessa Alquimia perfeita com que o Universo me abençoou. Sou uma Mãe que chorou e chora lágrimas infinitas, com uma ferida que jamais irá sarar, porque sangra a todos os segundos do dia. Sou também uma Mãe que agradece a dádiva de poder sorrir pelo seu Filho da Terra, e com ele se zangar, apaziguar, amar e sonhar, e rir a todos os segundos do dia.

MARTIM...hoje é o pior, e o melhor dia da(s) minha(s) Vida e vida. Hoje, há vinte e nove anos, vi-o nascer de mim, o meu primeiro Sonho, o meu Primogénito. Hoje, três anos depois, toda eu me desfaço num oceano de lágrimas salgadas, num mar de saudade!

Não lhe consigo continuar esta carta, não vejo as letras por entre o Choro que me embacia os olhos, num nevoeiro eterno, através do qual quero continuar a vislumbrar!

"So all choked up

That I ca't find the words"...


Mil beijos meu Filho e OBRIGADA...

pelo(s)  MILAGRE(S) que me trouxe! ;-)




sexta-feira, 1 de novembro de 2024

1.11.2024 - One Day plus 456 (Procrastinar, comer, viver, amar, trabalhar e...recordar!)

 



Meu adorado Martim,

Eu procrastino, nós procrastinamos, nesta preguiça procrastinadora, vórtice da vida que nos envolve ao seu ritmo alucinante, que nos arremessa e nos tira a noção do presente. Tenho-lhe escrito. Muito. Simplesmente não aqui, não me pergunte porquê, porque não lhe sei responder. 

Mas é, de facto, "aqui" que me sinto sempre tão Una consigo. Tão perto. E hoje, no mês que mais temo do calendário, neste mês em que celebramos os mortos, na(s) Vida(s) que já lá vão, nos sonhos desfeitos, nas esperanças bordadas a lã, no conforto do calor desta tão (nossa) querida Casa, é aqui que lhe escrevo. 

Nesta loucura (in)sana que foi o mês de Outubro com as suas e as nossas mudanças, as minhas conversas consigo foram mais sussurros quase mudos, porque enquanto o corpo trabalha, o espírito (d)escreve um murmúrio, uma prece, um desejo.

Martim...SINTO-O, como sempre. Menos, muito menos presente na proximidade, muito mais envolvente na distância, porque o Horizonte não tem fim. Encontrei fotografias. Desafiei o Destino. Chorei, ri, e sobretudo, vivo. Algo que jamais consideraria possível. Quantas vidas a Vida encerra? Nem vale a pena contar. São muitas.

Tenho de pôr aqui os textos que (lhe) escrevi neste hiato deste desiderato a que se chama acordar, amar, comer, trabalhar e dormir. Basicamente e "in a nutshell",  to live. To survive, to strive and to thrive. Seja lá o que é que ajuda a sublinhar o verbo (sobre)viver. 

Martim...1 de Novembro...daqui a vinte três dias celebra(re)mos o seu aniversário. O dia em que veio ao Mundo e me fez Mãe. E me transformou. É o mês mis difícil dos doze do calendário. O mais desafiante. É o prenúncio e o prelúdio do Advento, dessa época mágica, onde sentada nesta cantinho da sala, o vejo, ou revejo, ou vislumbro, por entre a névoa de um passado feliz, de camisola encarnada, e de bigode, a assar o perú, no que viria a ser o seu último Natal, um Natal em que fui tão feliz. Esta casa ou Casa? estica. E daqui a muito pouco tempo, iremos celebrar mais um. Mais um na minha existência, mais um sem si. Ou será MENOS? Não sei. Mas sinto a sua mão a enlaçar-me como há tantos milénios, nesta noite de alegria, cuja recordação em "Kodachrome"  me saltou - literalmente - para o colo. Estamos. somos. Vivemos!

Mil beijos da sua Mãe que o adora,


Mami

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

12.9.2024 - .One Day plus 405 - (de sinais, de desilusões, de verdades e de omissões)...Higher Love!

 



Meu adorado Filho,

Os números não são nada mais do que alvoradas e ocasos, que acontecem por acaso, nesta soma (in)completa do Àbaco dos meus dias. As contas são as mesmas, só muda o seu brilho, de acordo com a incandescência do sol, e a sombra escondida da lua quando em quarto crescente, abundância avizinhada, mas tímida e envergonhada, que só incandesce duas ou três noites por mês. Ah Lua marota, que me inspira na costura de baleias e ursos, novas formas de Dianas, porque o Mundo tem muitas facetas, e a intuição é tramada e há que espalhar Amor!

Quando no xadrez da Vida (ou será da vida?) algo não encaixa, nem que seja por um mísero átomo, a perfeição do Universo bate ao (des)compasso do nosso ritmo (des)compassado, coração implodido, inocência esviscerada, sobrevivência arrancada à vontade férrea de que(m) nunca desiste. A sorte protege os audazes. Ou os loucos. Ou os inteligentes. Ou os órfãos. De Filhos!

Mil beijos da sua Mãe que o adora e (lhe agradece uma vez mais!)

Mami!

terça-feira, 27 de agosto de 2024

27.8.2024 - One Day plus 389 - Amanhã vem o Sérgio pôr as portas da cozinha, ontem chorei de saudades suas até às três da manhã, hoje foi um dia BOM! (757!)

 



Meu adorado Filho,

Tantas pequenas, e conquanto enormes coisas formam o Tempo, que me pasmo a cada dia que passa.

Converso consigo vinte quatro horas por dia, vezes sessenta minutos, vezes tantos nanossegundos, que lhes perco a conta. Perco-me em tudo o que lhe sussurro, sobretudo quando mergulho nas águas mornas da Barragem, e oiço as cigarras a contar-me as suas histórias, num "cri-cri" que ecoa pelo campo, para se vir silenciar no colo calado do meu regaço emudecido pela saudade, enquanto o meu olhar repousa sobre o local onde empunhando gloriosamente um guarda-sol azul, porque nos tínhamos esquecido da base, e havia que proteger a sua Oma dos raios ultravioletas, você mirava as águas tépidas de Castelo de Bode e conversávamos. 

Olhei hoje de frente esses metros quadrados e recordei esse verão. A Foxie ainda era viva. O Mundo era diferente nesse tempo, que eu pensava intemporal. Foram tempos diferentes, felizes, mas diametralmente opostos. 

E nestes anos que medeiam esses tempos, Tempos ou temporadas, decidi que seria em dois mil e vinte e quatro que iria mudar as portas da cozinha. Desde Abril que andamos nisto, e amanhã - finalmente - vem o Sérgio. Já nem me lembro bem da cor que escolhi, sei que era um branco marfim, a atirar para o pérola claro, assim numa tonalidade que se parece com clara de ovo, a fazer "pendant" com os azulejos da cozinha. Amanhã, ou melhor, daqui a umas horas, vou ver como fica. Estou curiosa. Já perdi a "ansiedade", essa já nem sei o que significa, depois da viagem que fiz envolta numa prece para que o visse ainda com uma réstia de vida (humana), e o Universo concedeu-me essa Graça, como tal, estou - apenas - curiosa. 

Ontem chorei como há muitos meses não o fazia. Não sei porquê, mas abri as torrentes do meu coração, as comportas da minha emoção, na barragem que é o meu quotidiano, e dei largas ao oceano de sal que me invadiu, deixando fluir. E nesse naufrágio, nessa tempestade perfeita, uns (a)braços fortes me enlaçaram e comigo choraram a dor da falta, esse abismo sem fim, onde nunca se alcança o chão, porque infelizmente ele não existe, e nos vemos mergulhados numa apneia que nos rouba o fôlego. E foi nesse(s) (a)braço(s) que me afoguei.

Martim...tenho-lhe escrito não apenas aqui, mas também por "aí", porque a forma como converso consigo é sempre a mesma, é a linguagem do coração. Nestes últimos dias tenho sentido a sua falta de uma forma incrivelmente formidável na sua magnitude, algo de transcendente na sua intensidade, que - uma vez mais - me rasga as entranhas. Não sei se é porque finalmente posso sonhar, ou porque me sinta a viver de novo, se seja por ver as minhas preces atendidas, conquanto por outro lado, o Universo me mande uns sinais de dor, seja porque razão for, sinto a sua falta com a mesma saudade como há dois anos e vinte e cinco dias atrás, SETECENTOS E CINQUENTA E SETE DIAS de conversas constantes, de tantos, mas tantos soluços partilhados, daqueles mesmo guturais como só uma Mãe pode arfar, na maior dor que se pode imaginar, que lhes perdi a conta! Mas também de sorrisos, porque há tanto para fazer aqui, e depois do sofrimento atroz, essa mesma vida decidiu - finalmente - ser meiga, numa carícia suave, num repouso merecido, num descanso de Alma extenuada, exausta, exaurida de tanto sofrer. 

Na Paz do dia de hoje, ou de ontem, porque já é de madrugada, uma borboleta branca brincou diante do meu olhar, pousado na suavidade do verde alagado da paisagem. E os meus pensamentos voaram para aquele dia de Verão, e para o Inverno que se seguiu, e para mais um Verão, e para mais um Inverno e para mais um Verão. E nesse Verão pararam porque a minha vida se desfragmentou. E foi desses cacos, desses estilhaços, que decidi que iria tentar formar alguma coisa que contivesse vida. E é nos braços dessa decisão que repouso os meus soluços e encontro alguma da Paz que tanto preciso!

Mil beijos meu Filho, da sua Mãe que o adora,

Mami!


sábado, 10 de agosto de 2024

10.08.2024 - One Day plus 372 - quando começamos a perder a conta aos dias...(739 dias depois!)

 




Meu adorado Martim,


Uma Mãe nunca perde a conta aos dias, porque contar os dias (de Saudade) faz parte de um coração de Mãe em perpétuo desgosto. Mas quando reparamos que já temos que fazer algumas contas, entendemos que essa contabilidade tem um grande significado. Quer dizer que começamos a integrar o Luto. O Luto mais cruel que alguma vez se pode vivenciar.

Integrar o Luto não é fácil, porque representa a aceitação de uma aberração da realidade, transportando-nos para um Mundo transtornado, espiral de pensamentos magoados por emoções defraudadas, e perdidos nessa dor, o que queremos é negá-la, como se ela não existisse. Ou como se ela tivesse ficado no passado. Ou nunca tivesse existido. Na loucura do que foi tudo por que passei, cheguei a questionar se seria mesmo sua Mãe ou tudo não tivesse passado de um sonho. Percebi, e corroborei com os dois Anjos que me seguem, Fátima, como a Nossa Senhora, e Ana (Carolina) como eu, que também isso faz parte do processo de integração da aberração.  Penso que ao transpormo-nos para o presente, aceitando essa mesma dor como parte do nosso quotidiano, mas falando sempre abertamente sobre ela, conseguimos que ela comece a parecer uma parte de nós. E ao ser uma parte de nós, é como se ela tivesse sempre existido nesta nova vida. O tempo ganha toda uma nova dimensão. 

É um dos temas que gostava de debater com outros pais órfãos de filhos: se de repente o tempo tivesse um Tempo muito próprio, como se tivéssemos vividos várias vidas. Quando me olho ao espelho, quando passeio pelo campo ou discuto os meus ideais, quando faço planos de decoração interior, quando sonho, quando projecto, sinto-me como se tivesse quarenta anos. Quando penso na sua morte, e nos últimos dois anos e em tudo o que (me) aconteceu, sinto-me Matusalém. Tenho mil anos em cima, e muitas, muitas vidas. Mas tive (ou tenho?) a sorte de ser feliz, neste meu novo conceito de Felicidade. Depois de perdermos um filho, cada dia em que não choramos é um fenómeno, e cada dia em que temos a sorte de poder fazer planos para o futuro, é um milagre, porque somente os afectos sem limites nos conseguem, de alguma forma, sarar, e esses são raros. Ou se calhar estão guardados para aqueles que aprendem a muito custo que é na Alegria de um por do sol que se encontra a Felicidade quando mais nada nos resta para nos manter à tona no oceano das emoções roubadas, e a partir daí, dá-se a epifania, ou a soma do Todo, e esbarramos com "happenings" que nos alteram para sempre a Vida, e agora pela positiva! O Tempo ganha um novo fôlego intemporal, quando vivemos em dois meses mais do que em duas décadas, e cada dia, em Paz! 80 dias dão para muita coisa. Até para a Volta ao Mundo...e não me refiro apenas à obra de Júlio Verne. Voltar ao Mundo significa querer viver. E querer viver é, para quem perdeu um filho, integrar o Luto. 

Será isso uma dissociação de personalidade, numa vã tentativa de alguma coisa? Não sei, mas não me parece. Parece-me que significa que começamos a interiorizar. E a integrar. E de alguma forma inexplicável, abraçamos a Vida de novo. É "uncharted territory" que pisamos, vivemos entre o "trial & error" e o "gut feeling". Mas se vivermos sem medo, cada dia com o coração nas mãos e Fé no Universo, dando Graças pelo que a Vida nos dá, percebemos que tivemos sorte. Por conseguir essa integração. Por termos pessoas maravilhosas a cruzarem o nosso tempo e espaço. Por finalmente conseguirmos viver em paz, deixando que a Paz se instale no nosso coração!

Estamos vivos...pelos (nossos) Vivos, enquanto carregamos os nossos Mortos para sempre em cada batimento do nosso coração!

(e escrevemos, pela primeira vez, a palavra com maiúscula!)

Mil beijos da sua Mãe que o adora,

Mami


segunda-feira, 5 de agosto de 2024

05.08.2024 - One Day plus 367 (um ano bissexto mais aquele dia roubado à Eternidade...) ON GOLDEN POND!





- "Mimi trazes-me a mantinha?"

- "Claro Bé, aconchega-te à suavidade da lã, nos retalhos costurados nos remendos das nossas Vidas, não te quero com frio neste calor estival!" - Bababu, não dramatizes. Estamos velhos! Querias o quê?" - "Nada! Estava Mendiga, vazia, ferida, e sobretudo, magoada. As nódoas negras da Alma, sabes?(...e agora estou a suar nestes trinta e sete graus Celsius!)" - "Acho que sim, também trago algumas..." - "Bé?" - "Sim Bababu?" - "És LEVEZA!"

domingo, 4 de agosto de 2024

03.08.2024 - One Day plus two (too long) years e três casamentos depois!

 



Meu adorado Filho,


Se "amanhã é longe demais", ontem foi doloroso demais, e, contudo, tão doce e gratificante sob todos os aspectos! Ontem revivi todos os minutos de angústia, de tristeza e de despedida que aconteceram há dois anos. A minha memória vagueou por entre labirintos terríveis de recordações que procuro esquecer, enquanto faço um esforço hercúleo por não as reviver.

Mas não estive só! Visitar o jazigo com "alguém" que me seca as lágrimas, e encerra em si a compreensão da minha dor e do meu sofrimento, num abraço que me envolve e apazigua, num entendimento e comunhão plenos da minha essência e num respeito pela minha Saudade, foi gratificante, tal como entrar na igreja onde fiz a Primeira Comunhão e o Crisma o foi, como o foi ter tantos amigos e também a família presentes. Filho, foi tão bom (re)encontrar alguns dos meus, nossos Épicos, bem como Amigos, assim como poder ler a Primeira Leitura.

Este ramo, que repousa sobre a Pomba do seu Altar, foi feito pela Tia Paula. Tem uma medalhinha presa, numa fita verde de veludo suave como a Esperança! Uma prece, uma oração, uma ode à Vida, que ela me deu ontem, enquanto me estreitava num enorme xi coração. Foi bom Tim...

...está a ser bom Tim; aprender que, quando entendemos e interiorizamos de que nada é nosso, o Nada perde toda a sua importância perante o Tudo, aquele que nos embala numa história de encantar, como as que o Pai e eu lhe liamos enquanto criança.

Ontem foi duro para caraças Tim! Muito muito duro! Acho que em trezentos e sessenta e cinco, mais um nos anos bissextos, é o PIOR dia. Aquele que pedimos todos os dias para nunca viver. Mas que a alguns de nós o Universo escolheu, porque nos quis dar o privilégio de sermos pais de Anjos. 

Sabe o que me disseram há uns dias Tim? Só me apeteceu fugir...

- "O tema é pesado, e as pessoas não querem ler sobre isso!" 

Mas o que é isto? Será o Luto alguma vez leve? NÃO! O Luto pesa toneladas, quilos e quilos, que nos aniquilam, numa balança sem fiel, porque para sempre injusta! E quem não está connosco neste desgosto, nunca esteve nem estará! Quem não que ler, é livre nas suas escolhas!

Mas é possível encontrar, nesse mesmo Luto, a suavidade da LEVEZA! 

A LEVEZA está em aceitar os SERES especiais (ou será espaciais, porque - de alguma forma - divinos?) que nos atropelam nas curvas da vida, e nos embalam, enquanto nos (e)levam num vôo rasado, "Highway to a Danger Zone", com Tom Cruise aos comandos de um caça, como às águias que pairam no horizonte deste Campo que eu amo? Filho...

Sobre três casamentos poderia eu escrever um romance, de Cinderelas e Príncipes, e nesses casamentos, ver reflectida a minha história recente...tão inverosímil como mágica.

Dois meses e uns dias dessa história, dois anos e uns dias deste drama, aqui estamos a celebrar a Alegria. De quê? Não sei. Talvez de muitas coisas, grandes e pequenas, abraços sentidos e partilhados  em tréguas celebradas entre famílias divididas, mas unidas pelo Mágico!

Esta casa tem Magia: uma Energia única, encantada, enfeitiçada por uma Fonte Férrea, onde levo a beber aqueles que amo, ou quero amar, que pretendo fixar aqui, neste lugar, neste momento, neste agora, no presente, dádiva deste dia, depois de um ontem tão desafiante?

Tim...

...fiz Chutney de tomate, deu "apenas" dois míseros frascos, depois de três horas ao lume!

Adoro-te meu Amor!

Mil beijos estivais,

Mami




domingo, 28 de julho de 2024

28.7.2024 - One Day plus 359 - Para si Martim, para Mim, para os “Outros”, para Todos…as Linhas da Saudade!





Meu adorado Martim,


À medida que o dia dois de Agosto se aproxima, a minha saudade aumenta. Sendo um ser racional, sei, que da forma como existiu durante vinte e seis anos, já não volta, mas as saudades do seu corpo físico, da sua voz, e sobretudo dos abraços que me dava, do toque e do cheirinho suave da sua pele, são e continuam imensas. Para os comuns dos felizes mortais, o Luto por um Filho é algo de incompreensível, e de “fácil” gestão nos conselhos que querem dar - alguns até impingir -  mas para quem sente e sofre na Alma uma perda inenarrável como esta, para quem continua a ser Mãe de um filho que morreu no auge da sua Vida e sem qualquer culpa, para quem a vida foi implodida de um segundo para o outro, a Saudade torna-se uma companheira constante.


Sejamos honestos, é muito difícil (sobre)viver para ver o desenrolar do Futuro enquanto se torna Presente, os seus amigos a casar, os dramas quotidianos a acontecer, os netos dos nossos amigos a nascer, enquanto nós choramos na Terra por quem agora habita no Céu. A pressão da Sociedade é de uma dimensão de tal forma cruel, que inimaginável, e só nós, que fomos forçados a (con)viver com esta mágoa e esta tristeza, conseguimos abarcar o peso da dimensão da mesma. Procuramos formas de mitigar esta dor imensurável, de tornar a passagem neste Tempo e neste Espaço mais suportável, mas NINGUÉM consegue imaginar a quanto custo. Quem tem a sorte de aprender a alegrar-se das pequeníssimas coisas do dia-a-dia, de um quotidiano que mais parece uma existência surreal, consegue (sobre)viver, mas no entanto a nossa Alma transporta em si uma ferida que não tem cura, uma chaga permanente, um sangrar diário, um rasgo rasgado nas e às entranhas como que por bisturi afiado!


Que saudades meu Amor querido, que falta que me faz. Que tanta coisa vivi, sofri e sobrevivi entretanto, nestes quase dois anos, como se de várias existências se tratasse. Acho que os Pais que perdem Filhos vivem num Tempo e num Espaço que não é nem presente (e real), mas (n)um limbo temporal e surreal, irreal na sua magnitude, não presencial nas formas (esotéricas) que encontramos para comunicar.


Não há palavras para descrever a minha dor, nem a minha saudade, e muito menos para contar tudo o que vai na minha cabeça, e cá bem dentro de mim, perto das entranhas que o alimentaram e lhe deram a Vida, a sua, tão breve, e contudo, com tanto significado - PASSAGEM! 


Martim…que sonho tão breve, tão maravilhoso que me foi tirado!


E (des)enganem-se os “Outros”, porque não escrevo para vocês: escrevo, em primeiro lugar, para o meu Filho do Céu, aquele Anjo de que o Universo precisava para contrabalançar esta merda toda, e que (in)felizmente foi o meu o Escolhido. 


Em segundo lugar escrevo para mim, para conseguir manter as curvas da linha da (in)sanidade, a que é necessária para que os “Outros” se sintam confortáveis em me manter no seu seio, sempre tão regrado pelas conveniências, pelos egoísmos dos vossos desabafos de meras “trivialidades”, que não são nada a comparar com o meu drama! Por muitas dores de cabeça que tenham, os vossos continuam cá. Se é melhor ou pior não me cabe julgar, mas pelo menos conseguem ouvir a sua voz, abraçar o seu corpo e rirem com o sorriso deles. 

Eu lembro-me do meu - embora tente todos os dias esquecer - num sofrimento atroz, numa agonia sem definição, ele, no auge da Vida, cheio de sonhos e de planos, e com um rosto imaculado! 

Sabem o que me persegue ainda hoje, dois anos depois? Não ter tido a coragem de lhe afagar as mãos, numa cobardia de mãe perante o corpo desfeito do filho. Sim, afaguei-lhe a testa, em doces carícias maternais, leves como a pena de um pássaro, com receio de magoar, ainda mais, aquele corpo martirizado. Aquele inocente que a incúria de um animal resolveu fazer vítima, e que lutou até ao fim. 

Beijei-lhe o cabelo, o rosto - já na altura gelado, numa antecipação da morte iminente - fiz-lhe o sinal da cruz e entreguei-o ao Universo, num grito inaudível porque emudecido por tanta dor, num desgosto terrivelmente antecipado, numa mágoa sem precedentes, numa aparvalhação perante o inconcebível e pedi a Deus que o levasse! Que o libertasse dessa agonia e o fizesse Anjo, concedendo-lhe assim, para além da Vida Eterna, a Imortalidade de quem salva os Outros!


E em terceiro escrevo para todos vocês, todos os que são como eu, que, de uma forma ou de outra, seja ela de doença ou de acidente, propositada- ou inusitadamente, se veem no mesmo lugar que o Universo me obrigou a ver. Nós precisamos de VOZ, de termos a coragem e a sabedoria de vomitarmos para o Mundo tudo aquilo que sentimos, para que finalmente a Sociedade aprenda e perceba que, felizmente que não sendo Lobbie - porque em número “reduzido” - somos os Pais de Filhos roubados, de sonhos desfeitos, de Vidas implodidas, transformadas em vidas, às quais procuramos dar o significado da maiùscula a cada dia que passa, mas que são tão raros, que em dois anos se contam pelos dedos de uma mão, e merecemos um tratamento e um respeito social que nos é mais do que  devido.


É um tema sensível? É! Mas é forçosamente também um tema social, que - (in)felizmente pelo seu reduzido número - não é político. Mas que deveria ser: A morte de um Filho é pior do que um cancro, porque não tem cura, nem esperança da mesma. Não existe nada depois disso, porque esse Filho não volta. Ele continua a viver dentro de nós, e que, para alguns felizardos e abençoados - nos quais me incluo -  se manfesta nas e das mais diversas formas, mas para a maioria é o buraco negro do Infinito da Saudade que e se abre e (n)os engole. 


Hoje, na simplicidade deste Campo que me acolheu há tantas Luas, o vizinho bateu-me à porta, para me vender aquele mel único, das abelhas da família, nestas trocas fabulosas que só o campo nos proporciona. Comprei muito mais do que precisava, para agilizar os trocos e honrar um Portugal que ainda teima em existir! E durante a conversa, que mais parecia Vasco Santana a negociar as bolachas Maria e as línguas de gato no “Páteo das Cantigas”, com um frasco de mel numa mão, e a outra a limpar as lágrimas dos olhos, me confessou:


“Também lá tenho uma Menina, que me foi roubada tinha dois aninhos”. 

E no olhar deste homem, bem mais velho do que eu e com várias décadas de Luto em cima, lê-se o mesmo Desgosto, a mesma raiva oferecida para colmatar o próprio sentimento, a mesma Mágoa e a mesma Paz que se lê no meu. O meu, onde tudo (d)escreve as Linhas da Saudade!


Meu Filho…é no Luto e pelo Luto que não podemos deixar de Escrever de de Sonhar a Esperança!


Mil beijos da sua Mãe que o adora,


Mami


P.S. 
"How cold
Empty the silence that we both know

Weeds ourgrown
we suffer in quiet from wasted storms.

(...)

My pain
Your home
I keep it buried here in my lungs
Our ghosts
So heavy

My skin
Your bones
One touch and you turn me
right into stone
I'll hold
Will you let me"

(o "nosso" DOTAN)

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Sem data (17.7.2024) - One Day plus... All or Nothing!





Meu adorado Filho,

Sabe quando se acaba de escrever um (ou o?) AQUELE texto perfeito, mas como se é estupidamente preguiçosa, numa presunção desmesurada, e se considera, que é mesmo em directo e sem filtros que se escreve e se descreve  um dia perfeito, e de repente, "e tudo a net levou?" O seu melhor texto, escrito na inspiração da descrição, esculpido na escultura de um dia que começou (im)perfeito, e que nessa perfeição aperfeiçoada atingiu o seu ocaso, nunca por acaso, num pôr-do-sol morno de um Verão épico? 

Sou tão burra que espelho a Alma em directo, numa confiança nunca guardada, mas (para) sempre aguardada, que me faz arriscar tudo (o que escrevo, sobre o que sinto), neste sentimento que é Saudade, mas agora também Alegria, numa Coragem nunca antes vista!

Tanto que tenho vivido, que poderia escrever um livro, uma história ÉPICA, sob fundo verde escuro, tal como as zonas mais profundas da Barragem, que contêm as águas choradas nas curvas e contracurvas do meu coração, enquanto se passa pela paisagem a cem à hora, sentados no lado do morto da Vida celebrada dentro de um Mazda, onde o Riso se sobrepõe à tristeza das lágrimas, mas a Saudade é chorada com a Honestidade genuína de quem celebra!

Filho...

...no silêncio da minha prece me recolho, num pedido remetido em confissão, a que ouso querer para mim, porque a vida é toda ela uma Metáfora, personificada na onomatopeia sussurrada numa gramática cujo léxico não faz sentido?

Martim...quase dois anos (menos uns dias), e nesse tempo sem Tempo no Céu, mas em contratempo na Terra, tanto mas tanto acontece(u)!

De quantas Figuras de Estilo se faz um Texto perfeito, esculpido na imperfeição da Existência?

Não sei!

Mil beijos da sua Mãe que o adora,

Mami



sexta-feira, 5 de julho de 2024

05.07.2024 - One Day plus 336...sobre a (V)ida compartimentada, crónica de uma morte anunciada, e do Tempo desfragmentado...food for thought!

 



Meu adorado Filho,

Nem sei por onde começar, talvez devesse ser este o meu (o nosso) livro! 

Daria um romance em - pelo menos - três tomos, ficaríamos ricos! Mas nem sei bem se seria esse o prólogo, porque o último diria algo assim: 

- " Há mil anos, tempo (in)temporal, onde o relógio não tem ponteiros, fui Mãe." 

E daí começaria a delinear um percurso, ora rastejando, ora dançando pelas memórias do meu cérebro, órgão que se tornou autónomo, num plano que engloba tanto a Terra, como o Céu (aquele que não pode esperar!), numa miríade, puzzle (in)completo, mal (d)escrito, de tudo o que fui e do Todo que sou!

 Martim...recordo como se fosse hoje a última vez que o estreitei contra mim, pele com pele, num Abraço que se adivinhava já Sonho! Meu Filho querido, tanta emoção que me assola, num casamento celebrado, festejado e vivido, com a sua presença, que já antecipo e adivinho entre nós! Vai ser ÉPICO, e dou por mim envolta na veleidade , vaidade celebrada e indevidamente vivida, na antecipação que sempre nos caracterizou na nossa ânsia de VIVER!

Meu Filho, do coração lhe agradeco o sorriso que me desenha no rosto cansado, mas sempre com os cantos para cima, porque é neste sorriso que sacrifico e sacrifiquei tanto, tanta emoção, tanto carinho, tanto Amor!

Com...Alegria...da sua Mãe que o ama hoje e sempre,

Mami

quarta-feira, 12 de junho de 2024

12.6.2924 - One Day plus 313 - A Extensão da minha Alma..."There must have been an Angel by my side (...)"

 



Meu adorado Filho,

Mais uma noite de insónia...

...não estamos curados de um luto que nos acompanha, embora agora polvilhado de muitos e vários sorrisos, em número cada vez maior, num aqui e ali, no carinho partilhado de um presente que se quer dádiva, onde as feridas são apaziguadas a cada momento que se vive neste campo primaveril, ressoa(n)do no eco (d)as gargalhadas de uma Leveza que se quer Milagre.

A Vida e a vida, seguidas da Vida, tão efémera conquanto feliz, onde procrastinamos uma realidade da qual não fazemos ideia, mas que também não interessa, porque é na Gratidão universal que a sentimos e celebramos, nesta dádiva universal que se quer festejada no Aqui e no Agora.

Meu Filho, tanto que eu poderia escrever, contar, relatar, resumir num hiato de tempo, onde o Tempo não tem tempo para se preocupar, porque o que interessa é viver e celebrar a alegria da dádiva do presente do indicativo, embora se sonhe um futuro, sobre o qual se assentam sonhos e se constroem "amanhãs"! 

Martim, a Terra cheira a Hermés, perfume de um campo deslumbrante na envolvência de todos os sentidos, na família Von Trapp dos Trouxas, os que se celebram e se vivem, sem medo e com a crença inabalável de que o amanhã nunca será em demasia, porque quando vivido e vivenciado, experienciado em cada ocaso, onde o dia seguinte nasce ao som dos sinos da Igreja, num paraíso escondido e protegido, no qual a gratidão brota em cada suspiro arrancado à saudade, lágrimas beijadas que se transformam em sorrisos  - os meus - será sempre um amanhã de Esperança!

Que viagem meu Amor, que Caminho, Santigo de uma Compostela que sendo missa ou celebração, numa estrada de curvas e contra-curvas, é para sempre a recordação de um coração de Mãe, batimento descompassado, cosido e traça(n)do (n)um Amor e (n)uma Crença inabaláveis de que existe e existirá sempre a Esperança!

Mil Vidas? Hmmmmm...discordo. Infinitas: tantas, quantas recordações abandonadas, deixadas para trás em fragmentos implodidos nas noites em que o sono não vem. Hoje, o sono tem um ritmo, uma respiração, uma pele, um sentido e um sentimento. Um presente e um passado, desenhado em mil passos, dançados e consagrados às doces memórias, e, simultaneamente, às suaves vivências onde se misturam os aromas da cozinha, pratos confeccionados com amor e com doçura!

Haverá pais celestiais, conquanto terrenos? Existirá, algures no (meu) tempo, um cruzar de Caminhos, de Personagens, a do Pai e a do Filho, porque o Espírito Santo desceu sobre mim, mera pecadora terrena e humana e resolveu abençoar-me com o (In)Esperado?

Não sei. 

Não quero saber.

Sei que foram (ou são?) quase dois anos de lágrimas, de perdas, de desesperos, mas uma coisa é certa, transcrita por Saint Exupéry, e talvez mesmo por Robert Frost:

- "Toi, tu auras des Étoiles, comme personne n'en a"...

...e porque finalmente, estamos prontos para palmilhar "The Road not Taken.", porque há estradas que nos levam não sabemos onde, mas que de alguma forma, nos conduzem ao Céu.

Ah meu Filho, se eu (d)escrevesse (n)um livro (d)estes meus dois anos, diário inacabado, rabiscado e rasurado, seria certamente um best-seller, mas os pormenores, as nuances, as sombras desenhadas em cascata(s) de um penedo furado, traçariam para sempre o número dos passos que a rastejar, sempre tentei levar a dançar.

Gosto tanto, mas tanto de si meu Filho! Nesta sua dádiva para comigo, só tenho uma palavra, ou talvez duas:

Amor, obrigada! Ou talvez, Obrigada (pelo) Amor. Ou ainda Obrigada meu Amor. Minha Vida, minha Ressurreição, meu ontem, meu hoje, meu amanhã.

Minha Saudade, e, conquanto, minha Gratidão. Minha Alegria. 

Martim...

...Von Trapp, aka Trouxa, aka, a Vida é um Milagre, neste milagre que é a Vida, outrora vida, e antes Vida, finalmente com maiúscula, que finalmente reencontrámos!

Com todo o Amor da sua Mãe que o adora, 

Mami







sexta-feira, 7 de junho de 2024

6.6.2024 - One Day plus 307 - We will always have Barcelona! (And it feels like summer!)

 



Meu Filho adorado,

De quanta saudade se constroem as memórias? Será quantificável a SAUDADE?

Aquelas viagens a um passado (ainda tão recente), onde fomos tão felizes? As semelhanças facilitam imensamente a (con)vivência, porque é nesse desiderato que tudo se constrói, ou, pelo menos, onde tudo assenta. E nós éramos tão cúmplices, tão amigos, tão parecidos nesta nossa essência do tudo ou do nada! A intensidade avassaladora que nos caracteriza, na Luz que ambos buscamos incessantemente e que você alcançou, num sacrifício que jamais deveria ter sido seu! Deveria ter sido o meu, nesta busca sem tréguas, por um amanhã diferente!

Meu Amor, em recordações, ou nas lembranças de uma Vida que aconteceu há mil vidas, afaguei o seu rosto perfeito, essa onda lindíssima do seu cabelo e encomendei-o ao Universo, envolta pela dor MAIOR! Ou a MAIOR dor que alguma vez alguém pode sentir. Ninguém pode imaginar o que sofri, e o que sofro, e como trato por "tu" a palavra Saudade, sempre, sempre com maiúscula.

De como - ainda hoje - recordo essa nossa última noite juntos, esse presságio de uma catástrofe que dentro do meu ser se adivinhava e que eu tentava ignorar? 

Martim...

Juntos conquistámos Barça, vencemos o medo das baratas (bom, sobre isso ainda temos que conversar ambos em noites de vigília no "Covil"), e aqui estamos...sempre, sempre, e para sempre juntos, de peito aberto e coração às balas, num presente que ser quer dádiva!

Tim, meu Filho adorado, minha Vida, meu Amor, minha Saudade, minha Entrega, meu Hoje e Sempre, (para sempre), num Amanhã que me foi roubado, e agora, de alguma forma (im)perfeita, devolvido na Esperança, traduzida num desfrutar de um dia de cada vez...porque quem perdeu o Tudo, não faz co tas, aritmética assimétrica, na prova dos nove que se quer, de alguma forma, capícua!

Meu FILHO, minha Vida, meu Amor...

...TANTO, mas tanto Amor para dar...

Da sua Mãe que o adora, (e o chora todos os dias, hoje e sempre), num sorriso esculpido por si,

Mami! 



domingo, 2 de junho de 2024

02.06.2024 - One Day plus 303 - "Picture Postcards"

 



Meu adorado Filho,

Como descrever o perfume a Terre d´Hermés na simplicidade do campo primaveril? 

Haverá palavras para isso? Não sei. Sei ver as cores da Urze, da magnitude do espectro do seu roxo, dividido por mil tonalidades de púrpura brilhante, debaixo do sol incandescente de um fim de tarde tórrido, ao encarnado das Papoilas, passando pelo amarelo da Giestas, e de tantas outras tonalidades que me invadem os sentidos, seja o do olfacto, seja o da visão. Há um Todo que se assemelha ao Tudo, nestas noites de um campo despojado de pretensão, na simplicidade plena, onde as Estrelas brilham tão fortemente, que me toldam a visão!

Martim...haverá palavras que descrevam a Paz, aquela que se sente debaixo da Oliveira do Mouchão, ou na simples contemplação das e nas margens do Tejo, as que banham Alvega, num (re)encontro do Pleno, vivido na Plenitude da simplicidade do Nada, aquele momento em que viver é simplesmente o deixar baloiçar a Alma ao sabor da brisa morna que me acaricia a pele, enquanto ao longe vejo o ninho das cegonhas que alimentam os seus filhos?

Não consigo transpor em - ou será colocar por? - palavras, o enredo de um filme que me marcou a juventude: "Love - Love means never having to say you're sorry", ou, como diria Saint Exupéry, "les yeaux sont aveugles, il faut chercher avec le coeur", aquele músculo que desobedece a toda a razão, para (sobre)viver, num batimento descompassado, passo doble desafinado a "uma razão, que a razão desconhece"?

Martim...será dos filmes de que são feitos os sonhos, ou será dos sonhos que se faz um filme feito de sonho? Ambas as prerrogativas são válidas, na (in)sanidade de que é feita a existência da loucura! Meu Filho, tão perto de mim, tantos dias depois, tantas lágrimas choradas e agora, tantos sorrisos desenhados, rabiscados, rasurados a tinta permanente, azul "royal" Mont Blanc, "we're flying above", como a cegonha que hoje, em voo rasado, se lançava do ninho, para mergulhar neste Tejo raso, maré baixa da mágoa, numa maré alta da Alegria, debaixo de um azul celestial tão aberto quanto confiante, do qual passei de Mendiga a Princesa?

De quantas mil vidas, vividas e vivenciadas, é feita a Vida, num passado do qual se faz futuro, num presente do qual se celebra dádiva? Não sei precisar, nesta minha falta de jeito para os números, porque o Amor e a Saudade - intrinsecamente enlaçados um no outro - não são quantificáveis! 

Martim...de volta à simplicidade do Amor numa Casinha simples, ou ao Amor na Simplicidade de uma Casa pacífica e pacificada, tranquila nas suas memórias de mil Vidas enclausuradas no meu coração de Mãe, aqui continuo, nesta minha tão amada Casa, neste "coming home", tão estranho quanto avassalador, neste simples Campo ao qual aprendi a pertencer!

De coração aberto e de peito às balas, na Gratidão universal de quem entende o Cosmos, e com ele se funde, num abraço genuíno de um Amor que se quer único, aqui estou!

Filho meu...a quietude do perdão não é para todos, mas fica com aqueles que sem o medo, arrepiado no receio do pavor da falta, se entregam, na totalidade transcendente da confiança da e de uma música que se quer tocada, aflorada, cantada e escrita numa voz rouca, rasgada às entranhas, arrancada aos acordes de uma gitarra!

Filho...mais um Significado no seu Altar, Astronauta com o seu "petit-nom", mais mil gestos de carinho, que embalam a luz da vela que lhe acendo todas as noites, neste meu Amor sem fim, nesta minha Saudade indescritível, nesta minha Alegria campestre e nesta minha Esperança de que o Sonho seja vivido na realidade de um presente que eu espero futuro!

Filho...

...MARTIM...

...dava a vida para voltar a abraçar esse seu peito macio, que me envolvia os medos enquanto os apaziguava, na Aventura que foi ser sua Mãe, numa Quimera, que por tão breves anos foi Felicidade, a que me roubaram e que agora o Universo transpõe para o filme do quotidiano, ou será o quotidiano de um Filme? 

A Coragem (e não a sorte) protege os audazes!

Mil beijos da sua Mãe que o adora,

Mami!








sábado, 25 de maio de 2024

25.05.2024 (=11!) - One Day Plus 296 - Sobre Von Trapps e Trouxas (d)escritos a tinta permanente!

 



Meu adorado Filho,

Desta vez não dá o "nosso" número, mas dá o "meu número", aquele que marca aquela que foi a viragem na viagem da minha Vida, a da antiga, claro, a da nossa, quando você ainda era corpo físico. Quando eu me podia afundar nesse seu abraço, perder-me nesse peito e sentir o milagre de o ter dado à luz. A Vida que vivi há mil anos.

Aprendi depois e a muito custo a celebrar, não a tristeza de o ter perdido fisicamente, mas a festejar a felicidade e o milagre que me foram concedidos de o aprender a sentir enquanto ser espiritual. Tal como uma cega, por entre as infinitas lágrimas que me brotaram dos olhos em mil e uma noites de insónia, aprendi a tacteá-lo em "Braille", e aos poucos, mas com uma certeza cada vez maior, consegui com clareza, interpretar a leitura da sua presença e a felicidade que senti ao realizar o facto de que, se eu ouvisse o meu coração, e deixasse que nele vivesse apenas AMOR, o mesmo iria superar a dor. 

Vivi, no último ano e nove meses, a maior dor que se pode suportar. E mesmo assim, o Universo pôs-me mais e mais e mais, e ainda por mais uma vez à prova, até me encontrar totalmente nua, desprovida de qualquer coisa, e de pensar:

- "Caramba, mais uma? Será que o Universo me quer enlouquecer de vez?"

Foi tão difícil meu Amor, tão, mas tão difícil. Mas a minha Fé e a minha Crença não me deixaram e entreguei-me nas suas queridas mãos. Porque quem perde um Filho, sabe que ele agora é Anjo - e o Céu precisa tanto deles! - e os Anjos protegem os Seus. Quem melhor do que você, minha Vida, minha Eternidade, para me proteger? E nos piores e mais negros tempos da minha vida, eu não desisti e pedi-lhe que a sua mão me amparasse.

Cheguei com os pés em sangue, em carne viva, em chaga, cheguei a rastejar, mas cheguei! E cá estamos nós. Na Casa do Amor, num largo caiado, empedrado de seixos, onde as velhinhas espreitam à janela tudo aquilo que fazemos, e as flores do canteiro baloiçam ao sabor da brisa de um final de tarde de Maio.

Chegámos à Vida, ou talvez tenha sido a Vida que chegou até nós, guiada pelas suas mãos, numa paz e numa tranquilidade onde só se sente e se vive Amor.

Meu Filho, há tanta coisa bela para ver e desfrutar, nestes degraus de pedra com o rio ao fundo, bordeado do verde dos campos, neste sol ainda primaveril que teima vagarosamente em alongar, a cada dia mais, aquelas tardes preguiçosas, em que toda eu sou sensação, num pleonasmo sensorial que me rouba os sentidos, pela intensidade com que cai sobre mim e me transporta para outra dimensão. 

Martim, meu Amor, obrigada por TUDO, por este TUDO que me trouxe! Que aprendizagem! que Caminhada! Mas caminho, e no meu Caminho, agora sim, sei que sou:

Peregrina e Princesa, Mendiga e Rainha, Senhora e Menina, e sempre, sempre MÃE, (e começo, finalmente, a "SER HumAna")! 

Mil beijos da sua Mãe que o adora,

Mami



P.S. Danke mein Schatz, meine Maus! 


quinta-feira, 25 de abril de 2024

25.4.2024 - One Day plus 266 - (Still about) the Intrepids, the Freedom Lovers, the Crazy Ones...

 



Ahhh meu adorado Filho,

Que DELÍCIA! 

Está tão, mas tão perto de mim e obrigada pelos sinais que me vai enviando, hoje especialmente. 

O "Piu-Piu" está a chocar, e a marota mudou o ninho, com o resultado de que arrebanhei dez ovos, que rapidamente fui colocar na cozinha. Não é tarefa fácil ter a Quinta a meu cargo (pela última vez), mas é uma espécie de despedida exterior do que foi a Vida (ou vida?) contida no seu interior. Foi bom. Mas também foi um enorme desafio. Foi uma aprendizagem gigante, e sobretudo, foi onde me consegui, com esforço hercúleo, reerguer. Comecei por rastejar. Depois foi de joelhos, uns tempos mais tarde, ao pé coxinho. O Universo obrigou-me rapidamente a andar, e com a sua ajuda, meu querido Filho, lá me levantei e...corri!

Daqui a poucos dias acaba esta maratona. 

Aqui por casa, limpámos e "destralhámos" tudo aquilo que nos pesava. A LEVEZA sente-se em cada canto, em cada vela, em cada aroma a tarte de legumes e "antipasti" que decidi fazer. Em casa da Oma plantei girassóis. Se se derem tão bem como a micro-horta, teremos um muro de flores, de amarelo sorridente, a piscar-nos o olho não tarda. E Endro. Vamos lá ver se o malandro do Endro decide vingar, que eu tenho muito peixe para marinar! O que sei, é que os Coentros e o Manjericão já vingaram, bem-dito estrume das galinhas! 

Filho, nunca pensei conseguir escrever isto...

...mas o que é certo, é que  - provavelmente - enlouqueci. E, contudo, nunca nunca estive tão sã! Sabe que me sinto LEVE? 

"Hungry in this cell we've made for ourselves, 
Can you hear that sound (hear that sound)
It's running, (oh running through the ground)"

It's the way we were meant to be
Tripping on our own feet
Cause we´ve poisoned those wells
We dug for ourselves!"


Mil beijos da sua Mãe que o adroa,

Mami


domingo, 21 de abril de 2024

21.4.2024 - One Day plus 262 - FREEDOM! (Agora com "background" Noronha da Costa)!

 



Bicho do meu coração,


Eu tenho tanto, mas tanto para partilhar sobre o luto, sobre esta aprendizagem incrível, sobre esta caminhada, mas sempre com uma voz de esperança, de sobrevivência, de uma espécie de alquimia da sabedoria! A noite traz-me epifanias, ou, provavelmente, viagens no "borderline" da sanidade, mas seja o que for, traz-me paz. Hoje, sobretudo, mas já lá vamos.

Encha-se de paciência, acenda um charuto, abra uma "Stout"!

Vamos lá reviver uma das nossas infinitas noites de conversas que nunca mais acabavam. Como lhe estava a dizer, entendo agora que o sofrimento extremo, aquele que (quase) nos mata, se canalizado para o positivismo da renascença com crença e convicção, nos abre uma nova dimensão, um desconhecido que, subitamente, se torna incrivelmente familiar. É como se o nosso Ser tocasse o conhecimento milenar, porque entendemos muito mais facilmente os comportamentos humanos. Contudo, o mais interessante, é que quando entendemos verdadeiramente, estamos a fazê-lo não com a cabeça, mas com o coração. E quando o Entendimento nos entra pelo coração e não pela mente, Somos. E perdoamos. E estamos, num patamar muito mais elevado, porque vemos o todo, a perspetiva da águia, e livres.

Hoje estou totalmente liberta pela primeira vez desde os últimos três anos e meio, no meu espaço. A frase não está bem construída, mas é propositado. Totalmente só. Bem, só, não. Estou com a Baga, que está estoirada, depois de uma senda infindável de escassas duas semanas de organização e de planeamento em tempo record e de mais dois dias de mudanças de levar um santo a cometer um crime, sempre de cara alegre. Os milagres existem, e este é um deles. Eu estou com menos dez quilos, porque para atingir o record, tive, há três dias, uma intoxicação alimentar de tal forma forte em cima de tudo o resto, que julguei que era desta! Mas hoje é um dia especial.

E é um dia alegre, porque todos os Outros estão nas suas casinhas organizadas, enquanto eu continuo no caos, a arrumar caixotes e cangalhos aqui despejadas, e me tento despojar de muita coisa, de muita mágoa, de demasiadas lágrimas não choradas por nós dois, mas por tantas outras pessoas e lugares, chego à conclusão de que é no minimalismo que somos mais felizes. No existencial e no físico, e quando me refiro a físico, não pretendo andar sem roupa pela Vila, matando as velhinhas de uma síncope cardíaca, mas sim de objectos. O ser humano passa uma vida inteira a acumular tralha, tralha que carrega consigo por todo o lado onde passa, que lhe dá peso na logística de como a transportar, guardar, para um dia, talvez quem sabe, a vir a utilizar. E gasta rios de dinheiro e milhões de neurónios nisto, para, de um segundo para o outro, morrer e ir sem nada. 

Ora se vamos para o outro plano sem nada, porque não começarmos nesta vida? E já que o Universo me despojou de tantos seres que amei em tão pouco tempo, ao ver-me obrigada a recomeçar, decidi despejar metade da tralha cá de casa. Bom, por hoje ainda estou no caos. Mas espero amanhã melhorar.

Lá vêm o planeamento e a logística, e o gastar de dinheiro, mas desta vez é por uma boa razão, pelo menos segundo a minha opinião. E a partir de hoje, aqui, nesta casa de bonecas, é a minha opinião que conta. Porque eu posso ter uma voz muito mais triste, mas eu ainda tenho voz.

E assim sendo, ouve-se música e estamos os dois aqui na no silêncio da Paz. Arde a vela de Manjericão, refrescando o ambiente, e o seu Altar começa a tomar forma. E é esta Paz que permite sarar um bocadinho mais. É o cheirinho da Liberdade, de podermos fazer o que queremos, quando queremos e como queremos. Somos LIVRES. Não apenas no plano físico, mas no emocional. Porque entendemos, através do facto de termos sofrido a perda máxima, a dor Maior que se pode sentir, que a partir daí toda a perda pode ser ganho. é apenas uma questão de perspectiva, de "re-set" do "mindset"

A minha tarefa neste plano ainda não terminou, porque tenho uma missão. Eu vou mostrar aos desesperados, aos incrédulos, aos mortos-vivos, a todos os que passam, neste momento, por aquilo que EU passei, que é possível sobreviver.

As sequelas são inumeráveis, os estilhaços imensuráveis, não exista dúvida NENHUMA, mas NENHUMA de que morremos. Mas conseguimos RENASCER. 

É possível. É duro como a pedra, cimentada no aço, mas é possível. Requer uma coragem (e desculpe Martim, sabe que não gosto de incentivar certas palavras do seu vernáculo, mas...) requer uma coragem do CARAÇAS, mas é possível.

Atravessamos o Inferno, mas se acreditarmos com toda a nossa essência, se a Fé, a Crença no Amor Maior e a Entrega ao Universo forem totais, se tivermos a coragem de mostrar o nosso coração rasgado já em dois, e de o abrir ainda mais a tudo o que aconteceu, de expor a sua enorme chaga sem vergonha nem pudor, e sobretudo sem medo nem terror, então sentimos, como eu, que os nossos "Épicos" estão sempre connosco. Sinto-o meu Filho, envolvem-me os seus braços celestiais, sei que está aqui, ao meu lado. Sei com toda, mas toda, toda, toda a certeza do meu coração de Mãe, que esteve aqui comigo, colado a mim, nestes últimos sete meses de pesadelo que acabei de atravessar. Não fosse o seu Amor que sinto em cada poro, não teria conseguido, pois o que atravessei foi sobre-humano, além de desumano. Mas estou cá. E adorava poder mostrar aos outros órfãos de Filhos roubados, de que é possível. De lhes contar a minha história, não porque eu seja uma qualquer heroína, mas simplesmente porque eu passei pelo mesmo. Com algumas "pequenas" agravantes "on top". E sobrevivi fiel aos meus cânones, aos meus princípios e à forma como EU senti que devia e queria viver os primeiros (mais longos e mais difíceis) tempos do meu luto. E nestes tempos perdi Amigos, (mas ganheir outros), perdi duas cadelas da forma mais dura que se pode perder, a última na véspera de Natal, e nessas formas das suas mortes, revivi a sua. Mas ganhei a Baga. o melhor cão que alguma vez tive. E perdi um Paraíso que eu descobri e que amei com todas as minhas forças. Um Paraíso onde plantei árvores de fruto, ajudei a realizar o sonho de uma horta, onde cada detalhe, cada pormenor foram pensados com amor, (e com algumas sãs discussões sobre decoração), um lugar especial, onde elas estão enterradas, no mesmo sítio do sonho Maior que tive. Mas ganhei a Liberdade de expressar o que sinto, em alto e bom som, nas minhas quatro paredes, sem crítica constante, e a ouvir o som da afirmação sem duvidar da minha própria voz, enquanto encontrei solução para que a sua avó tenha uma qualidade de vida indescritível, enquanto eu posso finalmente caminhar ao meu próprio ritmo, e não à velocidade que ela quer. E é neste meu ritmo, ao meu ritmo e com o meu ritmo, que irei dançar este caminho. Sem medo, porque sei que o tenho comigo! E que forma de melhor honrar e agradecer essa sua constante protecção, de que sorrir e agradecer a dor? Transformando a Dor em Amor! 

FREEDOM! Que maravilha! 

Mil beijos da sua Mãe que o adora,

Mami


P.S. O seu Altar ainda está um "work in progress". Prometo versão final em breve! 


quinta-feira, 11 de abril de 2024

11.04.2024 - One Day plus 252 - "Sketch for Summer" :-)

 





Filho meu, Amor do meu Coração,

Completo hoje o círculo do sofrimento. O MAIOR que alguma vez podemos sentir. E com isso, alcanço um importante patamar: o da Paz do Desprendimento terreno. Dirão os incrédulos e os pragmáticos, que enlouqueci. Bom, mas isso já ambos sabemos desde o dia dois de Agosto de dois mil e vinte e dois. E na (in)sanidade de quem aceita e compreende de que NADA é nosso, abrimos as mãos. 

Confesso-lhe que ouvir The Durutti Column com iPhones é genial. E Conan Mockasin ainda mais. Com "Caramel", por momentos pensei, que o do lado esquerdo tinha ficado sem bateria, mas não. É mesmo assim. "Mindblowing". Embora "Mindblowing" seja(m) a(s) minha(s) vida(s). 

Está uma noite de sonho aqui no campo. Estive sentada cá fora, a admirar o ocaso, crepúsculo que por acaso - ou por cortesia -  se desenhou no horizonte do meu olhar, e vi mergulhar o sol na Terra incandescente e rubra, polvilhada de lilás com pintinhas amarelas e quadradinhos laranja. Foi...ÉPICO.

É difícil descrever o que passa pela minha cabeça e repousa no meu coração. Talvez seja "Sketch for Winter" pelo que relembro, mas é sobretudo um tempo grato. Vivi tanto, aprendi tanto, perdi tanto, e voltei a ter a oportunidade de ganhar. Que enorme aprendizagem meu Deus! O Universo ensinou-me o conceito de frugalidade e, ao mesmo tempo, a felicidade de poder sentir o espanto. Perante os milagres da natureza que se renova, e da esperança que nunca morre. Espero que possa ser um exemplo disso para o seu irmão. Tão grata por ele, tão "sui generis" na sua forma de ser, tão inocente (ainda) na sua forma de encarar a vida e, ao mesmo tempo, tão sábio e sobretudo, tão meu Amigo. 

Hoje plantei a MINHA micro-horta. Mas a Abundância vai chegar. Será a abundância na e da frugalidade, mas nunca menos gratidão se deve sentir por ela.

Filho, obrigada por este fim de tarde de sonho, por me ter dado este pequeno quinhão de terra, pelo estrume das galinhas de cujos ovos sinto (algumas) saudades! Até elas trazem histórias agarradas às penas, na sua árvore genealógica da memória de tempos tão divertidos, entre roseiras, Rouxinóis, Pica-Paus e jogos de Gamão. 

De quantas memórias é feita uma vida? E várias? Uma coisa sei. Quando neste ensaio de verão, estivermos a saborear uma falsa "Vichyssoise" feita de courgettes do meu quinhão, e aromatizada com Cebolinho do meu vaso, nessa altura terei a certeza de que me (re)encontrei. 

"Never Known"... again The Durutti Column...

Termino com Air. "La Femme d´Argent".

O Luto é intemporal. Mas temos duas opções. Ou fazemos dele nosso inimigo, ou nosso aliado. Iço a bandeira de Prata, ou "Silver Lining"

Mil beijos da sua Mãe que o adora,

Mami

P.S E como já sei que deve andar ocupadíssimo aí no Céu, fica a subtileza, e aprenda, que eu não duro para sempre:

"SILVER LINING" - (noun)

!1. A hopeful or comforting prospect in the midst of difficulty.

2. A good aspect of a mostly bad event.

3. A consoling aspect of a difficult situation."


domingo, 7 de abril de 2024

7.4.2024 - One Day plus 248 - "Total Eclipse of the..."

 



Meu adorado Filho,

Há demasiado tempo que não lhe escrevo, e neste tempo, tanta coisa aconteceu. Não me vou alongar nos detalhes que você conhece demasiadamente bem, mas centrar-me (apenas, tanto quanto possível), nos "pormaiores"!

Nem sei bem por onde começar. Tenho de encontrar um "Leitmotiv" para tudo o que lhe quero transmitir, mas vou tentar ser "frugal". Ou espartana. Ou poupada. 

De volta a CASA..., este meu espaço exíguo em dimensão, mas gigante em Amor. Neste universo (ou será Universo?) que (ainda) estou a tentar (re)definir, procurando criar novas memórias, neste quarto com "Vista para a Casa do Adro", tento sobreviver. Sejamos honestos, porque é disso que se trata...pensei. E pensei em muita coisa. E tudo me passou pela cabeça perante o "nihil", de frente para o rebentar de um sonho (de velhice), e de tantas outras coisas que me vi obrigada a questionar. Não tenho dúvidas nenhumas de que a minha Alma se encontra fragmentada, ferida, explodida em mil pedaços, resquícios do que poderia ter sido, mas não foi, porque o luto não tem - infelizmente - um botão que se pressione para acabar. O luto é uma batalha diária pela sobrevivência das emoções, aquelas que foram defraudadas pelo Destino, pelo cansaço, pela exaustão, por tudo o que deveria ter sido, mas não conseguiu ser. De uma Vida roubada, assalto à mão armada à Felicidade, ataque a um Amanhã que se adivinhava promissor, cheio de flores e de frutos. 

E neste caos onde nada acontece por acaso, porque existe sempre uma ordem cósmica para os acontecimentos, reencontrei os meus livros de Astrologia. Há muitos, demasiados anos que não lhes pegava, talvez porque demasiadas vezes eles me deram a capacidade de tocar a clarividência. E sejamos honestos, uma pessoa borra-se de medo de saber. Mas quando estamos conectados com o Universo, ele vem dar-nos sempre uma mãozinha, que é precisamente tentar ensinar-nos alguma coisa.

E quase por acaso, cai-me no colo o Eclipse. 

Escusado será explicar-lhe este eclipse total do Sol em termos Astronómicos, pois todos sabemos que é um evento de enorme importância. Quanto aos astrológicos...bom, basta dizer que ele acontece no mês de Abril, um dos meses mais importantes, porque regido por Carneiro, o primeiro Signo do Zodíaco, aquele que inicia, o Guerreiro, o Destemido. Mas ele acontece ainda num momento de Mercúrio retrógrado, o que só por si é ainda mais complexo. Contudo, falta um pormenor que não é de menos, é que abraça Chiron, o curandeiro ferido. Significa isto que a casa que no nosso mapa onde este fenómeno acontece, é a área do  para a qual o nosso foco vai forçosamente ter de ser desviado. Sabemos que os eclipses marcam profundamente as casas onde ocorrem, sobretudo este, onde o Centauro nos vai obrigar encarar sem medo as nossas feridas mais profundas, e ganhar uma visão real e concreta das mesmas. Bom, até aqui tudo em ordem. Acontece que ao ler o grau onde este eclipse vai acontecer, até me vi obrigada a ir buscar os óculos, incrédula com o que vi. Este Eclipse vai tocar alguns dos pontos, Luminárias e Planetas mais importantes do meu mapa, pois abraça o Eixo principal, e com isso, obrigar-me a uma redefinição de "mim". Não se trata de uma "mudança", trata-se do atomizar de tudo, do desfragmentar da Alma para recriar e, simultaneamente, cocriar. E desfragmentar para conseguir cocriar é algo de quase alquímico. Reconheço agora, que este período que sucedeu à sua morte, não foi, não é e não será "apenas" um período de um sofrimento sem palavras, ele foi e é um tempo aniquilação total, para vir a ser um tempo de cocriação e de recriação de um Ser mais sábio. Ora todos sabemos que a sabedoria - passo o pleonasmo -  não nos chega sem sofrimento, pois é a capacidade de sobrevivermos ao mesmo que nos torna melhores. Não me interessa, nem nunca poderia aspirar a ser, um Ser Humano melhor do que os outros. Mas aspiro sempre a subir mais um degrau que me aproxime do Significado. 

Oito de Abril de dois mil e vinte e quatro! Não sei fazer previsões, e muito menos adivinhar o futuro, mas ambos sabemos - infelizmente bem demais - que somos capazes de antever algumas coisas. Infelizmente não entendemos de imediato o seu total significado, mas se nos sentarmos para observar o que lhes precedeu e sucedeu, sabemos que o Universo, na sua infinita sabedoria, nos tentou avisar. A si e a mim, pois você também tinha essa capacidade! Entendo agora que foi necessário raiar, rasar e digo mesmo tocar a loucura, para ver com clareza a sanidade, ou ter, finalmente, a sanidade da clareza. Ou será a loucura insana? Pois não sei!

Filho meu, se o Mundo soubesse o que tenho passado, o que passei, e o que passo, choraria lágrimas de sangue. Encontro-me onde tantas noites inesquecíveis vivi, onde tantos retalhos de sonhos planeados costurei, onde tantas vezes se viveu  a década de "Wooodstock", ao som dos sons de "seventies, eighties and nineties" (estes embora menos), numa Alegria imensa. Foi aqui que você me introduziu Dotan, um som que de imediato amei. Foi também aqui, ou é também aqui, que me questiono relativamente às minhas escolhas - aquelas que eu pude fazer, não as que me foram impostas! - e pergunto-me porque razão as fiz. Não sei. 

Mas sei que retiro delas alguma aprendizagem, e sobretudo, a força da Coragem, e com essa força, a Gratidão por me ter sido dada a possibilidade de tocar um átomo de Sabedoria. 

De uma fonte que secou não sai água. Isso é um facto, se está seca, ela já não brota da terra, nascente de vida. Mas é possível que sugando os últimos resquícios de humidade, nasça uma plantinha destemida. Um ser minúsculo, que só vingará com muita persistência, e, sobretudo, com muita vontade. Há verde entre as pedras. E quando essa planta crescer, milénios depois num Tempo sem tempo, porque o tempo não existe, nasce uma floresta. E esse aglomerado de árvores, dançando ao ritmo do vento ondulante, chama a chuva, e ela vem. E ela cai, e cai, e cai, e encharca o solo, alagando-o de novo, numa enchente torrencial. E um dia, da fonte velha e seca, volta a brotar a água. 

A água da Vida.

É Primavera. E amanhã vai haver um Eclipse total do Sol e um canteirinho para plantar, regar e amar.

Mil beijos da sua Mãe que o adora,

Mami



sexta-feira, 15 de março de 2024

15.3.2024 - One Day plus 225 - da Alquimia da Luz

 



Meu adorado Filho,

Pela primeira vez desde sempre no "ÉPICO", nestas cartas enlutadas, mas de onde conseguiu (sobre)viver o Amor, nestas missivas atabalhoadas, afogadas por entre os soluços do meu coração de Mãe, esta carta começa por não ter nem data, nem título. Não me pergunte porquê, já sabe que escrevo não com as mãos, mas só com o coração.

E o meu coração hoje é uma fonte de gratidão. De gratidão por tudo o que tenho aprendido nestes últimos dezanove meses de Saudade. Que caminhada, meu Deus, que tortura. Quantos espinhos tenho nos pés? Não mais do que os que tenho tatuados na Alma, e sempre menos do que as lágrimas que chorei! Quantos soluços damos por um filho que nos foi roubado, arrancado às entranhas da nossa Vida, na flor da idade? Quantos sonhos de Mãe, de Avó desse Filho, de Mulher, de Ser Humano foram desfeitos nesse dia?

Muitos, demasiados, inúmeros, mas não em número suficiente para que a jornada acabe aqui. Há muito para fazer quando o nosso coração entende a missão que lhe foi proposta, quando, para isso, somos e estamos embebidos de Luz (divina, angelical, filial, chamem-lhe o que quiserem)! A Luz está comigo, ela ilumina o meu âmago, alegrando o meu interior. Eu sempre soube, de uma forma ou de outra, que só assim poderia ser. Que só de coração aberto e de peito às balas conseguimos atingir aqueles raríssimos momentos de união com o Cosmos. 

Posso dizer hoje com a Alegria da gratidão, e não com a soberba da presunção, de que vivi  - ponhamos o verbo de outra forma, "que tenho vivido", é mais esperançosa - uma vida que sempre me desafiou. E que sempre superei. O Universo foi elevando a fasquia, e quando eu achava que não conseguiria aguentar mais, lá vinha a próxima. Digo também agora um obrigada do coração à minha genética, traduzida no Amor pela Caminhada dos meus antepassados, porque nada melhor do que o pragmatismo e a frieza de uma educação alemã, para equilibrar a emoção ao rubro e o coração aos saltos de uma alma latina: o resultado é quase que como uma forma alquímica. O Universo matou-me no dia dois de Agosto de dois mil e vinte e dois. E no mesmo momento em que decidiu implodir metade dos átomos do Ser Humano que eu conheci durante tantas décadas, veio trazer-me para os braços uma alienígena. Foi com horror que a vi nascer, como se de um monstro se tratasse. Aprendi a conviver com essa espécie. Ao início, só queria fugir. Aos poucos, tentei entender quem era esse ser, porque afinal, era mãe como eu.

Eu tenho dois Filhos. Um na Terra, o Porto de Abrigo das minhas, e nas minhas, tempestades. E outro no Céu, Luz que me invade quando a escuridão me quer abraçar. E eu?

Eu sou a Ponte. 

A Ponte entre os dois Mundos. 

A que decidiu que não vale a pena contrariar o Universo, a que finalmente se deixou flutuar. É tão mais fácil, que parece estranho nunca termos ter tido esta Epifania. Que foi preciso o tempo pelo qual tanto fui obrigada a lutar, batalha inglória que me custou outro dos grandes sonhos da minha vida, para eu chegar até aqui.

E chego de coração cheio. Porque tenho dois Filhos fantásticos. E porque fui capaz de retirar da maior dor que uma pessoa pode sentir, aquela dor maior que nos rasga tudo enquanto nos mata, fui capaz de coar o Amor, trazê-lo para cima, como que uma camada protectora de todas as emoções de que somos cozinhados. E foi essa capacidade que me faz sentir Gratidão. 

Sou abençoada. Pelos meus Filhos, Criaturas maravilhosas, pelas quais agradeço todos os dias. Pelos que me amam e me acompanham, fazendo-me sentir que não estou só no meu sofrimento. Pelos que consegui alcançar.

E sobretudo, sobretudo, por conseguir dar dignidade à voz do luto, este monstro escondido, do qual se fala em eufemismos, porque é demasiadamente complexo para entender, demasiadamente triste para o querermos partilhar, e demasiado ameaçador para o querermos receber. 

Mas é precisamente este luto que precisa de voz. E acima de tudo de...

LUZ!

(De coração cheio por todas as Mães e Pais que me escreveram)!

Mil beijos meu adorado Filho, da sua Mãe que o adora,

Mami

...too long ago, too far apart...20.7.2022 - Musings on retrospectives a dia 21.3.2025

  Meu adorado Filho, Não tenho transcrito os nosso diálogos, porque em duas ou três semanas, podem acontecer séculos de acontecimentos. Tant...