sábado, 10 de setembro de 2022

10.9.2022 - One Day minus... 38 ("como é Bezerro?")




Tim...meu adorado Tim,

Caramba Filho!

Isto dói tanto, mas tanto, tanto e tanto, que não há palavras. Não existem. É sobretudo quando se instala o silêncio da noite, que o sinto mais. Neste (desas)sossego, nesta calmaria, neste vazio. Lembro-me de si a falar com os seus amigos:

- "Como é Bezerro?"- ou então o célebre:

- "Como é Brother?"

"Have Mercy on me", mas não existe misericórdia. Apenas dor. A que tento transformar em Amor. 

"I'm scared to be lonely, the pain of darkness surrounds me, I see the Light in you."

Ah caramba Tim. Não dá, não é negociável. Não é mesmo. Como é possível que o meu, o MEU Filho mais velho já cá não esteja? Como é possível que essa Alegria, essa ânsia de Vida, essa magnitude de Ser Humano, estejam calados para sempre? 

Como vou continuar sem si? Não sei.

Tim, caramba, isto é demais. É apenas e simplesmente DEMAIS!

Quando estou embrenhada nos dias das tintas, do pó, da lixa e da terra, parece que só está longe. "Só" está longe. Mas depois eu acordo para a cruel realidade de que a sua voz (meramente) ecoa nas minhas memórias, nas minhas entranhas, nas nossas conversas imaginárias, no nosso Universo transcendental, naquele espaço sideral, de onde não quero sair nunca mais, para não "perder" nem mais um bocadinho de si. 

Tim, tenho tantas, mas tantas, tantas saudades! Como é possível Tim?

Eu sei que o Cosmos nos liga, mas o Cosmos está longe para caraças, e nem sempre o conseguimos sentir. Fui à Capela do Espírito Santo hoje e acendi mais uma vela. (E juro que paguei os cinquenta cêntimos!) Sentei-me no degrau do altar e conversámos. Eu gosto sempre de conversar ali consigo. E já percebi, e estou a repetir-me - como diz o Miguel, estou a ficar ginja - que você gosta desse sítio para conversar comigo.

Mas Tim, agora que os dias ficam mais pequeninos, que o sol se põe cada vez mais cedo, eu pergunto-me: como vou sobreviver? Como será possível encontrar a paz no vazio? 

A maior crueldade, é que o Mundo continua a girar. 

E, contudo, eu sinto GRATIDÃO. 

Por tanta coisa. Sobretudo, por ter tido o privilégio de ter sido sua Mãe. E é essa Gratidão, todo esse sentimento transcendente, transbordante e universal, que me liga ao Cosmos. Que me liga a si. Que me envolve, me transporta e acarreta para um momento de Esperança. Quero dar um novo sentido à minha vida, às nossas vidas, gostaria que a minha passagem trouxesse algum sentido, consentido, com sentido, com um propósito, para toda esta tragédia. Ainda não sei qual é, nem qual vai ser. Ainda não sei.

O que sei, é que a sua morte, a sua ausência física, a sua não-tangibilidade, me é uma mágoa de tal modo dolorosa, de tal forma brutal, de tal forma bestialmente dura, que não sei, uma vez mais, por onde entrar no labirinto. 

Filho, não sei. Não sei mesmo. Continuo sem encontrar a porta de entrada!

Ela está lá. 

A Porta. 

Sinto-a, pressinto-a, e com isso, quase que se torna tangível. Mas (ainda) está longe! A Vida continua, no seu continuum temporal. Um perpetuum mobile, sem dó nem piedade, que nos obriga a andar para a frente, sempre em movimento, sem qualquer compaixão para este novo estado!

...Tim...

Sangue do meu sangue, carne da minha carne, crisálida, borboleta, aurélia da minha existência, meu Filho adorado, minha Saudade, meu...

...TIM!...

(Saudades Tim!)

Mami



Sem comentários:

Enviar um comentário

...too long ago, too far apart...20.7.2022 - Musings on retrospectives a dia 21.3.2025

  Meu adorado Filho, Não tenho transcrito os nosso diálogos, porque em duas ou três semanas, podem acontecer séculos de acontecimentos. Tant...