Tim...
...mais um dia...
...Está a chover!
A primeira água que cai do céu, desde o início do Verão. Curiosamente não cheira a terra molhada, não há frescura nesta promessa de Outono, ou então não invade os meus sentidos. Devem estar adormecidos. Ou melhor, anestesiados.
O tempo passa, e os interessados são, de dia para dia, em menor número. É normal, a Vida das pessoas continua, e não se compadece com o nosso compasso de espera, stacatto andante, "Mundo" desconectado do mundo dos dias. O nosso Mundo é o da Eternidade.
Aos poucos, estas nossas cartas assumem uma importância primordial: é normal os outros o relegarem para segundo plano, confesso que faria o mesmo. Como escrevi acima, a Vida dos "Outros" continua.
Mas eu não consigo: sou sua Mãe!
Acho que isto explica tudo. Para mim você continua presente a todas as horas, todos os minutos, todos os segundos do dia. Os dias começam a "perder" horas, anoitece cada vez mais cedo, e escrever-lhe, traz-me Luz. É aqui, neste vazio tão cheio de (ciber)espaço, que estamos juntos, que as nossas conversas continuam, que existe um resquício de cordão umbilical universal que nos liga.
É aqui que as memórias me invadem. Lembrei-me da história dos ténis cinzentos, a que lhe prometi há umas cartas. Esse dia foi memorável. Nunca tive tanto prazer, tanto gosto, tanta alegria, em desbravar vintage second hand shops na minha vida. Nisso você era igual a mim.
Nisso, e em tantas outras coisas. "Batemos" todas as lojas de Barça, género escuteiros da moda revival, e divertimo-nos como só nós sabíamos fazer. Fomos o sangue azul da moda em segunda mão: reis, príncipes, duques e Cinderelas, sobretudo Cinderelas, aka, Gatas Borralheiras, porque encontrámos tantas pechinchas. Aliás, nunca conheci um ser humano do sexo masculino, que tivesse tanto prazer (e gosto) em andar às compras. Ainda me lembro das suas videochamadas nos Outlets, quando me comprou a carteira da Coach. E o porta-moedas da Oma. O bom gosto educa-se. E o seu era atávico.
Ainda me recordo da nossa entrada na Cartier, eu a morrer de vergonha, você, com aquele ar de príncipe e porte de rei, na maior das descontrações. O que é facto é que alguns anos depois, e recordando tudo aquilo me ensinou, entrei com porte de Sissi em Viena, e ainda tenho o fio dessa pulseira atado no punho esquerdo.
Lembro-me das t-shirts que lhe comprámos há SÉCULOS, e que ainda hoje o seu irmão as tem na gaveta, impecáveis. Foram caríssimas, mas duraram mais de dez anos. Dez? Hmmm. estou a ficar ginja, acho que pelo menos quinze.
Tim, encerro em mim um Mundo de recordações, de memórias melancólicas, suaves, fortes e doces, como o seu abraço.
Encerro em mim o Amor, aquele que tenho por si a cada segundo em que inspiro e expiro, data expirada, mas não menos válida, do meu amor de Mãe.
Tim...memória tão breve e tão efémera, e, conquanto, tão eterna, permanente e transcendental, do nosso tempo juntos. Vinte e seis anos, oito meses e uns dias, tempo tão curto e tão pleno, tão cheio de recordações, que me enche o resto da vida, desta vez, e propositadamente, com minúscula, porque é de tudo isso que se trata.
Quanto tempo dura um Luto de Mãe? Ah, cada um e todos sabem, ouvimos e respeitamos as opiniões, aceitamos as boas-intenções, mas só nós dois sabemos, que é um luto sem fim. Sem fim!
A cada segundo que vivo, você está presente, nesta solidão de sentimentos, neste deserto de Amor roubado, e não existem oásis que amenizem esta sede.
...Tim...
O tempo passa, e as saudades aumentam. E a chuva assemelha-se às minhas lágrimas, que caiem livremente, numa tempestade perfeita que assola a minha Alma, enquanto uma trovoada se desencadeia no meu coração, numa intempérie de emoções.
...Tim...
Como é que é possível?
Como?
Meu Filho adorado, não há respostas, neste silêncio tempestuoso, ou nesta tempestade de silêncio.
Apenas...
...SAUDADE!
Mil beijos,
Mami
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