domingo, 25 de setembro de 2022

25.9.2022 - One day minus...53? (loosing track of time!)

 




Meu querido, querido Tim, meu adorado Filho,

Estou sentada, pela primeira vez desde o dia dois de Agosto, à minha secretária. Todo esse malfadado dia me vem à memória: seriam umas dez e tal da manhã, quase onze, quando o meu telefone tocou e a minha vida mudou para sempre. Irreversivelmente, numa brutalidade sem limites, sem fronteiras e sem tréguas. Uma mudança pela qual nenhum Ser Humano deveria passar, tal a dimensão ilimitada da dor. 

Sei que você e eu temos o nosso Mundo, e gosto tanto de aqui estar, a conversar consigo, mesmo sentindo o sal das lágrimas sem fim a escorrer até aos cantos da boca. São lágrimas de uma saudade imensa, de uma dor de uma força tal, que me arrasta e me traspõe para um plano tão doloroso, mas tão, tão doloroso, que as palavras não chegam para o descrever. Não há adjectivos suficientes. Em frente aos meus olhos existe uma fotografia nossa, você em pequenino, em Fôja, como sempre abraçados um ao outro, numa moldura que me traz tantas, mas tantas recordações. A moldura, porque a fotografia não é feita de recordações, é um reflexo do nosso Amor, o de ontem, o de hoje e o de amanhã. Amor INFINITO! Sempre me questionei porque é que a tinha colocado aqui, e sempre senti uma certa injustiça perante o facto de ter só esta fotografia na minha secretária e não ter posto também uma com o seu irmão. Já não digo nada, poderá ter sido uma premonição. Ao lado repousa o despertador verde da Oma, que me indica(va) sempre as horas durante o dia de trabalho. Neste momento não consigo trabalhar, o meu cérebro não acompanha. 

O meu trabalho agora são as madeiras, a transformação do velho em algo diferente, irreverente, único. Enquanto trabalho a madeira, para depois a pintar e a encerar com cera de abelha, o meu cérebro, o meu coração e a minha Alma voam até si. São nesses momentos indescritíveis da paz do reencontro do Amor, que me transporto para o Mundo paralelo onde você e eu continuamos. Esse Mundo longínquo, tão nosso, numa "bolha" onde só nós dois cabemos, nessa imensidão que foi, é, e será, para sempre, o nosso Amor! Cada peça que transformo tem uma história, porque encerra mais uma conversa nossa. Vou começar a oferecer algumas àqueles que nos amam. 

Já descobri o estilo de que mais gosto, é o da tinta misturada com água, em pinceladas quase etéreas, suaves, como se de veludo se tratasse, e após colocar a cera de abelha em movimentos doces, parece seda, de tão macia ao toque.

Tim... uma vez mais perdi tudo o que escrevi. Começo a achar que você me prega partidas...certo? :-)

Bom, não vou tentar reconstruir o que lhe disse, não faz sentido. 

Lembro-me de quando lhe ofereci esta toalha de praia e você dizer:

- "Eh pá Mãe, adoro, top Mãe, Épico Mãe," (seguindo-se mais um palavrão, que uma vez mais vou omitir para preservar a sua memória), e de eu lhe responder:

- "Assim ninguém a confunde, é só sua!"

Tim, meu Tim, meu Filho adorado, não consegui ainda lavar esta toalha. Encerra em si a plenitude do cheiro a maresia e - espero - a felicidade tão efémera que você viveu. 

Você sabe que eu escrevo da Alma, e do coração e não consigo reproduzir o que me saiu há pouco e que se foi. 

Sei que nos encontramos num patamar, num hiato de tempo sem tempo, naquela ombreira intransponível de Luz, onde somos unos, e nos conseguimos alcançar.  E é nessa ombreira que quero permanecer, porque é fronteira entre dois Mundos. Os nossos. Esta madrugada sonhei consigo, pela primeira vez, sem o pavor de o perder. Foi...

...épico...!

Tim, eu envelheci cem anos. Tenho uma Vida antes e uma vida depois, tenho muitas décadas a mais, após isto tudo. Tenho um Mundo só nosso, onde nos encontramos para falarmos, partilharmos e vivenciarmos tudo o que foi o nosso Amor. É nessa ombreira, nesse hiato de tempo sem tempo, porque não existe tempo entre nós, que paro, que penso e que nos VIVO! Sinto-me só, tão abandonada e incompreendida nesta minha dor, nesta imensidão intransponível de sofrimento, que não sei como vou continuar. Mas sei que só há uma forma:

A do AMOR!

"Mais Amor por Favor!"

Tim, você e eu partilhamos neste espaço sideral, esta imensidão do Amor, esta sensação indescritível de pertença, de chegar a casa. Não sei como vou continuar a minha jornada, ela é penosa, repleta de espinhos que me ferem a carne e dilaceram a Alma a todo o instante, e sobretudo, é uma caminhada solitária. Mas é minha. É um abismo intransponível, mas acredito que aos poucos, iremos conseguir construir a ponte entre as margens, mesmo que seja numa dimensão que mais ninguém consegue entender.

E esta dor constante, permanente e perpétua, pungente e avassaladora, esta sensação de abandono, de perda sinistra, que só se colmata quando afago a madeira e depois lhe decido escrever mais uma carta, desaparecem por momentos. Ou melhor, suavizam-se.

Tim, meu Filho adorado,

meu adorado Filho,

não sei como vou conseguir. Mas prometo que estou aqui, de corpo às balas. 

Tenho TANTAS, TANTAS, TANTAS saudades suas meu Filho querido!

Tim...

Envie Amor por favor!

Mais AMOR!

Da sua Mãe que o adora,

Mami



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