Meu querido, querido Filho,
Hoje envio-lhe um arco-íris, aqui ainda muito suave, que captei com o telefone, encharcada até aos ossos. Choveu como se não houvesse amanhã (e não há!), e foi um dia para esquecer. Às vezes pergunto-me porque é que as pessoas querem fazer aquilo que não sabem, ou que ninguém lhes pediu. Passei-me com o pedreiro. Ainda bem que não assistiu, já o estou a ouvir:
- "Mãe, calma, calma Mãe, não faça uma cena, eles coitados não sabem!"
Concordo, eu também não sei a maior parte das coisas, por isso não me atrevo no mundo dos números. Só sai borrada. Acredito até que já me enganei no número dos dias. Mas isso também não tem qualquer importância, o dia ZERO da minha existência é o que conta, porque a partir daí, toda a minha vida mudou. Tudo mudou.
Confesso que é bom estar irritada com outras coisas, imprime um toque de "normalidade" ao aberrante. E, aqui (me) exponho, parece-me que afinal ainda há alguma parte viva em mim. Enquanto conseguir ficar irritada com os disparates do pedreiro, é sinal de que andamos para a frente.
Mas depois chega a noite, e o silêncio, e começam as nossas conversas e eu olho para o meu centro, e pergunto-me como é possível irritar-me com o trabalho do pedreiro. Provavelmente o meu cérebro aproveitou a deixa, o acontecimento, o "set-back", para iniciar um motim. O motim das emoções. A revolta na província. A anarquia (organizada) dos procrastinados do destino.
Tim, quando olho para as fotografias, para o nosso passado tão presente e (para sempre!) futuro, porque quem é recordado nunca morre para nós, não entendo, não aceito e não interiorizo. Não consigo. É demasiadamente brutal. Que falta que sinto sua, querido Filho, sempre tão positivo, sempre tão amigo, sempre tão generoso.
Você tem que entender uma coisa: a "obra" é uma homenagem, um trabalho, uma recordação dos sonhos que nasceram dos nossos sonhos, visualizados criativamente, no nosso "make it happen!". Lembro-me da sua alegria, e da sua satisfação, perante o facto de irmos ter máquina de lavar loiça e de espaço exterior onde grelhar peixe, jogar Cavalos, King e Póker, Canasta ou Sueca, ou simplesmente relaxar. Lembro-me dessas conversas. Lembro-me de tudo, desde que você saiu da minha barriga.
Filho, recordo-me de cada segundo partilhado, como se de uma oração se tratasse, e rezo, de olhos postos no infinito, mas o milagre não chega. Não há como.
Ou talvez haja...é transformar isto no Milagre do Amor.
Vou tentar Tim, prometo.
Até lá, fica o Arco-Íris. A ponte entre o "aqui" e o "aí".
Tim...fazes-me tanta, tanta, mas tanta falta!
Beijos da Mãe que o adora!
Mami
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